Produção de Mudas de Três Espécies Arbóreas em Diferentes Substratos para Recuperação de Áreas Desertificadas

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1 Produção de Mudas de Três Espécies Arbóreas em Diferentes Substratos para Recuperação de Áreas Desertificadas Márcia Rodrigues de Moura Fernandes (1) ; Milton Marques Fernandes (2) ; Francisco Luis de Sousa (3) (1) Estudante de Mestrado em Ciências Florestais; Universidade de Brasília - UnB; marciarmfe@gmail.com; (2) Professor; Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Sergipe - UFS; miltonmf@gmail.com; (3) Biólogo e Mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal do Piauí- UFPI; profbiolu@bol.com.br. RESUMO Um dos fatores importantes na produção de mudas é o uso de substratos de baixo custo e que proporcionem o seu rápido desenvolvimento em campo. O presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes substratos regionais na produção de mudas de Guapira graciliflora Mart. (pau-piranha), Amburana cearensis Allemão (umburana) e Bauhinia variegata L. (pata-de-vaca), para recuperação de áreas em processo de desertificação. As sementes coletadas foram provenientes de diversos fragmentos de Cerrado existentes na região de Bom Jesus-PI. Após a coleta, as sementes foram escarificadas com lixa e semeadas em tubetes plásticos. Foram semeadas cinco sementes em cada tubete, sendo desbastadas após um mês da semeadura, deixando em cada tubete apenas a plântula que se apresentou mais vigorosa. Para a análise do experimento as mudas foram avaliadas aos 90 dias após o plantio, os substratos avaliados foram: solo de área desertificada, solo de área desertificada + esterco bovino e solo de área desertificada + As variáveis avaliadas foram: altura da parte aérea, diâmetro do coleto, massa fresca e seca da parte aérea e da raiz. As mudas da espécie pata de vaca e pau piranha demonstraram serem mais indicadas para recuperação de áreas desertificadas quando produzidas com adição de esterco bovino e Palavras-chave: esterco, desertificação, mudas florestais. ABSTRACT One of the important factors in the production of seedlings is the use of low-cost substrates and to provide its rapid development in the field. The present study aimed to evaluate the effect of different substrates on regional seedling production Guapira graciliflora Mart. (cock-whore), Amburana cearensis Allemão (umburana) and Bauhinia variegata L. (paw-of-cow), for reclamation in the process of desertification. The seeds were collected from different cerrado fragments in the region of Bom Jesus-PI. After collection, the seeds were scarified with sandpaper and sown in plastic tubes. Five seeds were sown in each cartridge, being roughly one month after sowing, leaving in each cartridge only the seedling which presented more vigorous. For the analysis of the experiment the seedlings were evaluated at 90 days after planting, the substrates were evaluated: soil desertification area, soil desertification area + cattle manure and soil desertification area + goat manure. The variables evaluated were: shoot height, stem diameter, fresh and dry weight of shoot and root. The seedlings of the species cow paw and cock slut proved to be more suitable for the recovery of desertified areas when produced with the addition of manure and goat manure. Key words: manure, desertification, forest seedlings INTRODUÇÃO Atualmente, km 2 do território brasileiro são áreas susceptíveis ao processo de desertificação. De acordo com o Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Brasil (BRASIL, 2007), do total acima, km 2 já se encontram em processo grave e muito grave de desertificação, concentrados principalmente nos estados do Nordeste, - Resumo Expandido - [1029] ISSN:

