MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

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2 R I C A R D O M O R E I R A D E M E S Q U I T A MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Edição do Autor

3 Copyright 2002 by Ricardo Moreira de Mesquita Todos os direitos desta edição reservados ao autor Impresso no Brasil/Printed in Brazil CIP-Brasil - Catalogação na fonte M578m Mesquita, Ricardo Moreira de Mercado: do Mané ao Turista/Ricardo Moreira de Mesquita. - 1 a ed. - Florianópolis: Ed. do Autor, p.: il.; 22cm ISBN Mercado Público I. Título CDU Capa: Ricardo Moreira de Mesquita sobre desenho em crayon de Leandro Barrios Revisão Ortográfica: Verlaine Silveira Programação Visual e Diagramação: Ricardo Moreira de Mesquita Digitalização e Tratamento de Imagens: André Kajarana e Estúdio 4 Ficha Catalográfica: Gisele Alves Composto em Century Schoolbook, Arial, Encino e MarkingPen Software utilizado: PageMaker e Adobe PhotoShop Fotolitos:

4 Sumário Vendendo o peixe Duas palavras com o leitor...5 A pesquisa De porta em porta...7 Balaio do Mané Crônica livre sobre a inauguração da Praça do Mercado...9 Balaio Velho A história da construção da Praça do Mercado...15 Balaio Novo Os mercados públicos, suas construções e suas histórias...53 Balaio do João Passeando e recordando o Mercado Balaio de Fotos Memória visual dos mercados públicos Balaio de Siri Histórias do Mercado Balaio de Figurinhas Personagens que fizeram a história dos mercados e da Ilha Balaio na Cabeça Fontes consultadas, entrevistas e imagens...185

5 A Verlaine Silveira, companheira e cúmplice.

6 Vendendo o peixe Nossa capacidade de contaminar o presente, o passado e o futuro é incomparavelmente maior do que a nossa fraca imaginação moral. Carlo Ginzburg, historiador italiano. Cansado de dúvidas, de histórias e afirmações diferentes sobre o mesmo tema, resolvi ir atrás da verdade. E o Mercado Público Municipal sempre exerceu um grande fascínio sobre a população. Cercado de mistérios, de relatos desencontrados, era um balaio cheio de novidades, emaranhadas, que precisavam ser ordenadas. Balaio virado, assuntos espalhados e a busca revelou a Praça do Mercado, construída em 1851, demolida e substituída pela primeira ala do Mercado Público da rua Conselheiro Mafra, em 1899, e ampliada em Surgiram os mercados da avenida Mauro Ramos e do Estreito, construídos nos anos 50, o da Trindade e o de Capoeiras, inaugurados no fim da década de 60. Mais recente, a construção do Mercado da Coloninha, conhecido como Ceasinha. Por um período, chegaram a funcionar cinco ao mesmo tempo. Para surpresa minha, três outros apareceram. Um mercado projetado na Praia de Fora, aprovado por lei e que acabou no esquecimento, junto com o mercado de São Luís, na região próxima ao Beiramar Shopping, e por último o mercado do Saco dos Limões. Assim, Florianópolis, entre tantos casos raros, já presenciou a construção de sete mercados públicos e pouco se sabe dos outros três, que não saíram da fase de projeto, sem considerar o polêmico Galpão do Peixe, do século 19.

7 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Mas o enfoque deste livro é centrado na construção da Praça do Mercado pelo fato de ter sido o primeiro, e no Mercado Público da rua Conselheiro Mafra por sua tradição de mais de 100 anos. Entremeia, ainda, os fatos da construção do Galpão do Peixe, concluído em Sempre cercado de mistérios e histórias, apenas o nosso Mercado Público resiste ao progresso do abastecimento no terceiro milênio, dominado por supermercados e compras via Internet. Ao leitor, mané ou turista, um relato histórico entrelaçado por fatos e personagens da evolução da cidade de Florianópolis.

8 A pesquisa Parece incrível, mas foram mais de oito meses de pesquisa dentro da Ilha. Textos, relatos, leis e periódicos espalhados por vários arquivos dificultavam uma busca minuciosa. Foram encontrados relatórios de governadores, apresentados nas assembléias legislativas, documentos oficiais, um pouco em cada lugar. Na Biblioteca Pública Estadual, no Arquivo do Estado, no Centro da Memória da Assembléia Legislativa, Biblioteca e Arquivo Municipal. Foi quase um trabalho de garimpagem. Um pouco aqui, um pouco ali, mas tudo que foi possível ler, foi lido. Inclusive documentos originais com mais de 160 anos. Houve muitos desencontros nas entrevistas. Pessoas ocupadas, trabalhando e ao mesmo tempo contando suas histórias no balcão. Todas importantes. A história falada, vivida por elas, nos mostra particulares que não podemos encontrar nas páginas de jornais ou coletâneas de leis. Pena que algumas pessoas não se preocupam com a própria história, não falam de suas origens ou de seu trabalho, deixando de transmitir essa memória. Rolos e mais rolos de microfilmes de jornais antigos, além de muitos volumes de encadernações desses periódicos foram vistos. Sempre tomando cuidado com a parcialidade. A imprensa antiga era partidária. Se a inauguração era do governante alinhado com o jornal, a notícia era elogiosa, muitas vezes quase uma propaganda. Enquanto isso, no diário adversário não se publicava uma linha sequer. Sempre que possível, mais de uma publicação foi analisada. Diversas informações estão desaparecidas. O incêndio ocorrido no

9 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA prédio da Assembléia Legislativa, em 1956, a enchente que atingiu a Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1995, são desculpas alegadas. Por detrás das cortinas também se culpa o desleixo de alguns governantes do passado, que não tinham preocupação em preservar a memória da cidade e do Estado. Arquivos não são simples guarda-livros. Sempre carentes de verbas e de espaço, acabam relegados ao esquecimento, às traças e aos cupins. Seria bom se os governantes nos deixassem como legado, além de obras e projetos, as páginas da memória catarinense em melhores condições que as atuais. A grande maioria do material pesquisado se encontrava escrito em letras cursivas, manuscritos traçados de maneira rápida e corrente. Atas de reuniões na Câmara, relatórios, ofícios, discursos e contratos lidos foram produzidos dessa forma, tornando muitas vezes a leitura difícil e a interpretação trabalhosa. Conforme os preceitos da paleografia, ciência que estuda as escritas antigas, usamos os colchetes, quando a palavra lida passa a ser uma interpretação, pela dificuldade em decifrar, ou no caso de interferência pessoal do tradutor. Um ponto de controvérsia entre autores é o índice populacional da cidade. Neste livro foram transcritos os dados constantes nos discursos dos presidentes da Província até A partir dessa data, os números foram retirados dos estudos estatísticos e censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O leitor encontrará, além dos casos descritos, a opção do autor em escrever por extenso os numerários que se encontram em réis, moeda antiga e fora de uso, de trabalhosa leitura.

10 BALAIO DO MANÉ Mané que é Mané não perde a chance de um ói, ói, ó. Também não perdi. Juntei os textos que possuía aos que tinha lido e recriei numa crônica a inauguração da Praça do Mercado. E ainda tirei do fundo do balaio algumas expressões que havia esquecido.

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12 BALAIO DO MANÉ 12 Nem ti conto! Não suportei o calori 1 na Catedral apinhada de fiéis. Deixei dona Maroca, minha mulher, no meio do terço e o padre Joaquim a falar no sermão. Fui até a porta principal, li algumas alvíssaras pregadas na porta da igreja e debrucei os bagos dos óio pros lados da praia, agora escondida pelo prédio do Mercado. E fiquei a pensar: por que hoje a inauguração, no Dia de Reis, uma segunda-feira? Estiquei a vista pro campo aberto que chamam de Largo do Palácio. Não teria sido melhor gastar pra arrumar este lugar? Construir uma carioca e canalizar aquele barreiro bem no meio do largo? Plantar mais árvores, além destas pouquinhas? Bom, não sou o presidente, vissi? A missa acaba e meu tormento começa. Ói, ói, ó, esse menino! Deixou o padre falando sozinho, não respeita a Deus, não? Maroca, estava um abafamento insuportável, preciso carpir a roça, tratar os animáli, almoçar e fazer a sesta. Depois voltar pra inauguração da Praça do Mercado, vissi essa menina? Táis tolo, táis, vamos simbora Manueli. E tu vais sair hoje di noite no Terno de Reis, não vais? Tomei um cafézinho do buião, que estava em cima do fogão a lenha, e fui pro quintali. A gente véve pra trabalhar. Atragi de um pé de vergamota a aripuca continuava armada. Fiz o trato dos bichos e fui 1 As palavras do linguajar do manezinho estão traduzidas na página 14.

13 13 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA dereto pra almoçar. Maroca barre a casa e o alguidar com pirão tá pronto na mesa. E mais uns peixinhos. À tarde, lá pelas cinco, ouvi a banda do Quartel do Campo do Manejo a executar uma retreta. Começou a inauguração! Ajeitei o chapéli, vesti o palitóli e fui pra Praça. Não podia perder. Ainda ouvi na saída o grito de Maroca: Espera aí, esse menino! Se aprecata mulher, sobe na aranha! A Praça apovoada de gente. Carros de bois, carroças enfeitadas, cavalos com estribos ariados, uma buniteza. Alguns mascates com seus artigos espalhados em esteiras de taboca sobre o chão, rendeiras com seus bilros fazendo tramóia e algumas escravas libertas com seus doces de tabuleiro nas cabeças enfeitavam a cena. Maroca, com sempre avoada, esqueceu seu terço. Parece uma atolesmada quando vê padre Joaquim. Carolas! O presidente da Província, João José Coutinho, fala, o presidente da Câmara, Clemente Antônio Gonçalves, afirma não existir no Império obra de tal vulto e o padre benze. As portas são abertas. O pessoal se apinha, olham por tudo, entram por uma porta e saem por outra, bisbilhotam, metem os bedelhos. A rampa das canoas, ainda não fizeram, a escada da praia também não. Ah! Políticos! O istepôri de um garoto quase me dirruba perseguindo uma bucica pitoca. Podia correr mais divagari. Dei uma volta na calçada a precurar por Maroca, que encontrei a prosear com Zenilda, uma galega, quituteira de mão cheia. Em frente a uma barraca na praça, o saltimbanco fazia cambotas. Me aprecatei e comprei um talho de melancia. Manueli! gritou Maroca essa fruta vai te dar um quemori. Não dei importância e dicroca segui a saborear. Osnildo veio no meu rumo a fazer elogios à obra. Interessado que está em participar da hasta, querendo alugar uma das 12 casinhas do Mercado. Ladino... Quero vender feijão, milho e farinha de mandioca afirmou. Quanto vai custar o aluguéli? perguntei. Dijaoje, conversei do aluguéli com um vereador, homem de sabença, mas falou que não sabe. O sino da cadeia anuncia 7 horas da noite. O sóli ainda não se escondeu, mas o mari começa a ficar encapelado. Coisas do verão. O vento suli chega de mansinho e chamo Maroca.

14 BALAIO DO MANÉ 14 Maroca, vamos embora, vai chover, o vento está de rebojo, essa menina. Só mais um cadinho! O texto, baseado em relatos e desenhos da época, é uma ficção. Se a inauguração do primeiro Mercado Público, em janeiro de 1851, não foi exatamente como a festa descrita, deveria ter sido. As lutas pela construção e o fim da compra de alimentos em lugares imundos, espalhados pelo chão, sob o sol e a chuva, até mesmo nas canoas, eram mais que motivos para justificar uma grande festividade. A Matriz, o palácio do presidente da Província, a Cadeia Pública no pavimento térreo da Câmara Municipal, o prédio do depósito bélico do quartel estavam construídos. O Largo do Palácio não passava de uma área livre, sem grama e com apenas 12 pequenas árvores. O alagadiço no centro, próximo ao local onde se encontra hoje a figueira centenária, era um tormento quando chovia. Lama e mosquitos proliferavam. A Catedral ainda não tinha a escadaria, tampouco as naves laterais. A moderna construção do Mercado contrastava com outros edifícios públicos por sua imponência. Os primeiros 461 imigrantes açorianos haviam chegado à Ilha de Santa Catarina cem anos antes, em 6 de janeiro de 1748, a bordo de duas galeras. Ficaram instalados inicialmente no interior da Ilha, principalmente na Lagoa da Conceição, onde já moravam alguns compatriotas. Dedicados à pesca artesanal, povoaram a Ilha com seus costumes, suas rendas de bilro, lendas e bruxas. Os portugueses que vieram dos Açores já falavam cantando. Mais tarde, a chegada dos negros que pronunciavam de forma aberta as vogais deu origem à sonoridade do linguajar ilhéu. A colonização alemã introduziu novos vocábulos, assimilados de forma melodiosa, principalmente pelo florianopolitano. As expressões e vocábulos desconhecidos no texto fazem parte do linguajar dos manezinhos, os nativos de Florianópolis. São esclarecidas na seqüência. De balaio em balaio, cheios de histórias, você acompanha nas próximas páginas a evolução dos mercados públicos nesta Ilha formosa.

15 15 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Para entender o texto, algumas expressões do falar do ilhéu: Abafamento: falta de ar, agonia, abafado. Alguidar: bacia de barro de uso doméstico. Alvíssaras: notícias, aviso de boas novas. Aluguéli: o mesmo que aluguel. Animáli: animal. Apovoado: local com muita gente, apertado. Aprecatar: ficar atento, se ajeitar. Aranha: charrete com duas rodas de pneu, puxada por um cavalo. Ariado: o que está brilhando, polido com palha de aço. Aripuca: armadilha piramidal feita de bambu para aprisionar aves. Atragi: atrás. Atolesmado: abobalhado, abobado. Avoado: pessoa desligada. Barrer: o mesmo que varrer. Barreiro: fosso onde se acumula a água da chuva, alagadiço, grande poça. Bucica: cadela vira-lata. Buião: jarra de barro, com bico, usada para servir café. Buniteza: bonito, belo. Cadinho: um pouquinho. Calori: calor, quente. Cambota: pirueta no ar, cambalhota. Carioca: fonte, bica. Chapéli: chapéu. Dicroca: de cócoras. Dereto: direto, em frente. Dijaoje: de hoje, agora, ainda há pouco. Dirrubar: derrubar. Divagari: devagar. Encapelado: mar agitado com ondas pequenas. Galego: pessoa loura. Hasta: leilão, pregão público. Istepôri: pessoa chata, que incomoda. Manueli: Manoel. Mari: mar. Ói, ói, ó: expressão de admiração. Óio: o mesmo que olho. Palitóli: paletó. Pitoco: animal que teve o rabo cortado, ficando só um toco. Precurar: procurar. Quemori: azia, queimor no estômago. Quintali: quintal. Rebojo: ventania, vento que roda. Sabença: inteligência, sabedoria. Simbora: o mesmo que vamos embora. Sóli: sol. Suli: sul. Taboca: tipo de bambu. Táis tolo, táis: o mesmo que estás tolo?, ficou bobo?. Talho: corte. Tramóia: um tipo de renda de bilro. Véve: vive. Vissi?: viste?, viu?. Vergamota: bergamota, tangerina.

16 BALAIO VELHO Aquele que, esquecido num canto da casa, guarda em seu interior nossa memória. Fatos que não temos coragem de revolver. Mas em seu interior amassado, deformado de tantos esforços, muito de nosso passado ali se esconde.

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18 BALAIO VELHO 18 Mascates, oleiros, pescadores e colonos se aglomeram desde os meados de 1700 na região em frente à Catedral. Favorecidos pelo fácil desembarque no porto existente e a proximidade com a população, criam na praia defronte à praça o ponto ideal para o comércio. Em barracas, ou mesmo vendendo seus produtos nas canoas, os feirantes atendem não só aos habitantes, como também aos viajantes. Protegida pelas baías Norte e Sul, a Cidade do Desterro torna-se parada estratégica para os navios que se dirigem mais ao sul. Último porto de abastecimento das esquadras que cruzam o Estreito de Magalhães 2, em direção ao Pacífico. A comodidade na movimentação de mercadorias, facilitada por um guindaste, manufaturas de linho e algodão, a existência de alfaiates, sapateiros, latoeiros, ferreiros e marceneiros dão importância logística à cidade. Há produtos de boa qualidade, em abundância e a preços módicos, segundo relatos dos navegadores. A chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, fugindo do exército de Napoleão Bonaparte, e a instituição do Reino Unido de Portugal, e do Brasil e Algarves aproximam a colônia da Europa. A abertura dos portos, a fundação do Banco do Brasil, do Jardim Botânico e a permissão para instalação de fábricas e manufaturas fortalecem a necessidade de novos rumos também nas províncias. O acesso a livros, jornais e revistas estrangeiros e a vinda de artistas europeus estimulam o intercâmbio de novas idéias e novos hábitos. 2 Acidente geográfico localizado no extremo sul da América do Sul, região que forma um canal interligando os oceanos Atlântico e Pacífico.

19 19 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA As atitudes do príncipe regente dom João 3 não se limitam à cidade do Rio de Janeiro e à Corte. Em 1812, a água mineral do Cubatão abastece a família real. Desde 1809, o navegador e pesquisador inglês Luccok a considera similar à do vilarejo de Harrogate, estância termal inglesa, tornando famosas as águas da Capitania de Santa Catarina 4. O arraial de Santa Ana do Cubatão, às margens do rio Cubatão, no Continente, passa a ser a primeira estância hidromineral do Brasil, quando, em 1818, dom João VI 5 decreta a construção do Hospital das Caldas. O arraial, de forma espontânea, passa a ser chamado de Santo Amaro por seus moradores, esquecidos do nome original, Arraial de Santa Ana do Cubatão, dado em função da capela erguida em homenagem à santa. Somente em 1943 recebe seu nome definitivo de Santo Amaro da Imperatriz, que, além de conservar a nomenclatura popular, faz alusão às vultosas doações da imperatriz Thereza Christina 6 ao Hospital das Caldas e sua posterior visita. Em 1840, o presidente 7 da Província 8, Antero José Ferreira de Brito, pede à imperatriz auxílio para as reformas no Hospital das Caldas. Sendo prontamente atendido, solicita que ela aceite o título de protetora do Hospital das Caldas. E que permita denominar as Caldas do Cubatão de Caldas da Imperatriz, extensivo ao nome do hospital. Proposta aceita. Com a doação, são construídos a cobertura dos tanques para banhos, uma casa com quatro quartos, ranchos e são melhorados os caminhos de acesso. Mais obras elevam para 12 o número de leitos. Antero José Ferreira de Brito ainda nomeia o tenente-coronel Leandro da Costa como administrador das obras da fábrica, engarrafamento de água mineral e do hospital. Em 1848, o hospital já atende a 50 enfermos. Outros quartos com banheiras servidas com a água mineral canalizada estão sendo 3 Ver Balaio de Figurinhas, pág Criada em 11 de agosto de 1738 por desmembramento da Capitania de São Vicente. 5 Ver dom João no Balaio de Figurinhas, pág Ver Balaio de Figurinhas, pág O chefe do governo no período da Província era denominado presidente. 8 Quando da Independência do Brasil, as capitanias assumiram a denominação de províncias, o que prevaleceu entre 1822 e A partir da República, receberam a atual denominação de Estado.

