APLICAÇÃO DO SABER MÉDICO: DA TEÓRIA À PRÁTICA

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1 APLICAÇÃO DO SABER MÉDICO: DA TEÓRIA À PRÁTICA Ricardo Costa-Val* Brilhante mas intrigante o artigo intitulado Profilaxia da Trombose Venosa Profunda: Aplicação Prática e Conhecimento Teórico em um Hospital Geral (J Vasc Bras 2008;7(1):18-27.) escrito por Pereira CA et al. 1 Brilhante porque a mensagem principal do mesmo é acima de tudo um grande alerta para a classe, apesar de não ser uma novidade. Continuo refletindo porque mesmo tendo o profissional médico inúmeras maneiras de se manter bem atualizado cientificamente, este perpetua atitudes semelhantes aos nossos antepassados, qual seja, não aplicar o conhecimento adquirido. 2 Estando bem à vontade para falar sobre o tema no campo da Angiologia e Cirurgia Vascular, afirmo com convicção que aos especialistas deste setor não faltam fontes de informações científicas com qualidade, sejam elas nacionais ou internacionais. 3 De igual modo, ciências como a sociologia e filosofia vêem afirmando há um bom tempo a importância de realizarmos estudos a partir de dados provenientes da nossa sociedade civil, pois cada país possui peculiaridades que são responsáveis por diferentes resultados, particularmente em relação à resposta terapêutica e evolução clínica. 4-6 Entender as bases filosóficas e antropológicas inerente aos diversos agravos de saúde é cada vez mais uma realidade que nenhum profissional pode abrir mão, seja ele da área da saúde, gestão, administração, etc. 5-8 Por outro lado, urge repensar como estamos lidamos como os conhecimentos adquiridos, sem dúvida um dos maiores desafios para o educador/escritor: fazer com que sua mensagem seja aplicada na prática clínica do leitor

2 De nada adianta grandes estudos metodologicamente perfeitos, mas que não façam com que o Homo sapiens sapiens (aquele que pensa e reflita sobre o que pensa) absorva a idéia ou o motivo maior do manuscrito pois que, vejo pouco sentido em se escrever apenas por escrever, principalmente em nossa profissão. E mais, raramente podemos nos dar o luxo de ler apenas por ler. Um artigo deve servir no mínimo para que ao findar da leitura se possa dizer: não concordo. Fala-se que para os profissionais da área da saúde, incluindo o médico, há capacidade intelectual, mas não técnica para se subtrair a mensagem escrita. Ausência esta, responsável pela não aplicação prática do saber existente nas fontes científicas de informação. 7-9,12 Sem dúvida a Literatura Baseada em Evidências Científicas incrementou em muito a maneira de se educar, além de ampliar e fomentar a aquisição de novos saberes. Entretanto, temos que nos focar na necessidade da constante reflexão sobre nossa prática profissional. Analisar se estamos realmente aplicando-a da melhor maneira possível Deixar de fazer o bem é tão complicado como fazer o mal. Atribui-se ao bom profissional médico várias características, 4-6,9 das quais destaco os cinco H(s) do bom médico, a saber: Humildade; Honestidade; Humanidade; Humor (para encarar as atribulações da vida) e Hipocratismo. 2,5 Somente assim poderemos entender achados como encontrado por Pereira CA et al., que novamente, elogio-os pelo alerta contido no trabalho. 1 Entender mas também ir em busca de soluções perante a este desafiador dilema que é: aplicar o saber. Dicere Socrates, sapientissimus homo: scio nihil scire... 2

3 Referências Bibliográficas 1) Pereira CA; Brito SS; Martins AS; Almeida CM. Profilaxia da Trombose Venosa Profunda: Aplicação Prática e Conhecimento Teórico em um Hospital Geral J Vasc Bras 2008;7(1): ) Margotta R. The History of Medicine. Smithmark Publishers New York. 1996;192p. 3) Costa-Val R; Souza Filho JCT. A Produção Científica do J Vasc Bras: Conquistas e Desafios. J Vasc Bras 2008;7(1): ) Tanaka OU; Melo C. Reflexões sobre a Avaliação em Serviços de Saúde e a Adoção das Abordagens Qualitativa e Quantitativa. In: Bosi MLM; Mercado FJ. Pesquisa Qualitativa de Serviços de Saúde. Editora Vozes Rio de Janeiro. 2004;cap.3: ) Drummond JP; Silva E; Coutinho M. Medicina Baseada em Evidências Novo Paradigma Assistencial e Pedagógico. 2 edição. Editora Atheneu São Paulo. 2004;177p. 6) Helman CG. Cultura, Saúde & Doença. In--- Fatores Culturais em Epidemiologia. 4 edição. Artmed Editora Porto Alegre. 2003;cap.12:

4 7) Costa-Val R, Marques MC. Reflexões sobre as Principais Linhas Epistemológicas Pertinentes às Ciências da Saúde. J Vasc Bras 2007;6(4): ) Costa-Val R; Campos-Christo SF; Abrantes WL; Campos-Christo MB; Marques MC; Vergara EM. Reflexões Sobre o Trauma Cardiovascular Civil a Partir de um Estudo Prospectivo de 1000 Casos Atendidos em um Centro de Trauma de Nível I. Rev Col Bras Cir 2008;35(3): ) Dib RPE. Como Praticar a Medicina Baseada em Evidências (Editorial). J Vasc Bras 2007;6(1): ) Shaneyfelt T; Baun KD; Teldstein BD; Kaatz S; Green WC; Green M. Evaluation Education in Evidence Practice A Systematic Review. JAMA 2006;(9): ) Costa-Val R. O Uso Judicioso do Garroteamento no Trauma Vascular. Rev Ang e Cir Vasc 2007;6(6): ) McCluskey A; Lovarini M. Providing Education on Evidence-based Practice Improved Knowledge but did not Change Behavior: A Before and after Study. BMC Medical Education 2005; 5(40);

5 *Ricardo Costa-Val Titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (TCBC). Mestre e Doutor em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor de Bioética da graduação em Medicina/MEC do Centro Universitár rio de Belo Horizonte Uni/BH. 5