Implantação do Campo de Multiplicação de Sementes de Milhos Crioulos no Instituto Federal do Paraná, Câmpus Ivaiporã
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1 Implantação do Campo de Multiplicação de Sementes de Milhos Crioulos no Instituto Federal do Paraná, Câmpus Ivaiporã Implementation and Multiplication in the Field of seeds creoles in the Federal Institute of Paraná, Campus Ivaiporã TEIXEIRA, Elma José Rosa 1 ; MEDEIROS, Kamila Batista 2 ; SOUZA JUNIOR, João Batista 3 ; DINIZ, Ellen Rúbia 4 ; MOURO, Gisele Fernanda 5. 1 Instituto Federal do Paraná, helmateixeira@gmail.com; 2 kamilabatistamedeiros@gmail.com; 3 joaob.junior1994@gmail.com; 4 ellen.diniz@ifpr.edu.br; 5 gisele.mouro@ifpr.edu.br Resumo: A preservação da variabilidade ou a conservação dos recursos genéticos garante a diversidade genética das inúmeras espécies de plantas. O Projeto Sementes Crioulas Tradicionais ou Locais desenvolvido pelo Instituto Federal do Paraná no campus de Ivaiporã visa conservar e multiplicar as variedades crioulas regionais. Neste sentido, esse trabalho objetiva relatar a experiência da implantação do campo de semente incluindo o procedimento artificial de polinização. O campo foi implementado na área experimental da instituição entre o meses de outubro de 2015 à março de Em parcelas com área total 16 m 2 foram semeadas 16 variedades de milho crioulos obtidas do banco de sementes da instituição. Quando as plantas atingiram o período reprodutivo, as inflorescências femininas (espiga) foram protegidas com embalagem de plástico, antes da emissão do estilo-estigma (cabelos da boneca). Posteriormente as plantas de uma mesma variedade foram polinizadas entre si de forma manual. Com a implantação deste campo, os alunos da instituição puderam aprimorar a técnica de polinização artificial de sementes de milhos crioulos. A diversidade genética produzida por meio da polinização artificial nas populações das variedades crioulas selecionadas produzirão planta mais adaptadas às condições ambientais da região. Palavras-chave: Variabilidade genética, resgate de sementes, agricultura familiar, fecundação. Abstract: The preservation of variability or the conservation of genetic resources ensures the genetic diversity of many species of plants. The Creole Seeds Project Traditional and Local developed by the Federal Institute of Paraná in Ivaiporã campus aims to conserve and multiply the regional landraces. In this sense, this work aims at describing the implementation of the seed field and artificial pollination of varieties. The course was implemented in the experimental area of the institution between the months of October 2015 to March 2016 were planted 16 varieties of creole maize seeds obtained from the institution seed bank. The plots of each variety were composed of a total area of 16 m2. When the plants reached the reproductive period, the female inflorescences (spike) were protected with plastic wrap before the issue of the stigma style (doll hair). Subsequently the plants of the same variety were pollinated with each other manually. With the implementation of this course students of the institution could improve the artificial pollination technique corns creole seeds. Genetic diversity produced through artificial pollination in populations of
2 selected landraces produce more plant adapted to the environmental conditions of the region. Key words: genetic variability, seed rescue, family farming, fertilization. Contexto As sementes industriais híbridas e transgênicas têm ocupado grande parte das áreas cultiváveis na atualidade, porém ainda existe um grande patrimônio genético preservado pelos agricultores, seja por motivos culturais ou pela dificuldade de acesso ao crédito. As sementes produzidas e preservadas pelos agricultores recebem o nome de Sementes Crioulas. Passaram por um processo de adaptação a regiões pertencente, ou seja, ao logo dos anos os agricultores selecionaram as plantas que tiveram melhor desempenho e as plantavam novamente selecionando assim genes e características especificas de interesse para a região. O uso de sementes crioulas reduz o custo para os agricultores, pois são menos exigentes quanto à nutrição, são mais rústicas e resistentes ao ataque de pragas e doenças e não há a necessidade de comprá-las. Pode-se obter maior lucro na comercialização de sementes orgânicas e contribui com conservação da biodiversidade do ecossistema, proporcionando mais sustentabilidade. Porém, observa-se menor produtividade quando comparada a variedades convencionais, transgênica e/ou hibridas. Neste contexto, são necessárias pesquisas que permitam melhorar a produtividade das sementes crioulas, garantindo suas características e rusticidades. Buscando melhorias no que se refere à produção de sementes crioulas, o projeto Sementes Crioulas, Tradicionais ou Locais: contribuindo com a soberania de agricultores familiares na Região de Ivaiporã-PR, busca por meio de pesquisa o resgate a conservação e a multiplicação de variedades crioulas, para ampliar a base genética e a ampliação da disponibilidade de variedades de sementes para a produção agroecológica e orgânica. O presente projeto foi direcionado para espécies prioritárias para a região: abóbora, tomate, feijão, milho, guandu e crotalária, pois são espécies que podem ser utilizadas na alimentação humana e animal e no caso do adubo verde é uma alternativa de baixo custo pra melhoria das condições do solo. Dentre estas espécies, destaca-se o milho para a agricultura familiar, que é uma planta importante para a alimentação humana e animal (aves, suínos e bovinos de leite). Porém, o milho é uma cultura que apresenta peculiaridades na produção de suas sementes: por ser uma planta alógama, fica dificultada a manutenção de variedades puras pelos agricultores, havendo assim grande risco de contaminações com outras variedades ou até mesmo contaminadas por variedades transgênicas.
