As Meninas do Quarto 28

Transcrição

1 As Meninas do Quarto 28

2 Desenho de Helga Pollak

3 Ministério da Cultura e Room 28 Projects Brasil apresentam: As Meninas do Quarto 28 Realização Hannelore Brenner Dodi Chansky e Karen Zolko Roberta Sundfeld concepção Curadoria De 23/5 a 29/6 de 2014 Av. Europa 218 Jardim Europa - São Paulo - SP

4 Desenho de Alice Sittig

5 A história por trás da história Como a exposição As Meninas do Quarto 28 chegou ao Brasil Há dois anos, minha amiga de infância, Karen Zolko, comentou comigo sobre sua tentativa de obter, junto ao Museu Judaico de Praga, uma cópia de um desenho que lá vira com sua família 40 anos atrás. Apesar de Karen e eu convivermos de forma intensa e cotidiana, essa parte de sua história eu não conhecia e viver os desdobramentos dela, com a família Zolko, foi uma grande emoção. Dodi Chansky Naquela visita a Praga, em 1974, Monika Stranska Zolko, mãe de Karen, reconheceu uma assinatura num desenho infantil exposto no museu: era de sua irmã mais velha, Erika Stranska. Monika lembrou-se de quando sua irmã fora levada pelos nazistas para o gueto de Theresienstadt e depois soube que ela morrera em Auschwitz. A família tentou, ao longo dos anos, conseguir informações sobre Erika, mas sem sucesso, pois não havia comunicação possível com a Tchecoslováquia comunista. Em 1989, a Tchecoslováquia tornou-se República Tcheca, possibilitando o acesso a informações que antes eram restritas. Então, em 2012, Karen decidiu tentar mais uma vez. Enviou um para o Museu Judaico de Praga, apresentando-se e pedindo uma cópia do desenho. A resposta não tardou a chegar: no acervo do museu não havia somente aquele, mas 30 desenhos de Erika. Além de enviar um link de acesso aos desenhos, o diretor do museu mandou uma lista de nomes das pessoas que poderiam saber mais sobre a menina por trás dos desenhos. Karen envolveu a família inteira em suas descobertas, e Adriana, sua fi lha, encontrou a jornalista Hannelore Brenner e seu livro As Meninas do Quarto 28, que conta a história de 50 meninas prisioneiras do campo de Theresienstadt, com detalhes de diários, desenhos, cartas e depoimentos das sobreviventes. Erika estava entre essas 50 meninas. A história começava a fi car surpreendente. Desde então, estabeleceu-se uma amizade entre Hannelore e a família Zolko e, a partir desse encontro, foi possível conhecer como foram os dois últimos anos da vida breve de Erika, após ter sido brutalmente separada de sua família. Além do livro, Hannelore criou uma exposição que já havia percorrido vários países da Europa. O desejo das sobreviventes do Quarto 28 e de Hannelore Brenner é tornar essa história conhecida pelas futuras gerações em todo o mundo. Assim decidimos ajudá-las nessa missão e trazer a exposição para o Brasil. Esperamos que gostem da exposição. Ela é mais que o retrato de um tempo nefasto, é uma celebração da amizade.

