LEVANTAMENTO DAS ALTERAÇÕES AUDITIVAS NA POPULAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE MONTE NEGRO-RO

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1 LEVANTAMENTO DAS ALTERAÇÕES AUDITIVAS NA POPULAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE MONTE NEGRO-RO Autores: Ariádnes Nóbrega de Oliveira, Ana Karolina Zampronio Bassi, José Roberto de Magalhães Bastos, Magali de Lourdes Caldana, Orozimbo Alves Costa Filho, Kátia de Freitas Alvarenga, Adriane Lima Mortari Moret, Beatriz Carmem Warth Raymann, Maria Cecília Bevilacqua Área: Epidemiologia Palavras Chaves: Perda Auditiva, Epidemiologia, Prevalência Introdução: A audição é um dos sentidos mais nobres, uma vez que sua principal função esta ligada à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem oral, essencial nas relações interpessoais e com o meio ambiente. Assim é fundamental que qualquer distúrbio nessa função seja prevenido, ou detectado e tratado o mais precocemente possível. Sabe-se que a epidemiologia da deficiência pode variar, de acordo com os fatores geográficos e econômicos. Os principais fatores etiológicos da deficiência auditiva congênita ou adquirida na infância incluem: seqüelas de doenças, como por exemplo, da meningite; otite média e anomalias congênitas. Na população adulta, a presbiacusia, seguida da perda auditiva induzida por ruído apresentam-se como os principais fatores etiológicos das alterações auditivas. A prevalência da deficiência auditiva é menor em países cuja população tenha um padrão de vida mais alto e conte com sistema de saúde bem desenvolvido. A literatura internacional apresenta alguns trabalhos desta natureza, onde pesquisadores têm buscado estabelecer a prevalência das perdas auditivas em países em desenvolvimento. A Organização Mundial Saúde tem apoiado estas iniciativas por se tratar de um estudo de extrema importância para o planejamento de políticas públicas. Conforme o estudo apresentado por Mathers et al (2000) a deficiência auditiva é o déficit sensorial mais freqüente na população em geral, afetando mais de 250 milhões de pessoas no mundo. Conseqüências desta desordem incluem: inabilidade de interpretar sons de fala e, conseqüentemente, dificuldades na aquisição da linguagem e redução das habilidades comunicativas, além de desvantagens econômicas e educacionais. Divulgação da Organização Mundial de Saúde apresenta 16 estudos realizados em 10 países onde utilizaram o Protocolo de avaliação da Prevalência de Surdez e outros transtornos de Audição (OMS, 1999) e receberam apoio técnico da OMS, outros projetos utilizaram o mesmo protocolo de diversas formas, porém sem o apoio técnico da organização. Os principais objetivos destes estudos foram os de aumentar a conscientização, determinar prioridades, selecionar