20 BALAIO VELHO 20 construídos. Um deles, com maior espaço, é reservado à família imperial. As obras compreendem ainda uma construção própria, que receberá as banheiras inteiriças de mármore italiano. A Província de Santa Catarina se amoderna em O movimento no porto traz as novidades da capital do Império, divulgada pelos marinheiros. A população pede novos investimentos urbanos e os presidentes se preocupam com a qualidade de vida. Transporte e abastecimento são os principais assuntos. A fragilidade das canoas e o vento sul comprometem a segurança dos passageiros e produtos para o comércio. E comestíveis vendidos à beira-mar, sob o calor do sol e sem higiene, justificam a construção da Praça do Mercado. Além da necessidade de alimentar os ilhéus, as feiras livres, desde há muitos séculos, sempre estiveram acompanhadas de outras atividades e personagens. Prostitutas, tendas de bebidas, bêbados, o lixo jogado ao descaso e constantes brigas na rua acontecem em frente ao Palácio e à Matriz. Motivos que demonstravam a necessidade de organizar a região central. A cidade precisa adaptar-se aos conceitos urbanísticos da Europa, inspirados em alamedas e largas avenidas. Cresce a prevenção de epidemias com a nova ordem sanitarista. A Catedral, o Largo do Palácio, hoje praça XV de Novembro, rodeados de edifícios públicos e os mercadores à beira-mar. Recai nestes a primeira intervenção. Partidos versus interesses As lutas dos partidários pela remoção das barracas existentes na Praça para outro local, contra os que desejam a construção de prédio próprio para o Mercado Municipal, acirram-se a cada dia. Discursos inflamados, ataques contundentes e não se chega a um acordo. Finalmente, em 1831, o governo provincial de Feliciano Nunes Pires recebe requerimento da Câmara Municipal, solicitando a destruição das barracas. A questão se arrasta e cresce o apoio para a demolição. Nas páginas do jornal O Catharinense, que surge em 28 de julho de 1831, por iniciativa de Jerônimo Coelho 9, principal líder do Partido Liberal, artigos defendem no cenário político a edificação 9 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 181.

21 21 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA do Mercado. Desde que não fosse na praça principal, à beira-mar. Os vinagristas, como são conhecidos seus representantes, sabem da necessidade da construção, mas apoiam a idéia de deixar a praia livre. Francisco Duarte da Silva, vereador prestigiado por Amaro Pereira, presidente do partido, luta para que o Canto de Santa Bárbara, hoje final da rua Antônio Luz, seja o preferido. Correligionários do Partido Conservador, apoiados pelo padre Joaquim Gomes de Oliveira e Paiva, o arcipreste Paiva, também conhecido como Padre Catinga por seus artigos na imprensa a favor dos comerciantes, defendem a obra na praça. Apelidados de barraquistas, têm ainda a liderança de João Pinto da Luz, que com seus irmãos é possuidor de um estabelecimento comercial na esquina da Praça com a rua Augusta, hoje rua João Pinto. Para eles, o movimento da feira simboliza lucros. Os partidos reconhecem a causa, mas brigam por interesses e idéias contrárias. Os discursos se resumem a deixar o Largo do Palácio livre da construção, uma área dedicada aos prédios públicos e à população, ou apoiar os benefícios comerciais que a alguns interessa. Nessa época, os partidos políticos não passam de agremiações, grupos de pessoas com os mesmos objetivos, independentes de ideologias. Lutam pela posse do poder e são os embriões do atual modelo. A consciência de partido político, na realidade, só acontece mais tarde. A organização dos partidos Cristão e Judeu, que se transformam em Saquarema e Luzia, para finalmente tomarem as denominações de Conservador e Liberal, ocorre ainda durante o período provincial. A determinação para a demolição das barracas só acontece em Mesmo assim, o fato não se concretiza. E os mercadores continuam a negociar seus produtos. João Carlos Pardal, presidente da Província, destaca em seu discurso, em 1838, na Assembléia, o projeto dos engenheiros Luiz Bustamente e Pablo Delgado. Uma obra gigantesca para os padrões da cidade, que propõe a Praça do Mercado entre a Rua do Livramento, atual Trajano, e a Rua do Ouvidor, hoje Deodoro. Com a pretensão dos investidores levada ao conhecimento da Assembléia Provincial, é criada a Lei n o 92, de 27 de abril daquele ano, e que não tem execução por não oferecer aos empreendedores as garantias que desejam. A intervenção na paisagem urbana avança. Em 1839, a preo-

22 BALAIO VELHO 22 cupação se volta para a iluminação pública, a inscrição dos nomes das ruas e numeração dos prédios. Ao mesmo tempo se aguarda a chegada do coronel Niemeyer para formar mestres calceteiros 10. Em dias de chuva, é impossível o tráfego de pedestres nas ruas enlameadas, sem calçamento. A população chega a 18 mil pessoas. O brigadeiro Antero José Ferreira de Brito, presidente da Província, lê na Assembléia, em 1841, o discurso sobre as condições sanitárias da cidade, de autoria do sanitarista José da Silva Mafra: Outro manancial de exalações pútridas são os charcos próximos ao poço chamado Carioca, cujo poço descoberto serve de lavatório, bebendo os povos uma água impura e danosa à saúde. A fonte do Largo do Senado [hoje Largo do Fagundes], apesar de construída de outra maneira, tem junto a si um grande lago amarrado em roda chamado poço do Brandão, cheio de água podre, habitado por sapos, folhas de árvores e outras matérias em putrefação, que deterioram a saúde pública, e preciso se faz esgotá-lo e aterrá-lo, pois deste e de outros charcos e pântanos se tem desenvolvido febres intermitentes perniciosas, e renitentes de mau caráter, que a não haver constantemente os ventos nordeste e sul, que arredam os miasmas pútridos, seria inabitável esta cidade. Outro princípio de desleixo de polícia médica é a condução à hora do dia dos materiais fecais dos presos da cadeia 11, conduzidos em vasos de pau destampados, atravessando a praça pública desta cidade, a despejar-se na praia, onde aportarão as canoas com os mantimentos que vêm vender ao público, atolando-se o povo nas imundices que ainda se acham depositadas na mesma praia quando vão comprar os misteres para suas casas. Além destes e de outros desleixos de polícia médica, acresce a venda de peixe podre, carne malsã, não sendo observadas as reses antes de serem 10 Operário que trabalha no calçamento das ruas, fazendo a pavimentação com pedras. 11 Funcionava no pavimento térreo do prédio da Câmara Municipal.

23 23 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA sangradas pelo fiscal do distrito do matadouro, a fim de observar se estão em estado de serem mortas e poder se vender ao povo, ou se foi morta por peste, e depois talhada e vendida, como freqüentes vezes tem acontecido. A venda de frutas malsazonadas, a venda de carne podre, toucinhos rançosos, vinagres decompostos, vinhos alterados, que se está observando diariamente, são outros tantos males à saúde, e que produzem enfermidades, e, finalmente, a continuação das inumações dos cadáveres dentro dos templos e nos cemitérios 12 dentro da cidade são prejudiciais à saúde pública, e sua remoção se faz necessária. Relatório assinado por José da Silva Mafra, inserido no discurso de Antero José Ferreira de Brito, em 23 de janeiro de Quando se avizinha a chegada de dom Pedro II 13 à capital da Província, finalmente as barracas são removidas. Não são destruídas. A contragosto, se deslocam para as proximidades da Ponte do Vinagre, no fim da rua Tiradentes, cercanias do Forte de Santa Bárbara, demolido posteriormente, em 1875, para a construção da Capitania dos Portos, hoje sede da Fundação Franklin Cascaes. Nos bastidores da Câmara Municipal é acertado que, após a partida do imperador, retornam ao local original. Para a chegada da comitiva real, em 1845, além do deslocamento das barracas ocorrem outras intervenções do governo. Melhoramentos na iluminação pública, reforma de vários prédios e, em 1842, a transferência do cemitério atrás da Catedral para o morro do Vieira [cabeceira insular da ponte Hercílio Luz, inaugurada em13 de maio de 1926]. Dom Pedro II, acompanhado da imperatriz Thereza Christina, visita o quase abandonado Hospital de Caridade. Conhecendo o projeto e sabendo das dificuldades da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, dispõe de uma doação de 11 contos e 200 mil réis, sendo 10 mil contos de seu próprio bolso e, completando o valor, mais 1 conto e 200 mil réis da imperatriz. Tem tempo ainda, durante a 12 O principal estava localizado nos fundos da Catedral. 13 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 179.

24 BALAIO VELHO 24 prolongada estadia, de lançar a pedra fundamental para a construção da segunda ala do hospital. Visita as igrejas, concede vários donativos, inclusive 400 réis 14 ao templo de Nossa Senhora das Necessidades, em Santo Antônio de Lisboa. No Continente, conhece o arraial de Santa Ana do Cubatão, visitando o Hospital Caldas da Imperatriz, mandado construir por dom João VI, em A estadia programada para quatro ou cinco dias se prolonga por 27 dias na Cidade do Desterro, quando parte em direção ao sul, visitando a Província vizinha. Voltando da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul 15, em 13 de fevereiro de 1846, sua majestade se hospeda no Palácio do Governo por mais quatro dias, antes da partida para São Paulo. A comitiva segue e os comerciantes voltam, montam suas barracas e a polêmica se restabelece. Retornam à cena também os barraquistas e vinagristas. A proibição de antes da visita real, para venda ao público na Praça, é desconsiderada. Briga de poderosos A Câmara Municipal, em 1846, encaminha à Assembléia Provincial um abaixo-assinado com 114 cidadãos pedindo que a feira continue no Canto de Santa Bárbara e que o Mercado seja construído ali também. Porque ali é melhor, vai valorizar os terrenos e não vai tumultuar a Praça. Antero José Ferreira de Brito, tomando conhecimento, diz que não, e argumenta em ofício encaminhado à Assembléia: Não é minha opinião que se faça a Praça do Mercado nem em Santa Bárbara e nem na praia, entre as ruas do Livramento e do Ouvidor, segundo a planta e descrição da obra de que trata o artigo 1 o da lei n o 92. E propõe a construção em um quarto local: 14 Moeda que teve o período de vigência desde a colonização até 30 de outubro de Mil réis designava a unidade monetária e réis os valores divisionários. Como por exemplo: 0$500=quinhentos réis, 12$200=doze mil e duzentos réis, 1:000$000 um conto de réis (um milhão de réis). 15 Antiga denominação do Estado do Rio Grande do Sul.

25 25 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Talvez, o Mercado deva ser construído no aterro a partir da praia da rua Menino Deus, perto do Hospital de Caridade. Ofício de Antero José Ferreira de Brito, em 7 de março de 1846, encaminhado à Assembléia Provincial. O presidente alega como vantagem o baixo custo. Seriam necessários 4:000$000 (4 contos de réis), enquanto na Rua do Livramento precisariam ser feitos aterro e paredão de contenção, protegendo a obra do mar, e o custo subiria para 24:000$000 (24 contos de réis). Sem definição, ele se contraria quando opina no final do documento. Não vê inconveniente algum em construir o Mercado na Praça ou no Largo do Palácio. Afirma que: o lugar tem segurança e comodidade para o povo. E o empreendimento poderia ficar completo com a construção de um cais, que também serviria à Praça e ao Mercado. A Assembléia Provincial, em 9 de maio, aprova a Lei n o 228, autorizando a construção do Mercado Público, sem definir exatamente o local, mas que fosse na Praça do Palácio. Diante das constantes indecisões sobre o destino da edificação, o tipo e a localização, o presidente Antero José Ferreira de Brito, irritado, libera o comércio de gêneros na capital. Mas impõe uma condição: qualquer pessoa pode vender qualquer produto, a qualquer hora, excluindo a Praça. Na briga, contraria o Código de Posturas Municipal, aprovado em 1845, que determina que todos os produtos de alimentação à venda precisam descansar na Praça até as 9 horas. Somente após tocar o sino da Cadeia Pública, determinando o fim do descanso, os pombeiros 16 e atravessadores podem negociar com os produtores e revender de porta em porta. Uma proposta da Câmara, de construir três barracões na Praça do Palácio, destinados à venda de gêneros alimentícios, o central para a venda de farinha, açúcar, hortaliças e grãos, e os dois barracões das extremidades, um para o comércio de carnes e o outro para peixes, era uma represália ao Executivo da Província. Antero José Ferreira de Brito encaminha à Assembléia Provincial seu discurso alentado sobre reformas e projetos para a 16 Ambulante que percorria a cidade a vender suas mercadorias, normalmente gêneros alimentícios. Ver também pág. 37.

26 BALAIO VELHO 26 capital, já com uma percepção de seu potencial turístico. Agora as divergências sobre o Mercado ultrapassam a cidade, a Câmara Municipal e chegam aos ouvidos do imperador. É de extrema necessidade o aformoseamento desta capital, que pela sua disposição geográfica, bom clima, boa índole de seus habitantes, deve em pouco tempo atrair a concorrência de nacionais e estrangeiros do Norte e Sul, a procurar, uns o refrigério contra os ardentes calores do verão, e outros o abrigo contra a estação invernosa. Também devemos pensar que a família imperial renove, para ventura desta Província, suas honrosas visitas, visto que bem satisfeita se pronunciou por este belo clima, pela amenidade do País e dedicação de seus habitantes a suas augustas pessoas. Muito há, senhores, a fazer para chegarmos ao fim. Entretanto, lá chegaremos, mesmo lentamente, mas isso é preciso. Tracei um plano para aformosear, por ora, a frente do mar de toda esta capital. A Câmara Municipal conformou-se com ele, porém refere que o mesmo para dar princípio não tem forças, apesar de que prometi coadjuvá-la e auxiliá-la com alguns materiais. Ela tem muito a que acudir, mas eu posso muito fazer com grande economia, para o que já tenho prontos esses materiais. Apresentarei a Vossa Excelência uma cópia do dito plano, se merecer a vossa aprovação, e espero que no ano financeiro próximo voteis a quantia de 2:000$000 réis [2 contos de réis], para se fazer a grande rampa em toda a frente da Praça do Palácio, e que comunique com a Rua do Imperador [atual rua Tenente Silveira]. O plano de aformoseamento contém por ora só qua-tro praças em toda a extensão da frente. Vereis que alguns edifícios velhos precisam ser desapropriados, cujo valor poderá ser indenizado lentamente. Questiona a proposta da Câmara Municipal para a construção de três barracões: Trago ao vosso conhecimento uma proposta para esse fim que acaba de ser-me endereçada pela Câmara Municipal desta

27 27 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA cidade, sobre a construção na praia, em frente à Praça da Matriz, de três barracões para venda de carne fresca, peixe e farinha. Não posso deixar de dizer alguma coisa a respeito, que sem dúvida é a mais bela parte da cidade. Desde que aqui estou, tendo-me logo ocupado do aformoseamento desta Praça de Palácio, principiei pelos reparos da Igreja Matriz, cuja frente representava ruínas e o aspecto de um templo abandonado pelos fiéis, e os depósitos de imundices e despejos que tinha em sua frente foram substituídos por dois jardinzinhos. Foi edificado o elegante e acabado edifício público da Tesouraria. Construiu-se esse grande e forte depósito de artigos bélicos e o edifício a que impropriamente se chamava Palácio, efetivamente em conserto e acréscimo ficará em pouco tempo acabado e elegante. E se meios houvesse teria esta Assembléia aqui também casa própria para as sessões, mas bom dia virá que a tenha nesta mesma praça. Tem sido constante a plantação e replantação, há seis anos, de arvoredos em torno dela, e sendo eu muitas vezes instado para seu nivelamento e construção de um cais, e tendo bastantes desejos de o fazer, me via para isso impedido, reconhecendo a precisão de que fossse como agora traçada a construção da nova Alfândega 17 e seu trapiche. Existia na praia uma pequena coisa a que se chamava banca de peixe, contrastando com tudo o mais que havia na Praça, e sempre me incomodava quando, para ali lançando a vista, via o peixe fresco de mistura com a carne, e tudo calcado aos pés dos pretos e pretas quitandeiras 18, de sorte que aplaudimos a lembrança, que por um feliz acaso teve a Câmara Municipal de a fazer demolir. Nesta Praça acham-se, além dos edifícios públicos, outros muitos particulares, todos elegantes, e dentro em pouco teremos de ver em começo a construção de uma boa Alfândega, e a casa de vossas sessões há de ser esta por muito tempo. O que é, pois, urgente fazer-se agora é o que tenho proposto: a 17 Funcionava em Santo Antônio de Lisboa. 18 Mulher que negocia seus produtos em tabuleiros.

28 BALAIO VELHO 28 construção de uma boa rampa em toda a extensão da praia da Praça, e para isso vou mandar chegar alguns materiais. Sem se fazer essa rampa, como se deve, nada absolutamente se poderá admitir de construção. Se a Câmara Municipal manifesta desejos de fazer alguma coisa em benefício público, eu também os tenho, mas o que almejo é que o que fizermos seja completo, e tanto útil como agradável. Três barracões, nesta bela Praça, dariam muito má idéia do nosso gosto e capricho. Se uma barraquinha que mal aparecia tanto nos incomodava, quanto pior efeito não produzirão os três projetados barracões! Não tendo estes, pois, a minha aprovação, peço-vos com fervor que não anuais a tal edificação. Façamos a rampa, com que já me vou ocupar. Depois do que não duvidarei que ali então se construa uma praça de mercado, porém que seja segundo o plano que a Presidência apresentar, e que será correspondente à beleza da Praça. A Câmara Municipal há de conformar-se com isso. Trechos do discurso do presidente da Província, Antero José Ferreira de Brito, em 1 o de março de O jogo do empurra-empurra entre o Executivo e o Legislativo municipal continua. O presidente insiste em defender seus objetivos para o melhoramento da capital, não desobedece a lei e informa: Não tem tido execução a lei n o 228. Mandei tirar o plano de aformoseamento da frente da cidade, incluindo o da nova Alfândega, e em harmonia preparei não menos de quatro planos para se fazer um edifício que servisse de Praça do Mercado. A 12 de setembro de 1846, mandei convidar por editais que comparecessem perante a Presidência companhias ou particulares que quisessem contratar a sua fatura, e não tendo comparecido ninguém oficiei a 12 de outubro à companhia organizada no ano passado para que, quando quisesse, comparecesse a conferenciar comigo. Compareceram três membros da diretoria. Apresentei-lhes os diferentes planos e algumas observações escritas para examinarem, e repetirem as conferências. Devolveram-me os planos e ditas observações, oficiando-me a 28, dizendo que esperavam a escolha de local

29 29 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA mais conveniente. Respondi no mesmo dia que eu não podia designar esse local sem que tivéssemos alguma conferência sobre o assunto. Era, na verdade, da minha intenção pelos sinceros desejos, que tenho da fatura desta tão útil como necessária obra, aceitar antes a designação do lugar que a companhia escolhesse, do que determiná-lo eu, deixando-lhe assim a liberdade de levá-la a efeito onde melhor conta lhe fizesse. Porém, não comparecendo mais pessoa alguma, oficiei a 5 de janeiro último a mesma diretoria, convidando-a novamente a comparecer, ou a apresentar alguma proposta, e até hoje nenhuma resposta tive, e ignoro se está de ânimo a prosseguir na empresa, ou a apresentar-nos alguma proposta. Trecho do discurso do presidente da Província, Antero José Ferreira de Brito, em 1 o de março de Enquanto isso, o conselheiro Jerônimo Coelho conhece o trabalho de Victor Meirelles 19. De volta ao Rio de Janeiro, apresenta os desenhos do jovem artista ao diretor da Academia Imperial de Belas Artes, Félix Émilie Taunay. O mestre, encantado com a revelação precoce, aprova os trabalhos e com um grupo de amigos custeia seus estudos na Corte. Nascido na Cidade do Desterro, o pintor Victor Meirelles de Lima, aos 15 anos, se matricula a 3 de março de 1847 na Academia Imperial de Belas Artes. As controvérsias sobre o Mercado chegam ao fim quando a lei n o 252, de março de 1948, autoriza a presidência da Província a edificar pelos cofres públicos a Praça do Mercado e decreta que, após concluída, será entregue à administração da Câmara Municipal. Revoga as leis anteriores e define o Mercado junto à praça principal, à beira-mar, conforme projeto de autoria do primeiro-tenente João de Sousa Mello e Alvim, em substituição aos três barracões, projeto do vereador Antônio Francisco de Faria. João Pinto da Luz assume a administração da obra. O projeto, orçado em 4 contos de réis, compreende, além do prédio, um aterro para nivelar a Praça com a rua projetada na beira-mar, hoje rua Antônio Luz. Haveria também uma rampa de boa inclinação, livre de 19 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 183.