6 Desenho de Ella Stein

7 As Meninas do Quarto 28 Roberta A. Sundfeld curadora da exposição no Brasil A invasão alemã à Tchecoslováquia, em 1939, lançou uma sombra na história dos judeus que viviam no país. Uma verdadeira perseguição teve início, com o envio de muitos judeus para guetos e campos de concentração. Theresienstadt, antiga fortaleza a 60 km de Praga, foi um gueto que serviu de prisão para artistas, cientistas, músicos, intelectuais e outros judeus. Como meio de sobrevivência, usaram seus conhecimentos para trazer às crianças prisioneiras momentos de esperança e alívio, tentando evitar que sua vida fosse completamente devastada pela guerra. Esta exposição relembra um grupo de meninas judias, de 12 a 14 anos, que viveu nesse gueto, no alojamento para mulheres L410, no Quarto 28. Também prisioneiras e em situação miserável, essas crianças foram protegidas e instruídas por prisioneiros adultos, cuidadores extraordinários que tentavam suprir a falta dos pais de muitas delas. Os desenhos daquela época são vestígios dessa história. Um testemunho da sensibilidade dos professores que se dedicaram a educar e chamaram para si a responsabilidade de dar esperança a essas crianças. Foram encontrados mais de 3 mil desenhos. Hoje considera-se que o trabalho artístico realizado com as crianças seria o precursor do que se conhece por arteterapia. As meninas criaram fortes laços de amizade, reafirmaram sua dignidade e desafiaram o ódio. Triunfaram com esperança, solidariedade e respeito, e algumas sobreviveram para contar esta história. Mas por que trazer a exposição para o Brasil? A brasileira Karen Zolko descobriu que sua tia, Erika Stránská, viveu no Quarto 28 até ser deportada para um campo de extermínio. Muitos de seus desenhos foram encontrados no Museu Judaico de Praga. Em 2013, Karen Zolko e Dodi Chansky decidiram trazer a São Paulo a exposição As Meninas do Quarto 28. Foi quando me convidaram para ser a curadora brasileira desta mostra. Aceitei a missão e aos poucos mergulhei nesta história, uma realidade terrível do século XX, o holocausto. É uma história de amizade, esperança e sobrevivência que muito me emocionou e vai emocionar a todos. Visita guiada com a curadora no dia 24/5, às 15 h.

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9 ACREDITAMOS QUE APOIAR A CULTURA É INVESTIR NO Encantamento A Unigel acredita que investindo na cultura está contribuindo para que os brasileiros tenham mais acesso à música, teatro, cinema, dança e tudo que traz novas experiências e emoções. Afinal, apoiar a cultura é investir também no encantamento.

10 Uma seguradora deve ajudar a preservar tudo que é importante. Inclusive a História. HDI Seguros. Apoiadora da Exposição As Meninas do Quarto 28. É de bate-pronto. Processo Susep: / O registro deste plano na Susep não implica, por parte da autarquia, incentivo ou recomendação à sua comercialização.

11 Agradecimentos Ouro: Moise Politi Monika e Gregorio Zolko Fanny Feffer

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14 Grupo Tantra. Arte, cultura e gastronomia Arte Cultura & Gastronomia. tantrarestaurante.com.br fb/restaurantetantra Restaurante Franquia - Eventos (5511) /

15 Hannelore Brenner Autora do livro As Meninas do Quarto 28 e da exposição original em alemão Nasceu em 1951 na Alemanha. Estudou Germanística, Filosofia e Artes Cênicas em Munique e Berlim. Trabalhou como roteirista de programas de rádio e foi assim que, em 1996, durante os trabalhos para a encenação da ópera infantil Brundibár, de Hans Krása, conheceu algumas das sobreviventes de Auschwitz e Theresienstadt. Nessa época, surgiu a ideia de contar a história das poucas crianças de Theresienstadt que sobreviveram ao nacional-socialismo. Entre 1998 e 2004, Hannelore Brenner participou de vários encontros com as sobreviventes na República Tcheca. Esses encontros deram origem ao livro As Meninas do Quarto 28 e à exposição itinerante As Meninas do Quarto 28, L 410, Theresienstadt. Desde o lançamento da exposição, em 2004, As Meninas do Quarto 28 têm revelado sua história para milhares de visitantes especialmente jovens na Alemanha, Áustria, República Tcheca, Israel e Inglaterra. Esta exposição foi escolhida para as comemorações do Dia da Lembrança do Holocausto, pela União Europeia em 2013, e para a mesma comemoração na ONU, em As sobreviventes do quarto 28 uniram-se a Hannelore Brenner neste projeto para lembrar suas amigas de Theresienstadt e agradecer a pessoas como Tella Pollak, Eva Eckstein, Eva Weiss, Zdenka Brumlik, Margit Mühlstein, Friedl Dicker-Brandeis, Ilse Weber, Rudolf Freudenfeld, Fredy Hirsch. Programa: dia 23/5 15h às 18h - Visita guiada e palestra Holocausto A Presença do Passado com Hannelore Brenner e a sobrevivente do quarto 28 Vera Kreiner