2 estratégias de prevenção, prever necessidades, e auxiliar a medir a carga da doença e a análise econômica. Como resultados, foi possível observar que a prevalência da perda auditiva na Nigéria foi estabelecida em 4.4%, 6.1% e 7.6% considerando-se três regiões pesquisadas. Em Omã foi de 2.1%; na Região do Sudeste Asiático entre %, considerando-se quatro regiões pesquisadas. No sul do Vietnã, a prevalência foi de 4.7% e no norte de 7.8% ; em Madagascar, na Província de Tana, foi de 6.9%. Na China, em Jiangsu 5.3%, em Sechuan 4.9%, em Guizhou 6.1%, e em Jilin 4.5%. As quatro províncias da China completaram a coleta, mas a análise não foi ainda concluída. É importante relatar que o estudo no Brasil foi realizado por Béria et al (2007), no município de Canoas, estado do Rio Grande do Sul em que foram avaliados 3243 sujeitos. Como resultados, foi encontrada a prevalência de perdas auditivas incapacitantes de 6.8% (IC 95%: 5.5 a 8.1), sendo a prevalência para perdas moderadas de 5.4% (IC 95%: 4.4 a 5.4), severa: 1.2% (IC 95% 0.7: a 1.7), profunda: 0.2% (IC 95%: 0.03 a 0.33) e leves: 19.3%. O presente estudo foi realizado em Monte Negro que está situado no interior do estado de Rondônia, região norte do Brasil, distante dos grandes centros de atenção à saúde geral; apresenta uma população total estimada em habitantes, sendo que a área urbana possui aproximadamente habitantes. Objetivo: Baseado nestas constatações, o estudo proposto teve como objetivo identificar a prevalência de perdas auditivas por amostragem populacional na zona urbana do município de Monte Negro RO. Material e Método: O tamanho da amostra foi calculado por meio da estimativa de prevalência de perdas auditivas e de outras desordens de audição de 7%, com erro aproximado a 2% e nível de confiança de 95%. Foram incluídas na amostra todas as pessoas residentes nos domicílios sorteados da área urbana do município de Monte Negro, moradores dos setores censitários. Os procedimentos selecionados para avaliação audiológica foram: calibração biológica para obtenção dos níveis de audição em um indivíduo com audição normal em um ambiente sem tratamento acústico; inspeção otoscópica em todos os sujeitos selecionados; audiometria tonal liminar em indivíduos com idade superior a 4 anos; avaliação comportamental auditiva em crianças com idade inferior a 4 anos; imitanciometria naqueles sujeitos que se queixaram de dor ou algum outro problema de orelha média.

3 O presente estudo utilizou a classificação da WHO, que utiliza média dos limiares tonais nas freqüências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. A incidência das perdas auditivas incapacitantes (média acima de 41 db na melhor orelha. Resultados: O levantamento das alterações auditivas na população de Monte Negro foi iniciado em abril de 2005 e finalizado em julho de 2007, totalizando 6 expedições ao município, envolvendo 29 alunos de graduação e pós-graduação em Fonoaudiologia. Dos seis setores censitários da área urbana do município, foram visitados os quatro mais centrais, sendo cadastradas 303 residências de maneira aleatória, porém, devido a ausência de pessoas na casa, existência de estabelecimentos comerciais no endereço fornecido, terrenos baldios, 157 residências foram possíveis de serem investigadas. Foram registrados 609 participantes de ambos os gêneros, porém 577 sujeitos fizeram parte da amostra, visto que 32 pessoas se recusaram a participar ou não foram encontrados após as várias visitas programadas. Tabela 1 Distribuição da amostra por gênero e grupo etário (n=577) DISTRIBUIÇÃO GÊNERO E IDADE MASCULINO FEMININO TOTAL Grupo etário n % n % n % 0 meses a 3 anos e 11meses (grupo 1) 29 5, , ,00 4 a 9 anos (grupo 2) 39 6, , ,33 10 a 19 anos (grupo 3) 65 11, , ,43 20 a 29 anos (grupo 4) 37 6, , ,63 30 a 39 anos (grupo 5) 25 4, , ,03 40 a 49 anos (grupo 6) 35 6, , ,56 50 a 59 anos (grupo 7) 13 2, , ,36 60 a 69 anos (grupo 8) 9 1, , ,62 70 a 79 anos (grupo 9) 9 1,55 6 1, ,58 mais de 80 anos (grupo 10) 1 0,17 1 0,17 2 0,34 Total , , Tabela 2 - Distribuição dos limiares auditivos da melhor orelha de acordo com o grupo etário, dos maiores de 4 anos (n=525) Grupo etário Sem alterações 0 a 29 db Limiar da melhor orelha Leve Moderada (%) (%) 30 a 40 db 41 a 60 db (%) Severa 61 a 80 db (%) Total (%) 2 75 (99) 1 (1) 76 (100) (99) 2 (1) 140 (100) 4 90 (94) 6 (6) 96 (100) 5 71 (86) 10 (12) 1 (1) 81 (100) 6 42 (70) 15 (25) 2 (3) 1 (2) 61 (100) 7 15 (48) 12 (39) 4 (13) 31 (100)

