INFLUÊNCIA DA VAPORIZAÇÃO EM ESTAMPAS EFETUADAS COM O CORANTE C.I. REACTIVE BLUE 160
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- Nathalia Medina Diegues
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1 INFLUÊNCIA DA VAPORIZAÇÃO EM ESTAMPAS EFETUADAS COM O CORANTE C.I. REACTIVE BLUE 160 Bezerra, R.N. 1, Rodrigues, M.A. 2, Souza, S. 1, Costa, R. 1 e Rosa, J.M. 1 1 Faculdade de Tecnologia SENAI Antoine Skaf - São Paulo Brasil raquelnbezerra@gmail.com 2 Escola SENAI Francisco Matarazzo - São Paulo Brasil Resumo Foi estudada a influência da vaporização de estampas desenvolvidas com o C.I. Reactive Blue 160 (RB160). Foram avaliados os itens diferença de intensidade colorística (K S -1 ), a diferença de energia térmica entre os processos e solidez das cores à água. A termofixação em presença de vapor demonstrou maior rendimento colorístico, com diferença de 3,38 entre os processos, ou seja, para que as intensidades ficassem iguais nos processos com e sem presença de vapor, seria necessário um aumento de 13% na concentração de RB160 no processo de termofixação sem vaporização. Apesar de se obter maior rendimento no K S -1, o processo com vaporização consome maior quantidade de energia térmica, 6, J. Os testes de solidez a água não apresentaram diferença significativa, demonstrando que para o corante estudado, o processo por termofixação sem vaporização pode ser uma alternativa para cores que forem desenvolvidas com este corante. Palavras chaves: vaporização, estamparia têxtil, corante reativo. Abstract The influence of vaporization of prints developed with C.I. Reactive Blue 160 (RB160) was studied. The coloristic intensity (K S -1 ), the difference of thermal energy between the processes and fastness of colors to water were evaluated. The process in the presence of steam showed higher value of K S -1, with a difference of 3.38 between the processes, that means an increase of 13% in the concentration of RB160 in the termofixation without steam. Despite achieving greater efficiency in the K S -1, the vaporization process consumes a larger amount of thermal energy, J. The tests of fastness showed no significant difference, indicating that for the dyestuff studied, the process by termofixation without steam can be an alternative to colors that are developed with this dyestuff. Keywords: vaporization, textile printing, reactive dyestuff
2 1. INTRODUÇÃO A estamparia têxtil, uma arte milenar, é um processo de coloração onde somente um lado do tecido é colorido. Pode ser definido como sendo um conjunto de figuras ou desenhos impressos nos tecidos formando uma padronagem (ANDREONI, 2008). As estampas podem ser efetuadas com pigmentos ou com corantes, sendo a mais comum efetuada com pigmentos. Cerca de 20% de todos os produtos têxteis são estampados e destes, de 45% a 50% fazem uso de pigmentos, o método mais simples e econômico. Porém, as estampas com pigmento proporcionam um toque mais áspero do que as estampas produzidas com corantes (ANDREONI, 2008; MALUF e KOLBE, 2003). Vem sendo realizada e orientada pela "experiência" que, em grande parte, tem substituído a investigação de parâmetros que permitam controlar com exatidão tais processos (GIORDANO, 2002; ANDREAUS et al, 2010). Nos últimos quatro anos os tecidos compostos por fibras celulósicas foram os mais produzidos, quando comparados em relação às demais fibras no mesmo período. Este fato que levou a opção por trabalhar com tecido produzido com fibras de algodão, em estampas produzidas com corantes reativos, corantes estes os mais consumidos atualmente no Brasil (PRADO, 2013; ABIQUIM, 2013) Corantes Reativos Os corantes reativos ainda dominam a estamparia com corantes em tecidos de fibras celulósicas principalmente pela facilidade na produção. As pastas de estampar com corantes reativos em geral se conservam bem em ambientes frios por até uma semana. Esses corantes consistem em uma das grandes classes de corantes utilizadas para estamparia em algodão e outros materiais celulósicos. Reagem quimicamente com a celulose para formar uma ligação química covalente e proporcionam altos índices de solidezes à fricção e aos tratamentos úmidos (KONS, 2010; PEARSTINE, 2006; YAMANE, 2008). Ha dois grandes grupos de corantes reativos, os Vinilsulfônicos (VS) que reagem por adição nucleofílica e os Halogenoheterocíclicos (HHC), grupo do qual fazem parte os corantes do tipo monoclorotriazina (MCT), que reagem por substituição nucleofílica e que foi abordado neste estudo. A estrutura do corante encontra-se disposta na Figura 1.
