C O L E C Ç Ã O T E S E S / 11

Transcrição

1

2 C O L E C Ç Ã O T E S E S / 11

3 D A T R A M A D A S M I N H A S M E M Ó R I A S O F I O Q U E T E C E A D E P R E S S Ã O : E S Q U E C I M E N T O D I R I G I D O E M E M Ó R I A A U T O B I O G R Á F I C A N A D E P R E S S Ã O M A J O R

4 Dissertação de Doutoramento em Psicologia, na especialidade de Psicologia Clínica sob orientação do Prof. Doutor Paulo P.P. Machado apresentada à Universidade do Minho em Esta investigação foi apoiada por uma bolsa PRAXIS XXI da Fundação para a Ciência e Tecnologia TÍTULO: DA TRAMA DAS MINHAS MEMÓRIAS O FIO QUE TECE A DEPRESSÃO: ESQUECIMENTO DIRIGIDO E MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA DEPRESSÃO MAJOR AUTOR: VICTOR CLAUDIO ã INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA RUA JARDIM DO TABACO, 34, LISBOA TELEFONE: / FAX: ª EDIÇÃO: ABRIL DE 2004 CONCEPÇÃO GRÁFICA: INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA NA CAPA GRAVURA DE MATHIAS CORENTER, SÉC. XVIII, PHILADELPHIE, MUSEU DAS ARTES COMPOSIÇÃO: INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLICADA IMPRESSÃO E ACABAMENTO: PRINTIPO INDÚSTRIAS GRÁFICAS, LDA. DEPÓSITO LEGAL: /03 ISBN:

5 Victor Claudio DA TRAMA DAS MINHAS MEMÓRIAS O FIO QUE TECE A DEPRESSÃO: ESQUECIMENTO DIRIGIDO E MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA NA DEPRESSÃO MAJOR I S P A L i s b o a

6 Ao meu filho Rafael À minha mãe

7 í n d i c e Agradecimentos Resumo Abstract INTRODUÇÃO PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Capítulo I As Emoções Breve abordagem da perspectiva de Platão A perspectiva de William James A perspectiva de Bower A perspectiva de Schachter e Singer A perspectiva de Mandler A perspectiva de Lazarus A perspectiva de Oatley e Johnson-Laird A perspectiva de Leventhal e Scherer A perspectiva de Izard A perspectiva de Barnard e Teasdale A perspectiva de Power e Dalgleish Capítulo II Depressão: Perspectiva(s) Cognitiva(s) O modelo cognitivo da depressão de Beck Esquemas Os conteúdos dos esquemas na depressão A estrutura dos esquemas na depressão Esquema do Self na depressão O Processamento de Informação Modos

8 Vulnerabilidade à Depressão Estrutura de personalidade e vulnerabilidade Esquemas disfuncionais e vulnerabilidade A hipótese da activação diferencial A hipótese da dependência do humor A perspectiva de Power e Dalgleish Síntese Capítulo III Memória e Depressão A teoria de rede associativa semântica O modelo ICS O enviesamento mnésico na depressão O esquecimento As memórias autobiográficas A organização das memórias autobiográficas A perspectiva de Brewer A perspectiva de Neisser A perspectiva de Linton A perspectiva de Barclay As estratégias de evocação das memórias autobiográficas As memórias autobiográficas e a depressão PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Introdução Capítulo IV 1º Estudo Esquecimento Dirigido Objectivo Método Participantes Sujeitos com diagnóstico de depressão major Sujeitos com diagnóstico de perturbação de pânico Sujeitos sem alteração psicopatológica Instrumentos Tarefa de esquecimento dirigido Selecção dos adjectivos utilizados Tarefa solicitada aos estudantes que constituíram a amostra Análise das respostas dos estudantes Adjectivos seleccionados Elaboração da tarefa de esquecimento dirigido Aplicação da tarefa de esquecimento dirigido Instrução para a primeira lista Instrução para a segunda lista Apresentação dos adjectivos

9 Instrumentos de avaliação clínica Entrevista estruturada Escala da depressão de Hamilton O inventário da depressão de Beck Escala de ansiedade de Hamilton Inventário de ansiedade estado e traço (forma y) Questionário de esquemas Escala de atitudes disfuncionais Sub-teste verbal da escala de Wechsler para adultos Procedimento Aplicação para treino e correcção Ordenamento de apresentação do protocolo de investigação Follow-up Análise dos resultados Análise dos resultados no sub-teste de Vocabulário da WAIS Análise dos resultados obtidos nas escalas clínicas Escala de Hamilton para a depressão Inventário da depressão de Beck Escala de Hamilton para a ansiedade STAI estado e traço Questionário de esquemas Escala de atitudes disfuncionais Discussão Síntese Análise dos resultados da tarefa de esquecimento dirigido Total de palavras evocadas Palavras positivas evocadas Palavras negativas evocadas Relação entre as palavras positivas e negativas evocadas Análise das palavras evocadas levando em conta o efeito de primazia e recência Relação entre as palavras evocadas e a auto caracterização Relação das palavras evocadas com o nível de habilitações literárias Relação das palavras evocadas e o sub-teste de Vocabulário Relação das palavras evocadas com as escalas clínicas Relação entre as medidas de depressão e as palavras evocadas Relação entre as medidas de ansiedade e as palavras evocadas Relação entre o questionário de esquemas e as palavras evocadas Relação entre a escala de atitudes disfuncionais e as palavras evocadas Discussão e Síntese Capítulo V 2º Estudo Memória Autobiográfica Objectivo Método