16 Desenho de Erika Stránská

17 Arte, resiliência e sobrevivência emocional De Theresienstadt aos dias de hoje As meninas do Quarto 28, detidas em Theresienstadt, tiveram a oportunidade de sobreviver emocionalmente, em parte graças ao precioso empenho da professora de artes, Friedl Dicker-Brandeis. Ela proporcionou às meninas a possibilidade de expressão e de transcendência daquela situação desesperadora e afl itiva pela qual passavam. Selma Ciornai e A exposição dos trabalhos destas meninas nos fez pensar Gladys Ajzenberg também sobre o Brasil: há trabalhos de arte realizados com crianças e adolescentes que vivem ou viveram situações desestruturantes. A partir desta percepção surgiu a ideia de estabelecer uma ponte entre o lá de outrora e o aqui e agora. Assim, buscamos uma pequena amostragem de trabalhos realizados em diferentes lugares do Brasil que utilizam a arte como recurso terapêutico em situações adversas. 1) Instituto Fazendo História: Claudia Vidigal, psicóloga especializada em psicodrama e terceiro setor. O Fazendo História, com sede em São Paulo, promove o desenvolvimento de crianças e adolescentes que estão em serviços de acolhimento para que se fortaleçam e se apropriem de suas histórias, percebendo-se como protagonistas e, portanto, capazes de criar novos rumos, quebrando assim um ciclo de violência e abandono. 2) Projeto Social Eu Sou : Fabiana Geraldi, psicóloga, arteterapeuta e arte-educadora. Projeto que atende crianças e adolescentes da comunidade do Jacarezinho/RJ cujo objetivo é resgatar, através de propostas artísticas, a identidade de crianças e jovens submetidos à violência e à fragmentação familiar. Dentro do projeto há um trabalho com fotos, no qual os próprios alunos fotografaram o lugar onde moram e que culminou numa exposição intitulada O Muro. 3) GPAEAV/UFPB: Shirley Tanure, fisioterapeuta e graduada em artes visuais. Atividades artísticas em hospital oncológico e em ONG que atende crianças e adolescentes com câncer, vivendo em situações de risco e de proximidade com a doença, com a morte e com todas as difi culdades que circundam o tratamento. 4) CNRVV/Butantã: Michele Barros, psicóloga especializada em arteterapia, e Bruna Domenico, psicóloga especializada em arteterapia. Centro de Referência às Vítimas de Violência/Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo. Atende a crianças e adolescentes vítimas de violência física, psicológica e/ou sexual ocorrida no âmbito familiar. Estes trabalhos serão apresentados na mesa redonda que será coordenada pela psicóloga e arteterapeuta Selma Ciornai, dia 4/6 de 2014, às 19h. Haverá visita guiada à exposição às 16h do mesmo dia.

18 A tempestade se aproxima 1933 Os nazistas chegam ao poder na Alemanha e o ódio contra os judeus torna-se política de governo As Leis de Nuremberg determinam quem é judeu e proíbem os casamentos entre judeus e não judeus. Março 1938 Tropas alemãs invadem Viena e anexam a Áustria. Muitos fogem em direção à Tchecoslováquia. Outubro 1938 Tropas alemãs ocupam parte da Tchecoslováquia e muitos judeus fogem para o interior do país e para a capital, Praga O Império alemão anexa o Protetorado da Boêmia e Morávia, na Tchecoslováquia. Os judeus tchecos e todos os judeus provenientes da Alemanha e Áustria que haviam chegado a Praga estavam encurralados. Europa Europa ocupada pela Alemanha Nazista Países onde se passa esta história Auschwitz Irlanda do Norte Irlanda Grã- Bretanha P. Baixos Noruega Dinamarca Suécia Estônia Látvia Lituânia Theresienstadt Teresín Polônia Tchecoslováquia Tchecoslováquia Bélgica Alemanha Tchecoslovaquia Polônia União Soviética Praga Auschwitz Praga França Suiça Austria Hungria Romênia Espanha Itália Iugoslávia Albânia Bulgaria Grécia Turquia