3 Nome genérico: C.I. Reactive Blue 160 Grupo reativo: Homo-Bifuncional Monoclorotriazina Grupo cromóforo: Azo Figura 1. Estrutura e características do corante C.I. Reactive Blue 160 (RB 160) ( 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Materiais Equipamentos: Espectrofotômetro Konica-Minolta CM-3600d, Termofixador- Vaporizador Mathis GD-B; Mesa de estampar de acionamento eletromagnético Mathis SILK, Misturador Mathis M, Viscosímetro Brookfield Analógico Modelo LVT, Perspirômetro, Esticador pneumático Screen Printing HB, Tensiômetro HB, Lavadora Suzuki com velocidade periférica de 40 m min -1, três aletas com 5 cm de altura e tempo de ciclo igual a 17 s e Gerador de Vapor Etna GHV-2000 com capacidade de produção igual a 5, kg s -1, Pressão Máxima de Trabalho Admissível (PMTA) igual a 1,0 MPa operando com eficiência de 85%, este último utilizado como parâmetro para a modelagem da termodinâmica. Reagentes: Corantes RB 160, (Basf), alginato de sódio 98%, etanol 95%, uréia 90%, carbonato de sódio 95% (Manchester) e anti-redutor (Clariant) para as pastas de estampar; adesivo sintético de secagem rápida para preparação da matriz; Ácido Acético 95% (Manchester), Retardante (Basf) e Sequestrante (Goldenquímica) para a lavagem posterior. Materiais diversos: quadro de alumínio, tecido plano de poliéster multifilamento de densidade linear igual a 90 fios cm -1 para a preparação do quadro; malha alvejada (ROSA
4 et al, 2012) de algodão 100%, fio 30/1 Ne cardado, 16 colunas/cm e 18 malhas/cm, com largura tubular de 92 cm e gramatura igual a 130 gramas por cm 2, tecido utilizado para a estampa Metodologia Preparação da matriz a) Colocou-se o tecido de poliéster sobre o quadro de alumínio e aplicou-se a tensão através das garras (Esticador HB), efetuando-se em seguida a leitura da tensão obtida (Tensiômetro HB), de valor igual a 38 N cm -1 ; colou-se a tela de poliéster no quadro de alumínio, utilizando-se o adesivo sintético; efetuouse então a lavagem da matriz com água e detergente não iônico para remoção de óleos e eventuais sujidades; secou-se a matriz durante 30 minutos a 50 ºC; b) Vedaram-se as arestas com fita adesiva, conforme esquema disposto na Figura 2. Figura 2. Ilustração da matriz preparada Preparação da pasta de estampar c) Para o preparo da pasta colorida, utilizou-se as quantidades de produtos descritas na Tabela 1, mantendo a mistura sob agitação constante de 1300 RPM durante 10 minutos (Misturador Mathis M); efetuou-se a medida da viscosidade das pasta (Viscosímetro Brookfield, spindler 6, 10 RPM).
5 Estampagem Tabela 1. Receita da pasta colorida (SENAI, 2012). Produtos RB160 Alginato a 4% 500 RB Uréia 100 Anti-redutor 10 Carbonato de Sódio 1:3 90 Água 270 TOTAL 1000 Viscosidade (cp) 4000 à 26 ºC 20 a 22 de maio de 2014 São Paulo - Brasil d) Colocou-se o tecido na mesa (Mesa de estampar Mathis SILK), adicionou-se a pasta na matriz e, em seguida, com intensidade eletromagnética em nível 6, vareta de diâmetro igual a 10 mm e velocidade igual a 3 m min -1, executou-se somente uma passagem Termofixação e) Após o processo de estampa, a amostras foi dividida em duas partes, sendo uma delas submetida em condições de termofixação e vaporização com 280 g de água por m 3 e a outra em condições de termofixação sem vaporização, ambas em temperatura de 105 ºC durante 10 minutos, com velocidade do motor de circulação de ar em 1000 RPM (Termofixador-Vaporizador Mathis GD-B) Tratamento posterior f) Todas as amostras estampadas foram submetidas em lavagem posterior (Lavadora Suzuki), em relação de banho igual a 1:15 (15 litros de água para cada 1 kg de substrato lavado), utilizando-se 0,5 g L -1 de retardante (A), 0,5 ml L -1 de ácido acético (B) e 0,5 g L -1 de sequestrante (C). Todas as etapas efetuadas no processo de lavagem estão representadas graficamente na Figura 3.