10 Participantes Sujeitos com diagnóstico de depressão major Sujeitos com diagnóstico de perturbação de pânico Sujeitos sem alteração psicopatológica Instrumentos Tarefa de memória autobiográfica Selecção dos substantivos utilizados Tarefa solicitada aos estudantes que constituíram a amostra Análise das respostas dos estudantes Substantivos seleccionados Elaboração da tarefa de memória autobiográfica Aplicação da tarefa de memória autobiográfica Instrução Apresentação dos substantivos Instrumentos de avaliação clínica Entrevista estruturada Escala da depressão de Hamilton Inventário da depressão de Beck Escala de ansiedade de Hamilton Inventário de ansiedade estado e traço (forma y) Questionário de esquemas Escala de atitudes disfuncionais Sub-teste verbal da escala de Wechsler para adultos Procedimento Aplicação para treino e correcção Ordenamento de apresentação do protocolo de investigação Follow-up Análise dos resultados Análise dos resultados no sub-teste de Vocabulário da WAIS Análise dos resultados obtidos nas escalas clínicas Escala de Hamilton para a depressão e ansiedade Inventário da depressão de Beck STAI estado e traço Questionário de esquemas Escala de atitudes disfuncionais (DAS) Discussão Síntese Análise dos resultados da tarefa de memória autobiográfica Análise da relação do total de acontecimentos evocados com as palavras estímulo Análise da relação entre o tempo de latência e as palavras estímulo Análise do total de acontecimentos evocados Análise das valências dos acontecimentos evocados Análise dos acontecimentos evocados por agrupamento de palavras em valências Palavras negativas Palavras positivas

11 Palavras neutras Tempo de latência das palavras negativas Tempo de latência das palavras positivas Tempo de latência das palavras neutras Data dos acontecimentos evocados Análise de categorias dos acontecimentos evocados em cada uma das palavras estímulo Análise dos não-acontecimentos evocados nas palavras estímulo Relação entre os resultados obtidos nos diferentes factores de análise da tarefa de memória autobiográfica e nas escalas clínicas Análise das correlações nas duas avaliações dos sujeitos deprimidos Análise das correlações nos sujeitos deprimidos Análise das correlações nos sujeitos com perturbação de pânico Análise das correlações nos sujeitos sem alteração psicopatológica Análise das correlações entre os acontecimentos evocados por palavra estímulo e as escalas clínicas utilizadas Nas duas avaliações dos sujeitos deprimidos Nos sujeitos deprimidos Nos sujeitos com perturbação de pânico Nos sujeitos sem alteração psicopatológica Discussão e Síntese Na análise por palavras Na análise por acontecimentos Análise por valência de palavras Sujeitos deprimidos Sujeitos com perturbação de pânico Sujeitos sem alteração psicopatológica ª avaliação dos sujeitos deprimidos ª avaliação dos sujeitos deprimidos Capítulo VI Relação entre os resultados da tarefa de esquecimento dirigido e Capítulo VI da tarefa de memória autobiográfica Análise dos resultados nas duas avaliações dos sujeitos deprimidos Análise dos resultados nos sujeitos com perturbação de pânico Análise dos resultados nos sujeitos sem alteração psicopatológica Capítulo VII Conclusões Referências Bibliográficas