30 BALAIO VELHO 30 encalhe, para facilitar a subida das canoas e pequenas embarcações que abasteceriam o Mercado. E o prédio seria edificado no alinhamento da Rua do Príncipe, atual rua Conselheiro Mafra. Depois de anos de polêmicas, o primeiro Mercado Público acaba sendo construído onde atualmente se encontra a praça Fernando Machado 20. Visando a arrecadar fundos para a construção, a Câmara Municipal autoriza, na lei n o 263, de 16 de março de 1848, o sorteio de duas loterias, cada uma com a quantia de 10 contos de réis em prêmios, em benefício da Praça do Mercado. A extração pouco ou quase nada serviu aos objetivos. Mesmo com 2 contos de réis para o primeiro prêmio, a arrecadação foi mísera. E o governo presta contas: [...] O produto líquido não chega para o selo, direitos de 8% e mais despesas. Estou certo que conviria alterar o plano, ou aplicá-las ao Hospital de Caridade. Trecho do discurso do presidente da Província, em exercício, Severo Amorim do Valle, em 1 o de março de O certo é que o dinheiro arrecadado não é suficiente. Mas João Pinto da Luz, encarregado da construção, inicia a obra. As fundações são feitas e as paredes são levantadas até a altura do respaldo 21, quando já estão gastos 3 contos, 750 mil e 500 réis, do total de 4 contos de réis do orçado. A edificação segue lenta, mas mesmo com a verba praticamente esgotada os administradores propõem que a obra continue de forma lenta e gradual. Severo Amorim do Valle, presidente em exercício, solicita mais 6 contos de réis para a conclusão. A construção pára. O reforço de verba é aprovado, mas a baixa arrecadação de impostos não permite a disponibilidade. Além disso, os reparos na Igreja Matriz consomem parte do orçamento administrativo. A um custo de 1 conto, 499 mil e 728 réis, o teto da Catedral, que ameaçava cair por uma infestação de cupins, é reconstruído. O revestimento externo, de estuque, também é refeito. Mesmo sem condições ideais e a obra do Mercado parada, o co- 20 Ver Balaio de Figurinhas, pág Última carreira de tijolos da parede, no encontro com o forro.

31 31 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA mércio continua. As pessoas precisam se alimentar. Os alemães, que haviam fundado a colônia São Pedro de Alcântara, são os principais fornecedores da capital. Carne de porco, farinha, manteiga, alguns tipos de queijos, variedades de legumes e a chamada batata inglesa chegam à Praça após longas viagens de carroça até São José, no Continente, de onde são transportadas em canoas para a Ilha. Os primeiros imigrantes alemães chegaram em 1828, sendo alojados em barracões na Praia da Armação, no sul da Ilha. Após a demarcação das terras no Continente, foram transferidos para lotes à beira da estrada de Lages, fundando a colônia de São Pedro de Alcântara, dentro dos limites do município de São José. Em 1844, a colônia se transforma em freguesia, tornando-se município em Promulgada pela Assembléia Provincial, a Lei n o 295, de 11 de março de 1850, autoriza o governo a contrair um empréstimo de 5 contos de réis, ficando hipotecado o rendimento da Praça do Mercado até 1 o de abril de 1853, quando se efetuaria o resgate da dívida a juro de 1% ao mês. Esse valor não é ainda suficiente, sendo contraído mais outro crédito junto a particulares, de 2 contos de réis, mesmo sem autorização da Assembléia. Ao justificar o empréstimo, o presidente João José Coutinho se explica na sessão de abertura dos trabalhos legislativos, em 1 o de março de 1851, após a inauguração da Praça do Mercado, ocorrida em 6 de janeiro: Por meio de empréstimos, pôde-se concluir em princípio de janeiro a Praça do Mercado. Tem ela 490 palmos 22 de parede de altura, 20 palmos fora dos alicerces sobre dois a três palmos de espessura firmada em base de cinco de largo e sete de profundidade, termo médio, aterrada a arca correspondente a todo o edifício na altura média de quatro palmos. Tem cimalha 23 com platibanda na extensão de 490 palmos, 20 pilares de 12 palmos de alto com capitéis, coberta em roda 22 Antiga medida de comprimento equivalente a 22cm. 23 Saliência que, na parte superior da parede, serve de adorno ou apoio aos beirais do telhado.

32 BALAIO VELHO 32 na largura de 50 palmos, poço no centro com bomba. Acha-se dividida em pátio central, corredores e casinhas 24, sendo estas 12, além de quatro bancas, cada uma das quais corresponde a três quartos. As casinhas têm portas e janelas, e divisão de paredes de estuque, e são assoalhadas de tabuado. As bancas são cercadas por gradeamento de madeira e ladrilhadas de tijolo, assim como o pátio e corredores. Tem 24 semicírculos de 2,5 palmos de diâmetro com gradeamento de ferro e caixilhos por fora. Forte pregadura nas portas. Nas bancas de carne existem quatro fortes ganchos de pendurar, seis balanças de meia arroba 25 e uma de quintal 26, balcão e mesas de picar. Nas do peixe, mesas de exposição. Portadas, portas, janelas, gradeamento, portões e bancas acham-se pintadas a óleo. Fizeram-se pelo lado de fora 46 braças 27 quadradas de calçada. Tendo importado até a altura do respaldo na quantia de 5:219$650 réis [5 contos, 219 mil e 650 réis] e gastado depois de resto 7:077$580 réis [7 contos, 77 mil e 580 réis], importou toda essa obra a quantia de 12:297$230, [12 contos, 297 mil e 230 réis] inclusive tijolos, que se deve. Se cada um de vós a examinar, conhecerá que ela se acha feita com toda solidez, e que a mão-de-obra é perfeita, e se convencerá que só pelo zelo dos dois administradores dela, os senhores João Pinto da Luz e o comendador Agostinho Leitão de Almeida, é devido a importar toda essa obra na referida quantia de 12:297$230 [12 contos, 297 mil e 230 réis]. Não achareis na Província muitos exemplos de economia combinada com perfeição e presteza. A obra acha-se acabada, mas seu acabamento é devido aos senhores Alexandre Ignácio da Silveira, Alexandre Francisco da Costa, Alexandre Martins Jacques, Antônio Francisco de Faria, Antônio de Freitas Serrão, Antônio Machado de Faria, Bento José Ferreira da Silva, Domingos Velloso de Oliveira, Estanislao Antônio da Conceição, 24 Denominação que definia o espaço fechado, compartimento, box. 25 Unidade antiga de peso, equivalente a 14,7kg. Ainda usada para alguns produtos agropecuários, hoje correspondente a 15kg. 26 Antiga medida de peso igual a 4 arrobas, ou 58,8kg. 27 Unidade de comprimento equivalente a 2,20m. Foi adotada a braça portuguesa; a inglesa equivale a cerca de 1,80m.

33 33 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Francisco Duarte Silva, Franco José Teixeira Bastos, Henrique Schutel, Jacintho José da Luz, João Antônio de Sousa Flores, João da Costa Mello, João Pinto da Luz, José Antônio Cabral, José Bonifácio Caldeira de Andrade, José Maria da Luz, José Maria do Valle, José da Silva Paranhos, Manoel Marques Guimarães, Marcos Antônio da Silva Mafra, dona Maria Joaquina da Luz, Martinho José Callado, Queiroz de Azevedo, Roberto Trompowski, Silva & Bastos, Silvério Ferraz Pinto de Sá e Ulrico Haeberle, que da melhor vontade emprestaram a quantia necessária para a sua conclusão por três anos, sem prêmio algum. Trecho do discurso do presidente da Província, João José Coutinho, em 1 o de março de Atualizando o texto para o sistema métrico atual, agrupando com mais informações conhecidas sobre o projeto, o prédio seria assim descrito: O edifício possui 33,88 metros de frente para a Praça do Palácio e 21,34m na lateral. São 723m 2 de área construída. Quatro grandes portas, uma em cada face, facilitam o acesso. Janelas em semicírculo com 55cm de raio, em número de 24, e grades no interior, iluminam a área interna. Adornando as fachadas, possui uma cimalha em toda a extensão, onde se apóia uma platibanda que, além da função decorativa, esconde o telhado. No interior, encimados por capitéis, 20 pilares de ferro, com 2,64m de altura, sustentam o madeiramento do telhado, coberto com telhas de barro. O pátio central tem um poço, dotado de bomba, que abastece os comerciantes e mata a sede dos fregueses. Completando a obra, para conforto das pessoas, uma calçada facilitava o acesso nos dias de chuva. As mercadorias são expostas em 12 compartimentos com portas e janelas, separados entre si por paredes de estuque 28 e piso assoalhado. Existem ainda quatro bancas para o comércio de carne, cada uma com balcão e mesas de picar, cercadas com grades em madeira e piso de tijolos, acompanhadas de seis balanças de 7,5kg de capacidade 28 Argamassa de revestimento preparada com cal, água e cola ou óleo de baleia.

34 BALAIO VELHO 34 e uma balança de 58,75kg. As bancas de peixe têm mesas de exposição. Embelezando a obra, portas, janelas, grades e bancas são pintadas com tinta a óleo. Um marco importante para o desenvolvimento da capital. Além das falhas no abastecimento, estaria sendo resolvida parte dos problemas sanitários. Pestes e doenças causadas pelo acúmulo de lixo e falta de higiene no manuseio dos alimentos estariam solucionados. E ainda ocorreria a moralização na região central, evitando o agrupamento de marginais, prostitutas e bêbados no local. O Mercado Público custou 5 contos, 219 mil e 650 réis dos cofres públicos e 7 contos, 77 mil e 580 réis em empréstimos. Um total de 12 contos, 297 mil e 230 réis, ou 22,1% da arrecadação da Província no ano anterior, que foi de 55 contos, 478 mil e 558 réis. Considerando que em seus relatórios os presidentes da Província sempre elogiaram a honestidade dos administradores, João Pinto da Luz e João de Sousa Mello e Alvim, foi uma obra executada com custo bem razoável. Com um rendimento médio anual de 1 conto e 200 mil réis, em impostos e aluguéis, o capital aplicado teria um retorno em 10 anos. Um ótimo investimento. Na inauguração, em 6 de janeiro de 1851, uma segunda-feira, o presidente da Província, João José Coutinho, passa às mãos de Clemente Antônio Gonçalves, presidente da Câmara Municipal, as chaves do polêmico edifício público. Alerta ainda que, para abrilhantar, mandou que lampiões fossem instalados nas paredes externas, e que deveriam ser mantidos acesos à noite. Ao contrário da iluminação pública, que tinha os lampiões apagados por volta das 22 horas. Paisagem modificada, o comércio começa a funcionar no dia 10 de janeiro nas dependências internas. Mas, a inexistência de um serviço de coleta de lixo, a falta da rede de esgotos e a vadiagem que continua a existir na região ainda impedem as saudáveis condições de higiene. O edifício não seduz os comerciantes e poucos se candidatam a alugar os espaços oferecidos. Ao abrir ao público, apenas seis boxes estão locados. Cinco pessoas têm suas propostas aceitas para arrendamento, sendo: Francisco Antônio de Castro, arrendatário do box 1 com 4$000 (4 mil réis) por mês, no período de seis meses; arrematando

35 35 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA José de Sousa Freitas o box 5; o box 6 alugado por Pedro [Scifer]; João Lago escolheu o box 7; Francisco da Silva ficou com os boxes 8 e 9, estes todos com um aluguel mensal estipulado em 3$000 (3 mil réis) e uma vigência contratual também de seis meses. As outras unidades somente foram ocupadas após quatro meses da inauguração. Funciona o Mercado e também começa a cobrança de impostos. A Lei n o 307, de 13 de maio de 1850, passa a ser observada. Define no artigo 13 que seja cobrada uma taxa de 300 réis por cabeça de gado vendida na Praça do Mercado, e que oito boxes sejam cedidos gratuitamente aos vendedores de carne e peixe. Estabelece ainda que todo imposto arrecadado com a venda de carne seja aplicado exclusivamente na amortização do empréstimo contraído na construção do prédio. As mercadorias são vendidas em saco. Muito pouco ou quase nada tem seu comércio efetuado em pequenas quantidades. O jornal O Novo Iris, na edição de 10 de janeiro de 1851, quando as portas do Mercado Público são abertas ao comércio, publica uma tabela de preços de alguns produtos. Como curiosidade, foi possível montar um comparativo do custo de vida na época da inauguração do Mercado com os dias de hoje. Para facilitar, na tabela a seguir os preços foram calculados no varejo, em quilo. Visando a uma análise aproximada sobre a evolução dos preços, os valores das mercadorias foram transformados em minutos trabalhados, tomando como base o salário de um professor primário em 1851 e Assim, temos a quantidade de minutos que o profissional precisava trabalhar para adquirir determinado alimento na Praça do Mercado e hoje. Equivalência do Custo A da Mercadoria (kg) por Hora Trabalhada (h) Mercadoria Em 1851 Em 2001 Réis Tempo B Real Tempo C Farinha de Mandioca 18 5 min 1,20 33 min Feijão min 2,80 77 min Goma D 32 9 min 1,00 28 min Fava min 5,00 2h18 min Amendoim com casca min 2,50 1h09min Milho min 0,50 14 min Batata Inglesa 32 9 min 0,70 19 min Arroz pilado E min 1,00 28 min Café chumbado F min 4,80 2h13 min

36 BALAIO VELHO 36 A) Preços publicados na edição de 10 de janeiro de 1851 do jornal O Novo Iris. Atualizados em pesquisa nas feiras de Florianópolis, em 28 de dezembro de B) O salário de um professor primário, em 1851, importava, na média, em 33$280 (33 mil e 280 réis), ou 208 réis por hora. C) O correspondente salário de um professor primário, em 2001, é, na média, R$ 347,00, ou R$ 2,17 por hora. Dados da Secretaria de Estado da Educação e do Desporto de Santa Catarina. D) Fécula alimentícia que se extrai da mandioca. E) O arroz pilado, socado no pilão, era o equivalente ao arroz descascado. F) Depois de seco, o café era torrado e amassado no pilão. Alguns fornecedores ainda misturavam um pouco de açúcar mascavo, dando mais cor ao produto final. Esclarecendo, o quilo do arroz custava 100 réis, o equivalente ao preço da passagem na barca que fazia a travessia Ilha-Continente, ou, com esse valor, se podia comprar um exemplar de jornal. O regulamento para a Praça do Mercado, aprovado pela Câmara Municipal na Lei n o 317, em 1 o de abril de 1851, define deveres e obrigações dos comerciantes. A seguir, alguns artigos interessantes: Artigo 1 o - A Praça do Mercado é dividida em casinhas, bancas de carne e peixe, praça geral, e lugares de quitandeiros, que são os vãos que ficam entre as colunas, à exceção dos fronteiros aos portões. Artigo 2 o - As casinhas, menos a de número 2, que fica reservada para a residência do guarda, de que trata este regulamento, serão alugadas em hasta pública por semestre, pagas em trimestres adiantados. [...] Artigo 24 - O pátio central do Mercado é destinado, até as 2 horas da tarde, para a venda de todos os gêneros, com exceção da carne e de peixes, que, na conformidade dos artigos 13 e 18 deste Regulamento, serão vendidos nas bancas. Também são compreendidos nesta exceção o carvão, lenha e outros objetos que promovam a falta de asseio e tomem grande espaço na Praça. Artigo 25 - Logo que seja dada a hora marcada do artigo antecedente, o guarda da Praça fará tirar do centro desta todos os gêneros que ali se acharem; os donos, ou agentes que não obedecerem incontinente serão presos por 24 horas.

37 37 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Artigo 26 - Os lugares entre as colunas são destinados, conforme o artigo 1 o, para quitandeiros, que pagarão de aluguel, cada um dos vãos, 1$200 [1 mil e 200 réis] mensais; podendo estes serem ocupados por uma ou duas pessoas, pagando cada uma a metade do aluguel. [...] Artigo 45 - À exceção da carne verde [carne fresca] e peixe fresco, todos os demais gêneros poderão ser vendidos nas praias que ficam entre a Igreja do Menino Deus [Hospital de Caridade] e o Canto da Figueira [posto de gasolina em frente ao Terminal Rita Maria], quando seus donos não queiram levar à Praça do Mercado. Em nenhum outro lugar é permitido pararem os gêneros trazidos a esta cidade, com destino de serem vendidos, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa. Artigo 46 - Os gêneros que forem levados ao Mercado, ou aportarem na praia em frente ou nas imediações da Praça, para serem vendidos a retalhos 29, não poderão retirar-se antes das 9 horas [o horário era anunciado pelo sino da Cadeia] para serem vendidos em outros lugares, ou para qualquer fim. Artigo 47 - O milho, arroz, feijão e outros gêneros não poderão ser joeirados 30, ou assoalhados dentro da Praça. Os infratores serão multados em 4$000 [4 mil réis] pela primeira vez e no dobro na reincidência. Artigo 48 - Dos portões para dentro é proibido entrar carro [de cavalo], carroça, animal vivo vacum, cavalar, muar 31, cerdum 32, cabrum, ovelhum, canino e qualquer outro de igual ou maior dimensão, ainda mesmo para serem vendidos, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa. Artigo 49 - Não se poderão atar nem conservar parados animais, a menos distância de 10 braças [22 m] da Praça do Mercado, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa. Artigo 50 - São proibidos dentro da Praça jogos, danças, tocatas e qualquer outro divertimento, sob pena de 8$000 [8 mil réis] de multa. 29 Venda a varejo. Parte ou pedaço de uma coisa maior, retalhada. 30 Peneirados. 31 Animal pertencente à raça do mulo. 32 Suíno.

38 BALAIO VELHO 38 [...] Artigo 58 - O poço da Praça é privativo do comércio, e ninguém poderá entrar com cousa alguma dentro dele, sob pena de 4$000 [4 mil réis] de multa. Regulamentando o comércio em geral, a Câmara aprova a nova Lei de Posturas, Lei n o 325, de 3 de maio de 1851, onde também se define as funções do pombeiro: Artigo 1 o - É qualificado pombeiro e sujeito ao imposto de 3$200 [3 mil e 200 réis] todo indivíduo que comprar ou atravessar dentro dos limites do município gêneros alimentícios para tornar a vender a um ou a muitos, quer em tabuleiros, cestos, etc, pelas ruas, praças, marinas [beira-mar] ou outros lugares públicos, quer em canoas ou botes, a bordo das embarcações, ou mesmo no Mercado. O contraventor, sendo pessoa livre, pagará uma multa equivalente ao dobro do imposto, ou satisfazendo no ato de ser encontrado em contravenção, ou dando fiador idôneo ao pagamento, e sendo escravo será recolhido à cadeia até que seu senhor ou alguém por ele pague. [...] Artigo 5 o - É também classificado pombeiro e sujeito ao imposto de 3$200 [3 mil e 200 réis] e às penas do artigo 1 o aquele que vender carne de vaca e outras carnes a retalho de animais de qualquer outra espécie pelos lugares acima designados. Relembrando, os pombeiros eram as pessoas que vendiam de porta em porta. Na maioria das vezes com os produtos acondicionados em um ou mais cestos, ou mesmo sobre as cabeças, em tabuleiros. A figura mais comum de pombeiro é aquela que encontramos nos quadros de Rugendas 33, o homem com uma vara transversal sobre as costas e um cesto pendurado em cada extremidade. 33 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 182.

