ETIOLOGIA DA FEBRÍCULA VESPERTINA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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1 CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM C.I.E.P.H LUCIANA VELASQUES HUBER MACHADO ETIOLOGIA DA FEBRÍCULA VESPERTINA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Artigo apresentado como requisito parcial do Curso de Especialização em Acupuntura, ministrado pelo Centro Integrado de Estudos e Pesquisas do Homem C.I.E.P.H. Prof. Esp. Marcelo Fabian Oliva FLORIANÓPOLIS 2011

2 ETIOLOGIA DA FEBRÍCULA VESPERTINA NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Luciana Velasques Huber Machado 1 Marcelo Fabian Oliva 2 RESUMO Febrícula vespertina é descrita como uma febre leve que se manifesta no entardecer. Dentro deste contexto, elaborou-se uma revisão bibliográfica para abordar a etiologia da febrícula vespertina. Tendo em vista que a enfermidade advém de um desequilíbrio no dinamismo entre o Yin-Yang, verificou-se essa ocorrência por uma deficiência de Yin, por ser no período da tarde onde o Yang decresce para nascer o Yin. A deficiência de Yin pode acometer vários órgãos e mesmo vísceras, isso dependerá da debilidade em que se encontra o organismo. PALAVRAS CHAVE: Febrícula. Vespertina. Yin. Vazio. Decifiência. 1 Fisioterapeuta Pós-graduando da Especialização em Acupuntura do Centro Integrado de Estudos e Pesquisas do Homem CIEPH Correspondência: Dr.a Luciana Velasques Huber Machado Av. Santa Catarina, 280, sl. 02, Estreito CEP Florianópolis, SC. luciana@posturarte.com.br. 2 Orientador Especialista em Acupuntura

3 - 2 - INTRODUÇÃO A Medicina Tradicional Chinesa descreve a saúde como um estado de equilíbrio dinâmico entre o Yin e o Yang. Os princípios básicos da medicina bioenergética apontam que a causa etiológica da enfermidade, normalmente, trata-se de um desequilíbrio energético no dinamismo Yin-Yang. Além disso, um mesmo distúrbio pode originar quadros patológicos em diversos órgãos e sistemas. Dentre os vários sinais de desequilíbrio orgânico há a febrícula vespertina, a qual se manifesta em virtude de um vazio de Yin. No vazio de Yin o organismo não consegue segurar o Yang, que é o responsável pelo calor. Quando o Yin não controla o Yang, o calor espalha-se pelo organismo, surgindo então à febrícula. Vespertina por se tratar do período onde o Yin está no Yang. Em vista do exposto, elaborou-se uma revisão bibliográfica para análise etiológica da febrícula vespertina, para então: estudar os quadros, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, que a originam; verificar plausíveis fatores desencadeantes; e relacionar outros sinais possivelmente a ela relacionados. DISCUSSÃO Neijing apud Pérez (2006, p.69) afirmou que: A saúde é o estado de equilíbrio do Yin-Yang interno, que permite uma interação favorável com o meio. Devemos considerar que o equilíbrio Yin-Yang necessário para manter a homeostasia do homem com o meio será diferente segundo o meio onde vive. O Imperador Amarelo disse a respeito do Yin-Yang (EMBID, 1990, p. 53): O Yin e o Yang são a via do Céu e da Terra, os grandes esquemas de todas as coisas, os pais da mudança, a origem e o princípio do nascimento e da destruição, o palácio dos deuses. Embid (1990) descreve que a energia Yang sobe ao Céu, é agitada, encontra-se encarregada pelo crescimento o que acontece no período da primavera, trata-se de uma energia de destruição (o que ocorre no outono) e, também, pela energia da transformação. Ao passo que a energia Yin desce em busca da Terra, é tranqüila, encarrega-se pela nutrição visível no verão e