12 A G R A D E C I M E N T O S Sem os muitos cúmplices que de diferentes formas me apoiaram, este trabalho não teria deixado de ser um projecto. A todos quero agradecer. Em particular agradeço: Ao Prof. Doutor Paulo Machado pela disponibilidade e gratificante orientação, boas ideias e sugestões. Ao Prof. Doutor Mick Power pela sua co-orientação e pelas óptimas trocas de ideias em Edimburgo. À Dra. Júlia Vasconcelos, pela presença no júri de categorias e acima de tudo pela revisão exaustiva e compulsiva deste trabalho. À Dra. Maria Mateus pelo seu apoio, pela colaboração na recolha da amostra, pela presença no júri de categorias e pela sua disponibilidade para discutir aspectos do trabalho. Às Prof. Doutoras Maria Luisa Figueira, Silvia Ouakinin e Purificação Horta, pelo apoio na disponibilização de pessoas para a amostra. À Mestre Nelia Rebelo da Silva pelo seu apoio na disponibilização de pessoas para a amostra e pelas óptimas ideias na estatística. À Dra. Paula Sousa por toda a colaboração, apoio e motivação. À Dra. Paula Jordão pelo apoio na área da Filosofia. À Dra. Joana Rosa pelo seu apoio na disponibilização de pessoas para a amostra. Ao Gabinete de Estatística do ISPA, na pessoa do Prof. Doutor João Maroco, pelas inúmeras e frutíferas reuniões. À Dra. Florbela Baptista pela sua presença no júri de categorias. Ao Prof. Doutor Oscar Gonçalves pelo seu apoio a este projecto. 13

13 A todas as pessoas que se disponibilizaram a integrar a amostra. Aos meus amigos Luís Firmino, Vítor Oliveira, Rafael Trujillo pelo apoio e motivação nos momentos mais difíceis. Aos meus alunos e colegas pelo seu apoio e motivação. Ao Rafael um grande agradecimento pela paciência infinita de esperar pelo fim deste trabalho, para de novo ter pai a tempo inteiro. 14

14 R E S U M O Neste trabalho tivemos como objectivo estudar a relação entre o processamento e evocação da informação e a depressão major. Abordámos numa perspectiva cognitiva as emoções, a depressão e as características mnésicas desta. Efectuamos dois estudos, em que comparámos três grupos, sujeitos com depressão major, sujeitos com perturbação de pânico e sujeitos sem alteração psicopatológica. Em ambos os estudos trinta sujeitos com depressão major foram avaliados em dois momentos com um intervalo de três meses. Para a avaliação clínica utilizámos duas escalas de hetero-avaliação e quatro instrumentos de auto-avaliaç ão. Controlámos também o nível de conhecimento de vocabulário. No primeiro estudo comparámos as respostas a uma tarefa de esquecimento dirigido, em trinta sujeitos deprimidos, quinze sujeitos pânico e trinta sujeitos sem alteração psicopatalogica. No segundo estudo utilizámos uma tarefa de memória autobiográfica que aplicámos a quarenta e dois sujeitos deprimidos, vinte e oito sujeitos pânico e cinquenta e um sujeitos sem alteração psicopatológica. Com base nos resultados de ambos os estudos, concluímos que existe nos sujeitos deprimidos um enviesamento negativo e a perda de um enviesamento positivo, que se observava nos outros dois grupos. Os sujeitos deprimidos, com severidade elevada, apresentavam um processamento e evocação de informação preferencialmente com valência negativa. Associamos este facto à existência de conteúdos negativos dos esquemas do self e ao processamento e evocação de informação concordante com esses conteúdos. Assim, nos sujeitos deprimidos não se registava o papel regulador do self sobre os efeitos do processamento e evocação da informação negativa. Este aspecto reforça a existência de um self ambivalente. 15

15 Consideramos com base nos nossos resultados, que evidenciaram diferenças no processamento e evocação da informação em função da severidade da depressão, que a génese e manutenção da depressão estão mais relacionadas com os processos de codificação e evocação de informação, dirigidos pelos esquemas negativos do self, do que com os pensamentos negativos. 16

16 A B S T R A C T The objective of this study is to assess the relationship between the information processing and recall and the major depression. The approach used, based on a cognitive perspective, relates emotions, depression and its memory characteristics. The two studies conducted compare three groups: subjects with major depression, subjects with panic disorder and subjects with psychopathological disorder. In these studies, thirty major depression subjects were evaluated at two moments, with a three months interval. For the clinical evaluation two scales of hetero-evaluation were used and also applying four self-evaluation instruments. The level of vocabulary knowledge was also controlled. In the first study we compared the response to a directed forgetting task in thirty major depressed subjects, fifteen panic subjects and thirty subjects without psychopathological disorder. In the second study we used an autobiographical memory task applied to forty-two major depressed subjects, twenty-height panic subjects and fifty-one subjects without psychopathological disorder. Based on the results of these studies we concluded that negative biases exist in depressed subjects, and they also show a loss of positive bias, observed in the other two groups. The depressed subjects, presented a preferential highly severe processing and recall of negative information. We associate this fact with the existence of negative contents of the self-schemas agreeing with the processing and recall of information within these contents. Thus, in the depressed subjects the self didn't execute the regulation role in the processing and recall of negative information. This fact supports the existence of an ambivalent self. 17

17 We considered, on the basis of the results, the evidence of differences in the processing and evocation of information in function of the depression severity, that started and maintained depression are more related with the codification and evocation processes, directed by the negative self-schemas, than the negative thoughts. 18

18 i n T R O d U Ç Ã O