39 39 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA E as reformas já aparecem. O espaço insuficiente para venda de carne, onde os compradores se espremem e os açougueiros ficam limitados para trabalhar, é ampliado com a criação de mais duas bancas para carne e duas para venda de peixe. A taxa sobre o gado vendido é reajustada, e passa de 300 para 400 réis por cabeça. Registros nos livros fiscais do Mercado mostram que, na média, eram vendidas por dia seis cabeças de gado vacum. As obras novas do Mercado duram dois anos e ficam prontas em junho de Além de novos espaços para a venda de carne e peixe, também são importadas quatro novas balanças e são executados reparos nas antigas bancas, tudo com um custo de 102$520 (102 mil e 520 réis). O empréstimo feito pelo governo, em 1 o de abril de 1850, está para se vencer. João José Coutinho, sabendo que o atraso no pagamento acarretaria uma multa de 1% ao mês, e possuindo verba extra nos cofres públicos, liquida a dívida. Não havendo mais a penhora do rendimento da Praça do Mercado aos credores, e conforme a Lei n o 252 determina, entrega o prédio à Câmara Municipal, que já vinha informalmente administrando o comércio no local. Cresce a cidade. O censo oficial, em 1855, informa uma população de habitantes na Cidade do Desterro. A Biblioteca Pública começa a funcionar com um acervo de 474 volumes e alguns folhetins. Existem na Província 28 escolas masculinas, com 981 alunos, e 11 escolas femininas, com 331 alunas. As escolas particulares ensinam a 256 alunos e 215 alunas. Sobram vagas na instrução primária, a escola das primeiras letras. O progresso continua impulsionando as reformas no setor urbano. Quase ao lado do Mercado, o cais da Alfândega está em obras, e testam-se novos lampiões a gás, logo desprezados. O Palácio do Governo passa por reformas. Os navios, além do transporte de passageiros, e de carga, consomem enormes quantidades de carvão para suas caldeiras a vapor. O armazém da Ilha do Carvão 34 começa a ser construído. E a devastação das matas para a fabricação do produto continua crescendo. Outro depósito de carvão, na ilha de Ratones Grande, situada na Baía Norte, abastece os navios da esquadra real. 34 Situada na Baía Sul, possuía um castelinho que servia de depósito de carvão. Demolida para a construção da ponte Colombo Machado Sales.

40 BALAIO VELHO 40 No Rio de Janeiro, capital do Império, o pintor catarinense Victor Meirelles apresenta o quadro A Primeira Missa no Brasil, em Nasce em 1861, na Cidade do Desterro, João da Cruz e Sousa 35, o poeta simbolista 36 catarinense. Filho de escravos libertos do coronel Guilherme Xavier de Sousa, recebe o nome do santo do dia, São João da Cruz, agregando o sobrenome da família do senhor de seus pais, como era freqüente. A carência de bons produtos na cidade é suprida pelos colonos de São José e São Pedro de Alcântara, ambas no Continente. A crise não chega à Biblioteca Pública, já com um acervo de obras, avaliadas em 500 mil réis. Essas obras são consultadas por pessoas, no ano de A bordo do vapor Santa Cruz, chega ao porto o imperador dom Pedro II. Indignados ficaram os habitantes que esperavam o desembarque do ilustre visitante, fato que não ocorreu. Restava como conforto a estadia que fizera em agosto o príncipe Conde d Eu 37, quando visitou a Igreja Matriz, os hospitais Militar e de Caridade. Navio abastecido, dom Pedro II zarpa para o Rio Grande do Sul, com destino a Uruguaiana 38. Após a batalha do Riachuelo, a primeira vitória brasileira na Guerra do Paraguai, o quase aniquilado exército paraguaio marcha sobre a cidade da fronteira oeste gaúcha. Ao cabo de um mês de sítio, Estigarríbia, exausto, rende-se ali, na presença de dom Pedro II. Os aliados aprisionam também mais de 6 mil soldados. O conflito só termina em O progresso não detém sua marcha. Em 2 de janeiro de 1867, no Largo do Fagundes, é instalada a primeira estação telegráfica de Santa Catarina. Mantém sua fama comercial o porto da capital da Província. O movimento, segundo relato da Alfândega, é promissor: 35 Ver Balaio de Figurinhas, pág Escola literária que se caracteriza por uma visão subjetiva, espiritual do mundo, simbólica. 37 Ver Balaio de Figurinhas, pág Cidade gaúcha localizada na fronteira com a Argentina.

41 41 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA A navegação de longo curso trouxe a esta Província, no ano de 1867, 20 vapores de guerra, 82 transportes de guerra, 43 paquetes 39 e vapores do comércio, três brigues-barcos 40 nacionais, três vapores de guerra, 20 brigues-barcos, 21 bergantins 41, cinco polacas 42, um brigue-escuna, 16 patachos 43, 13 escunas, três sumacas 44 e um iate estrangeiro. A de grande e pequena cabotagem trouxe três brigues-barcos, três bergantins, um brigue-escuna, cinco patachos e um iate nacional, mas pertencentes a outras praças, e um brigue, dois bergantins e três patachos estrangeiros. Os 231 da primeira [longo curso] eram do porte de toneladas, com pessoas de tripulação. Os 19 da segunda [grande e pequena cabotagem], com a lotação de toneladas, tinham 181 tripulantes, o que dá para os 250 navios de longo curso, e de grande e pequena cabotagem, um total de toneladas e de tripulantes. Empregaram-se também na grande e pequena cabotagem, e nesta principalmente, 124 navios pertencentes à Província. Foram: dois brigues-barcos, três bergantins, quatro polacas, um brigue-escuna, 47 patachos, duas escunas, seis sumacas e 92 iates, com toneladas e 643 pessoas de tripulação, sendo 267 nacionais livres, 218 estrangeiros e 158 escravos. Trecho do discurso do presidente da Província, Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, em 1 o de março de Apesar dos altos custos da Guerra do Paraguai terem deixado os cofres da Província vazios, e um saldo de 56 catarinenses mortos, as obras do cais da Alfândega são terminadas, a falta de água potável 39 Embarcação veloz e luxuosa para viagens rápidas de transporte regular de passageiros. 40 Navio à vela, com dois mastros, o de ré com vela quadrangular e um terceiro mastro inclinado na proa. 41 Embarcação veloz e esguia, com oito ou 10 bancos para remadores e um ou dois mastros. 42 Navio com três mastros, velas redondas e latina quadrangular, mais o terceiro mastro inclinado na proa. 43 Semelhante ao brigue. 44 Semelhante ao brigue, com mastreação menor, muito usado na costa do Brasil.

42 BALAIO VELHO 42 passa a ser prioridade e reformas e construção de novos chafarizes 45 são executadas. Surge a idéia para a coleta do lixo, empregando-se cubos hermeticamente fechados em carroças apropriadas, para o que não faltaria alguma empresa a que seria cometido um tal serviço, mediante a retribuição de taxas pagas pelos moradores dos prédios urbanos. Joaquim Bandeira de Gouvêa, presidente da Província, em 26 de março de José Delfino, empresário, em 1871 propõe uma concessão de três anos em troca de duas linhas de transporte, uma linha de carros de cavalo e outra de barco a vapor, ligando a Ilha a diversos pontos do Continente. Proposta essa que não saiu do papel. Novidades internacionais chegam à Cidade do Desterro. A partir de 1 o de janeiro de 1874, o Brasil passa a usar o padrão internacional do sistema decimal de pesos e medidas, MKS, metro (m), quilograma (kg) e segundo (s). A Alfândega, que vinha operando precariamente após uma explosão em suas instalações, em 1866, tem a pedra fundamental do novo edifício lançada em 25 de janeiro de 1875, quase 10 anos depois. O antigo prédio estava localizado mais próximo da Praça do Mercado, hoje praça Fernando Machado. O novo edifício é levantado no local em que se encontra até hoje. Demorou algum tempo para que os ilhéus esquecessem aquele 24 de abril, uma terça-feira: O teto da casa voou para todos os lados, espalhando pela Praça e pelas ruas mais próximas restos de vigas e telhões partidos. As paredes abateram-se com fragor entre nuvens de pó e fumo. A detonação fez estremecer as casas vizinhas, inutilizou, pelo deslocamento do ar, o telhado do Mercado, partiu vidraças de edifícios distantes e foi ouvida lá pela Tronqueira [região da avenida Hercílio Luz], e pelo Mato Grosso [região da praça Getúlio Vargas], os bairros mais distantes. Osvaldo R. Cabral, pág Construção de alvenaria com uma ou duas bicas, bebedouro.

43 43 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA A destruição também não detém sua marcha. Ainda em janeiro, o Forte Santa Bárbara havia sido demolido para ceder lugar ao edifício da Capitania dos Portos. Não acontece a Exposição Provincial de 1875 programada para realizar-se no Teatro Santa Isabel, que está em fase final de construção. Então, uma comissão especialmente formada seleciona produtos catarinenses da lavoura, da indústria, trabalhos de ciências e artes, além de máquinas e artes mecânicas, para irem ao Rio de Janeiro. Seriam exibidos na Exposição Nacional. O objetivo era selecionar artigos nacionais para serem mostrados na feira mundial, circuito que o Brasil já freqüenta desde a Exposição de Londres, em Apresentando basicamente produtos naturais e alguns manufaturados, como tecidos, a intenção é divulgar o país como nação soberana e civilizada. Agora é a vez da Exposição Universal da Filadélfia, que comemora o centenário da Independência do Estados Unidos, em A primeira mostra em solo norte-americano, a Centennial, como ficou conhecida, teve um hino especialmente composto por Wagner. Sua inauguração aconteceu com a presença do presidente Grant, dos Estados Unidos, acompanhado do imperador do Brasil, dom Pedro II. Graham Bell mostra seu mais famoso invento, o telefone. E o Brasil apresenta às nações, pela primeira vez, um instrumento científico de fabricação nacional, o Alta Azimute Prismático, através do qual é possível determinar as coordenadas de um astro. O invento de Bell chama a atenção de Dom Pedro II, que insiste em experimentar o aparelho. Enquanto Bell fica numa ponta do fio, no transmissor, a 150 metros de distância, Dom Pedro II escuta, na outra ponta, nitidamente, Bell declamando Shakespeare: to be or not to be. E teria então, pronunciado outra frase famosa na história do telefone, contestada por uns, confirmada por muitos: Meu Deus, isto fala!, teria dito o imperador. Os quadros de Victor Meirelles, Combate Naval do Riachuelo e Passagem de Humaitá, referências da Guerra do Paraguai, também são exibidos nessa Exposição. Finalmente a cultura ganha o Teatro Santa Isabel, inaugurado em 7 de setembro de 1875, uma terça-feira. Mas, apenas em 1893

44 BALAIO VELHO 44 recebe o nome de Teatro Álvaro de Carvalho 46, em homenagem a este dramaturgo. Na inauguração, em primeiro ato, um coral de vozes femininas entoa o Hino de Santa Catarina 47, da autoria de Horácio Nunes e música de José Brazílico de Sousa: Hino de Santa Catarina Sagremos num hino de estrelas e flores Num canto sublime de glórias e luz, As festas que os livres frementes de ardores, Celebram nas terras gigantes da cruz. Quebram-se férreas cadeias, Rojam algemas no chão; Do povo nas epopéias Fulge a luz da redenção. No céu peregrino da Pátria gigante Que é berço de glórias e berço de heróis Levanta-se em ondas de luz deslumbrante, O sol, Liberdade cercada de sóis. Pela força do Direito Pela força da razão, Cai por terra o preconceito Levanta-se uma Nação. Não mais diferenças de sangues e raças Não mais regalias sem termos fatais, A força está toda do povo nas massas, Irmãos somos todos e todos iguais. Da liberdade adorada No deslumbrante clarão Banha o povo a fronte ousada E avigora o coração. 46 Ver Balaio de Figurinhas, pág Oficializado no governo de Hercílio Pedro da Luz através da lei número 114, de 6 de setembro de 1895.

45 45 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA O povo que é grande mas não vingativo Que nunca a Justiça e o Direito calou, Com flores e festas deu vida ao cativo, Com festas e flores o trono esmagou. Quebrou-se a algema do escravo E nesta grande Nação É cada homem um bravo Cada bravo um cidadão. Inaugurado na Praça do Palácio o monumento à memória dos heróis catarinenses, mortos na Guerra do Paraguai. O presidente da Província, Alfredo d Escragnole Taunay 48, o visconde de Taunay, dirige a solenidade em 10 de janeiro de Achando o projeto inicial de pouca beleza arquitetônica, fez algumas modificações. As placas de mármore fixadas nas laterais lembram os 56 oficiais catarinenses que tombaram naquela luta. A preocupação sanitária não deixa de estar em pauta. Em 14 de agosto de 1877 é estabelecido, por um prazo de 15 anos, o direito da remoção de lixo, materiais fecais e águas servidas aos cidadãos Firmino Duarte Silva e Carlos Guilherme Schmidt. Na política, o presidente Antônio de Almeida Oliveira, em 1879, compra a casa de Ernesto da Silva Paranhos para servir de paço da Assembléia Legislativa Provincial, na esquina das ruas Tenente Silveira e Trajano. Importou o seu custo 8 contos e 550 mil réis, mas a essa quantia se acresce a de 4 contos de réis de despesas necessárias para reformas, bem como a de 450 mil réis pela aquisição de alguns objetos pertencentes à mesma casa, o que eleva a 13 contos de réis a importância despendida. A partir de 1 o de janeiro de 1880, a cidade passa a ser iluminada por 150 lampiões a gás, e continuam funcionando outros 30 que usam querosene como combustível. Começa no ano seguinte o serviço de bondes, puxados a cavalo. A empresa Carris Urbanos, de Polydoro Olavo S.Thiago, liga a Praça do Palácio à Rua do Príncipe, hoje rua Conselheiro Mafra. 48 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 177.

46 BALAIO VELHO 46 No período entre 1885 e 1887, a Cidade do Desterro, nas mãos do presidente da Província Francisco José da Rocha, passa por sérias transformações e propostas de urbanização. O arrendatário do serviço de iluminação propõe a troca dos lampiões a querosene por lâmpadas elétricas. Questionando a eficiência da novidade e os elevados custos, o presidente adia o serviço. Começam os estudos para a canalização de água na capital e interferências são feitas no saneamento. Preocupado com as chuvas, que deixam as poucas calçadas escorregadias, ele solicita aos engenheiros uma solução, e propostas para o calçamento das ruas. Cobra do superintendente 49 municipal mais empenho na conservação e limpeza da cidade. Contrata quatro varredores para colaborarem no asseio das vias. Sugere que a Câmara Municipal e a Companhia de Aprendizes Marinheiros dividam os gastos com a reforma da praça Barão de Laguna 50, antiga Praça do Palácio e hoje praça XV de Novembro. Mas a obra não se concretiza. Inaugura também o Matadouro do Estreito. Na educação, denuncia a falha na distribuição dos livros escolares e sugere a criação do curso Normal, com intuito de formar senhoras professoras para a instrução primária. Regulamenta o uso do Teatro Santa Isabel, rescinde com o jornal Regeneração o contrato de publicação das leis e assina com o Conservador, de menor custo. A febre amarela que assola a cidade é debelada quando o presidente a divide em dois distritos, nomeando duas equipes médicas para visitar as casas e atender aos doentes. Ele organiza uma loteria para angariar fundos que se destinariam às obras do Hospital de Caridade e auxiliar instituições pias e igrejas da providência. Cobra perfeito atendimento nos socorros médicos e cria subdelegacias para manter a ordem. As atitudes benéficas do presidente se estendem inclusive ao envio de uma lei à Câmara, determinando a remoção urgente de corpos para o cemitério, e em carro. 49 O chefe de governo municipal, equivalente a prefeito. Denominação que prevaleceu até o fim do Império. 50 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 177.

47 47 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Francisco José da Rocha, presidente da Província, já demonstrava uma preocupação ecológica. Impede a Capitania dos Portos de retirar areia das praias para usar em suas obras. Muita areia da Ilha de Santa Catarina foi retirada também para servir de lastro aos navios que aqui lançavam âncora. Endossa a decisão da Câmara em proibir o corte do mangue, reforçando: Os mangues continuam a ser barbaramente devastados, ou para lenha ou para curtumes, quando há por toda parte capoeirões para fornecerem aquela e outros vegetais e drogas para servirem a este. E ainda afirma: não pode haver um povoado sólido sem a existência de feira, igreja e escola, reclamando da falta de feiras livres na capital da Província. Galpão do Peixe A crise do abastecimento retorna à pauta. Velhas polêmicas se fazem presentes na nova fase da evolução social e urbana da Cidade do Desterro. A balbúrdia em volta do Mercado torna-se insuportável. Começam, após 35 anos da inauguração da Praça do Mercado, os movimentos para ampliação do espaço. O crescimento da população, aliado ao aumento de consumo e à grande quantidade de vendedores na área externa, contribui para novos debates na imprensa. Os pombeiros se aglomeram na vizinhança, as barraquinhas voltam à cena, agora denominadas quiosques, e a moda é importada do Rio de Janeiro, a capital do Império. O Jornal do Commércio empunha a bandeira para a construção do Galpão do Peixe, propondo sua construção junto à Capitania dos Portos, antigo Forte Santa Bárbara, próximo à Ponte do Vinagre, sobre o Rio da Bulha, hoje avenida Hercílio Luz. Em seus artigos, abraça a causa dos pescadores. Mui conveniente seria que o pescado fosse vendido dentro do Mercado, ou que, a continuar a ser vendido fora, fossem erguidas barracas ou tendas, de modo a preservá-los dos raios solares. Jornal do Commércio, em 7 de dezembro de A controvérsia chega ao Palácio do Governo e Francisco José da

48 BALAIO VELHO 48 Rocha, presidente, questiona as atitudes da Câmara: Ouvida a Câmara sobre concessões feitas por ela, a título de renda municipal para a construção de edifícios de três metros sob a denominação de quiosque, no terreno concedido para logradouro público onde está o Mercado, que com tais edifícios ficaria comprimido entre ruas estreitas, em ofício de 30 de junho [1887] demonstrei-lhe a inconveniência e os perigos de tais concessões em vista da legislação vigente, pois que eram ilegais desde sua origem, e como quer que fossem encaradas. Trecho do discurso do presidente da Província, Francisco José da Rocha, em 11 de outubro de Em seu primeiro ano de mandato, 1888, o novo presidente da Província, Augusto Fausto de Sousa, defende, ao contrário do antecessor, a construção do galpão anexo ao prédio do Mercado, em discurso de 20 de maio. Sugere que seja edificado por alguém ou empresa com concessão por determinado período, poupando as finanças provinciais. Mas foi contraditório, em 1 o de setembro, perante a Assembléia: O local onde se acha o Mercado é o menos apropriado possível, porque impede a belíssima vista que da praça principal se gozaria para o porto, e deste para aquela. Acredito que, embora com algum sacrifício, seria fácil encontrar uma associação ou indivíduo que, mediante algumas concessões municipais, construísse outro mercado em ponto escolhido, não muito longe do atual, tendo em frente uma pequena doca para desembarque de gêneros e abrigo das canoas. Demolido o atual Mercado, em sua face de oeste se construiria uma varanda ornamentada, do meio da qual partiria uma ponte de pedra para embarque e desembarque de passageiros, em substituição à velha ponte de madeira que hoje existe e ameaça próxima ruína. Trecho do discurso do presidente da Província, Augusto Fausto de Sousa, em 1 o de setembro de Depois, ele assume uma briga com a Câmara Municipal pela demolição dos quiosques adjacentes ao Mercado. Eram concessões ilegais feitas pela Câmara, contrárias à legislação, alegando que lhe valiam

49 49 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA recursos extras. Depois de longos debates, o presidente consegue que sejam demolidos, pois estavam edificados em terrenos reservados para logradouros públicos. Agora o Jornal do Commércio defende os agricultores relatando a sorte de seu destino: [...] depois de penosa viagem de dois ou três dias por maus caminhos, não encontram [os agricultores] o menor abrigo nesta capital. [...] nem ao menos têm um telheiro de zinco, um rancho de tábuas para abrigar as mercadorias com as quais enriquecem o nosso Mercado. Jornal do Commércio, em 4 de setembro de O presidente reconhece a necessidade da obra, e se compadece em seus discursos dos colonos e pescadores que vendem peixes e verduras expostos ao sol e à chuva. Ele admite a construção do barracão, mas sugere as proximidades da Capitania como local ideal. A ebulição política na capital do Império se reflete nas províncias. O fim da escravatura, ocorrido a 13 de maio de 1888, e os rumores sobre a República criam novas expectativas na população. Neste clima, começa a definir-se a construção do Galpão do Peixe. Na sessão da Câmara de 25 de maio de 1889 aparece a primeira proposta concreta. Os vereadores Manoel Joaquim da Silveira Bittencourt, Gustavo Richard, Antônio Carlos Ferreira e Joaquim Caetano votam a construção de um galpão para a venda do pescado no cais, entre a Praça do Mercado e a Rua da Conceição, atual rua Saldanha Marinho. O tempo passa e o comércio continua a ocorrer a céu aberto, abastecendo a uma população de habitantes. Os pombeiros, sempre no centro das discussões, elaboram em janeiro de 1890 um abaixo-assinado solicitando à Câmara autorização para vender seus produtos em volta do Mercado. Os comerciantes instalados no edifício entram na briga. Pressionados, os vereadores, em 21 de janeiro de 1890, concordam que se faça a concorrência para a construção de um galpão, definindo como local a rua José Veiga, hoje rua Conselheiro Mafra, entre as ruas da Paz e do Ouvidor, atualmente ruas Jerônimo

50 BALAIO VELHO 50 Coelho e Deodoro. O interessado deveria fazer a construção com recursos próprios e, ao final de 10 ou 15 anos, ainda a combinar, a renda e o prédio passariam ao domínio do Governo Municipal. Na inexistência de algum empreendedor para o projeto, a Intendência 51 ficaria obrigada a construir o Galpão em seis meses, podendo contrair empréstimo no valor da obra. Apresentado por José de Araújo Coutinho, o projeto foi aprovado em parte. Todos reconhecem sua necessidade. Mas não concordam com a nova localização, que prejudicaria os comerciantes, pois estariam fora do centro comercial, a Praça do Mercado, além de não haver condições para o desembarque de mercadorias. A sessão fica acalorada quando um opositor sugere que se aprove seu projeto de construção do Galpão sobre o mar, em frente ao prédio do Mercado. Idéia descartada pelo alto custo. Ao final da sessão, por quatro votos a três, prevalece a construção na rua Conselheiro Mafra. O centro da cidade passa por várias reformas. Ruas estão sendo calçadas, a praça XV de Novembro, além do calçamento, executado por Jerônimo Nocetti, tem seu ajardinamento implantado. Acontecem melhorias na iluminação pública e a colocação de novas placas indicativas com os nomes das ruas e a numeração das casas. Para comodidade dos fiéis, Antônio Carioni conclui, em 10 de abril de 1890, a escadaria da Catedral. Os moradores do interior da Ilha passam a contar com o benefício de novas pontes, entre elas a do rio Ratones e a sobre o rio Tavares. Em fase final de acabamento, o Galpão do Peixe não ameniza as constantes disputas por clientes. Desta vez são os proprietários estabelecidos no Mercado que apresentam à Câmara um abaixo-assinado pedindo providências contra os ambulantes na Praça. Edificado ao lado da praça Fernando Machado, entre as ruas João Pinto e Antônio Luz, a um custo final de 5:808$000 (5 contos e 808 mil réis), com área aproximada de 640m 2, o Galpão do Peixe abre suas portas em 30 de janeiro de 1891, uma segunda-feira. O Galpão é uma construção de madeira, coberta com telhas de barro, parcialmente aberta. Em seu interior, há dez bancas e vários tabuleiros para exposição e venda dos produtos. 51 O mesmo que prefeitura, porém com menor autonomia.

