TÍTULO: QUARTO DE DESPEJO, DE CAROLINA MARIA DE JESUS, SOB AS LENTES DA ANÁLISE DO DISCURSO
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1 16 TÍTULO: QUARTO DE DESPEJO, DE CAROLINA MARIA DE JESUS, SOB AS LENTES DA ANÁLISE DO DISCURSO CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: LETRAS INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE FRANCA AUTOR(ES): GABRIELA MOREIRA BURANELLI ORIENTADOR(ES): MARÍLIA GISELDA RODRIGUES
2 1 1. RESUMO: Nossa pesquisa toma por objeto o livro Quarto de Despejo - diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Publicada em 1960 pela editora Francisco Alves, a obra teve tiragem de 100 mil exemplares, quando um livro que tinha em média quatro mil exemplares impressos na sua primeira edição era considerado sucesso. Entretanto, passado o tempo do lançamento, o livro foi esquecido até que, a partir do final dos anos 1990, quando tomam corpo estudos e produções do conjunto entendido como literatura marginal, volta a ser publicado, lido e estudado como um marco importante da cultura brasileira. A partir dos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa (doravante AD), estudamos os modos como a autora, por meio de sua obra, gere o contexto de sua produção, por meio do conceito de paratopia criadora. O objetivo específico nesta apresentação é analisar mais detidamente o código linguageiro na obra, como um dos motores da paratopia da autora. 2. INTRODUÇÃO Em Discurso literário (2006), Maingueneau se propõe a traçar as fronteiras que delimitariam uma forma específica de abordagem do fenômeno literário, que ele denominou de análise do discurso literário. Em seu percurso, procura demonstrar que, de um modo geral, a partir do século XIX no Ocidente e mais especificamente no contexto francês as abordagens do texto literário ou se fecharam sobre o postulado da imanência da obra ou procuraram responder à questão das relações de um texto com seu contexto, sobretudo em torno da ideia de continuidade entre vida do autor e obra. Para delimitar uma forma de análise que considera o fato literário como discurso, no sentido que a AD confere a esse termo, propõe restituir as obras aos espaços que as tornam possíveis, onde elas são produzidas, avaliadas, administradas (MAINGUENEAU, 2006, p. 43), remetê-las às suas próprias condições de enunciação, o que implica, entre outras coisas, a consideração do estatuto do escritor associado a seu modo de posicionamento no campo literário; dos papéis vinculados aos gêneros; da relação com o destinatário construída através da obra; dos suportes materiais e dos modos de circulação dos enunciados. 3. OBJETIVOS
3 2 A pesquisa toma o livro Quarto de despejo diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, como corpus de análise, com o objetivo de investigar os modos como se instauram na obra três categorias reunidas sob a denominação de embreantes paratópicos (MAINGUENEAU, 2006), a saber: a cenografia, o ethos e a interlíngua. Nesta apresentação, o objetivo específico é analisar mais detidamente o código linguageiro na obra, como um dos motores da paratopia da autora. 4. METODOLOGIA A pesquisa é qualitativa e de cunho exploratório. Primeiramente, na etapa de revisão bibliográfica, realizam-se leituras e fichamentos de leituras, com posterior discussão dessas leituras com a orientadora. Foram lidos e fichados os textos de AD. A partir da leitura de Brandão (1998), Mussalim (2012) e Maingueneau (2006) houve os primeiros contatos com uma área do conhecimento, uma disciplina em permanente construção, que é a AD. Concomitantemente às leituras teóricas, inicia-se a leitura da obra objeto de análise, Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. Após a compreensão dos fundamentos teóricos, se dá a análise da obra, no que se refere ao código linguageiro que a obra constrói. 5. DESENVOLVIMENTO Para dar lugar a um estudo do fenômeno literário como evento discursivo, é preciso primeiramente situá-lo como pertencendo a uma categoria particular de discursos, cujo estatuto no universo das produções verbais lhe confere características de discurso constituinte (MAINGUENEAU, 2006). O autor propõe que a expressão discurso constituinte designa fundamentalmente os discursos que se propõem como discursos de Origem, validados por uma cena de enunciação que autoriza a si mesma (MAINGUENEAU, 2006, p. 60). A paratopia criadora é um pertencimento paradoxal, que legitima os discursos constituintes de duas maneiras, ou em dois níveis complementares (MAINGUENEAU, 2006): no nível do conjunto dos discursos constituintes, já que os discursos religioso, filosófico, científico etc. pertencem e não pertencem ao universo social, na medida em que se trata de discursos circunscritos pelo indizível e pelo absoluto; e no nível de cada produtor de texto pertencente a um discurso constituinte para estar em conformidade com sua enunciação, deve construir ele mesmo uma
4 3 impossível identidade por meio das formas de pertencimento/não pertencimento à sociedade. No caso do discurso literário, a paratopia caracteriza, assim, ao mesmo tempo, a literatura como cena englobante e a condição de todo criador, que só se torna criador assumindo de modo singular a paratopia constitutiva do discurso literário. Ao propor um campo de estudos para os discursos constituintes, Maingueneau dirá que só é justo falar em constituição na medida em que a cena de enunciação que o texto traz legitima, de alguma maneira, performativamente, o direito à fala que tal texto simula receber de uma fonte além dos homens (a musa, a divindade, a verdade). Esse processo de constituição entre discurso e instituição incide em particular sobre a dimensão do investimento em um código de linguagem. Ao operar sobre a diversidade da língua, esse investimento permite produzir um efeito prescritivo que resulta da conformidade entre o exercício da linguagem que o texto implica e o universo de sentido que ele manifesta (MAINGUENEAU, 2006, p. 70). É como se, no trabalho da escrita, a própria língua fosse transformada em língua estrangeira, com a qual se opera em situação de afastamento. Ao escrever dentro de uma determinada prática discursiva (onde estamos sempre quando escrevemos), o uso da língua implica não o enfrentamento de um sistema uno, a língua, mas de um sistema que prevê uma interação de usos, as variedades de uma mesma língua, passadas e contemporâneas e, também, eventualmente, entre a própria língua e outras línguas. A esse processo denomina-se interlíngua. Por meio da interlíngua, os escritores negociam um código de linguagem que seja próprio à escritura, ao texto, em sua relação com o campo literário e o espaço discursivo (doutrina, escola literária) que ele ocupa. A gestão da interlíngua pode ser concebida em seu aspecto de plurilinguismo exterior, quando é preciso decidir a relação da obra com outras línguas, e de plurilinguismo interior, em sua relação com a diversidade de uma mesma língua. 7. RESULTADOS PRELIMINARES A pesquisa foi iniciada em agosto de 2016, portanto, não há ainda resultados preliminares. Por ocasião do CONIC, tais resultados estarão disponíveis para a apresentação.
5 4 8. OBRAS CONSULTADAS JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 8 ed. São Paulo: Ática, BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. Campinas: Editora da Unicamp, FERRARI, M. Poética de resíduos. Revista Pesquisa FAPESP. Ed Maio/2015. Disponível em: Acesso em 31.out FOSSEY, M. F. Cenografia e autoria em Campo Geral. Acta Scientiarium. v. 34, n. 2, p , MAINGUENEAU, D. Discurso literário. São Paulo: Contexto, ORLANDI. E, Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
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