4 pela criação de reservas período do inverno e, ainda, pela elaboração da forma. Maciocia (1996) afirma que o Yin corresponde ao interior, vazio e frio, enquanto o Yang, ao exterior, plenitude e calor. Pérez (2006) descreve que o Yin encontra-se no interior do organismo e ajuda a conservar o Yang do corpo, porém o Yang é mais externo e exerce sua função sobre o Yin. Ao mesmo tempo em que eles se opõem, ajudam-se e estimulam-se de maneira mútua. Ross (2003, p. 37) cita que o Yang dá energia, movimento e calor; Yin dá solidez, nutrição, frescor e descanso. [...] O desequilíbrio entre o Yin-Yang é a base, em grande parte, da doença, seja esta física ou psicológica. Yang gera o Yin quando minimiza seu dinamismo, claridade, calor. Bem como, o Yin ao Yang ao sair da inércia, reduzir a escuridão, o frio. Enfim ao diminuírem suas características um transformasse no outro, Yin em Yang e vice-versa, (LASVI, 1996). No entanto, não existe Yin sem o Yang e vice-versa, pois não existem Yin nem Yang absolutos. O dia é Yang e a noite é Yin, porém há subdivisões: do amanhecer ao meio-dia classifica-se como Yang no Yang; do meio-dia ao crepúsculo, como Yin no Yang; do crepúsculo ao cantar do galo, Yin no Yin; e da meia-noite ao amanhecer, Yang no Yin, (PÉREZ, 2006). Além disso, entre 15 e 19 horas compreende-se o período de reposição, é quando a bexiga e o rim encontram-se em plenitude, os quais são incumbidos pela formação da energia Wei. Trata-se do período de declive, do final da atividade, o momento no qual as energias não utilizadas retornam ao armazém energético o rim. É o momento que inicia o período Yin, o entardecer a água começa a neutralizar o fogo, (PÉREZ, 2006). Respondendo a um questionamento realizado pelo Imperador Amarelo, Chi-Po, segundo Embid (1990, p.60-61), afirmou: A fim de tratar um desequilíbrio entre Yin-Yang é necessário saber a respeito da menstruação nas mulheres e o crescimento da energia sexual nos homens, sem este conhecimento se está sujeito a um envelhecimento prematuro. Quando um homem alcança a idade de 40 anos, a energia de seus rins Yin (energia sexual) reduz-se pela metade, o que resulta numa debilidade em seus movimentos. Quando alcança a idade dos 50 anos começa a experimentar sensações de peso em seu corpo, seus ouvidos tornam-se incapazes de ouvir e seus olhos de ver claramente. Quando alcança a idade dos 60 anos torna-se impotente, sua energia se debilita em grande parte, suas nove aberturas tornam-se muito entorpecidas, sua energia na região inferior torna-se insuficiente e sua energia na região superior torna-se excessiva, como resultado iniciam sintomas como nariz expelindo muco e olho lacrimejando.

5 Por isso o Imperador Amarelo (EMBID, 1990) afirma que o tratamento deveria basear-se nas origens do Yin e do Yang. Em decorrência do desequilíbrio Yin-Yang classificam-se dois tipos de enfermidades: as enfermidades Yang ou síndromes Yang; e as enfermidades Yin ou síndromes Yin. Síndromes Yang apresentam um excesso de Yang e uma deficiência de Yin, enquanto nas síndromes Yin há excesso de Yin e déficit de Yang. (PÉREZ, 2006). Não existem nomes para as enfermidades, o que há é um estado de desequilíbrio energético manifestado por uma falta ou um excesso, que é respectivamente: síndrome Yin ou vazio (Xu) e síndrome Yang (Shi). Síndromes de vazio tratam-se de acometimentos crônicos e envolvem às unidades energéticas, (PÉREZ, 2006). Pérez (2006, p.172) descreve que: Toda síndrome de plenitude de um órgão ou víscera piorará no momento de sua máxima atividade. E, toda síndrome de vazio melhorará neste momento. No entanto, toda a síndrome de plenitude melhorará no horário oposto ao de máxima atividade e toda de vazio piorará. Ross (2003, p.37): Yang em excesso ou deficiência de Yin significam excesso de atividade, de movimento, de calor e de secura, com falta de descanso decorrente de nutrição insuficiente e falta da perfeita sedimentação do Espírito do Coração no corpo material. A deficiência Yin pode decorrer da associação dos sintomas de insuficiência dos líquidos Yin e de sinais de Yin que não consegue controlar o Yang, isso gera calor interno vazio, segundo afirmam Auteroche e Navailh (1986). Quando a energia Yang encontra-se forte (expandindo), há uma deficiência da energia Yin, que se encontra fraca e vice-versa. Trata-se da incessante busca do Yin pelo Yang, por isso o frio e o calor se sucedem, sem essa transformação não haveria atividade, nem desenvolvimento. Significa que, durante as atividades orgânicas (Yang), há um consumo de líquidos orgânicos Yin e de energia, o que acarretará um aumento de Yang e redução de Yin. Caso o Yang encontre-se em alta haverá sinais de calor (febre ou febrícula), (PÉREZ, 2006). Pérez (2007), Maciocia (1996) e Auteroche e Navailh (1986) descrevem que os sinais de Yin insuficiente para controlar o Yang, produzindo calor em excesso, são: sudorese noturna, febrícula vespertina, calor nos cinco centros