19 O gueto de Theresienstadt e o quarto 28 Bandeira do Ma agal Os alemães começam a enviar judeus para campos de concentração e guetos. O gueto foi instalado na fortaleza de Theresienstadt, a noroeste de Praga, na Tchecoslováquia. Ela havia sido construída pelo imperador austríaco Josef II, em homenagem à mãe, Maria Theresia da Áustria. O quarto 28, do alojamento L410, serviu como abrigo para as meninas de 12 a 14 anos. Lá ficaram aprisionadas em torno de 60 meninas durante a Segunda Guerra Mundial. Neste quarto elas dormiam, comiam, desenhavam, pensavam em seus pais e sonhavam em voltar para casa ao final da guerra. As meninas criaram uma sociedade: o Ma agal. Em hebraico significa círculo, perfeição. Elas fizeram um juramento de amizade e prometeram ajudar-se quando necessário. Criaram um hino, um lema e uma bandeira. No final da Segunda Guerra, quando somente quatro das meninas ainda moravam no Quarto 28, elas cortaram a bandeira em quatro e cada uma guardou um pedaço. Após a guerra, pretendiam costurar os pedaços novamente. Porém, apenas Anna Flachová sobreviveu e, anos depois, ela e as outras sobreviventes reconstituíram a bandeira usando o único pedaço original restante. Vista aérea de Theresienstadt

20 As meninas Erika Stránská nasceu em 22 de maio de 1930 em Praga, fi lha de Teresa e George Stránský. Quando tinha seis anos, os pais divorciaram-se, e Erika fi cou com a mãe. Com a chegada dos nazistas, em 1939, a mãe foi para a Inglaterra, e a fi lha fi cou aos cuidados da avó, Berta Stránská, o que parecia mais seguro. No fi nal de 1941, George Stránský foi deportado para um campo de trabalhos forçados. Em 4 de setembro de 1942, Erika, junto com a avó Berta Stránská, foi deportada para Theresienstadt, sendo mais uma moradora do quarto 28. Helga Pollak, também nascida em 1930, viu sua vida mudar da janela de sua casa quando as tropas alemãs chegaram a Viena. Alguns dias depois, a caminho da escola, alguns garotos pararam à sua frente, gritando: Sua judia porca! A cada dia, a situação se agravava. Os judeus eram perseguidos e as crianças judias foram proibidas de frequentar as escolas. Em janeiro de 1943, Helga e seu pai foram deportados para Theresienstadt. Assim como Erika e Helga, outras meninas foram arrancadas de suas famílias e suas vidas se cruzaram no quarto 28: Handa, Eva, Anna, Hanka, Ella, Marta, Ruth, Vera, Miriam e muitas outras das quais não se sabe o nome.

21 Dia a dia no gueto Em Theresienstadt, o cotidiano era pesado, principalmente pela manhã. Por volta das 7 horas, ouviam-se sempre as mesmas palavras: Levantem-se, crianças!, o que signifi cava que todas deveriam fazer fi la na frente do banheiro frio e feio. Em cada andar existiam duas privadas para cerca de 120 meninas. Todas as manhãs era obrigatório arejar as roupas de cama e cobertores. Algumas meninas colocavam as roupas de cama na janela, outras sobre os estrados das camas ou sobre a mesa. Em seguida, eram distribuídas as tarefas diárias: buscar o almoço, fazer a faxina, e ajudar os idosos. Os nazistas proibiram as crianças de estudar, mas permitiram atividades como aulas de pintura e desenho. À tarde, escondidas dos ofi ciais alemães, tinham aulas de matemática, história e geografi a. À noite, na hora de dormir, quando as crianças já estavam deitadas em seus beliches, uma palavra iluminava as conversas: liberdade. Essa palavra era sussurrada pelas meninas e logo as vozes surgiam de todos os lados. E aquilo, que começara com um sussurro, se transformava no desejo de cada uma: fi m da guerra, liberdade. Desenho de Anna Flachová