51 51 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Em frente, na praça XV de Novembro, a figueira que havia nascido mais próxima da Catedral, há 20 anos, é transplantada para o centro do jardim, também em O coronel Gustavo Richard, governador, executa melhoramen-tos na estrada entre São Pedro de Alcântara e a Praia Comprida 52, em São José. A produção da colônia alemã de São Pedro é transportada em carroças até a Praia Comprida, onde, embarcada em canoas, chega à capital, descarregando os colonos seus produtos na praia em frente ao Mercado, duas vezes por semana. É a Feira dos Colonos. As primeiras interferências no projeto começam em nove meses. João Batista Jacques pede permissão para construir um quiosque, sendo deferida. Em dezembro, voltam as barraquinhas, Augusto Estêvão de Lima constrói uma casinha para negociar comestíveis junto ao Galpão do Peixe. Em janeiro de 1892, a Intendência abre uma concorrência para a construção de mais seis bancas, e outra para a pintura a óleo do Galpão. O prazo de exploração dos boxes dos primeiros comerciantes está para se vencer. Então, os primeiros arrendatários Cosme Francisco da Luz, Teodoro José dos Reis, João da Silva Pereira, Miguel Meilego, José Serex, João José Cláudio, Brigídio Antônio Priscolo, Manoel Francisco Paim Júnior, José Ramos Rigueira e Nicolau da Silva Eucélio requerem que a Intendência prorrogue por mais dois anos o direito de exploração. Do lado de fora, um cidadão tenta obter alvará para a construção de um quiosque, para venda de comestíveis e café, no Trapiche do Comércio, em frente à Praça. Não consegue. E os ambulantes, pombeiros e pescadores sem concessão continuam a negociar. Em dezembro de 1892, a pedido da fiscalização da saúde e higiene pública, o edifício do Mercado, inaugurado em 1851, passa por pequenas reformas e uma pintura completa no interior e exterior. E, no Galpão do Peixe, aos dez tabuleiros existentes são acrescentados mais dez. O movimento revolucionário, federalista, contrário a Floriano Peixoto 53, que era republicano, invade o Palácio e faz suas vítimas. 52 Praia do município de São José, localizada na Baía Sul, em oposto à região central de Florianópolis. 53 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 180.

52 BALAIO VELHO 52 Na tentativa de invasão, na madrugada do dia 1 o de julho de 1893, sábado, morrem dois civis, um guarda palaciano e o médico-major da guarnição. A malograda invasão deixa ainda alguns feridos. Os ânimos se acalmam. O governador Hercílio Luz assina a 10 de outubro de 1894 a lei que dá o nome de Florianópolis à cidade. Autoriza a reforma do Palácio, quando este recebe as esculturas alegóricas e a nova platibanda escondendo o telhado, adquirindo uma característica neoclássica. Preocupa-se ainda com o abastecimento de água, com o esgoto, a mudança do cemitério, e a higiene pública. Porém, em 1895, a localização do Mercado e do Galpão do Peixe volta a ser o centro das discussões. A falta de espaço em seu interior cria uma feira paralela que cerca a edificação, se associando novamente a tipos comuns, bêbados, prostitutas e marginais que se misturam a colonos e pescadores que desejam apenas vender seus produtos honestamente. Este eclético contingente continua a ser alvo de ataques na Câmara e jornais. A luta pela moralização dos espaços é acirrada. Dentro deste contexto, sob o comando de Hercílio Luz, começa a interferência racional no uso do espaço urbano, principalmente na área central. Surge, então, a necessidade da transferência do Mercado Público.

53 53 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

54 BALAIO NOVO Com seus cipós ainda amarrados de modo firme. Pronto para seu uso, transportar nosso futuro, guardar nosso dia-a-dia e, um dia, quem sabe, poder descansar num canto da despensa. Guardando o emaranhado do passado.

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56 BALAIO NOVO 56 As constantes obras para urbanização de Florianópolis mudam o cotidiano das pessoas. Grandes escavações e aterros são retomados em A canalização dos córregos da região central e a construção do cais na praça Lauro Müller são completadas com as obras do trapiche de passageiros na praça Floriano Peixoto, atual praça Fernando Machado, e a finalização do cais da Alfândega. Mas os empreendimentos ainda não eram suficientes para a Câmara Municipal. Preocupado com o abastecimento de água, o vereador Raulino Júlio Adolfo Horn, em fevereiro de 1896, solicita mais empenho na fiscalização das cariocas, torneiras, pipas e barricas dos vendedores do líquido. Seu discurso principal era sobre o desmatamento dos morros que cercam a cidade, alertando para o fato de alguns mananciais já estarem extintos. A Praça do Mercado, 1851, e o Galpão do Peixe, 1891, tiveram suas construções definidas após anos de debates. Primeiro na imprensa, depois na Câmara e seus bastidores. O novo Mercado não teve o mesmo passado. Ao invés de disputas, é cercado de mistérios. O espaço acanhado, o comércio tumultuado nas ruas próximas, mesmo com o Galpão do Peixe funcionando, e a necessidade de embelezar a região central eram os assuntos discutidos no momento, e com certa apatia. Primeiro mistério. Na sessão da Câmara, em 23 de dezembro de 1895, o vereador Leonel Heleodoro da Luz apresenta um projeto para o novo Mercado. Planta, orçamento e local já definidos. Proposta que foi aprovada por unanimidade. Rapidamente, três dias depois, uma quinta-feira, em 26 de dezembro, o superintendente municipal, Henrique Monteiro de Abreu, autoriza a chamada de licitantes para a obra. Nas atas de sessões que foram consultadas, entre 1890 e 1901,

57 57 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA propostas que visavam à melhoria da cidade e tudo que envolvia o emprego de dinheiro público eram exaustivamente discutidos. O Mercado foi aprovado na primeira sessão. Mesmo que se leve em consideração que o local escolhido já havia sido proposto há cinco anos, quando se discutia a construção do Galpão do Peixe, época em que foi preterido, a decisão desviava-se do padrão. Segundo mistério. Demorou quase um ano para a assinatura do contrato e a Câmara deliberou nesse período, em quatro sessões, verbas e reforços para a obra, mesmo sem a definição sobre o empreendedor. Enquanto outras obras tiveram as concorrências analisadas, a tomada de preços para o Mercado não tem registro no livro de atas. E mais, depois de 11 meses da publicação do edital, é assinado o contrato que define as condições da construção, pagamentos e multas, com Antônio de Castro Gandra. Termo de contrato que fazem os cidadãos tenente-coronel Henrique Monteiro de Abreu, superintendente municipal, e Antônio de Castro Gandra para a construção do Mercado Público desta Cidade de Florianópolis como abaixo se declara. Aos dois dias do mês de novembro de 1896, nesta Secretaria da Superintendência Municipal da Cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, onde se achava o cidadão tenente-coronel Henrique Monteiro de Abreu, superintendente municipal em exercício, comigo, secretário interino, Manoel Lício da Silva Brasinha, adiante nomeado, compareceu o cidadão Antônio de Castro Gandra e declarou que vinha firmar com esta superintendência contrato para a construção do novo Mercado Público desta cidade, conforme a planta e orçamento desta superintendência, debaixo das seguintes condições e cláusulas. Artigo 1 o - O cidadão Antônio de Castro Gandra obrigase a construir o Mercado Público desta capital, conforme a planta e orçamento mandado organizar pela Superintendência Municipal, pela quantia de 85:000$000 [85 contos de réis]. Artigo 2 o - O material empregado na construção do Mercado será todo ele de melhor qualidade e sujeito antes de ser empregado a fiscalização por profissional indicado pela Superintendência Municipal na construção [fiscal de obra].

58 BALAIO NOVO 58 Artigo 3 o a) Alicerces - os alicerces serão construídos de pedra com argamassa de cal e areia, [em] partes iguais conforme o respectivo orçamento. O cais que servirá de alicerce para a parede do lado do mar será também de cimento. b) Paredes - as paredes serão construídas de tijolo, de preferência requeimados, com argamassa de cal, areia e barro, em partes iguais, e espessura de 45 centímetros. c) Calçamento - o calçamento interno do Mercado será feito de macadame [pedra britada] armado e coberto com uma camada de cimento. d) Madeiramento - o madeiramento deve constituir-se todo ele de madeira de lei e terá as dimensões especificadas no orçamento sob os números 6, 7, 8 e 9. e) Cobertura - o telhado consistirá de telhas francesas. f) Portas - as portas serão feitas de madeira de lei nas condições e dimensões do orçamento número 11. g) Colunas - as colunas de ferro fundido (já encomendadas), em adiantamento constante do orçamento, terão os alicerces em granito e lançados em presença do respectivo fiscal. h) Bandeiras - as bandeiras [parte superior fixa] das portas [as grades] serão de ferro batido, bem como os ventiladores [óculos 54 ]. Os desenhos serão com ponteiras. i) Cimalhas - as cimalhas serão feitas em cimento e com as dimensões constantes na planta. j) Capitéis - os capitéis serão como a cimalha. k) Platibanda - a platibanda será de balaústre [pequenas colunas torneadas]. l) Calhas e canos - serão de cobre e não poderão ser colocados senão depois de serem examinados pelo fiscal. m) Caiação - depois de construído e seco o edifício, passará o empreiteiro duas demãos de caiação. n) Calçada - a calçada externa será feita de macadame com cimento. o) Portões - os quatro portões principais serão de ferro bati do com emblema adequado e a arquitetura será conforme a 54 Abertura ou janela circular, na maioria das vezes decorativa.

59 59 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA planta. p) Frente da edificação - a frente do edifício que fica para o lado do mar será colocada em cima do cais existente e as outras frentes serão alinhadas pela superintendência. Artigo 4 o - Das multas - serão de 500$000 [500 mil réis] a 2:000$000 [2 contos de réis] se: a) Faltar a execução fiel da planta em vigor. b) Empregar material julgado impróprio à construção. c) Em caso de desobediência a aviso do fiscal, cuja não observância possa ser prejudicial à construção. d) Das multas impostas pelo fiscal recorrerá [o construtor] para a superintendência. Artigo 5 o - A planta terá desde já a seguinte atenção: os quatro cantos serão quebrados [construídos em 45 o ] e terá uma porta em cada um deles. Artigo 6 o - O prazo para a construção do edifício será de 22 meses, a contar da data da assinatura do presente contrato, tendo o contratante quatro meses para dar princípio à obra [a ser] executada, não podendo por forma alguma exigir revisão do contrato nem abandonar a obra, sob pena de perder os materiais expostos e as prestações que tiver a receber. E por estarem conformes com todas as cláusulas e condições aprovadas neste contrato, louvem-se o presente termo que assinarão o superintendente cidadão tenente-coronel Henrique Monteiro de Abreu, o contratante cidadão Antônio de Castro Gandra, e eu, Manoel Lício da Silva Brasinha, secretário interino. Em tempo. O prazo acima concedido só poderá ser prorrogado em caso de força maior devidamente justificado pelo contratante. Artigo 7 o - O pagamento será feito em seis prestações, sendo cinco prestações de 14 contos de réis cada uma e a sexta de 15 contos de réis pela forma seguinte: a primeira prestação quando tiver os alicerces prontos, a segunda prestação quando as paredes estiverem na altura das portas, a terceira prestação quando estiverem no respaldo, a quarta quando o edifício estiver coberto, a quinta quando for entregue a obra e

60 BALAIO NOVO 60 a sexta e última 20 dias depois de ser entregue. Se, por ventura, o superintendente não puder, nos prazos respectivos, satisfazer os pagamentos, indenizará ao contratante mais 120$000 [120 mil réis] mensais pela mora de pagamento de cada prestação vencida. Artigo 8 o - A superintendência não poderá também, de forma alguma, rescindir o presente contrato sob pena de pagar ao contratante todas as despesas feitas no edifício, mão-deobra e material e mais a quantia de 20 contos de réis por peça e [...]. E como assim ficou ajustado e contratado assinam o presente contrato os cidadãos, o superintendente municipal, tenente-coronel Henrique Monteiro de Abreu, e o contratante Antônio de Castro Gandra. Eu, Manoel Lício da Silva Brasinha, secretário interino, que escrevi. Em tempo. Fica sem efeito a cláusula terceira onde diz que a cobertura será feita de telha francesa, e sim será cober-to o edifício com telhas de ferro galvanizado, conforme consiste no orçamento. Finalmente, o Mercado seria construído na rua Altino Correia 55, atual rua Conselheiro Mafra, entre as ruas Jerônimo Coelho e Deodoro, próximo ao local proposto desde O mar chegava à rua quando, em 1875, começou o aterro para a edificação da nova Alfândega. Aproveitando o excesso de terra retirado nas escavações das ruas que estavam sendo alargadas e prolongadas, o cais da Alfândega teve seu limite estendido até a rua Jerônimo Coelho e as obras finalizaram em A área tomada do mar estava desocupada e na época suficientemente longe da Praça do Mercado, propícia aos interesses da superintendência. Além de afastar o comércio do Centro, o terreno era de sua propriedade. Com as tradicionais festividades, foi lançada na segunda-feira, 28 de dezembro de 1896, a pedra fundamental da edificação. 55 O logradouro teve várias denominações: Rua do Príncipe, rua José Veiga, a partir de 21 de janeiro de 1890, Rua do Comércio, em 19 de setembro de 1891, rua Altino Correia, em 17 de abril de 1894, e finalmente rua Conselheiro Mafra.

61 61 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA O prédio do novo Mercado seria, na realidade, um grande galpão de alvenaria, sem divisões internas, destinado ao comércio de carne, peixe, verduras e legumes, secos e molhados, com produtos expostos em bancas e 12 tabuleiros. E uma novidade, dois banheiros públicos. Já com as obras sendo executadas, o superintendente solicita ao governador Hercílio Pedro da Luz o empréstimo de um engenheiro da Repartição de Terras para projetar um cais. Apesar de localizado à beira-mar, o projeto não previa um atracadouro e rampa de acesso para as mercadorias que chegavam em canoas. Projeto finalizado, o construtor Iconomos Agapito Iconomos, em 7 de dezembro de 1897, é contratado para a execução de um cais com rampa, em continuação à rua Deodoro, por 49:700$000 (49 contos e 700 mil réis), e de um quebra-mar por 65:000$000 (65 contos de réis). Oposta à rua Altino Correia, hoje no vão central, a parede estava sendo construída sobre a beira do aterro, aproveitando o muro onde o mar batia. Um quebra-mar se fazia necessário para proteção do prédio e criar uma calçada em volta. Com o caixa da superintendência precário, a cláusula sobre o pagamento tem uma redação indefinida e engraçada: Os pagamentos serão feitos em prestações mensais ou semestrais, conforme as forças da superintendência e de acordo com a existência de caixa desta repartição, sendo que o último pagamento não poderá ser feito seis meses depois de concluída a obra. O contratante se obriga a começar a obra em 40 dias e acabá-la num prazo de 24 meses. Em menos de um mês após a assinatura do contrato, um aditamento passa a largura dos cais de 7 para 10 metros, acrescendo também 19:071$000 (19 contos e 71 mil réis) ao valor da obra. Parecia de pouca utilidade o grande espaço interno do prédio. Então, a lei n o 41, de 16 de abril de 1898, autoriza uma licitação pública para a construção das paredes internas e suas divisões, bancas de cimento para a venda de pescado, de carne e um poço no centro do edifício. Enquanto outros assuntos ligados ao novo Mercado continuam a monopolizar os discursos na Câmara, ocorre a definição do tamanho e a posição dos boxes, o prazo de aluguel, bem como as condições e a autorização da hasta para a locação. E, mesmo com as obras atrasa-

62 BALAIO NOVO 62 das, os vereadores autorizam o superintendente a inaugurar o prédio, sem a conclusão dos cais e do quebra-mar, previstos para dezembro de Continuando os trabalhos, legislam o regulamento para o funcionamento do Mercado pela lei n o 56: Artigo 1 o - A Praça do Mercado servirá de centro para compra de gêneros alimentícios: a carne verde, toda a qualidade de pescados, aves, ovos, frutas, hortaliças, legumes, cereais, produtos de lavoura e quitandas 56 para alimentação, os quais deverão ser colocados nele segundo as suas divisões em casinhas, bancas, vãos de colunas e centro da Praça na forma determinada neste regulamento. Artigo 2 o - As casinhas nela existentes serão numeradas devidamente, desde o número 1, a começar pelo lado direito da entrada do portão que faz frente à Alfândega. Parágrafo único. Os números deverão ser feitos com tinta preta a óleo, com fundo branco, e no centro da parte superior do portal interno. Artigo 3 o - A casinhas serão alugadas a pessoas morigeradas 57 e de bons costumes e o contrato de aluguel se fará por concorrência pública. Parágrafo único. A casinha N ficará reservada para o administrador, e os compartimentos norte e sul, fronteiriços ao mar, para açougues e bancas de pescado. [...] Artigo único. Os lugares entre as colunas são destinados para os quitandeiros exporem à venda tudo o que não é proibido existir na Praça, mediante aluguel de 6$000 [6 mil réis] mensais para cada vão de coluna, que não poderá ser ocupado por mais de uma pessoa. [...] Artigo 12 - O quitandeiro que pretender um lugar na Praça requererá ao superintendente, que procedendo informação do administrador de achar ou não vago o lugar 56 Mercadorias dos vendedores ambulantes, biscoitos, doces e outros produtos caseiros expostos em tabuleiro. 57 Que têm bons costumes ou vida exemplar.