6 - 5 - (palma das mãos, planta dos pés e tórax), faces avermelhadas, pulso rápido, agitação ansiosa, diminuição da visão. Já, a insuficiência dos líquidos Yin manifesta-se através do emagrecimento, boca e garganta seca, vertigens, insônia, oligúria, constipação, língua sem saburra, pulso fino. Para Pérez (2006) podem-se classificar os líquidos orgânicos em dois grandes grupos, segundo a Medicina Tradicional Chinesa (MTC): os fisiológicos e os patológicos (fleumas, mucosidade e edema). Os líquidos orgânicos fisiológicos possuem origem comum: a água do rim (água mãe Shénshui). Nos glomérulos renais ocorre a importante transformação, através da extração das substâncias tóxicas do sangue (que são eliminadas pela urina), o restante denomina-se água mãe e será distribuído para toda a economia celular. Esta água mãe é a água pura ou água energética que possui cargas iônicas capazes de aderirem-se nas células e, cada órgão produzirá o seu líquido orgânico, assim o Yin Ye do: Fígado são as lágrimas; Coração é o suor; do Baço-Pâncreas, a saliva; do Pulmão, o líquido claro nasal; e do Rim, o líquido auditivo, (PÉREZ, 2006). Os líquidos orgânicos fisiológicos possuem uma missão fundamental de umedecer, transportar nutrientes, fluidificar o sangue (Xue) e manter o equilíbrio frio-calor, em união com a essência (Jing). Assim, sua deficiência pode ocasionar sinais de secura, patologias degenerativas por falta de aportes, estase de sangue por excessiva condensação ou alteração circulatória, desidratação, sudorese, desequilíbrios térmicos, etc., (PÉREZ, 2006). O calor é a energia vital e manifestação de vida, ele ativa o Yang e, portanto, o sangue. Por isso, a Medicina Tradicional Chinesa utiliza métodos de estímulo térmico (como a moxabustão) e indica o estímulo ao calor fisiológico, no entanto em excesso pode converter-se em secura e fogo, por isso é útil purificá-lo, (PÉREZ, 2007). Febrícula ou febre leve, segundo Wang e Duhamel (1996), pode ocorrer em qualquer enfermidade advinda por uma lesão interna ou em fase terminal da enfermidade de Calor. É uma febre pouco intensa que varia de 37 a 38 C. Num desequilíbrio considera-se que o calor progride ao interior do organismo seguindo etapas, através das capas Wei (defesa), Qi (energia), Ying (nutrição) e Xue (sangue). Estas se tratam de etapas que graduam a seriedade da síndrome febril, pois quanto mais o fator patógeno penetra, mais a enfermidade se agrava. Assim, quando o fator patógeno encontra-se na capa

7 Wei mais exterior implica complicações no Pulmão, pele, pêlos e cabelos; caso atinja a capa Qi - a enfermidade está interiorizando afeta abaixo do diafragma: bexiga, estômago, intestinos e vesícula biliar; penetrando mais chega na capa Ying indica que o calor perverso afetou o sistema humoral ataca ao mestre do coração; e, por último, na capa Xue - o calor penetra no Fígado e no Rim e está consumindo o sangue, faz com que ele se mova de maneira anômala, assim afirma Pérez (2007). Segundo descreve Pérez (2007, p ): A invasão do calor perverso na superfície do corpo causa a disfunção da energia defensiva. Como o Pulmão comunica-se com a pele e com o pêlo, a energia defensiva conecta-se com o Pulmão, a síndrome na Wei possui muitas vezes sintomas de patologia do meridiano do Pulmão. O calor em combinação com a umidade endógena pode produzir a síndrome de umidade-calor. Pérez (2007) descreve como sinais clínicos da síndrome umidade-calor sensação de peso na cabeça, febrícula vespertina, fobia ao frio, boca pastosa, ausência de sede, saburra pegajosa e branca, pulso superficial, fraco e deslizante. Pérez (2007) afirma que o sistema Ying se comunica com os sistemas Qi (da segunda defesa) e do Xue (sangue). Se a enfermidade passa de Ying a Qi indica melhoria e, caso passe do Ying ao Xue indica piora. O calor pode ter origem externa ou interna. O calor externo ou ventocalor exógeno perverso é assim denominado, pois o vento consegue penetrar e fazer qualquer energia perversa penetrar, ele é o veículo, o vetor de penetração; já o calor reproduz a sintomatologia do calor interior do organismo. O calor interno trata-se do desequilíbrio dos movimentos da pentacoordenação que podem originar calor, (PÉREZ, 2007). Diante da patologia bioenergética, o vento se trata do fator patógeno mais incidente, pois é através dele que o frio e o calor utilizam-se para se transformar em umidade ou secura. O vento sempre está associado às síndromes nocivas, em virtude do dinamismo (o que o classifica como Yang) ocasionado pelo desequilíbrio que desencadeia transformação. Por isso, não há enfermidade interior sem a participação do vento. Assim, patologias exteriores, em circunstâncias normais, decorrem do vento frio ou vento calor, já as interiores do vento secura ou vento umidade, segundo descreve Pérez (2007).