4 8 9 (43) 6 (29) 6 (29) 21 (100) 9 2 (13) 9 (60) 4 (27) 15 (100) 10 1 (50) 1 (50) 2 (100) Total 444 (85) 61 (12) 18 (3) (100) Considerando-se os achados no limite inferior do intervalo de confiança verificou-se 10,93% de perdas auditivas, sendo que 2,9% de perdas auditivas incapacitantes, no limite superior identificou-se 20,2% de perdas auditivas nesta população, sendo que 6,73% de perdas auditivas incapacitantes. Tabela 3 - Prevalência das perdas auditivas em porcentagem (%) e intervalo de confiança de 95% na melhor orelha em participantes com mais de 4 anos de idade. Alteração da melhor Estimativa Intervalo de confiança (95%) orelha Limite inferior Limite superior Sem alterações (0 a 29dB) 84,76 81,69 87,73 Perda Leve (30 a 40 db) 11,43 8,84 14,47 Perda Moderada (41 a 60 3,43 2,04 5,36 db) Perda Severa (61 a 80 db) 0,38 0,05 1,37 Estes dados ainda revelam que a prevalência para perdas moderadas de 7,3% (IC 95%: 2,04 a 5,73), severa 1,2% (IC95%: 0,05 a 1,37), profundas 0% e leves 11,7% (IC 95%: 8,84 a 14,47). Discussão: Diversas dificuldades foram encontradas no desenvolvimento do projeto, entre elas: desconhecimento da população com relação a estudos dessa natureza, o que demandou muito tempo para a obtenção de autorização para a realização dos procedimentos; falta de iluminação pública e difícil acesso, comprometendo as visitas noturnas; cenário político da região conturbado desde o início das intervenções, sendo que as equipes passaram por situações constrangedoras e arriscadas (interrupção da energia e da água, abordagem de cabos eleitorais de candidatos aos membros das equipes de pesquisa em campo); falta de transporte para locomoção das equipes aos setores pesquisados; Apesar das inúmeras dificuldades encontradas, os pesquisadores consideraram que a amostra foi suficiente para análise, uma vez que trata-se de expressivo número de participantes avaliados em pesquisa de base populacional realizado em condições adversas. Conclusão:

5 Este estudo viabilizou a solicitação de um serviço de saúde auditiva de média complexidade para a região de Monte Negro - RO e criou uma base de informações das alterações auditivas para a população de Monte Negro, aspecto este de fundamental importância para a continuidade de um programa de saúde auditiva na região. Estes achados podem ser utilizados para a população Norte do Brasil, uma vez que estão condizentes com os achados de outros estudos realizados em países em desenvolvimento. Referências Bibliográficas: BÉRIA, Jorge Umberto ; RAYMANN, B. C. W. ; GIGANTE, Luciana Petrucci ; FIGUEIREDO, Andréia Leal ; JOTZ, Geraldo Pereira ; ROITHMANN, Renato ; COSTA, Sady Selaimen da ; GARCEZ, Vera Regina ; SCHERER, Caroline Raymann ; SMITH, Andrew W. Hearing impairment and socioeconomic factors: a population-based survey of an urban locality in southern Brazil. Revista Panamericana de Salud Pública / Pan American Journal of Public Health, v. 21, p , MATHERS, C.; SMITH, A.; CONCHA, M. Global burden of hearing loss in the year [Internet site]. Disponível em: Acessado em 10/10/2007 ANEXOS: Figura 1 Mapa do Estado de Rondônia com destaque para o município de Monte Negro.

6 Agradecimentos: - Ao CNPq pelo auxílio recebido, processo Nº /2004-2; - À Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo que tem financiado as intervenções da FOB;