63 63 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA requerido, lho concederá, uma vez que não esteja ocupado. Parágrafo único. Por simples despacho do superintendente irá o pretendente pagar aluguel ao procurador e obtendo o respectivo conhecimento se apresentará com este ao administrador para lhe facultar a entrega do lugar concedido. Artigo 13 - O pátio central da Praça do Mercado é destinado, desde o amanhecer, até as 3 horas da tarde, para venda de todos os gêneros da lavoura, como cereais, frutas, aves, ovos, produtos suínos, etc, menos carne e pescado, que só podem ser vendidos nos lugares destinados para esse fim [açougues e bancas de pescado]. Artigo 14 - No pátio central não haverá lugar certo e privativo de alguém. Os que vierem aí expor gêneros tomarão aquele que se achar desocupado. Artigo 15 - Ninguém poderá comprar tais gêneros por atacado, senão de acordo com o artigo 95 e 1 o do artigo 96 do Código de Posturas, parágrafo único [somente os pombeiros]. O infrator incorrerá na multa do artigo 100 do mesmo código. [...] Horário de funcionamento. 5 o do artigo 22 - Abrir as portas diariamente às 4 horas da manhã, de 1 o de outubro a 31 de março, e às 5h30min de 1 o de abril a 30 de setembro, fechando-a nesta época às 6 horas da tarde e naquela às 7 horas. [...] Artigo 39 - O peixe fresco, salgado, seco, camarões e mariscos serão só expostos à venda no lugar designado para este fim; porém, quando a abundância for tanta que as bancas não chegarem para ele, se permitirá a venda na rua [calçada] fronteiriça ao mar. Artigo 40 - O pescado fresco existente no Mercado não poderá ser conservado nele para se vender no dia seguinte. O destino da Praça do Mercado e do Galpão do Peixe começa a ser definido. Na sessão de 18 de abril de 1898, a Câmara autoriza a

64 BALAIO NOVO 64 demolição dos prédios e a construção de um trapiche no local. Em maio, Antônio de Castro Gandra, construtor do Mercado novo, ganha a licitação para execução das paredes internas, com uma proposta de 10:200$000 (10 contos e 200 mil réis). Enquanto isso, acontece na Câmara a abertura das propostas para locação dos boxes, que revelou uma disputa pelos principais locais. Foram analisadas 33 propostas e mais quatro em desacordo, em duas sessões realizadas durante o mês de maio de O resultado final da licitação foi: Para o box 1, Jovita de Castro Gandra, oferecendo 56$000 (56 mil réis), ganhou de José Félix do Carmo e Romão Rigueira; box 2, Jovita de Castro Gandra, que ofereceu 35$000 (35 mil réis); box 3, Francisco Campos da Silva, com 26$000 (26 mil réis); box 4, também Francisco Campos da Silva, com oferta de 28$000 (28 mil réis). Com o box 5 ficou Antônio da Silva Braga; box 6, Manoel José Fernandes; box 7, Nicolau Tsckki; boxes 8 e 9, Moura e Irmão; box 10, José Felix Caetano do Carmo, e box 13, Norberto de Souza Nunes, que ofertaram 25$000 (25 mil réis) por mês. Foram apresentadas quatro propostas para o box 14, duas de Francisco Salomé Pereira, uma de Monteiro Abreu de Cabral e outra de Norberto de Souza Nunes, ganhando Francisco Carlos Salomé Pereira, que ofereceu 60$000 (60 mil réis). Três disputaram o box 16: J.B. da Silva Xavier, Antônio de Castro Gandra e Monteiro Abreu de Cabral, o vencedor, por 45$000 (45 mil réis). O arrendamento de mais três boxes foi avaliado na segunda sessão. Quatro propostas foram apresentadas para o box 11, uma de Cosme Damião da Cunha, uma de Armindo José Boabaid, uma de Miguel José Maltz, ganhando Constantino Garofalles com a oferta de 51$000 (51 mil réis). Cosme Damião da Cunha, com oferta de 60$000 (60 mil réis), arrematou o box 12, vencendo outros quatro concorrentes, Constantino Garofalles, Miguel Bufaraco, Gandour Dagher e Miguel Maltz. A proposta de Manoel José Fernandes, com 56$000 (56 mil réis), ganhou para o box 15 de outros três participantes, Miguel Bufaraco, Durval Livramento e Elias Maltz. Às vésperas da inauguração do novo Mercado, é revogada a demolição do Mercado velho e do Galpão do Peixe, ficando a superintendência autorizada a aproveitar os prédios, vendê-los junto com o terreno, ou

65 65 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA mesmo apenas concedendo o direito de demolição e seus materiais. No caso de venda, o comprador deveria construir um sobrado no local em um prazo máximo de três anos. Com a proximidade da inauguração, o jornal O Estado publica uma reportagem que prevê o futuro do empreendimento. Relata a grande quantidade de erros que se acumularam durante a construção e descreve a obra: Quem tenha examinado o Mercado novo, que pretendem inaugurar breve, e com o qual gastou a municipalidade algumas dezenas de contos de réis, há de ter, como nós, ficado convencido de que na sua construção só se atendeu as rendas que devia produzir de futuro para os cofres municipais, esquecendo-se os fins a se preencher em bem da população. Fez-se um comprido edifício, dividiu-se sem critério, sem cálculo, em cubículos de aluguel para o comércio diverso, deixando apenas para a venda dos gêneros de alimentação, o peixe, a carne, etc, espaços acanhadíssimos, onde não se poderão mover livremente vendedores e compradores. O lugar que dizem designado para venda do pescado, especialmente, é digno de reparo, e prova o que acima dissemos. É um extenso corredor com grandes bancadas cimentadas, ao centro, deixando de cada lado um tão pequeno espaço que muito mal poderão passar duas pessoas, a par. Todos sabem a afluência diária ao Mercado destinado à venda desses gêneros. É aí que se abastece a maior parte da população. Em determinadas épocas do ano, o atual Galpão [do Peixe], que é bastante espaçoso, não comporta a quantidade do pescado exposto à venda e os negociantes desse gênero são obrigados a fazer o seu comércio na rua, sobre esteiras. Nessas condições, reconheceu-se na primeira inspeção que no novo Mercado esse comércio não poderá ser feito sem prejuízo para o povo e para os respectivos comerciantes. Por esses e outros motivos, são levados a acreditar que, sendo adiada a venda do edifício do velho Mercado, que estava marcada para 30 do corrente [janeiro], ela não se fará. Ainda que não seja ele necessário à municipalidade para outros

66 BALAIO NOVO 66 fins, o Poder Executivo do Estado talvez venha a reconhecer a utilidade do local em que está situado para aproveitá-lo com vantagem, constituindo bela edificação onde venha a funcionar alguma de suas repartições. Lembrem-se os poderosos públicos do Estado que já nesta capital mandou-se demolir desnecessariamente um espaçoso e bem construído edifício, o antigo colégio dos jesuítas, onde posteriormente funcionou o Ateneu, para edificar-se outro quase no mesmo lugar, com o qual dispensou o Tesouro não pequena quantia, apesar de sua inferioridade quanto à solidez, relativa ao antigo. Aí está o novo prédio, que serve de quartel do Corpo de Polícia e Cadeia, a merecer já sérios reparos, não oferecendo o mesmo a necessária segurança. O próprio Mercado novo, ainda não inaugurado, segundo nos informaram, está carecendo de reparos na coberta e paredes externas, a julgar pelo modo por que foram construídos, não se lhes pode augurar muitos anos de resistência aos pampeiros 58, pelos quais é sempre batido o local onde se acha esse edifício. A prova é que essas paredes, já uma vez, quando completamente levantadas, apenas faltando colocar as cobertas de zinco, foram quase totalmente destruídas. Jornal O Estado, em 7 de janeiro de Em outras edições, O Estado critica a falta de espaço, insuficiente para a venda de verduras, bem como os tabuleiros mal colocados e pequenos. Eram em número de 12, instalados em um canto. E prevê que os colonos ficariam expostos às intempéries quando chegassem, nas terças-feiras, para a Feira dos Colonos, que funcionava nas quartas-feiras pela manhã, em função da deficiente organização interna do conjunto. Anunciando a solenidade inaugural, o jornal República comenta: Felizmente, vai o público gozar de mais um importante me- 58 Denominação do vento sul forte. Conhecido na Argentina e Rio Grande do Sul como minuano.

67 67 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA lhoramento, com o que, sem dúvida, terá vantagens e comodidade compatíveis ao velho pardieiro da Praça. Finalmente o centro de abastecimento de Florianópolis possui um novo endereço. No governo de Felipe Schmidt, às 6h30mim do dia 5 de fevereiro de 1899, domingo, na presença de autoridades, o novo Mercado é aberto ao público. O jornal República noticia: Foi anteontem [5 de fevereiro de 1899] inaugurado o novo Mercado, situado na rua Altino Correia [atual Conselheiro Mafra]. Às seis e meia da manhã, compareceram o senhor senador Raulino Horn, ilustre superintendente municipal, e os senhores conselheiros [vereadores] Inocêncio Campos, vice-presidente [da Câmara Municipal]; José Boiteux, primeiro-secretário [da Câmara Municipal], Pereira Oliveira e Pedro Bosco [vereadores], bem assim como o senhor Antônio de Castro Gandra, construtor do importante edifício. Já então era enorme a concorrência. Percorreram aqueles cidadãos todas as dependências, em que primava a ordem. À noite, esteve o Mercado iluminado a gás de acetileno 59, sendo avultado o número de pessoas que o visitaram. Congratulamo-nos com a população desta capital, pelo melhoramento que acaba de adquirir, cabendo à situação republicana todos os louvores pelo interesse com que trata do bem público. Jornal República, em 7 de fevereiro de A parcialidade da imprensa da época fica evidente no acontecimento. O República, jornal republicano, trata a inauguração com destaque. O jornal federalista, O Estado, no mesmo dia, questiona o destino do Mercado velho e nas entrelinhas critica o novo empreendimento: 59 Hidrocarboneto não-saturado que, quando molhado, gera um gás inflamável.

68 BALAIO NOVO 68 Ouvimos que a Superintendência Municipal autorizará vender-se o pescado também no respectivo Galpão [do Peixe], apesar das licenças concedidas para tal serviço no interior do Mercado recentemente instalado. E assim deve ser. O próprio prédio municipal construído especialmente para esse fim, espaçoso, ventilado e sobre o mar, de sorte que a baldeação [lavação] da área das bancas atira às águas [do mar] todos os resíduos que vão-se no baixa-mar, seria inepto desprezá-lo, forçando-nos ao triste espetáculo de ver, como outrora, o peixe exposto em esteiras, ao sol, que em poucas horas o decompõe, tornando-se assim prejudicial à alimentação pública; visto que o lugar que lhe é destinado em nosso novo Mercado não tem capacidade para época de abundante pescaria, que vai de maio a novembro, havendo, então, dias em que para o consumo chegam mais de 12 mil anchovas, o que determina acotovelarem-se os compradores, em verdadeira multidão, durante três a quatro horas. Para acabar de fazer obra boa e a contento geral, deve o governo municipal reparar, ligeiramente que seja, o Mercado velho, construção cuja solidez pode-se bem avaliar, considerando que há 50 anos, meio século, os preamares do equinócio vão batendo-lhe os alicerces, e abri-lo novamente ao público, de sorte que ali tenhamos também açougue, legumes, pequeno comércio de charque e molhados, restaurante ao alcance dos que não podem ir à mesa de hotel, o que muito convém a uma grande parte da população local e aos bairros adjacentes, sobretudo, e traz para o município grande fonte de renda. A pequena praia que ali está à frente do Mercado é imprescindível. Murmurar no vago, embora, que ela desaparecerá, o que acontecerá a esses milhares de pobres homens que ali vêm em canoas, na maior parte pequenas, abastecer-nos de lenha, ovos, café, frutas e o que mais seja, a retalho, isto é, em porções ao alcance de nossos bolsos. Não valerá a pena sacrificar qualquer projeto de uso aos interesses e à comodidade dessa pobre gente? Ignora o governo municipal que a doca em construção à frente da linha do cais correspondente ao Mercado novo não serve convenientemente ao serviço de

69 69 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA canoas, embarcações inteiriças de 1 polegada [2,5cm] apenas de espessura no fundo e costados, não são de natureza para estarem atracadas roçando umas nas outras, ao oscilar, dolente que seja, das ondas, e pouca duração podem ter se forem diariamente pranchadas [arrastadas] à rampa, que, depressa lhes gastará o fundo, tal a quantidade de madeira de que são construídas? Isso admitindo a hipótese da rampa comportá-las quando elas ali vêm em número de mais de cem. De mais, a ressaca, a confissão 60 das águas em ocasião que ventar, fará perigar a saída dessas embarcações para o mar, dificultando velejar sobretudo aquelas que forem tripuladas por um homem só, que terá de cuidar a um tempo de manobrar a vela e o leme. Jornal O Estado, em 7 de fevereiro de Os ataques, ou as verdades, de O Estado continuam no dia seguinte, sem descanso para o superintendente: Não deve estar satisfeito o senhor Raulino Horn, com o que tem presenciado no novo Mercado recém-inaugurado. Tudo que nessas colunas temos dito sobre a divisão feita no Mercado, divisão aconselhada por múltiplos interesses particulares em jogo, tem sido plenamente justificado. Os compartimentos destinados à venda de carne e peixe deixam tudo a desejar e os consumidores perdem ali precioso tempo, aos empurrões, numa verdadeira luta para aproximarse do vendedor e alcançar um pedaço de carne à venda do açougueiro, sendo-lhes quase vedada a liberdade na escolha. Aos fundos do Mercado, onde estão estabelecidos os tabuleiros para venda de frutas e legumes, ainda que bastante espaçoso, entendeu a superintendência permitir a Feira dos Colonos, às terças e quintas-feiras, tornando quase impossível o trânsito pela grande quantidade de mercadorias espalhadas e grande aglomeração do povo. O senhor superintendente deveria ter visto o inconveniente de se ter esta feita no interior do Mercado, e cremos que providenciará com brevidade sobre 60 Mar agitado, arrebentação.

70 BALAIO NOVO 70 o assunto. Jornal O Estado, em 8 de fevereiro de Uma rápida análise do edifício esclarece muitas dúvidas sobre qual órgão da imprensa tinha razão. Os defeitos na obra, goteiras, a divisão interna sem critérios, a falta de espaço para a Feira dos Colonos já justificam as críticas. Somando a área do Mercado, 723m 2, da praça Floriano Peixoto com a do Galpão do Peixe, 640m 2, resulta em 1.363m 2, contra os 1.806m 2 do Mercado novo. Levando em consideração que em volta da antiga edificação os comerciantes negociavam seus produtos nas ruas próximas, por falta de espaço, construir um estabelecimento para o futuro com apenas 32% a mais de área parece falta de planejamento. E a cidade tinha uma população de pessoas, crescendo 42% em relação ao ano de 1891, na inauguração do Galpão do Peixe, quando eram habitantes. Inacabado, o conjunto arquitetônico é inaugurado. Faltavam os cais, o quebra-mar e muitas divisórias internas, que tinham ficado a cargo dos arrendatários. Mesmo assim, custou 236:471$000 (236 contos e 471 mil réis). Cais e quebra-mar consumiram 133:771$000 (133 contos e 771 mil réis), 16,6% a mais que o orçamento inicial. Melhoramentos que não estavam previstos no orçamento inicial foram incorporados e suas verbas liberadas em cima da hora. Ganchos para a exposição das carnes, 1:000$000 (1 conto de réis); construção dos tabuleiros e calçamento ao redor do prédio, 2:000$000 (2 contos de réis); a novíssima iluminação a acetileno e as bancas de mármore consumiram mais 4:500$000 (4 contos e 500 mil réis). Elevou-se o custo do contrato para 102:700$000 (102 contos e 700 mil réis), 20,8% a mais. Quando contratado, em 1896, o valor inicial de 85:000$000 (85 contos de réis) correspondia a 69 % da receita do município, que era de 121:914$728 (121 contos, 914 mil e 728 réis). A partir de agora os consumidores dividem suas compras em dois endereços. O Galpão do Peixe, ao lado da praça Floriano Peixoto, continua a vender carne, pescado, frutas e legumes. Afastado, localizado na rua Altino Correia, o novo Mercado perde o adjetivo novo, e comercializa os mesmos produtos do Galpão, mas proporciona aos clientes o conforto de bares e cafés. No primeiro dia de funcionamento, os fregueses encontram os

71 71 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA novos comerciantes nas bancas. Entre os arrendatários, vários boxes trocaram de mãos em diversas negociações. A relação dos primeiros locatários do Mercado da rua Conselheiro Mafra, em 1899, fica assim: Boxes 1 e 2 continuam pertencendo a Jovita de Castro Gandra. O box 3, Francisco Campos da Silva transferiu para Antônio de Castro Gandra. Também no box 4, Francisco Campos da Silva transferiu para Antônio de Castro Gandra. O box 5, de Antônio da Silva Braga, foi transferido para Oliveira Carvalho e Irmão. Box 6, de Manoel José Fernandes, ficou com Constantino Garofalles, que passou para Júlio Nicolau de Moura. O box 7, de Nicolau Tsckki, foi transferido para Constantino Garofalles. Moura e Irmão continuam com os boxes 8 e 9. O box 10, José Félix Caetano do Carmo transferiu para Armindo Boabaid; o box 11, Constantino Garofalles transferiu para Miguel João Bufaraco; o box 12 ficou com Cosme Damião da Cunha; o box 13, Norberto de Souza Nunes transferiu para Miguel João Bufaraco; o box 14, Francisco Carlos Salomé Pereira transferiu para Miguel João Bufaraco; o box 15 teve contrato assinado com Manoel José Fernandes, e o box 16 ficou com Francisco Carlos Salomé Pereira, Estranhamente, o box 16, no qual foi vencedor, no leilão, Monteiro Abreu Cabral, teve o contrato assinado por Francisco Carlos Salomé Pereira, sem qualquer menção a transferência. Os quitandeiros comercializavam em uma espécie de armário 61 e tinham os aluguéis mensais fixados em 6$000 (6 mil réis). Os espaços eram decididos na superintendência, que emitia novos alvarás a cada mês. Sem lugar definido, os produtos da lavoura, aves, ovos e cereais eram vendidos ao longo do centro do prédio, com os lugares sendo disputados diariamente. Eram de quem chegasse primeiro e desembolsasse os impostos referentes a seus produtos. A Feira dos Colonos realizada na praça Fernando Machado é transferida para o novo Mercado uma semana após a inauguração. Mal dimensionado, o interior não comportava a grande quantidade de fornecedores e produtos, aumentando os problemas existentes. 61 Ver Balaio de Fotos.

