ESTUDO E SOLUÇÃO PARA OS PROBLEMAS DE EROSÃO INTERNA NAS LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO DE RECANTO DAS EMAS - DISTRITO FEDERAL
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- Bruna Laranjeira Neiva
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1 ESTUDO E SOLUÇÃO PARA OS PROBLEMAS DE EROSÃO INTERNA NAS LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO DE RECANTO DAS EMAS - DISTRITO FEDERAL J. Camapum de Carvalho E. L. Pastore J. H. F. Pereira H. A. Franco R. C. Brostel RESUMO: As características geológicas, geomorfológicas e dos tipos de solo do Distrito Federal constituem-se em fatores favoráveis ao desencadeamento de processos erosivos. A lagoa de estabilização LL 01, da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Recanto das Emas, Distrito Federal, localizada sobre uma área de antiga cascalheira situada a aproximadamente 150m do bordo da chapada, apresentou durante sua construção problemas de subsidência. Os estudos iniciais demonstraram ter sido o problema originado por um processo de erosão interna dentro de uma camada de cascalho. Apresentada a solução para esta lagoa (Camapum de Carvalho e Pereira 1998), após se verificar uma perda d'água excessiva nas outras 5 existentes, optou-se pela realização de um levantamento mais detalhado da área. Este envolveu a realização de sondagens geofísica e SPT e ensaios de infiltração e de laboratório objetivando caracterizar a estabilidade estrutural do solo e a possibilidade de ocorrência de erosão interna. O presente trabalho apresenta os resultados obtidos e a solução de projeto objetivando evitar problemas futuros de subsidência. 1. INTRODUÇÃO O Distrito Federal apesar de seus poucos anos de existência tem sido marcado pela ocorrência de diferentes tipos de erosão acelerada, indo da simples erosão laminar à formação de grandes voçorocas que ameaçam obras de engenharia e áreas residenciais. Junto aos bordos de chapada, onde o gradiente hidráulico torna-se importante devido a maior declividade do terreno, não é raro o surgimento e propagação dos processos de erosão interna. Tais processos em alguns casos se limitam a acelerar o processo de voçorocamento enquanto em outros, avançam para montante causando danos substanciais em locais muitas vezes distantes do seu ponto de origem. No Distrito Federal, o estudo da formação e do processo evolutivo das voçorocas regionais, iniciado por Facio (1991) teve uma grande contribuição com a proposição do modelo encaixado por Mortari (1994). Em 1993, Mendonça caracterizou erosões internas nos aqüíferos porosos do Distrito Federal. Todos esses trabalhos mostram a presença de vários e distintos processos erosivos na região, apontando assim para a necessidade de levantamentos mais detalhados a cerca dos riscos oferecidos por cada área ocupada ou a ser ocupada. Já, em 1891, uma comissão chefiada por Luis Cruls após executar a demarcação da área destinada a nova capital, publicou um relatório no qual o problema erosão era citado (Cruls, 1984). Em 1954, a firma Donald J. Belcher and Associetes, após levantamento e seleção do sítio da nova capital, apresentou o relatório Belcher (Belcher, 1954), o qual aborda o problema de erosão, recomendando evitar a concentração de águas pluviais e a não retirada da proteção 1
2 superficial do solo controlando os desmatamentos na região. O presente artigo concentra-se no estudo da potencialidade de desenvolvimento de processos erosivos na área de implantação da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da cidade satélite de Recanto das Emas no Distrito Federal. O projeto consiste na construção de 6 lagoas de estabilização conforme denominadas e ilustrado na Figura 1. Inicialmente foram registrados problemas de subsidência na lagoa LL 01 da ETE de Recanto das Emas para os quais a solução foi apresentada no relatório G.RE 018 A/98 (Camapum de Carvalho e Pereira, 1998). Posteriormente, quando do lançamento de água na lagoa LAMC, inteiramente revestida de concreto, foi observada pelo engenheiro