DIREITO ADMINISTRATIVO I
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1 DIREITO ADMINISTRATIVO I Instituições particulares de Interesse Público Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa Catarina Filipa Ferreira Belo SBT15 nº 57319
2 A administração em sentido orgânico ou subjetivo é composta por variadas instituições públicas tais como o Estado, os institutos públicos, as empresas públicas, as associações públicas, as autarquias locais e as regiões autónomas, integrando a Administração Pública. O Direito administrativo estabelece as condições de legitimidade da atividade desenvolvida no desempenho da função administrativa, designadamente da prática de atos imperativos formais, adotados no exercício de prerrogativas de poder público e em vista à produção de efeitos jurídicos externos (regulamentos, atos e contratos administrativos). No entanto, o direito não regula apenas entidades públicas. Regula também entidades privadas, que são consideradas na perspetiva de interesse geral, chamadas instituições particulares de interesse público. Estas instituições são instituições privadas criadas por iniciativa particular, através de atos de direito privado, mas que prosseguem fins de interesse público ficando assim sujeitas por lei a um regime definido pelo Direito Administrativo. Possuem um regime não só de direito administrativo, mas também de direito privado que, apesar de serem privadas, revestem interesse público. Estas instituições existem particularmente devido a três motivos: 1) Muitas das vezes a administração pública não pode abranger todas as tarefas necessárias em benefício da coletividade e, assim sendo, recorre aos capitais particulares e incumbe empresas privadas de desempenhar uma função administrativa como acontece, por exemplo, com as concessões de serviços públicos, de obras públicas ou do domínio público. Estamos perante o exercício privado de funções políticas; 2) A lei considera que um determinado número de congregações privadas é de tal forma relevante no plano do interesse coletivo que decide submetê-las a uma fiscalização permanente ou mesmo a uma intervenção por parte da Administração Pública. É o que acontece, por exemplo, com as sociedades de interesse coletivo. A lei refere-se ao controlo público de atividades privadas; 3) A lei pode ainda admitir que, em determinadas áreas de atividade, sejam criadas entidades privadas, por iniciativa particular, para se dedicarem à prossecução de tarefas de interesse geral que serão realizadas em simultâneo com a realização de atividades idênticas pela Administração Pública. É o que se verifica com as instituições de assistência ou beneficência. Pode dizer-se que estamos perante uma coexistência colaborante entre atividades públicas e privadas. A sujeição das instituições particulares de interesse público às normas de regulamentação administrativa trata-se de um modo de descentralização funcional do setor público através da transferência dos seus poderes próprios para a esfera do setor privado, ou por autorização da concorrência dos particulares com a Administração no desempenho de certas tarefas comuns.
3 As instituições particulares de interesse público têm duas espécies distintas: i) Sociedades de interesse coletivo; ii) Pessoas coletivas de utilidade pública: a) Pessoas coletivas de mera utilidade pública; b) Instituições particulares de solidariedade social; c) Pessoas coletivas de utilidade pública administrativa. De acordo com o DL Nº460/77 de 7 de novembro. 1. SOCIEDADES DE INTERESSE COLETIVO: Podem definir-se como empresas privadas, de fim lucrativo, que por exercerem poderes públicos ou estarem submetidas a uma fiscalização especial da Administração Pública, ficam sujeitas a um regime jurídico específico traçado pelo Direito Administrativo. Atualmente existem cinco principais espécies de sociedades de interesse coletivo: I. Sociedades concessionárias de serviços públicos, de obras públicas ou de exploração de bens do domínio público; II. Empresas que, a outro título, prestem serviços públicos ou serviços de interesse geral; III. Empresas participadas que prestem serviços públicos ou serviços de interesse geral; IV. Outras empresas, participadas ou não, que exerçam poderes públicos; V. Empresas que exerçam atividades em regime de exclusivo ou de privilégio não conferido pela lei geral. Estas sociedades beneficiam de privilégios e prerrogativas de que as empresas privadas normalmente não gozam, como isenções fiscais, direito de requerer ao Estado a expropriação de certos terrenos de que necessitem para se instalar, a possibilidade de beneficiar, quanto às obras que compreendem, do regime jurídico das empreitadas das obras públicas, entre outros. Em contrapartida estão sujeitas a certos deveres ou encargos especiais impostos por lei como, por exemplo, os corpos gerentes destas empresas se poderem encontrar sujeitos a incompatibilidades e limitações de remuneração e o seu funcionamento poder estar submetido à fiscalização efetuada por delegados do governo (é o representante do Estado que fiscaliza a atividade da empresa). O professor Freitas do Amaral defende que entidades colaboram com a Administração, mas não fazem parte dela, pois como consta no artigo 82º, n. º3 da CRP fazem parte do sector privado os meios de produção cuja propriedade ou gestão pertence a pessoas singulares ou coletivas privadas. Logo, se pertencem ao setor privado e não ao público não podem fazer parte da Administração Pública.