22 A professora de desenho Friedl Dicker- Brandeis Quando um espírito encontra sua própria força e se afi rma sem medo do ridículo, então uma nova primavera de criatividade irrompe é exatamente isso que estamos buscando em nossas aulas de desenho Vamos incentivar a criança a expressar o que ela tem a dizer. Friedl Dicker-Brandeis, 1943 Em 17 de dezembro de 1942, Friedl Dicker-Brandeis e seu marido Pavel foram enviados para Theresienstadt. Ela chega carregada com materiais para aulas de artes e dá aulas de desenho para as meninas do quarto 28. Em outubro de 1944 Friedl é deportada para Auschwitz e assassinada. Na despedida, entrega a Willy Groag duas malas com mais de três mil desenhos, que fi cariam em Theresienstadt até o fi nal da guerra. Lançando mão de métodos que se tornaram a base da arteterapia, Friedl ajudou as crianças de Theresienstadt a expressarem seus medos e sua esperança de sobreviver. A maioria das 660 crianças desenhistas não sobreviveu. As cuidadoras No gueto, todos se empenharam para que as crianças tivessem a seu lado cuidadoras. As cuidadoras do quarto 28 eram Tella Pollak, Eva Weiss, Eva Eckstein, Rita Böhm e Laura Šimková. As cuidadoras nos transmitiam um conceito de humanidade, amizade e solidariedade. Nós, as meninas do 28, estávamos empenhadas em nos aperfeiçoar, em ler mais e saber mais. Eva Landová Para nós, o quarto 28 era uma pequena ilha protetora, que nos ajudou a suportar melhor a perda de nossa pátria e a separação de nossos país. Anna Flachová Da esquerda para direita: Tella Pollak, Eva Weiss e Eva Eckstein

23 Música A música era uma presença viva dentro do gueto. A melhor hora para mim era no fi m do dia quando cantávamos no nosso quarto. Cantávamos canções hebraicas, cujas letras nós nunca entendíamos. Mas não tinha importância, era mágico! Hoje, recordando, parece que nós cantávamos maravilhosamente. Ella Stein O porão do alojamento das meninas era usado como local de reuniões e ensaios. Ao entardecer, Rafael Schächter preparava suas apresentações. Às vezes, Tella tocava o velho órgão portátil e Handa virava as páginas da partitura. Esses ensaios eram tão intensos! E o Réquiem de Verdi era um sonho. Era como se os anjos cantassem no inferno. Participar do concerto era um momento de esquecimento e de esperança para adultos e crianças. Handa Pollak Brundibár Brundibár (O resmungão) é uma ópera infantil composta em 1938 por Hans Krása, com letra de Adolf Hoff meister. Foi apresentada mais de 50 vezes no gueto. A ópera era uma luz na escuridão um ato de resistência, símbolo da esperança e da fé na vitória sobre os alemães. Brundibár era o nosso pequeno segredo contra Hitler. Nós lutávamos contra Brundibár, o tocador de realejo, mas Brundibár não era Brundibár era Hitler. E os comerciantes que não davam leite, pão ou sorvete às crianças não eram apenas os lojistas, eles eram os SS as pessoas más. E, no fi nal, vencíamos. Isso signifi cava tudo para nós. Handa Pollak

24 A cidade do faz de conta A partir de março de 1944, os judeus de Theresienstadt foram forçados pela SS a trabalhar no embelezamento do gueto. Pintaram as fachadas dos prédios, colocaram cortinas nas janelas e uma biblioteca foi inaugurada. Os jardins da praça principal e os bancos foram refeitos. Qual seria o motivo para tanta mudança? Theresienstadt era alvo de críticas pela imprensa internacional. Pressionados pelos países neutros que exigiam relatórios sobre a situação dos judeus prisioneiros, a Alemanha permitiu que a Cruz Vermelha Internacional fi zesse uma visita guiada. Em 23 de junho de 1944, a delegação chegou ao gueto. A delegação seguiu o trajeto predeterminado pela SS até a praça principal, passando pela Cafeteria, onde algumas pessoas tomavam café. No fi nal da tarde, passaram pela Casa Comunitária, onde era ensaiado o Réquiem, de Verdi. Em outro local, as crianças encenavam a ópera Brundibár. A delegação fi cou impressionada. Após a visita, Maurice Rossel, representante do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, escreveu em seu relatório: Gostaríamos de dizer que ficamos muito surpresos ao encontrar no gueto uma cidade que vive uma vida praticamente normal. O que os visitantes viram era somente uma ilusão. Uma cidade de faz de conta. A Cruz Vermelha não quis enxergar a realidade. Documentário de propaganda nazista que complementou a farsa para iludir a Cruz Vermelha