2 que têm 55,25 % do seu território atingido em diferentes graus de deterioração ambiental. Sendo que no Piauí, km² da área do estado encontra-se em acelerado processo de desertificação na região de Gilbués (LUZ, 2007). Nesta região apesar do grave problema ocasionado pelo processo de desertificação subsiste uma população rural que tem como principal meio de sobrevivência a criação de gado e caprinos (SOUSA, 2013). A grande exploração das florestas nativas, seja pela expansão agrícola, seja pela pecuária extensiva, acarreta grande diminuição da cobertura florestal, provocando a degradação e desequilíbrio ambiental. Assim, com o aumento da fiscalização e as exigências de medidas compensatórias houve maior demanda de mudas nativas para recuperação de áreas degradadas. A restauração florestal tem como premissa a utilização de elevada diversidade vegetal como forma de garantir a sustentabilidade das comunidades restauradas e reduzir os custos desse tipo de trabalho (MARTINS, 2007; RODRIGUES et al., 2007). Basicamente, as mudas de espécies nativas são destinadas para compensar a perda de espécies arbóreas, favorecendo a regeneração vegetal e minimizando os processos de degradação, como erosão, assoreamento e empobrecimento do solo (CALDEIRA, 2013). Nesse contexto, a escolha das espécies Guapira graciliflora Mart. (paupiranha), Amburana cearensis Allemão (umburana) e Bauhinia variegata L. (pata-de-vaca) é justificável por se tratar de espécies florestais, ocorrendo a pleno sol, sendo indicadas na recuperação de áreas degradadas (LORENZI, 2008). Na fase de viveiro, um dos fatores que deverá obrigatoriamente ser levado em consideração é o substrato, que será utilizado na produção de mudas, devendo possuir características como consistência, boa estrutura, alta capacidade de retenção de água e alta porosidade. O substrato não deve se expandir, contrair ou apresentar substâncias tóxicas, devendo ser disponível e padronizado (GONÇALVES & POGGIANI, 1996). Nesse âmbito, são de grande importância estudos relacionados aos componentes do substrato, sendo necessária a promoção de resíduos orgânicos para obtenção de mudas com maior qualidade e com menor custo. Com isso, os estercos bovino e caprino surgem como alternativa viável para serem utilizados como componentes de substrato para produção de mudas em áreas degradadas e/ou desertificadas na região Nordeste (SOUSA, 2013), pois melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do substrato, acarretando em mudas de melhor qualidade para serem levadas a campo (KRATZ, 2011). A obtenção de um material alternativo à disposição de produtores rurais e viveiristas, de fácil e constante disponibilidade e de baixo custo, além de indicar um destino final à grande quantidade de estercos bovino e caprino na região de Gilbués, ajudaria a minimizar o custo das mudas. Desta maneira, este estudo teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes substratos na produção de mudas de Guapira graciliflora Mart. (pau-piranha), Amburana cearensis Allemão (umburana) e Bauhinia variegata L. (pata-devaca), para recuperação de áreas em processo de desertificação. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido entre novembro de 2010 e fevereiro de 2011 no viveiro do Campus Professora Cinobelina Elvas (CPCE) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), no município de Bom Jesus, situado na região Sul do Piauí a 297m de altitude, longitude - 44,3264, latitude - 9,08333, com temperatura média de 27 0 C e precipitação anual 914,4mm, o clima predominante é o subúmido seco (BRASIL, 2007). Podem-se distinguir, quanto às precipitações pluviais, duas estações bem definidas: seca e chuvosa, característica das regiões tropicais, apresentando alta variabilidade interanual, típica das regiões semiáridas (SALES, 2003). As sementes de pau-piranha, umburana e pata de vaca foram provenientes de diversos fragmentos de Cerrado existentes na região de Bom Jesus-PI. Após a coleta, as sementes foram escarificadas com lixa e semeadas em tubetes plásticos com diâmetro na parte superior de 35 mm, 140 mm de altura e 110 ml de capacidade volumétrica. Foram semeadas cinco sementes por tubete, sendo desbastadas após um mês da semeadura, deixando em cada tubete apenas a plântula que se apresentou mais vigorosa. Os tubetes com as mudas foram acondicionados em suporte metálico a 1,0 m do piso em um viveiro coberto com tela de sombrite de 50% de incidência