da obra uma perda d água excessiva, o que motivou a implementação do presente estudo. Este teve por objetivo avaliar a situação das demais lagoas e estabelecer medidas preventivas quanto ao risco de novas subsidências. LF 04 LF 03 LF 02 LF 01 LAMC (65mx65m) (65mx65m) (65mx65m) (65mx65m) (65mx100m) LL 01 (40mx40m) Figura 1 - Croqui da área estudada 2. METODOLOGIA ADOTADA O estudo proposto teve por objetivo mapear o manto superficial da área ocupada pela Estação de Tratamento de Recanto das Emas, Distrito Federal e avaliar o potencial de susceptibilidade dos solos superficiais à processos de erosão interna. Buscando satisfazer a esses objetivos estabeleceu-se um programa de ensaios de campo e outro de laboratório. O programa de ensaios de campo teve por objetivo caracterizar o perfil de solo através de sondagens do tipo SPT, estas fornecidas pelo cliente e executadas a partir do nível do terreno natural antes da execução da obra, identificar eventuais cavidades formadas no subsolo e definir a condutividade hidráulica do subsolo a partir do fundo das lagoas. Na tentativa de detectar as eventuais cavidades foram realizadas três linhas de sondagem geofísica no sentido sudeste-noroeste, paralelamente ao eixo longitudinal das lagoas, sendo duas a montante e uma a jusante das mesmas. Estas sondagens foram realizadas utilizando-se o método geofísico GPR (Ground Penetrating Radar). A comparação dos principais refletores das ondas eletromagnéticas obtidas neste levantamento com os perfis individuais de sondagens a percussão tipo SPT possibilitou identificar de modo contínuo as principais camadas do subsolo até cerca de 16 m de profundidade. A determinação da condutividade hidráulica foi feita através de ensaios de rebaixamento em furos de trado abertos no fundo de cada lagoa e calculados de acordo com os procedimentos da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE). De modo a se determinar os valores de condutividade hidráulica no sentido horizontal (k h ), foram realizados ainda ensaios de infiltração no mesmo furo de trado selando-se 2
3 o seu fundo com bentonita. Realizou-se ainda o controle da umidade e peso específico de campo para as profundidades de 15 cm e 35 cm de modo a se verificar as diferenças existentes entre a camada de solo compactada no fundo das lagoas (20 cm) e o solo natural. O programa de ensaios de laboratório objetivando avaliar o potencial de susceptibilidade dos solos superficiais à processos de erosão interna consistiu da realização dos seguintes ensaios: Granulometria com e sem defloculante do solo poroso fino; Granulometria com e sem defloculante do cascalho subjacente a camada de solo poroso fino; Duplo oedométrico no solo poroso fino; Pinhole no solo poroso fino; Estes ensaios de laboratório permitiram avaliar o potencial de instabilidade estrutural do solo poroso fino e a possibilidade de sua lixiviação através da camada de pedregulho. O solo fino ensaiado foi coletado logo abaixo da camada de solo compactado. Foi possível ainda analisar a possibilidade de lixiviação da fração fina constituinte da camada de pedregulho, ou seja, averiguou-se se a fração mais grossa desta camada era filtro para a mais fina, considerando-se como limite entre as duas frações a peneira número 10 (2 mm). No ensaio de Pinhole trabalhou-se com gradientes hidráulicos variando entre 1 e APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DE CAMPO 3.1 Resultados das Sondagens A Figura 2 apresenta um croqui de distribuição das sondagens a percussão, tipo SPT, realizadas na área de estudo. A Tabela 1 apresenta a síntese dos resultados obtidos ao longo de cada perfil ensaiado. Marco de implantação do empreendimento 80 m 95 m 95 m N SP1 SP2 SP3 SP4 22 m 65 m 90 m 85 m 85 m SP9 SP8 SP7 SP6 SP5 55 m SP10 Figura 2 - Croqui de distribuição das sondagens a percussão 3