6 Figura 3. Etapas do processo de lavagem posterior a termofixação (SENAI, 2012) Avaliação da cor g) Para comparação do rendimento entre os processos, avaliou-se reflectância (R) das cores através de espectrofotometria visível, sob iluminante D65 10º, Sistema CIELab (CM-3600d), calculando-se a intensidade colorística (K S -1 ) através da Equação de Kubelka-Munk (SILVA et al, 2012). K S -1 = (1-R) 2 (2R) -1 (1) Correlação entre a concentração de corante ([R]) e o K S -1 h) Para determinação da correlação [R]/K S -1, foi desenvolvida uma curva de calibração com valores de [R] descritos na Tabela 2, juntamente com os respectivos valores de K S -1 obtidos. Através destes dados foi obtido os Gráfico 1, juntamente com as equações e os valores de regressão linear. Esta correlação é necessária para calcular a diferença em g kg -1 de corante entre os processos com e sem presença de vapor, já que o K S -1 é adimensional, demonstrando somente a intensidade colorística.
7 Tabela 2. Valores de concentração de RB160 o respectivo K S -1. g kg -1 K S -1 (em 620 nm) 15,00 13,723 10,00 9,1462 7,50 7,8467 6,00 5,6778 5,00 5,4411 Gráfico 1. Correlação [RB160]/K S Ensaio de solidez i) O ensaio de solidez a água foi executado segundo norma NBR ISO 105- E01:2011. Antes dos ensaios, as amostras foram condicionadas por 24 h em atmosfera padrão de temperatura igual a 20±2 ºC e umidade relativa igual a 65±2 % (GUN e TIBER, 2011). Os resultados foram avaliados por espectrofotometria Vis, sob iluminante D65, 10º.
8 3. RESULTADOS 3.1. Avaliação das cores Os valores de intensidade colorística (K S -1 estão descritos na Tabela 3. Estes valores foram mensurados tendo como ponto zero a leitura da amostra alvejada, entretanto, o delta foi calculado entre as cores obtidas. Tabela 3. Desvios entre as amostras com e sem presença de vaporização. Vaporização Parâmetro RB160 COM K S -1 20,65 SEM K S -1 17,27 K S -1 3,38 As diferenças entre os valores de K S -1 ficou em 3,38. De acordo com a equação de correlação [RB160]/K S -1, calculou-se essa diferença em g kg -1, onde obteve-se o valor de 4,01 para o RB160. Este fato demonstra que, para obter-se a mesma intensidade em cores termofixadas com e sem presença de vaporização, utilizando-se este corante, seria necessário acrescentar esta diferença nos processos com termofixação sem vaporização Solidez à agua As diferenças entre os valores dos índices de solidez à água não foram significativas. As notas obtidas por avaliação espectrofotométrica estão dispostas na Tabela 4, onde se pode observar a semelhança entre os valores para os dois processos. Tabela 4. Notas relativas ao ensaio de solidez à água. Parâmetros A T Com VAPORIZAÇÃO 5 4/5 Sem VAPORIZAÇÃO 5 5 Legenda: A = Alteração T = Transferência
9 3.3. Termodinâmica Segundo Atkins e Jones (2011), para vaporizar um mol de água na forma líquida (18,02 g em 25 ºC), deve-se fornecer 44,0 kj de energia na forma de calor. Para o processo de termofixação em presença de umidade foram necessários 280 g de vapor de água por metro cúbico. Para esse montante, o consumo extra de energia em relação ao processo de termofixação sem presença de umidade seria de 683,68 kj ou 6, J. De acordo com o fornecedor de gás combustível, a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), o gás comercializado e utilizado no gerador de vapor para este estudo possui 89,0% de metano, 6,0% de etano e 1,8% de propano. Baseando-se no Poder Calorífico Inferior (PCI) descrito pela norma ASTM D (JOSÉ, 2004), como sendo 3, J m -3 para o metano, 7, J m -3 para o etano e 9, J m -3 de propano, o PCI calculado de gás combustível foi de 4, J m -3. Nestas condições, para calcular o volume de gás combustível necessário para a obtenção de 6, J, utilizou-se a equação (1). Q V = (1) 7 4,02 10 E GV Onde: V = volume de gás combustível (m 3 ); Q = energia despendida (J); E GV = eficiência do gerador de vapor (%). Adotando-se um gás ideal nas condições normais de pressão e temperatura e aplicando-se a equação 1, determinou-se que o consumo de gás combustível seria de 2, m 3, o que geraria 4, kg de CO 2, quantidade obtida através da equação (2). -2 P V 4,40 10 FC mco 2 = (2) R T Onde: mco 2 = kg; P = 101,3 kpa; V = m 3 (eq.1) ; R = 8314 m 3 kpa mol -1 K -1 ; T = 273,15 K e FC = fator de carbono na mistura, igual a 1,10.