8 - 7 - Quando a febrícula é decorrente de uma invasão de vento-frio na superfície do corpo, ao atacar o exterior do corpo produz plenitude que desencadeia um desequilíbrio entre a energia Yang (Wei) e a Yin (Rong) e estas estancam. Porém, quando a febrícula surge da invasão do vento-calor ao exterior do corpo que provoca hiperatividade do Yang através da dilatação dos poros e, por meio do dinamismo do vento, uma ação rápida até os planos ShaoYang (TA e VB) e YangMing (IG e E). O TaiYang (ID e B) controla a energia Wei, a umidade da pele e os líquidos Yin das estruturas externas, porém quando o calor é muito intenso, pode produzir rajadas de calor ou síndrome de calor no plano TaiYang, por isso, entre outros sinais clínicos, observa-se a febrícula, (PÉREZ, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS A febrícula vespertina decorre de uma síndrome de vazio ou deficiência de Yin, em virtude deste encontrar-se no início da sua ascensão no período das 15h. Isso pode desencadear deficiência em diversos órgãos ou vísceras (como Pulmão, Baço-Pâncreas, Estômago, Coração, Fígado e Rim). No entanto, tudo se inicia com a desarmonia do Yin, que dependendo da debilidade do organismo em questão afetará o órgão ou víscera que se encontrar em debilidade. Além disso, como exposto, outro grande colaborador para o surgimento da febrícula é o vento que, em virtude do seu dinamismo, facilita a penetração de energia perversa ao interior do organismo o frio ou o calor. Quando o vento reage com o frio tem-se uma reação de plenitude pelo desequilíbrio advindo do estancamento das energias Yang e Yin. No entanto, reagindo o vento com o calor, o Yang encontrar-se-á em hiperatividade, atingindo os planos energéticos responsáveis pelos equilíbrios dinâmico (ShaoYang) e hídrico (YangMing). Contudo, a febrícula vespertina consiste em um estágio terminal da enfermidade, visto que não evolui à capa Xue, por se tratar de um desequilíbrio externo do organismo. Enfim, teoricamente, o Yin deveria sobressair-se ao Yang no período do entardecer (entre 15 e 19 horas), por se tratar do momento de ascendência do Yin orgânico, contudo existe um falso calor ou uma falsa plenitude Yang, ocasionado por um vazio de Yin.

9 - 8 - REFERÊNCIAS AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O Diagnóstico na Medicina Chinesa. São Paulo: Andrei, 1986, 420p. EMBID, Alfredo. Sun Wen Primera Parte: Introduccion y notas. Madrid: Mandala, 1990, 447p. LASVI, Carlos. Estúdio General sobre Medicina Energética: curso completo de acupuntura. Madrid: Mirach, 1996, 430p. MACIOCIA, Giovanni. Os fundamentos da Medicina Chinesa:um texto abrangente para acupunturistas e fitoterapeutas. São Paulo: Roca, 1996, 1000p. PÉREZ, A. Carlos Nogueira. Acupuntura I: Fundamentos de Bioenergética Anatomia y Fisiologia Acupuntural. Madrid: C.E.M.E.T.C, 2006, 966p. PÉREZ, A. Carlos Nogueira. Acupuntura II: Fundamentos de Bioenergética Semiologia y Diagnóstico Acupuntural. Madrid: C.E.M.E.T.C, 2007, 972p. ROSS, Jeremy. Combinações de Pontos de Acupuntura: a chave para o êxito clínico. São Paulo: Roca, 2003, 499p. WANG, Peiwen; DUHAMEL, Olivier. Medicina Chinesa: diagnóstico diferencial. São Paulo: Andrei, 1996, 197p.