4 Tabela 1 - Síntese dos resultados das sondagens SPT Cota Nível Número de golpes para os últimos 30 cm em cada cota e sondagem SPi (m) d'água SP1 SP2 SP3 SP4 SP5 SP6 SP7 SP8 SP9 SP10 1 Não encontrado Pela análise conjunta das sondagens geofísicas e a percussão (Camapum de Carvalho et al. 1998) verificou-se que ocorrem as seguintes camadas imediatamente abaixo da cota de fundação das lagoas: Solo laterítico argilo-arenoso, poroso, LG, com espessura variável de 1 a 6 m. Cascalho laterítico com matriz arenoargilosa e espessura variável de 1 a 5 m. Camadas subhorizontalizadas de rochas metamórficas cujos tipos litológicos, de acordo com a geologia do local, são quartzitos e metarritmitos. As estruturas destas camadas são bastante nítidas em alguns trechos dos perfis do GPR. Refletores semelhantes aos de cavidades apareceram nos perfis do GPR abaixo da camada de cascalho, isto é, dentro das camadas de metarritmitos, devido provavelmente a presença de blocos de rocha pouco alterada. Não se observou nas camadas de cascalho ou acima desta refletores que indiquem a presença de cavidades, a não ser alguns locais bem em superfície devido a presença de tubulação enterrada. Destaca-se, no entanto, que ao se analisar a sondagem a percussão SP10, situada na zona da cascalheira, portanto abaixo da camada argilo-arenosa, verifica-se que ocorre um crescimento do número de golpes até a cota de 3 m, sendo este parâmetro reduzido de aproximadamente 50% para as cotas 4m, 5m e 6m e atingindo um crescimento substancial para a profundidade de 7m. Tal constatação pode estar associada a lixiviações na camada de cascalho. 3.2 Resultados dos Ensaios de Umidade e Peso Específico Natural A Tabela 2 apresenta a síntese dos resultados de umidade e peso específico determinados na camada superficial compactada do fundo de cada lagoa. Nesta tabela o furo 1 se refere a profundidade de 15 cm e o furo 2 a profundidade de 35 cm. Ensaios de compactação na energia Proctor normal forneceram valores de peso específico aparente seco máximo de 13,5 kn/m 3 e umidade ótima de 32,5 %. Estes resultados mostram que a camada superficial da LAMC e da lagoa LF 02 não satisfazem a especificação de projeto de grau de compactação (GC) superior a 90% da energia Proctor normal. Estes resultados apontam para uma compactação para profundidades variando de 15 cm a 20 cm em alguns casos insatisfatória quanto a especificação de projeto relativa ao (GC). A partir de 35 cm o peso específico é semelhante ao do solo natural, ou seja, o solo não sofreu qualquer influência da compactação. Quanto a umidade de compactação, dado o longo período de exposição da camada superficial compactada, não é prudente se fazer qualquer análise comparativa em relação a umidade especificada em projeto. No entanto, é possível constatar grandes variações da umidade existente no campo em relação a umidade ótima de laboratório. Com o resecamento do solo em grandes períodos de exposição o surgimento de trincas, é nestes casos, quase sempre inevitável, comprometendo assim a eficiência da camada compactada de fundo como substrato impermeabilizante. 4
5 3.3 Resultados dos Ensaios de Infiltração Os valores de condutividade hidráulica, parâmetro determinado para a camada de solo laterítico fino nos sentidos vertical e horizontal (k) e no sentido horizontal (k h ), encontram-se apresentados na Tabela 3. Pela análise desta tabela verifica-se que a camada de solo laterítico fino, cuja compactação superficial não atingiu 35 cm (Tabela 2), apresenta no seu primeiro metro valores mais elevados de condutividade hidráulica no sentido vertical, uma vez que a permeabilidade média situou-se na faixa de 1,16 x 10 4 m/s a 3,18 x 10 4 m/s e no sentido horizontal na faixa de 4,53 x 10 5 m/s a 9,78 x 10 5 m/s. Abaixo de 1 m a permeabilidade nos dois sentidos são mais próximas uma vez que, os valores de k predominantes situam-se na faixa de 4,11 x 10-5 m/s a 8,73 x 10-5 m/s enquanto que k h predominante varia de 3,10 x 10-5 m/s a 8,78 x 10-5 m/s. A permeabilidade horizontal inferior a permeabilidade vertical, constitui-se no primeiro metro, em indício de lixiviação devido a predominância do fluxo em direção à camada de pedregulho. Tabela 2 Síntese dos