10 4. CONCLUSÃO Através do estudo com este corante, demonstrou-se que há um rendimento maior quando há presença de vapor na termofixação. A quantidade de corante utilizada para ambos os processos foi de 30 g kg -1, mas para que se obtenha rendimento colorístico semelhante, é necessário um aumento na quantidade para 34,01 g kg -1, 13% a mais, para receitas com posterior termofixação sem presença de vaporização. Há também a diferença no consumo de energia. O processo de termofixação com vaporização gera um consumo de 6, J a mais do que o processo sem vaporização, consumindo 2, m 3 a mais de gás combustível, gerando emissão de 4, kg de CO 2. Importante acrescentar que o estudo restringiu-se apenas na influência da vaporização em um corante específico, de uma classe específica. Além de outros corantes utilizados no mercado, como os vinilsulfônicos ou os bi-heterofuncionais, há também outros fatores que podem influenciar na termofixação de corantes reativos, como a temperatura ou ainda a quantidade de álcali.
11 5. REFERÊNCIAS ABIQUIM: Associação Brasileira da Indústria Química. Disponível e acessado em 02/11/2013, ANDREAUS, J.; DALMOLIN, M.C.; OLIVEIRA JUNIOR, I.B.; BARCELLOS, I.O.: Aplicação de ciclodextrinas em processos têxteis. In: Química Nova, vol.33, n.4, p , ANDREONI, M.A.L.: Estamparia Têxtil: Uma estratégia na diferenciação do produto da manufatura do vestuário de moda, Dissertação, Engenharia de Produção, Universidade Paulista, São Paulo, ATKINS, P.W.; JONES, J.: "Termodinâmica: A Primeira Lei". In: Princípios de Química, 5ª edição, Editora Bookman, p.320, GIORDANO, J.B.: Caracterização Físico-Química da resina acrílica aplicada na estamparia têxtil, Dissertação, UNICAMP, GUN, A.D.; TIBER, B.: Color, colorfastness and abrasion properties of 50/50 bamboo/cotton blended plain knitted fabrics in three different stitch lengths. Textile Research Journal, 81: , JOSÉ, H.J., Combustão e Combustíveis. Departamento de Engenharia Química e Alimentos. Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, KONS, T.: Acompanhamento e análise crítica dos processos para identificação das causas dos problemas encontrados em estamparia. Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharel em Química, Universidade Regional de Blumenal, Blumenau, MALUF, E.; KOLBE, W.: Dados técnicos para a indústria têxtil, 2. Ed., São Paulo: IPT, PEARSTINE, Kathryn. INK. Development manager. Versão para português pela Leila e J. C. Macedo. Siderquímica do Brasil, PRADO M.V.: Relatório Setorial da Indústria Têxtil Brasileira, ABIT/IEMI, ROSA, J.M.; TAMBOURGI, E.B.; SANTANA, J.C.C.; CARMO, R.A.S,: Estudo de variáveis e de custos ecológicos no pré-tratamento de tecidos de algodão com peróxido de hidrogênio. In: Química Têxtil, n.109, p , SENAI Escola SENAI Francisco Matarazzo : Processos Produtivos Têxteis III, SILVA, B.B.; BEZERRA, R.N.; ROSA, J.M.; TAMBOURGI, E.B.; SANTANA, J.C.C.: Influência da estiragem mecânica nas propriedades físico-químicas de multifilamentos de poliamida 6. In: Química Têxtil, n.112, p , YAMANE, L.A.: Estamparia Têxtil, Dissertação, ECA-USP, acessado em 03/11/2013
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