72 BALAIO NOVO 72 Esquecidos desde a Praça do Mercado, passando pelo Galpão do Peixe, os oleiros continuam pela terceira vez a vender suas louças nas ruas próximas. O Mercado velho vai a leilão em 4 de março de 1899, em dois lotes. O primeiro compreende objetos avulsos: [...] duas cobertas de zinco com oito tabuleiros cada uma, 13 tabuleiros de madeira, 28 barras de ferro, quatro bancas de madeira, quatro balanças com conchas de metal, uma dita sem concha, dois lampiões de vidro, dois lampiões dito belgas e um mastro para bandeira. Todos esses objetos serão arrematados no estado e lugar em que se acham. O segundo, arrematado pelo construtor do Mercado novo, Antônio de Castro Gandra, relacionava: [...] todo o material do edifício do Mercado velho, constando de pedras e tijolos das paredes, telhas, ladrilhos, madeiramento, poço, tampa do mesmo, bomba, cano de chumbo, etc, ficando o arrematante obrigado a conservar somente o alicerce do lado fronteiriço do mar, bem como a demolir o edifício e retirar o material num prazo de 30 dias a contar da data de arrematação. Será tudo vendido em um só lote. O futuro do Galpão do Peixe ainda estava indefinido, e a questão era: [...] para onde se transportarão, depois de demolido, os comerciantes licenciados para o comércio do pescado, desde que no Mercado novo os únicos 10 lugares [bancas] existentes são diminutos, insuficientes mesmo? Jornal O Estado, em 12 de março de Assim, o Mercado velho, na Praça do Mercado, atual praça Fernando Machado, desaparece em 25 de março de Demolido, nada restou do primeiro Mercado Público de Florianópolis. Na cidade, a falta de recursos no caixa do governo estadual paralisa algumas obras. Adia a reforma do Teatro Álvaro de Carvalho, segue de forma lenta a do Palácio, mas realiza reparos urgentes na Cadeia. Enquanto isso, o governo municipal continua o calçamento na rua Altino Correia, em direção ao Centro, em julho de Felipe Schmidt, o governador, assume as parcelas do contrato

73 73 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA para a construção do cais e do quebra-mar que, assinado em dezembro de 1897, definia a forma de pagamento: [...] serão feitos em prestações mensais ou semestrais, conforme as forças da superintendência e de acordo com a existência de caixa [...], assinado em dezembro de O sócio de Iconomos Agapito Iconomos, Roberto Trompowski, se dirige à superintendência e é encaminhado ao Tesouro Estadual para receber uma parcela de 8:000$000 (8 contos de réis), ficando um saldo de 14:450$000 (14 contos e 450 mil réis). Século XX E para as comemorações da virada do século, em 1900, por iniciativa do monsenhor Francisco Xavier Topp, é inaugurada a cruz no morro do Antão, conhecido hoje como morro da Cruz. Na guarita, um soldado avisava a entrada de navios na baía. A última concorrência para os boxes do Galpão do Peixe acontece em novembro de 1902, e os contratos são assinados em dezembro. O Livro de Contratos da Câmara Municipal, 1895 a 1911, não possui outras menções sobre o Galpão, e o Livro de Atas das Sessões também não. Sem registros, observando fotos de 1904, considerando que os contratos eram anuais, o Galpão do Peixe deve ter sido demolido no início de 1904, quando começou a construção do trapiche da praça XV de Novembro, o antecessor do Miramar. Enquanto isso, o comércio catarinense obtém renome nacional e reconhecimento internacional. Os produtos que representam o Estado na Exposição Universal de Saint Louis, nos Estados Unidos, em 30 de abril de 1904, conquistam quatro medalhas de ouro, 25 de prata e 24 de bronze, num total de 53 prêmios. No entanto, as preocupações com o desenvolvimento da cidade continuam. O governador Antônio Pereira da Silva e Oliveira acentua a necessidade de implantar o sistema de água e esgoto para atender as casas existentes na capital, em A superintendência entrega o calçamento com paralelepípedos da rua Conselheiro Mafra. O transporte fica mais rápido. Em 23 de outubro daquele ano, o brasileiro Santos Dumont 62 decola com o 14-BIS e realiza um vôo de 60 metros nos campos de Bagatelle, em Paris. Três linhas de bonde de tração animal ligam alguns pontos de Florianópolis. 62 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 182.

74 BALAIO NOVO 74 A principal faz o trajeto entre o cais da Rita Maria, atual rótula da ro-doviária, e o largo 13 de Maio, hoje Praça da Bandeira. Os quatro carros para passageiros transportaram no ano pessoas e os nove de carga, 25 toneladas, em seus metros de trilhos. Santa Catarina continua em destaque no País. Durante a Exposição Nacional, aberta em 11 de agosto de 1908, no Rio de Janeiro, comemorativa ao Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, os produtos catarinenses ganham 799 prêmios, perdendo apenas para São Paulo. Foram 38 grandes prêmios, 133 medalhas de ouro, 263 de prata e 365 de bronze. E o progresso chega, para a comodidade dos florianopolitanos. O governador Gustavo Richard, em 8 de maio de 1910, inaugura o abastecimento de água potável. Mercado de São Sebastião Passados 12 anos da inauguração do Mercado Público, o comércio e a região estão deteriorados. Os comerciantes ficam espremidos no interior do prédio e a situação piora a cada dia com a Feira dos Colonos. As ruas próximas são transformadas em feira livre e o local, antes afastado do Centro, com o crescimento da cidade fica mais próximo. A tentativa de melhorar o abastecimento leva o superintendente municipal Antônio Pereira da Silva e Oliveira a publicar um edital, em 1911, chamando interessados na construção de um novo mercado: Artigo 1 o - Fica a Superintendência Municipal autorizada a chamar concorrência para construção e instalação de um mercado na Praia de Fora, no largo São Sebastião [rua Bocaiúva, em frente ao Hospital São Sebastião], que será posto à disposição do contratante. 1 o Este mercado obedecerá aos preceitos de boa higiene e estética e será construído em alvenaria ou ferro e de acordo com a planta que a referida concorrência tiver a preferência. 2 o Será destinado à venda de produtos da pequena lavoura, carnes, peixes, aves, etc. Artigo 2 o - O prazo da construção será de 25 anos, revertendo para a municipalidade o edifício e benfeitorias em perfeito estado de conservação. [...] Artigo 3 o - Não poderá ser autorizada a abertura de ou

75 75 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA tro mercado ou mesmo açougue na área compreendida entre as ruas Ana Schutel [não foi encontrada referência sobre a localização], [Almirante] Lamego, Esteves Júnior, Presidente Coutinho, [largo] Benjamin Constant, Frei Caneca até a Estação Agronômica [proximidade do Hospital Infantil]. Apesar do artigo acima limitar a livre concorrência por iniciativa municipal, os planos não são concretizados. Alpendre Em 1912, Dorval Melquíades de Souza, o novo superintendente, abre licitação para a construção de um alpendre 63 junto ao mar. Em dias de vento sul, a estreita calçada lateral ao Mercado não é suficiente para deter as ondas, tornando impossível o acesso de pessoas e mercadorias. Surge, assim, a primeira idéia de ampliação do Mercado e de amenizar os problemas com a falta de planejamento, em Define o edital que o alpendre será ligado a um galpão de madeira sobre o mar, destinado à venda de pescado. Projeto ainda inexistente nessa data. O aterro começa em 1913, enquanto na Exposição Universal de Turim, Itália, os produtos catarinenses conquistam 126 prêmios: um diploma de benemerência 64, um grande prêmio, quatro diplomas de honra, 16 medalhas de ouro, 40 medalhas de prata, 35 medalhas de bronze e 29 menções de honra. Em Florianópolis, a chegada dos materiais importados da Inglaterra está atrasada e adia o início das obras da rede de esgoto. No outro lado da praça XV de Novembro estão concluídos os primeiros 460 metros dos cais do saneamento, ligando o Rio da Bulha, atual avenida Hercílio Luz, à Prainha. A ponte Hercílio Luz ainda era um sonho, em E a cidade cresce, com os gêneros alimentícios chegando ao Mercado em embarcações. Os colonos do Continente continuam a transportar em carroças seus produtos até São José, e fazem a travessia em canoas. Diferente não é a situação dos colonos da Ilha. 63 Cobertura suspensa apoiada em colunas sobre portas ou vãos. No Mercado, denominava a ampliação do aterro, sem cobertura. 64 Digno de honras, notável, benemerente.

76 BALAIO NOVO 76 Produtores do Ribeirão usam baleeiras no transporte, os agricultores de Canasvieiras, Rio Vermelho, Ingleses e Ratones chegam ao Mercado transportando a farinha de mandioca, a cebola, o café e outros produtos em carroções, ou mesmo no lombo dos cavalos. Mais ao centro da Ilha, no Rio Tavares, tradicional região de produção de hortaliças, a situação não é diferente. Por entre caminhos sem pavimentação, enfrentando sol, chuva e o vento sul, esses lavradores completam o abastecimento. No Centro, a moderna iluminação pública, agora elétrica, é feita por 542 lâmpadas incandescentes de 50 velas, uma lâmpada de 200 velas, duas de 400 velas e 18 lâmpadas de arco voltaico de velas. Existem 837 instalações particulares de luz elétrica e 23 instalações de força motriz. O alpendre do Mercado está concluído em Se resume a um alargamento da calçada, tomando do mar mais alguns metros, até aproximadamente o meio do hoje conhecido vão central. Ampliação A lei n o 369, de 6 de março de 1915, delibera ao superintendente João da Silva Ramos autorização para conceder a exploração, por 15 anos, a empresa ou particular que, por conta própria, construa uma nova ala, do lado do mar, destinada à venda de hortaliças, peixes e produtos coloniais. Além de fornecer o projeto, a renda do Mercado ficaria à disposição do contratante. É a primeira atitude concreta do governo municipal para a ampliação do acanhado edifício. No comércio novamente tumultuado, entram em cena os pombeiros. E a imprensa noticia: [...] Como é de costume, os colonos vêm à feira e aqui chegam nas vésperas, trazendo suas quitandas. É nessas ocasiões que aparecem os tais pombeiros, que compram miudezas que são muito procuradas nos dias de feira, e depois vão vendê-las por um preço exorbitante. Anteontem, um dos pombeiros adquiriu à razão de 1$300 [mil e 300 réis] todas as galinhas que um colono trouxe para a feira, a fim de oferecê-las à venda por 2$000 [2 mil réis], cada

77 77 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA uma, no dia seguinte. O mesmo sucede com outros gêneros. É preciso acabar com essa especulação tremenda. Chamamos a atenção do senhor delegado de polícia a fim de pôr termo a esse inqualificável abuso. Jornal O Estado, em 9 de junho de Providências governamentais já tendiam a ser demoradas e quase um mês depois as denúncias continuam: Estão se passando no nosso Mercado coisas que são interessantes e que reclamam providências enérgicas. Antigamente, nos dias de feira, os colonos que se abalavam a vir à nossa capital expor os seus produtos achavam o interior do Mercado à sua disposição. Era aí que eles faziam o seu comércio, estando os seus produtos coloniais livres do sereno, da umidade das noites e, quem sabe, dos amigos do alheio. Infelizmente, dá-se agora o contrário. Os colonos que chegam nas vésperas da feira já não encontram lugar no Mercado para seus produtos, porque os pombeiros se assenhorearam da vasta área interna do nosso Mercado. É o cúmulo! Não contentes com o adquirirem por um preço baixo e venderem depois os produtos por outro elevado, os senhores pombeiros uma nova casta privilegiada ainda cometem esse grande abuso. Nos dias de feira, os senhores fiscais hão de apreciar a belíssima mutação: os colonos, aqueles que produzem, que se dão ao trabalho de trazer a nossa alimentação, ficam aboletados fora do Mercado, enquanto no interior deste abre-se espaço para os pombeiros. A superintendência precisa tratar seriamente deste assunto, tomando enérgicas propriedades. Hoje, uma medida há tanto reclamada pelos altos interesses da nossa população contra, não só esse abuso, como contra a terrível e vergonhosa exploração que os pombeiros vêm fazendo em torno do comércio da feira. Não se explica de modo algum a alta de preços por que se vende nos dias de feira do nosso Mercado a produção colonial. É a nossa população reclama providências para os senhores dos poderes competentes. Jornal

78 BALAIO NOVO 78 O Estado, em 7 de agosto de O consolo para as famílias abastadas era o aviso da Companhia Antarctica Paulista em O Estado, na edição de 22 de outubro de 1915: Chamamos a atenção do público para essa maravilhosa invenção, Perfeitas [era o nome do produto] que são, no gênero as mais completas, conservando um quilo de gelo pelo espaço de mais de seis dias. A geladeira! Que hoje apenas se liga na tomada, era na época um grande armário com isolamento térmico, onde o gelo comprado era depositado em um pequeno compartimento e reposto quando derretia. Passado um ano do edital para a edificação da nova ala, o Mercado da capital continua a sacrificar os colonos. A grande quantidade de produtores e produtos não pode ser convenientemente instalada no prédio e, apesar da freqüência semanal, os agricultores se vêem à própria sorte. Se acomodando conforme é possível em volta do Mercado, nas calçadas, nas ruas próximas ou mesmo voltados no tempo e oferecendo seus produtos a bordo das canoas. Ficam sem abrigo durante a noite, chegando por volta das 22 horas, e continuando sob o sol ou chuva, conforme a estação. O gado para o consumo é abatido no Estreito, e a carne transportada em pequenas embarcações. O superintendente municipal Dorval Melquíades de Sousa, reempossado, realiza nova concorrência pública. Oferece ao interessado em construir a segunda ala um prazo de 20 anos para exploração. Mas, desta vez, a lei n o 415, de 20 de outubro de 1916, deixa uma opção ao governo. Se não aparecerem concorrentes, a superintendência fica autorizada a construir dois galpões nas rampas das ruas Deodoro e Jerônimo Coelho. Um para a venda de carne, produtos suínos e pescado, outro para produtos coloniais. A semelhança com a construção da Praça do Mercado, em 1851, parece bastante evidente. Pois não aparecem investidores interessados e também não são construídos os dois galpões. A interferência governamental troca de lado e os pombeiros são substituídos pelos comerciantes estabelecidos, atingidos pela padro-

79 79 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA nização da unidade de peso para compra e venda. Os varejistas são obrigados a vender em submúltiplos, em gramas, pois vendiam somente em quilograma, um quilo, dois quilos... No atacado, o peso dos produtos vendidos em saco é padronizado: arroz, 60 quilos; batata, 50 quilos; feijão, 60 quilos; farinha de mandioca, 45 quilos, e muitos outros produtos. O sal entra na exceção: será vendido, quando importado, em sacos, pelo peso adotado da praça de procedência, e quando recebido a granel [grande carregamento sem embalagem] o peso correspondente ao saco variará entre 60 e 75 quilos. A população chega, em 1920, a habitantes. O governador Hercílio Luz, engenheiro civil, realiza várias obras na capital. Começa com a canalização do Rio da Bulha, construindo a Avenida do Saneamento, hoje avenida Hercílio Luz. Nos transportes, contrata com a General Electric a construção de uma linha de bondes elétricos no distrito de João Pessoa 65. Constrói uma rede de estradas de rodagem no interior da Ilha, moderniza o porto, reforma praças e jardins. A fiscalização da saúde ganha a Inspetoria de Lacticínios, sob o comando do médico Henrique Brüggemann. A Lei n o 494, de agosto de 1920, cria o Brasão de Armas do Município de Florianópolis. E o futebol chega em 21 de junho de 1921 com a fundação do Figueirense Futebol Clube, com sede na Praia da Figueira, existente no começo da rua Frederico Rolla. As comemorações do Centenário da Independência, em 1922, se refletem em Florianópolis. Com a participação do governador, o novo carrilhão da Catedral é abençoado. Os cinco sinos foram importados da Alemanha e pesam quilos. Os produtos catarinenses retornam da Exposição Nacional, no Rio de Janeiro, comemorativa aos cem anos do Grito do Ipiranga, com 242 prêmios, agraciados pela qualidade. O futebol catarinense cresce. Na rua Frei Caneca é criado o Avaí Futebol Clube, em 1 o de setembro de No mesmo ano, são determinadas pela prefeitura pequenas reformas no Mercado. O peixe vendido no alpendre, exposto ao sol e à chuva, está agora no interior do prédio, em algumas poucas bancas. 65 Ver página 98.

80 BALAIO NOVO 80 Continuando a tentativa de contornar o problema da falta de espaço, o superintendente Fúlvio Aducci invoca a Lei n o 415 e, fundamentado na nova Lei n o 538, de 26 de novembro de 1924, realiza mais uma tomada de preços para ampliação do Mercado. Quando também não aparecem candidatos. Então, começa a construção do trapiche municipal na praça Floriano Peixoto. Obra que ficará na memória e no coração dos florianopolitanos como Miramar. Os arrendatários dos boxes do Mercado se assustam quando, após a abertura das propostas, baseadas nas ofertas, a superintendência fixa valores arbitrários, elevando-os e desprezando a licitação. Reclamações forçam o governo, que diminui e redefine os aluguéis em 13 de dezembro de 1924: os boxes 1, 6, 7, 10, 11, 12 e 17, 200$000 (200 mil réis); para os de números 2, 3, 4, 5 e 8, 120$000 (120 mil réis) e os boxes 13, 14, 15 e 16, 110$000 (110 mil réis). O box 9 era reservado à administração. Acordo feito e contratos assinados. Mercado de São Luís O centro da cidade se expande. Uma constatação que faz surgir a Lei n o 544, de 25 de maio de 1925, autorizando a construção de mais um mercado em Florianópolis, para atender à população que crescera, chegando a habitantes. Artigo 1 o - Fica o superintendente autorizado a contratar com João Selva a construção de um mercado público na zona de São Luís, nesta cidade, em local previamente indicado. Artigo 2 o - O contratante construirá esse edifício de acordo com a planta que for aprovada pela Superintendência Municipal, devendo obedecer a todos os requisitos de pesca, higiene e comodidade para o público, sem nenhum ônus para o município. Não existem documentos que comprovem a conclusão do projeto. Consultando pessoas que viveram essa época, não há referências ou lembranças a respeito dele. O bairro São Luís se estendia da praça Lauro Müller até a Pedra Grande, rua Frei Caneca.

81 81 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Interferência governamental Novos problemas na renovação dos contratos, que são anuais. Fúlvio Aducci, em novembro de 1925, muda as regras para locação. Amparado na Lei n o 556, de 14 de novembro de 1925, fixa valores mínimos para os boxes. O superintendente define também uma tabela com aluguéis para novas atividades e cria o aluguel diário. Nota-se na relação que surgiu mais um box, o de número 17, pois eram 16 quando o Mercado foi inaugurado, e que o mix do comércio está bem diversificado. [...] Banca para venda do pescado ou espaço correspondente, diariamente, cada uma, 6$000 [6 mil réis]. Ocupando só a metade, 3$000 [3 mil réis]. Aluguel mensal: sala, 30$000 [30 mil réis]; guichês para venda de loteria, 40$000 [40 mil réis]; moedor de cana, 30$000 [30 mil réis]; tabuleiro dentro do Mercado para doces e quitandas, 12$000 [12 mil réis]; tabuleiro para miúdos [buchada, tripa, etc], 20$000 [20 mil réis]; compartimentos números 1, 6, 7, 10, 11, 12 e 17 [esquina e de quatro portas], 200$000 [200 mil réis]; compartimentos números 2, 3, 4, 5 e 8 [duas portas], 120$000 [120 mil réis]; compartimentos 13, 14, 15 e 16 [duas portas], 110$000 [110 mil réis]; vitrina para venda de pães, doces, etc, 1,40m por 0,75m, 20$000 [20 mil réis]; vitrine para venda de pães, doces, etc, de maiores dimensões, 50$000 [50 mil réis]. Novas discussões, novos acordos e todos continuaram a comercializar suas mercadorias. O grande sonho dos ilhéus chega ao final em 13 maio de Com a inauguração da ponte Hercílio Luz, as mercadorias produzidas no Continente podem chegar facilmente à cidade. Mas, ainda durante muito anos o abastecimento do Mercado continua por via marítima. A grande quantidade de pequenas embarcações e a malha viária precária na Ilha favorecem esse meio de transporte. Inflacionados, os aluguéis dos boxes, em 1927, chegam, em média, a 320$000 (320 mil réis), 864% a mais que os valores de 1899, há 28 anos.