resultados de peso específico e teor de umidade Lagoa Furo w (%) γ d (kn/m 3 ) w (%) GC (%) LF ,4 12,5-3, ,8 8,5-7,7 63 LF ,1 11,8 0, ,4 10,6-13,1 79 LF ,8 14,3-22, ,1 10,0-7,4 74 LF ,0 12,1 1, ,5 8,4-2,0 62 LAMC 1 36,6 10,1 4, ,4 10,3-2,1 77 Neste caso o importante a realçar é o fluxo preferencial na direção vertical, ou seja, em direção a camada de pedregulho. Destaca-se ainda o fato da permeabilidade da camada mais profunda ser inferior a permeabilidade média e semelhante a permeabilidade horizontal do primeiro metro, o que indica que ela não foi lixiviada, caso em que tenderia a se repetir a relação de permeabilidades obtida para o primeiro metro, nem constitui-se em filtro para o material lixiviado, caso em que apresentaria permeabilidades inferiores a da camada mais superficial. Devido a pequena espessura da camada compactada, ela não refletiu nos resultados de permeabilidade determinados para o primeiro metro. Destaca-se ainda que na lagoa LF 04, a 2,00 m de profundidade, não foi possível encher o furo com água, tendo-se considerado o ensaio como de vazão total, o que indica haver neste local uma cavidade ou camada com muito elevada permeabilidade. Tabela 3 Valores de condutividade hidráulica da camada de solo laterítico Lagoa Furo Prof. (m) k (m/s) k h (m/s) LAMC 1 1,15 1,32 x ,53 x ,00 8,73 x ,78 x 10 5 LF ,00 3,18 x ,29 x ,00 4,54 x ,13 x 10 5 LF ,65 1,16 x ,78 x ,00 4,11 x ,10 x 10 5 LF ,00 6,20 x ,10 x ,00 Vazão total - LF ,00 1,38 x ,25 x ,00 1,32 x ,69 x ,00 5,13 x ,18 x 10 5 Considerando-se que as condutividades hidráulicas foram determinadas nas cotas correspondentes aos fundos das lagoas e sabendo-se que estas cotas encontram-se em alguns casos 4 m abaixo do nível do terreno natural, é possível prever que para a situação construtiva, ao se trabalhar com as lagoas em funcionamento, será possível a ocorrência de lixiviação no solo situado em profundidades superiores a 1 m e no momento ainda não lixiviado. 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DE LABORATÓRIO Resultados dos Ensaios de Granulometria Os ensaios de granulometria foram realizados sobre o solo fino proveniente das lagoas LF 01 (Figura 3) e LF 04 (Figura 4) e sobre o cascalho proveniente da camada 5
6 pedregulhosa (Figura 5). Nos três casos a matriz fina foi submetida a ensaios de sedimentação com e sem o uso de defloculante. As Figuras 3 e 4 mostram resultados semelhantes para os solos finos provenientes das lagoas LF 01 e LF 04 quando do uso de defloculante. Sem o uso de defloculante fica evidente a maior estruturação do solo proveniente da lagoa LF 04. No solo proveniente da lagoa LF 01 a própria água gera uma forte desestruturação no solo. Estes resultados são compatíveis com os resultados de condutividade hidráulica que mostram, considerando-se a profundidade de 1 m, que para a lagoa LL 01 k kh, o que indica lixiviação, e para a lagoa LL 04 k kh, o que indica a maior preservação da estrutura do solo. Ao se comparar os ensaios de sedimentação realizados sobre o cascalho com e sem o uso de defloculante, observa-se (Figura 5), que a sua matriz fina apresenta estabilidade estrutural em presença de água. % passa Granulometria - Lagoa LF Diâmetro das partículas (mm) Com Defloculante Sem Defloculante Figura 3 - Granulometria do solo da LF 01 A Figura 6, construída a partir das curvas granulométricas do cascalho (Figura 5), separando-se as frações inferiores e superiores a 2 mm, permite analisar o critério de filtro da fração grossa em relação a fração fina do material. A curva obtida para a fração inferior a 2 mm com o uso de defloculante é idêntica a obtida para a camada de solo fino das lagoas LF 01 e LF 04. Sem o uso de defloculante esta curva se aproxima da curva obtida para o solo fino proveniente da lagoa LF 04. Verificando-se os critérios de filtro dos solos finos (solo retido) provenientes das lagoas LF 01 sem defloculante (LG1SD) e com defloculante (LG1CD) e LF 04 (LG4SD e LG4CD respectivamente sem e com defloculante) em relação a camada de cascalho (filtro) sem defloculante (CSD) e com defloculante (CCD) (Tabela 4), ou seja: D 15 (cascalho = filtro)< 5D 85 (solo fino = retido) D 50 (cascalho = filtro)< 25D 50 (solo fino = retido) % passa Granulometria - Lagoa LF Diâmetro das partículas (mm) 0 Com Defloculante Sem Defloculante Figura 4 - Granulometria do solo da LF 04 % passa Granulometria - Cascalho Diâmetro das partículas (mm) Com Defloculante Sem Defloculante Figura 5 - Granulometria do cascalho 6