25 De repente faltava alguém Theresienstadt não era considerado um campo de destino fi nal. De lá os prisioneiros eram deportados para o temido leste, para os campos de extermínio. Quando eram publicadas novas ordens de deportação, tínhamos medo. Quem será chamado dessa vez? E quando ficávamos sabendo quem partiria, tentávamos consolar e ajudar, pois a nossa pequena sociedade o Ma agal era como um relógio: cada uma de nós fazia parte da engrenagem. E cada uma acrescentava a ela um pouco de sal e pimenta. Handa Pollak De seus 140 mil prisioneiros, 33 mil tiveram em Theresienstadt seu destino fi nal, pois morreram no próprio gueto. Até o fi nal de outubro de 1944, 88 mil prisioneiros sendo 15 mil crianças foram deportados para o leste: os campos de Auschwitz e Bergen- Belsen. Destes, somente 3 mil sobreviveram, dentre eles 900 crianças. As meninas hoje As meninas do quarto 28 se reencontram Da esquerda para direita: Anna (Flaška) Flachová, Hannelore Brenner, Hanka Wertheimer, Handa Pollak e Helga Pollak Encontro das meninas em 1999

26 Room 28 Projects Brasil Concepção Hannelore Brenner Curadoria Roberta Alexandr Sundfeld Realização no Brasil Dodi Chansky e Karen Zolko Expografi a Karen Zolko Arteterapeutas Selma Ciornai e Gladys Ajzenberg Diretora de Arte Luca Schiller Designers Thomaz Abramo Assumpção e Caio Caly Tradução Renate Müller Revisão Petê Rissatti Diretor Presidente President Director Jorge Frederico Magnus Landmann Diretora Administrativo Financeira Management and Financial Director Emiliana Elias Diretora Jurídica Legal Director Márcia Regina Bull Diretor de Relações Institucionais Director of Institucional Relations Olívio Guedes Assessora da Presidência Advisor to the Presidency Maria Lúcia Junqueira Administrador Administrator Roberto Solera Assistente Financeiro Financial Assistant Mauro Mendes Assistente Administrativo Administrative Assistant Geovani Benites Apoio Institucional: Coordenador Cursos Courses Coordinator Cildo Oliveira Secretária Secretary Nathalia Bevilacqua Aguiar Comitê Curatorial Curatorial Committee Clara Perino Olívio Guedes Sabina de Libman Coordenador de Exposições Exhibitions Coordinator Renato Sass Coordenador Educativo Education Coordinator Murilo Kammer Assistente de Produção Production Assistant Heloise Segnini Equipe Educativo Educative Team Alessandra Iório Jacqueline Aguiar Cardoso Juliana Ferreira da Luz Lucas Argüello Thiago Tgui Gallina Assessora de Projetos Culturais Cultural Projects Advisor Karen Alcantarilla Comunicação Visual Visual Communication David Mota Assistente Externo External Assistant Ricardo Osvaldo Francisco da Silva Coordenador Montagem Assembly Coordinator Wilton Rodrigues Equipe Montagem Assembly Team Alex Souza Edmilton dos Santos Emerson Nascimento da Silva José Geraldo Gomes Tiago Erivelton de Oliveira Equipe Segurança Security Team Dorgival de Santana Edson Nascimento dos Santos Luiz Carlos Moreira Teodoro Raimundo dos Santos

27 S I D E R U R G I A S. A. Platina: S I D E R U R G I A S. A. Ouro: Prata: Apoiadores: Bengu Benker Dorothy Eberhardt Jeffrey Arippol Marcelo Gasko Marcia Feldon Borger Nissim Safra (Muki) Paulo Gartner Rebecca Fingermann Renate Müller Vivian Orni Agradecimentos Especiais: Gabriel Penteado Ilona Strimber Laura Calabi Paul Henner Ehringhaus Sergio Daniel Simon Walter Von Kalm Realização:

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