4 2. PESSOAS COLETIVAS DE UTILIDADE PÚBLICA As associações, fundações ou cooperações são consideradas pessoas coletivas privadas de fim não lucrativo e por isso podem ser vistas pela lei como entidades de utilidade particular ou como entidades de utilidade pública. Apesar de terem de prosseguir fins não lucrativos de interesse geral, desenvolvem atividades que não interessam à comunidade nacional, a qualquer região autónoma ou autarquia local, mas sim a grupos privados. Estas entidades têm de cooperar com a Administração Pública no desenvolvimento desses fins de interesse geral e precisam de obter uma autorização da mesma uma declaração de utilidade pública por mera decisão dos seus criadores. Apenas podem ser consideradas pessoas coletivas de utilidade pública aquelas que, reunindo todos os requisitos legais, recebam do governo o reconhecimento de que são verdadeiramente de utilidade pública. Exemplos destas pessoas coletivas são, por exemplo, as Misericórdias, os bombeiros voluntários, a Fundação Gulbenkian, etc As pessoas coletivas de utilidade pública podem classificar-se segundo variados critérios de entre os quais: a) Natureza do substrato: associações, fundações e cooperativas; b) Âmbito territorial de utilidade pública: geral (fins de interesse nacional), local (fins que interessem apenas a uma região autónoma) ou regional (fins que interessem apenas a uma autarquia local); Quanto aos fins que prosseguem e ao regime jurídico a que estão sujeitas podemse classificar como: a) Pessoas coletivas de mera utilidade pública (DL n.º 460/77) Prosseguem quaisquer fins de interesse geral que não correspondam aos fins específicos das outras duas categorias. Têm pouca intervenção da administração Pública e não envolvem tutela administrativa nem controlo financeiro clubes desportivos, por exemplo; b) Instituições particulares de solidariedade social (DL n. º119/83) Constituem-se para dar expressão organizada ao dever moral de solidariedade e de justiça com os indivíduos. Contêm o direito ao apoio financeiro do Estado e a sujeição à tutela administrativa deste - Misericórdias; c) Pessoas coletivas de utilidade pública administrativa (Art. º416 CA) Associações humanitárias, que visam socorrer feridos, doentes ou náufragos, a extinção de incêndios, entre outros associações de bombeiros voluntários
5 Há uma maior intervenção do Estado nas pessoas coletivas de utilidade pública administrativa, pois estas constituem uma supressão de uma omissão do poder público, e correspondem ao exercício privado de funções públicas, tendo, portanto, que ser submetidas a um maior controlo e a um maior auxílio financeiro. Conclui-se então que as pessoas coletivas de utilidade pública são entidades privadas e as pessoas coletivas de utilidade administrativa são também privadas e não constituem elementos da Administração mas sim entidades particulares que com ela colaboram. Na perspetiva do professor Freitas do Amaral, entende-se que quando se fala em associações e fundações de utilidade pública deve utilizar-se o termo third sector visto que não tem fins lucrativos mas sim altruístas que se encarrega de atividades humanitárias, culturais e de solidariedade social. Bibliografia Amaral, D. F. (2015). Curso de Direito Administrativo (4ª ed., Vol. I). Almedina. Andrade, J. C. (s.d.). Lições de Direito Administrativo (4º ed.). imprensa da universidade de coimbra.
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