7 Observa-se que a matriz global do cascalho é capaz no limite de reter o solo fino não defloculado e deixa passar o solo fino defloculado. Portanto, a infiltração do fluido proveniente das lagoas agindo como defloculante será comprometedora do critério de filtro em relação ao cascalho. % Passa Comparação das Frações Grossa e Fina do Cascalho Diâmetro das partículas (mm) Fração grossa Fração fina com defloculante Fração fina sem defloculante Figura 6 - Granulometria das frações grossa e fina do cascalho Considerando-se as frações grossa (CMG) e fina sem defloculante (CMFSD) e com defloculante (CMFCD) do cascalho separadamente, é possível observar que neste caso o critério de filtro fica longe de ser satisfeito, sendo esta provavelmente uma das causas das erosões internas já registradas na área e que surgiram do fluxo concentrado no local da antiga cascalheira (Camapum de Carvalho e Pereira, 1998). 4.2 Resultados dos Ensaios Duplo Oedométricos A Figura 7 apresenta os resultados dos ensaios duplo oedométricos realizados sobre o solo fino proveniente da lagoa LF 01. Observase uma grande proximidade entre os resultados dos dois ensaios com um pequeno colapso por inundação com água sob um carregamento vertical de 200 kpa. Tal comportamento pouco colapsível se deve provavelmente ao elevado grau de saturação inicial da amostra natural (71%). Os resultados da análise granulométrica realizada sobre o solo fino proveniente da lagoa LF 04 conduz a expectativa de colapso adicional quando da inundação por fluido oriundo da lagoa uma vez que a água pura não provoca a desestruturação total da matriz fina deste solo. Tabela 4 Avaliação dos critérios de filtro Fração Diâmetro (mm) De Solo F D 15 F D 50 S 5D 85 LG1SD - - 1,550 1,500 LG1CD - - 1,250 0,175 LG4SD - - 2,400 2,250 LG4CD - - 1,200 1,250 CSD 0,010 2, CCD - 2, CMFSD - - 2,000 0,375 CMFCD - - 1,000 0,100 CMG 7,000 15, Variação de e/1+e0 (%) Figura 7 - Duplo oedômetro 4.3 Resultados dos Ensaios de Pinhole 25D 50 S Amostra saturada Tensão Vertical (kpa) Amostra natural Os resultados obtidos através dos ensaios de Pinhole mostraram que o solo fino proveniente da lagoa LF 01 se desagregou inteiramente sob o efeito de um gradiente hidráulico igual a 1. Já o solo oriundo da lagoa LF 04 só apresentou este comportamento ao se submeter a um gradiente hidráulico igual a 8. Os comportamentos registrados nos dois casos estão em perfeito acordo com os ensaios granulométricos realizados com e sem o uso 7
8 de defloculante sobre os solos proveniente das duas lagoas, ou seja, a estrutura do solo da lagoa LF 01 apresenta muito baixa resistência enquanto o da lagoa LF 04 encontra-se mais estruturado e resistente ao fluxo. É importante destacar a compatibilidade destes resultados com os de condutividade hidráulica que apontaram para a lixiviação no solo da lagoa LF 01 enquanto o da lagoa LF 04 ainda apresentava estrutura preservada. 5. ANÁLISE DO PROBLEMA E SOLUÇÃO PROPOSTA Os resultados dos ensaios de Pinhole aliados às demais análises, deixam claro que os processos de lixiviação e de defloculação da matriz fina dos solos oferecem um grande risco para o empreendimento. O conjunto dos resultados obtidos mostra que: Nos perfis sondados não foram registradas cavidades e a camada de pedregulho é bastante contínua e de profundidade e espessura variável; solo fino apresenta uma grande propensão a desestruturação; A camada de cascalho não satisfaz ao critério de filtro em relação ao solo fino defloculado; A matriz grossa do cascalho não satisfaz ao critério de filtro em relação a sua matriz fina e em