de luz, sendo irrigadas duas vezes por dias no início da manhã e no final da tarde. Os substratos apresentaram-se nas seguintes proporções volumétricas: SG = solo de área desertificada (1); SGEB = solo de área desertificada + esterco bovino (1:1); SGEC = solo de área desertificada + esterco caprino (1:1). O solo utilizado foi um Neossolo Litólico eutrófico de uma área em processo de desertificação do município de Gilbués-PI. As mudas foram avaliadas aos 90 dias, após o plantio, por meio dos seguintes parâmetros: altura da parte aérea (H); diâmetro do coleto (DC); massa fresca da parte aérea (MFPA); massa fresca da raiz (MFR); massa seca da parte aérea (MSPA); e massa seca da raiz (MSR). Na avaliação foram consideradas as seguintes características: altura da parte aérea distância entre o coleto e a gema apical, obtida com auxílio de uma régua milimetrada; diâmetro do coleto obtido com auxílio de um paquímetro digital; e massa fresca das partes aérea e do sistema radicular obtida, em balança de precisão com duas casas decimais. Para a avaliação da massa seca das partes aérea e do sistema radicular, as mudas foram retiradas dos tubetes, seccionadas na região do coleto da planta, separando as partes aérea e radicular, sendo em seguida, acondicionadas em sacos de papel e submetidas a desidratação em estufa regulada a 65ºC até atingir peso constante. Posteriormente foram retiradas e pesadas em balança de precisão. - Resumo Expandido - [1030] ISSN:

3 O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com 10 repetições por tratamento, tendo cada repetição uma plântula, sendo cada espécie um experimento isolado. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software ASSISTAT versão 7.6. RESULTADOS E DISCUSSÃO As mudas de pata de vaca e umburana apresentaram maior altura nos substratos SGEB e SGEC em comparação ao SG. A altura das mudas de pau piranha com o substrato SEC foi significativamente superior aos demais tratamentos (Tabela 1). Tabela 1. Valores de altura (H) e diâmetro do coleto (DC) de mudas de pata de vaca, umburana e pau piranha em função do tipo de substrato. SG = solo de área desertificada de Gilbués; SGEB = solo de área desertificada + esterco bovino; SGEB = solo de área desertificada + Substrato Pata de vaca Umburana Pau Piranha H (cm) DC (mm) H (cm) DC (mm) H (cm) DC (mm) SG 6,40b 0,73b 24,66b 3,57a 20,23b 4,16a SEB 23,01ª 2,23a 41,91a 4,95a 22,55ab 4,45a SEC 20,03ª 2,43a 39,41a 4,51a 28,63 a 4,56a CV(%) 50,09 43,09 18,65 23,47 19,16 13,21 Em relação ao diâmetro do coleto (Tabela 1), no caso da pata de vaca, os substratos com adição de esterco (SGEB e SGEC) foram superiores ao substrato contendo somente solo da área desertificada (SG). Umburana e pau piranha não apresentaram diferenças significativas entre os substratos contendo estercos e solo da área desertificada. Esse resultado corrobora ao obtido por Artur et al. (2007), no qual o uso de esterco bovino proporcionou bons resultados na produção de mudas de espécies florestais. Observa-se que as mudas de pata de vaca em relação MFPA, MFR, MSPA e MSR apresentaram diferença estatística entre os substratos com adição de esterco bovino e caprino em comparação ao substrato contendo somente solo de área desertificada (Tabela 2). Os resultados estão de acordo com o observado por Duarte & Nunes (2012) onde a adição de composto orgânico promoveu maiores valores de altura, massa fresca da parte aérea e raiz em relação aos substratos contendo somente terra de subsolo ou subsolo com areia. Tabela 2. Valores de massa fresca da parte aérea (MFPA), massa fresca do sistema radicular (MFR), massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca do sistema radicular (MSR) de mudas de pata de vaca em função do tipo de substrato. SG = solo de área desertificada; SGEB = solo de área desertificada + esterco bovino; SGEB = solo de área desertificada + SG 0,19b 0,22b 0,08b 0,07b SGEB 2,25a 1,38a 1,27a 0,48a SGEC 2,60a 1,46a 1,03a 0,55a Os valores referentes as mudas de umburana (Tabela 3) foram iguais estatisticamente para MFR e MSR entre os diferentes CV(%) substratos. Para 