3 Para obter e conservar sementes crioulas com características desejáveis, é necessário adotar práticas que garantam a qualidade e conservação da variabilidade genética. Existem alguns métodos que são utilizados para isso, como: barreiras vegetais, distâncias entre variedades, polinizações manuais, entre outros. A polinização manual surge como alternativa para aqueles que não possuem disponibilidade de espaço para respeitar a distância entre variedades para conservação de linhagens puras, o que proporcionará a segurança da variabilidade genética. O objetivo desse trabalho é relatar a experiência vivenciada pela ação realizada por meio do projeto Sementes Crioulas, Tradicionais ou Locais, contribuindo com a Soberania de Agricultores Familiares na Região de Ivaiporã-PR, aprovado na Chamada MAPA/MCTI/CNPq 40/2014, com a realização do ensaio de polinização manual em variedades de milho crioulo, buscando uma forma de manejo acessível aos agricultores familiares para a manutenção da pureza genética de milho. Descrição da Experiência A experiência foi vivenciada no Laboratório Didático de Campo do Campus Ivaiporã, do IFPR, por estudantes e bolsistas Institucionais e do Projeto, durante período de outubro de 2015 a março de O trabalho teve a iniciativa de avaliar procedimentos e a metodologia de polinização, que poderá ser utilizada por agricultores da região, que permitirá a utilização e reprodução desse material genético em suas propriedades, melhorando assim a qualidade das sementes. Busca ainda, reduzir a possibilidade de contaminação com outras variedades, viabilizando a manutenção da diversidade genética. No preparo do solo, foram realizadas duas gradagens, sendo a primeira com grade aradora e a segunda com a grade niveladora. As parcelas foram medidas e demarcadas com estacas. O limite de cada parcela foi delimitado usando barbante. Posteriormente foi realizada a semeadura manual. As variedades utilizadas foram plantadas em dias distintos. As variedades arrecadadas com agricultores locais foram plantadas cerca de 40 dias após a semeadura daquelas armazenadas no banco de sementes do Instituto federal do Paraná, Campus Ivaiporã. Foram utilizadas 16 variedades de milhos crioulos, distribuídos em parcelas de 16 m 2, com espaçamento de 20 cm entre plantas e 80 cm entres linhas. O campo de cultivo e multiplicação das variedades de milho crioulo está ilustrado na Figura 01. Na semeadura foi realizada a adubação com esterco bovino, na proporção de 5 litros por metro linear, aplicado no sulco de plantio.