relação a camada de solo fino; Em locais como no caso do ponto ensaiado na lagoa LF 04 a infiltração de fluido defloculante seria potencial causador de colapso estrutural no solo; solo fino apresenta baixa resistência a erosão interna sendo a sua susceptibilidade ao fenômeno ampliada por processos de lixiviação; A camada de solo fino é bastante permeável. Com base nestes resultados buscou-se por meio de ensaios de campo, a alternativa de reduzir a infiltração de água no solo através da infiltração de caldas de cimento, cal hidratada e asfalto diluído. O máximo que se conseguiu foi reduzir a permeabilidade em 50%. Aventou-se ainda para a possibilidade de colmatação do fundo das lagoas pelo próprio lodo de deposição o que minimizaria a infiltração. No entanto, dada a importância da obra e o risco de colapso estrutural do solo de fundação optou-se pela impermeabilização das lagoas conforme especificado na Tabela 5. Considerando-se o lançamento apenas de resíduos sólidos de baixa densidade não se previu a proteção mecânica da geomembrana na parte submersa das lagoas. Nas partes não submersas recomendou-se a proteção com placas de concreto. Recomenda-se a colocação da geomembrana de fundo em condição corrugada de modo a se evitar submete-la a esforços de tração quando de eventuais subsidências. Complementarmente recomendou-se a drenagem superficial da área, de modo a minimizar a infiltração de água de chuva a montante das lagoas e proporcionar uma maior segurança para a obra. 6. CONCLUSÃO Este trabalho coloca em evidência aspectos importantes do comportamento dos solos tropicais finos e granulares tais como: Condições favoráveis de drenagem são susceptíveis de lixiviar os solos finos e aumentar sua instabilidade estrutural; A camada drenante de cascalho, frequente nos perfis de solo regionais podem se submeter ao processo de erosão interna em condições favoráveis de fluxo nos casos em que a sua fração grossa não seja filtro da fração fina. Os ensaios de sedimentação com e sem o uso de defloculante são de fundamental importância em projetos que envolvam a infiltração de efluentes de esgoto. Tabela 5. Solução para impermeabilização de fundo e lateral das lagoas de deposição de lodo Impermeabilização lateral Impermeabilização de fundo Geomembrana de 1,0 mm, Superposição da camada de solo compactado por geomembrana polietileno de alta densidade de 1,0 mm, polietileno de alta densidade 8
9 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Belcher, W.D. (1954). Relatório técnico sobre a nova capital da república. Relatório Belcher, 3 a edição, Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central - CODEPLAN, Brasília-DF, 316 p. Camapum de Carvalho, J. & Pereira, J.H.F. (1998). Relatório técnico de apresentação de solução para os problemas de subsidência verificados na lagoa LL1 da ETE de Recanto das Emas. Publicação G.RE. 018 A/98, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília. 24 p. Camapum de Carvalho, J., Pereira, J.H.F. & Pastore, E.L. (1998). Relatório técnico de apresentação de solução preventiva para os problemas de subsidência nas lagoas da ETE de Recanto das Emas. Publicação G.RE. 029 A/98, Programa de Pós- Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília. 70 p. Cruls, L. (1984). Relatório da comissão exploradora do Planalto Central. Relatório Cruls, 4 a edição, Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central - CODEPLAN, Brasília-DF, 396 p. Fácio, J.A. (1991). Proposição de uma metodologia de estudo da erodibilidade dos solos do Distrito Federal. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, G.DM. 002A/91, 120 p. Mendonça, A.F. (1993). Caracterização da erosão subterrânea nos aqüíferos porosos do Distrito Federal. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 155 p. Mortari, D. (1994). Caracterização geotécnica e análise do processo evolutivo das erosões no Distrito Federal. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, G.DM. 010A/91, 200 p 9
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