20,75 MFPA e MSPA os seus valores 23,30 nos substratos SGEB 20,07 e SGEC foram superiores 11,07 ao substrato contendo somente solo de área desertificada (SG). Tabela 3. Valores de massa fresca da parte aérea (MFPA), massa fresca do sistema radicular (MFR), massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca do sistema radicular (MSR) de mudas de umburana em função do tipo de substrato. SG = SG 3,33b 13,27a 1,30b 3,60a SGEB 9,37a 12,91a 3,18a 3,87a IV CONEFLOR SGEC III SEEFLOR/ 8,32a Vitória da Conquista 10,65a (BA), 25 a 28 de Novembro 2,91a de ,33a - Resumo CV(%) Expandido - 21,50 [1031] 28,68 21,30 ISSN: ,64

4 solo de área desertificada; SGEB = solo de área desertificada + esterco bovino; SGEB = solo de área desertificada + Observa-se que de acordo com os parâmetros DC, MFR e MSR a adição de estercos bovino e caprino não promoveu aumento nos valores referentes aos parâmetros avaliados para umburana. Segundo Angelim et al. (2007) avaliando a produção de mudas de umburana, observou-se que adição de algum tipo de matéria orgânica ao solo promovia efeitos negativos na qualidade das mudas e se deve ao fato da umburana estar bem adaptada às condições adversas como falta de água e também à reduzida concentração de matéria orgânica, de macro e de micronutrientes no solo. Os valores referentes as mudas de pau piranha (Tabela 4) foram iguais estatisticamente para MFR nos diferentes substratos. Para MFPA, MSPA e MSR os seus valores nos substratos SGEB e SGEC foram superiores ao substrato SG. Tabela 4. Valores de massa fresca da parte aérea (MFPA), massa fresca do sistema radicular (MFR), massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca do sistema radicular (MSR) de mudas de pau piranha em função do tipo de substrato. SG = solo de área desertificada; SGEB = solo de área desertificada + esterco bovino; SGEB = solo de área desertificada + SGEC 6,41a 11,87a 3,06a 4,64a Observa-se que a adição de composto orgânico (SGEB e SGEC) ao solo de área desertificada promoveu maiores valores de CV(%) massa fresca da parte 20,80 aérea, massa seca da parte 24,21 aérea e massa seca do sistema 19,71 radicular. Clement 25,63 & Machado (1997) afirmaram que a incorporação de compostos orgânicos nos substratos pode influenciar na produção de biomassa e de raízes de determinadas espécies florestais. CONCLUSÃO SG 2,81b 8,31a 1,21b 3,17b SGEB 6,79a 11,26a 3,39a 4,62a As mudas da espécie pata de vaca e pau piranha demonstraram serem mais indicadas para recuperação de áreas desertificadas quando produzidas com adição de esterco bovino e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELIM, A.E.S., MORAES, J.P.S., SILVA, J.A.B., GERVÁSIO, R.C.R.G. Germinação e aspectos morfológicos de plantas de umburana de cheiro (Amburana cearensis) encontradas na região do Vale do São Francisco. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v.5, supl.2, p , jul ARTUR, A.G.; CRUZ, M.C.P. DA; FERREIRA, M.E.; BARRETTO, V.C.M.; YAGI, R. Esterco bovino e calagem para formação de mudas de guanandi. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42, n.6, p , BRASIL, Instituto interamericano de cooperação para agricultura Atlas das áreas susceptíveis à desertificação do Brasil IICA Disponível. < CALDEIRA, M.V.W.; DELARMELINA, W.M.; FARIA, J.C.T.; JUVANHOL, R.S. Substratos alternativos na produção de mudas de Chamaecrista desvauxii. Revista Árvore, Viçosa-MG, v.37, n.1, p.31-39, CLEMENT, C. R.; MACHADO, F. M. Efeito da adubação orgânica na produção de biomassa em quebra-pedra (Phyllanthus stipulatus, Euphorbiaceae) em Manaus, Brasil. Acta Amazônica, v.27, n.2, p.73-80, DUARTE, D.M.; NUNES, U.R. Crescimento inicial de mudas de Bauhinia forficata Link em diferentes substratos. Cerne, Lavras, v.18, n.2, p , abr./jun GONÇALVES, J.L.M.; POGGIANI, F. Substratos para produção de mudas florestais. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE CIÊNCIA DO SOLO, 13., Águas de Lindóia, Resumos. Piracicaba, Sociedade Latino Americana de Ciência do Solo, CD-Rom. - Resumo Expandido - [1032] ISSN:

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