4 Figura 01: Campo de multiplicação de sementes de variedades de milho crioulo, em Ivaiporã-PR. Durante o desenvolvimento da cultura, foram realizadas vistorias nos períodos da manhã e tarde, que determinaram a necessidade de aplicação dos produtos para o controle de pragas e doenças. Os produtos utilizados foram: óleo de Neem (Azadirachta indica) e urina de vaca curtida (em recipiente plástico fechado por três dias após a coletada), para o controle de vaquinhas (Diabrotica speciosa) e grilos (Gryllidae), ambos na concentração de 1 ml por litro de água, assim como aplicações de Dipel (Bacillus thuringiensis) na concentração de 1 grama para cada litro de água. Foi ainda preparado nosódio (preparado homeopático feito a partir do próprio agente causador do desiquilíbrio) para o controle de lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda). Foram realizadas duas capinas manuais para manejar plantas espontâneas nas fases V3 e V10. Foi realizada adubação de cobertura com composto orgânico comercial após a capina do estagio V10, a proporção de 5 litros por metro linear. Após o surgimento das espigas, foi realizada a proteção dessas, utilizando saco plástico transparente de 30cmx15cm, até o momento da polinização. Para a realização da polinização, foi coletado grão de pólen utilizando saco de papel kraft gramatura 80, com dimensões de 36 x 18 cm e capacidade de 5 Kg e distribuídos sobre os estigmas da inflorescência nos períodos da 10 h às 12 h e 14 h às 16 h. O
5 mesmo saco de papel utilizado para a coleta do pólen foi utilizado para cobrir as espigas já polinizadas, como forma de identificação. A colheita foi realizada de forma manual, no ponto de maturação fisiológica do milho que era identificada quando a planta já havia entrado em processo de senescência e todos os grãos na espiga já haviam alcançado o máximo de acumulação de peso seco e vigor. Isso ocorre cerca de 50 a 60 dias após a polinização, quando também ocorre a formação da camada preta na ponta do embrião da semente (Magalhães; Durães 2006). Após a colheita, as espigas foram descascadas e expostas ao sol até que alcançassem a umidade de 13 a 15%. Depois de secas, as espigas foram debulhadas manualmente (Figura. 2) e as sementes empacotadas em sacos plásticos transparentes, selados a vácuo e armazenados no banco de sementes, mantido a 9 C. Resultados A realização da experiência proporcionou resultados significativos, possibilitando aprendizagem, adaptações de metodologias e conhecimento prático sobre polinização manual de milho. Observou-se que a polinização manual de variedades crioulas de milhos é possível e permite a conservação da diversidade genética do milho. As variedades Asteca, Incas, Roxo, Pipoca Roxa, Branco, Rajado e outras três, catalogadas por numeração (os agricultores que as forneceram não souberam identificar - Figura.2), obtiveram melhor desempenho, com espigas grandes e com maiores números de grãos fecundados. Após a colheita destas variedades, a região foi atingida por chuvas excessivas sequenciais, na data, que inviabilizando sua adequada polinização, já que a maior parte dos grãos de pólen foram levados pela chuva. As variedades afetadas pelo excesso de chuva foram: Pé de galinha, Catingueiro, Caiano, Palha roxa, Caana roxo, Laranjinha, Palha roxa escura.
6 Figura 2. Debulhamento de milho branco coletado no Campo de Multiplicação de Sementes do Instituto Federal do Paraná, Campus Ivaiporã, em Ivaiporã-PR. O objetivo desta experiência não foi avaliar a produtividade e sim atestar a eficiência do processo de polinização manual e compartilhá-lo com as comunidades rurais envolvidas. Neste contexto, a experiência proporcionou a adaptação e avaliação local de tecnologia para produção agroecológica de sementes. Foi observado que o método é de fácil manejo e baixo custo, e que permite sua utilização nas propriedades familiares, além de apresentar bons resultados como pode ser observado na figura 3. Contudo, observou-se que é necessário o aprimoramento das técnicas utilizadas para garantir a eficácia do método: é necessário fazer a cobertura do pendão para que não ocorra a perda do pólen; repetir por um período maior a polinização das inflorescências femininas e com isso, garantir maior número de grãos fecundados; ampliar as vistorias prévias para melhor decidir sobre quando realizar a cobertura das espigas e pendões; realização prévia de treinamento com a equipe para melhor ajustar a metodologia que será colocada em prática. Dentre as dificuldades encontradas no trabalho, destacou-se o controle das plantas espontâneas entre as linhas de plantio. É necessário buscar técnicas para facilitar o manejo. Uma hipótese é o plantio de adubos verdes de pequeno porte entre as linhas da cultura do milho. Os adubos verdes também podem contribuir para o
7 desenvolvimento das plantas de milho, pois realiza a fixação biológica de nitrogênio, elemento que limita o desempenho da cultura. Figura 3. Milhos gerados pelos trabalhos desenvolvidos no Campo de Multiplicação de Sementes do Instituto Federal do Paraná, Campus Ivaiporã, em Ivaiporã-PR. O trabalho será repetido na safra de 2016/2017, o qual pretende aprimorar as técnicas utilizadas, favorecendo a realização de oficinas, minicursos, palestras e dia de campo para popularizar junto aos agricultores familiares, agricultores assentados da reforma agraria e guardiões de sementes crioulas, os procedimentos metodológicos e técnicas adaptadas. Ao se apropriarem dessas técnicas e as
8 realizarem em suas propriedades, serão capazes de manterem a diversidade genética de seu material e aprimorá-lo para características desejáveis. Agradecimentos Ao Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX) da Diretoria de Extensão, Inclusão e Cultura (DIEXT) da Pró-Reitoria de Extensão, Pesquisa e Inovação (PROEPI) do Instituto Federal do Paraná. Ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão de bolsas e financiamento do trabalho. Referências MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M. Fisiologia da Produção de Milho. Circular Técnica n⁰ Disponível em < /publica/2006/circular /Circ_76.pdf >. Acesso em 02/09/2016
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