82 BALAIO NOVO 82 Um ensurdecedor trovão. Levantando água por onde passava, provocando um rebuliço na população, amerissa na baía sul, em Florianópolis, o hidroavião Atlântico. De propriedade da Kondor-Syndikat, pilotado por alemães, tem a bordo uma pequena comitiva e o catarinense Victor Konder, Ministro da Viação do Brasil. Com esse vôo de 1 o de janeiro de 1927, após 11 horas da saída da Guanabara, Capital Federal, atual Rio de Janeiro, um catarinense inaugura assim o serviço aéreo comercial no Brasil. Em 28 de janeiro, o Atlântico aportou novamente na cidade, iniciando o serviço aéreo regular entre Rio de Janeiro e Porto Alegre, com escala em Santos, São Paulo e Florianópolis. Pilotado por J. Nueuhofen, em raid 66 Rio-Buenos Aires-Santiago, amerissa em 9 de fevereiro um hidroavião Junkers. Ocasião em que voaram, em pequena excursão sobre a Ilha, Walmor Ribeiro, vicepresidente do Estado, o capitão João Marinho, ajudante de ordens, e o major Dalmiro de Barros. A bordo estavam também o comandante Floriano Cordeiro de Farias, o jornalista Crispim Mira, seu filho e Willy Hoffmann, acompanhados da senhorita Sá Ribeiro. Com os pés no chão, o superintendente Heitor Blum, acompanhado dos secretários e dos proponentes, avalia o resultado do edital de 7 de maio, para ampliação do Mercado. São duas opções. A de Miguel Savas, pedindo 491:700$000 (491 contos e 700 mil réis) pela execução da obra, e a outra de Raul Oscar Wendhausen, que se oferecia, por si ou por sociedade que organizar, a fazer os consertos no atual Mercado e a construir o aumento do mesmo, de acordo com o projeto oficial e condições [explicadas] no edital da superintendência, de 7 de maio último [1927], comprometendo-se a concluir os consertos do atual Mercado dentro de um ano, e o respectivo aumento no prazo mínimo de dois anos, propondo tomar conta da renda bruta do Mercado a contar de 1 o de julho do corrente ano, e assim sucessivamente durante 14 anos, como garantia das despesas das obras, entregando mensalmente ao município um terço da referida renda, comprometendo-se também o município a não criar novos mercados durante a vigência do contrato. 66 Incursão.

83 83 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Mesmo assim, com duas propostas, o projeto de ampliação do Mercado não vai adiante. Agora o progresso aporta em Florianópolis. O navio Carl Hoepcke, recém-adquirido, lança suas amarras em 14 de agosto, completando com os vapores Anna e Max a frota da Empresa de Navegação Hoepcke. As viagens para o Rio de Janeiro, com escalas em Itajaí, São Francisco do Sul e Santos serão mais confortáveis. Começa o ano de 1928 com grandes perspectivas para os florianopolitanos. O governador Adolpho Konder se empenha em aplicar com o maior rigor possível o Regulamento de Trânsito, apesar de ter apenas dois inspetores e um adido. Assina o contrato para instalação dos telefones na capital em 30 meses. A rede havia sido iniciada em maio de Construído em parceria com a Compagnie Générale Aeropostale, iniciam os pousos e decolagens no Aeroporto Adolpho Konder, localizado na orla da Praia do Campeche. E, pela Constituição Estadual de 1928, o cargo de superintendente passa a ser denominado prefeito. Segunda ala Com a região próxima ao Mercado e o próprio edifício em condições precárias de comércio, o prefeito Heitor Blum contrata a construtora Corsini e Irmão para a construção da segunda ala e reforma da primeira. Principia com 4.000m 2 sendo tomados do mar. Na continuação da rua Felipe Schmidt, do rebaixamento necessário entre as ruas Pedro Ivo e Bento Gonçalves são transportados m 3 de aterro para ampliação do Mercado. Foram também transferidos mais m 3 para o alargamento do cais entre a praça Fernando Machado e o Mercado, nos fundos da Alfândega. Justificando a atitude, Heitor Blum, em seu relatório de 1928, alega que, se o terreno fosse adquirido de particular, custaria muito mais que a obra contratada. Demonstra com cálculos baseados na média de preços dos terrenos da rua Felipe Schmidt, a 400$000 (400 mil réis) o metro quadrado, que a área tomada do mar, se fosse comprada, custaria à prefeitura 1.600:000$000 (1 mil e 600 contos de réis). Quase o dobro do valor contratado para ampliação e reforma do Mercado, orçado em 850:000$000 (850 contos de réis). Enquanto isso, a iluminação pública cresce consideravelmente. Já havia na cidade 932 postes com lâmpadas; casas pagavam

84 BALAIO NOVO 84 o consumo de eletricidade por taxa única e 699 por medidores. A passos curtos seguia a ampliação do Mercado, em Desde o início em ritmo lento por várias vezes, a entrega prevista para agosto de 1930 só se concretiza na gestão seguinte. O prefeito Heitor Blum, que contratou a obra e mesmo em dificuldades financeiras a prosseguiu, passa o cargo para José da Costa Moellmann com 272:735$266 (272 contos, 735 mil e 266 réis) pagos aos empreiteiros. A Revolução de 30 também passa pelo Mercado Público, quando os revolucionários se aquartelaram na segunda ala, ainda em construção. E o jornal noticiava: Alta noite [25 de outubro], tudo se acalmou: o Governo do Estado, convicto de que a situação federal baqueara, tinha tomado a resolução de abandonar a capital. Assim foi. O senhor Fúlvio Aducci, acompanhado de secretários e outras personas gradas 67, cujos nomes não nos foi possível saber, embarcaram pelo trapiche da Praia de Fora, a bordo do vapor C.N.N. Costeira, com rumo ignorado. [...] Às 3h30min, por ordem do general Ptolomeu Assis Brasil, o capitão Regis organizou uma força para guardar o Mercado Público, onde está armazenada grande quantidade de gêneros alimentícios. [...] Atirado ao mar o carro blindado. O carro blindado, que havia sido construído na fiscalização dos portos para com ele ser atacada a força revolucionária que ocupou esta capital, foi hoje pela manhã [25 de outubro] conduzido do Mercado Público, onde se encontrava guardado, para a praça XV de Novembro, e mais tarde o povo o levou daquele logradouro público para o Cais da Liberdade [Alfândega], jogando ao mar. Jornal O Estado, em 27 de outubro de 1930, às 16h. 67 Autoridades.

85 85 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA A segunda ala, paralela à existente na rua Conselheiro Mafra, é entregue à população em 24 de janeiro de 1931, um sábado. Novamente, o jornal O Estado praticamente desconhece o fato. O República, na edição de 25 de janeiro de 1931, publica um relato sobre a inauguração da nova ala do Mercado Público: Foi franqueada ontem [24], ao público, a nova ala do Mercado Municipal. Na véspera, sexta-feira [23], à noite, Sua Excelência o senhor general Ptolomeu de Assis Brasil, interventor federal do Estado, acompanhado de seus secretários, senhores doutores Cândido de Oliveira Ramos e Manoel Pedro Silveira, e do senhor José da Costa Moellmann, prefeito municipal, e de mais algumas pessoas gradas, esteve em visita ao novo edifício que, nessa ocasião, já se achava preparado para ser entregue ao uso público. A preocupação com a higiene, que não houve nas obras anteriores, está presente. Enumerados com orgulho pela administração municipal, estavam um sistema de encanamento ligado à caixa de água central, com cinco registros onde poderiam ser ligadas mangueiras para a lavação completa do Mercado, prioridade para a área destinada à venda de carne e pescado, colocação de pias e instalação de uma rede de esgoto própria. Esta garante asseio aos açougues e às 12 bancas de pescado. O sistema de água e esgoto, que facilitava a limpeza e não estava previsto, custou mais 6:567$600 (6 contos e 567 mil e 600 réis) à prefeitura. Funcionam no primeiro momento os compartimentos destinados aos açougues. Em número de 16, sendo 13 para venda de carne, um para o comércio de miúdos e dois reservados ao fornecimento de carne de porco. As bancas de pescado também começam a atender aos clientes. Os funcionários, com seus aventais e gorros brancos, demonstram que o esmero na limpeza seria uma constante. O conjunto não possuía a configuração atual. Eram duas alas isoladas e a prefeitura ainda prometia finalizar o edifício, azulejar as paredes até a altura de 50 centímetros, instalar bebedouros e torneiras públicas.

86 BALAIO NOVO 86 Mesmo assim, a segunda ala não resolve os constantes problemas de abastecimento da população, nem a qualidade do atendimento e muito menos as condições de trabalho dos comerciantes. Com área um pouco maior, 1.909,20m 2, ou 103,20m 2 a mais que a primeira, melhor planejamento e corredor mais largo, foi um aparente progresso. Novamente os oleiros são esquecidos. As tradicionais panelas de barro, os alguidares, jarras e moringas ficam ao tempo, sendo negociados nas ruas Deodoro e Jerônimo Coelho, ao ar livre, nas calçadas. Aos poucos, os tabuleiros de frutas e legumes da primeira ala são transferidos para a ala nova. Instalados do lado oposto aos açougues e peixarias, funcionam de modo precário. Com verbas definidas em um adendo ao contrato com a Corsini e Irmão, e a transferência dos últimos comerciantes da primeira ala, esta é fechada para as reformas. Fregueses e comerciantes voltam a se espremer em apenas um prédio. Florianópolis está com habitantes. A população se desloca para os bairros e a legislação não permite a venda de carne fora dos açougues do Mercado. Mas o prefeito José da Costa Moellmann, em fevereiro de 1931, não resiste às pressões e assina a Resolução n o 21, que regulamenta os primeiros açougues particulares, com alguns artigos interessantes: Artigo 1 o - Não será permitido o comércio ambulante de carne verde. Artigo 2 o - O comércio de carne verde, em açougues particulares, só será permitido fora da zona central da cidade. Artigo 3 o - Para efeito de execução do artigo antecedente, considere-se zona central da cidade a área compreendida dentro dos seguintes perímetros: largo Badaró [o largo em frente à rua Trajano, ao lado da Alfândega], ruas Frederico Rolla, Raulino Horn [não foi encontrada referência sobre a localização], Hercílio Luz, Pedro Soares, Artista Bittencourt, praça Pereira Oliveira, Marechal Guilherme, Deodoro, 28 de Setembro [não foi encontrada referência sobre a localização], Álvaro de Carvalho, Tenente Silveira e Padre Roma. Artigo 4 o - Os açougues deverão ser instalados em compartimentos que tenham pelo menos duas portas dando dire-

87 87 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA tamente para o exterior. Além dessas não poderão ter outras aberturas. [...] Artigo 12 - Os produtos não poderão ser expostos às portas dos açougues. Artigo 13 - A carne será coberta com panos brancos de tecido leve, para impedir o contato com insetos e a poeira. [...] Artigo 17 - As carnes que forem encontradas em contato com o gelo, qualquer que seja o vasilhame que as contenha, serão sumariamente apreendidas e inutilizadas, incorrendo os infratores na multa de 500$000 [500 mil réis], e o dobro nas reincidências. [...] Artigo 20 - A entrega de carne verde a domicílio só se fará em viatura do tipo aprovado pela autoridade sanitária. Artigo 21 - A carne verde poderá ficar exposta à venda nos açougues só até as 11 horas. [...] A resolução é abrangente e preocupada em garantir a qualidade da carne para o consumidor final. Porém, no artigo 3 o, inibe a livre concorrência. Uma prática herdada dos tempos coloniais. Inicialmente chamada de carne verde, para diferenciar da carne seca, conhecida também como charque, sempre teve uma fiscalização rígida e era motivo de preocupação governamental. Continua a ser o item mais polêmico na dieta da população e nos cofres municipais. Desde 1851, para justificar o monopólio brando, o governo realiza intervenções sobre o produto. Primeiro a saúde pública, com a vigilância na higiene do matadouro e na qualidade das reses, depois as licitações para a distribuição exclusiva no atacado, por uma única empresa, facilitando a cobrança de impostos. Na Praça do Mercado, o imposto chegava a 400 réis por cabeça vendida, ou 10% do maior aluguel mensal de um box. Os boxes que vendiam a carne sempre foram os mais disputados, fato que gerava os maiores aluguéis. A população cresce e o consumo também. Mais impostos. E assim a carne garante alta arrecadação aos cofres municipais. Fiscalização constante e preocupação esclarecida.

88 BALAIO NOVO 88 Em um mês, os dois primeiros açougues particulares são abertos na cidade, fato amplamente divulgado pela imprensa: Consoante o que noticiamos, foram inaugurados anteontem [16 de março], às 8 horas, pelo senhor prefeito doutor José da Costa Moellmann, os modernos açougues da firma Vaz e Di Bernardi, exploradora desse gênero de comércio. A inauguração foi assistida pelo senhor doutor Sizenando Teixeira, diretor da higiene, pelos representantes da imprensa, gentilmente convidada, e grande número de pessoas. Os açougues do Povo e Popular, o primeiro instalado na praça General Osório [atual rua General Osório], e o outro na rua Demétrio Ribeiro, em São Luís [região do Beiramar Shopping], estão dotados de todos os preceitos de higiene que os mesmos necessitam e aparelhados para atender com presteza os mais exigentes fregueses. As novas instalações apresentam um agradável aspecto, impressionando pelo seu esmero e capricho nas dependências internas, destinadas à recepção da carne. Os seus proprietários visaram, principalmente, ao interesse do público consumidor, organizando uma tabela especial de preços para a carne verde, que será vendida à razão de 1$600 [1 mil e 600 réis] e 1$200 [1 mil e 200 réis] o quilo da carne de primeira e segunda, respectivamente. Além da carne em retalho [varejo], venderão os novos açougues carne moída e farão entregas a domicílio, dispondo para isso de pessoal habilitado. Tiveram, pois, os senhores [Hidelbrando] Vaz e [Eliseu] Di Bernardi a feliz lembrança de dotar a nossa capital de semelhante estabelecimento, tão comum nas grandes cidades, e que presta à população incalculáveis benefícios. No ato da inauguração, o senhor prefeito disse algumas palavras, congratulando-se com os proprietários pela feliz iniciativa, lhes desejando felicidades. Aos presentes, foi servida fina bebida. Jornal República, em 18 de março de Apesar da carne, na época, ser um produto elitizado, pois a abundância, ao contrário da atualidade, era do peixe fresco, um professor

89 89 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA com o salário mensal de 420$000 (420 mil réis) podia comprar 1,6 quilo de carne por hora trabalhada. Um quilo de carne de primeira equivalia aproximadamente a 4,7 quilos de feijão ou 4 quilos de farinha de mandioca. Enquanto isso, na rua Conselheiro Mafra as reformas da primeira ala do Mercado estão dentro do cronograma. E não incomodam os consumidores tanto quanto o tráfego aéreo. Os aviões amerissam praticamente atrás do Mercado. Fundeados em uma plataforma, os passageiros são desembarcados em lanchas, ou no trapiche do Miramar ou no cais da empresa Ciriaco Atherino e Irmão, que anuncia em 12 de março: Deverá amerissar amanhã, às 10 horas, nesta capital, procedente de Buenos Aires, um possante avião da Panair do Brasil. Tem o grande hidroavião, o maior da América do Sul, acomodações para 36 passageiros, possuindo cabines de luxo e compondo-se sua tripulação de cinco pessoas. O transporte coletivo também anunciava nas páginas da imprensa. A empresa Auto Viação Evaristo faz a linha Canasvieiras-Florianópolis, saída da praia às 6h30min e retorno às 14 horas, com passagem custando 2$500 (2 mil e 500 réis), ou 57 minutos de trabalho de um professor primário. Melhores horários tem a Auto Viação Santo Antônio. Duas opções de saída da Praia de Santo Antônio de Lisboa e duas de retorno. O passageiro desembolsa na viagem 1$500 (mil e quinhentos réis), ou 34 minutos de trabalho do professor. No Centro, mal instalado na segunda ala, o comércio do Mercado gera, em abril de 1931, uma arrecadação de 618$400 (618 mil e 400 réis). E uma curiosidade. O preço do par de tamancos é, em média, de 14$000 (14 mil réis), vendendo-se 100 dúzias por mês, ou pares. Um professor podia comprar um par a cada 5h20min de aulas lecionadas. Além do Mercado, o comércio na região central tem seus problemas e a prefeitura está atenta. A Resolução n o 28, de 2 de abril de 1931, determina:

90 BALAIO NOVO 90 O doutor José da Costa Moellmann, prefeito municipal de Florianópolis, usando de suas atribuições: Resolve, nesta data, proibir terminantemente a distribuição de reclames ou anúncios avulsos pelas ruas da cidade, tanto sobre empresas teatrais, cinematográficas, de sorteio e outras, como de casas comerciais quaisquer, agências de leilões, fábricas, etc, ou ainda sobre qualquer outro assunto, a fim de evitar a constante aglomeração de fragmentos de papel nas vias públicas, sob pena de multa de 100$000 (100 mil réis) por inobservância, cobrados dentro do prazo de 24 horas. [...] Na imprensa, as páginas policiais trazem notícias da região de abastecimento: Notícias policiais O senhor Mário Pizza, estabelecido com casa de pasto [local onde serviam refeições] no Mercado Público, queixou-se na DP desta capital que hoje, pelas 14 horas, deu por falta de 100$000 [100 mil réis] que se achavam dentro de uma História Sagrada, e que a mesma estava guardada dentro de uma mala, no depósito do referido estabelecimento. O delegado da capital tomou as devidas providências. Jornal República, em 12 de agosto de Notas policiais Fredolino Arnaldo Schmidt, pombeiro, queixou-se que, tendo depositado em frente ao Mercado Público três latas de banha, foram as mesmas furtadas. Jornal República, em 17 de setembro de Notas policiais João Laurentino, residente no morro das Trincheiras [hoje, morro do Penhasco], queixou-se de Valdir de tal, que furtoulhe um cabo de relho, o qual foi vendido em um dos cafés do Mercado Público. Jornal República, em 9 de outubro de 1931.

91 91 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Mercado Público Municipal Com a reforma concluída na ala da rua Conselheiro Mafra, acontece a já tradicional inauguração: Foi ontem [6 de janeiro de 1932] reinaugurada a primeira ala do Mercado Público com a presença de numerosos colonos. Essa ala, que tem a frente para a rua Conselheiro Mafra, é ampla e espaçosa, tendo quatro modernas plataformas, onde os colonos colocam seus produtos à venda. Essas plataformas são separadas por meio de gradis, de sorte que o comprador não se aproxima dos gêneros alimentícios, como se fazia antigamente. Na semana vindoura serão inauguradas na segunda ala, fronteiriça à primeira, as armações de ferro, destinadas à venda de hortaliças e frutas, que estavam ali funcionando em anacrônicos tabuleiros. Com as condições adotadas e com as grandes obras e construção realizadas, o nosso Mercado Público tornou-se um estabelecimento que honra a nossa cultura. Satisfazendo exigências do nosso meio e o crescente movimento comercial, o governo municipal não mediu sacrifícios para a definitiva realização de tão importante melhoramento. Enorme foi, ontem, a acorrência ao nosso Mercado, tendo comparecido à feira numerosos colonos e pombeiros. [...] Jornal República, em 7 de janeiro de O Mercado Público passa a ter o conjunto arquitetônico que hoje se admira em 6 de janeiro de 1932, uma quarta-feira. Foram anos de disputas, projetos e tropeços até a cidade ter seu Mercado definitivo. O edifício da Praça do Mercado foi inaugurado, por coincidência ou não, em 6 de janeiro de 1851, no mesmo dia e mês, há exatos 81 anos. Relembrando. Em 5 de fevereiro de 1899 foi inaugurada a ala paralela à rua Conselheiro Mafra, e em 24 de janeiro de 1931 fica pronta a segunda ala, 32 anos depois. Quase um ano após o início das reformas na primeira ala, o Mercado é reinaugurado. Durante o tempo em que ficou fechada ao público, a primeira ala

92 BALAIO NOVO 92 sofreu grandes transformações para adaptar-se ao projeto final, que compreende a ligação com a nova ala através de pontes. Externamente, a construção de 1899 perde os óculos, pequenas janelas redondas entre as portas. Os arcos romanos são mantidos nas portas das lojas. Desaparecem os adornos laterais, substituídos por molduras imitando pedras na arquivolta 68. Em número de quatro, as portas das entradas têm mais modificações. Perdem a flor estilizada que enfeitava o frontão 69 de cada uma, sendo mantido o arco em asa de cesto. Padronizadas, as arquivoltas recebem a mesma decoração das portas pequenas. No respaldo, o filete que havia logo abaixo das cornijas 70 é retirado, a platibanda tem os balaústres 71 substituídos por ameias em degraus e os elementos decorativos em forma de cálice são retirados. Sobrepondo a platibanda, acima de cada porta de acesso havia um enfeite, que é também removido. O baixo-relevo com a inscrição Mercado Público e a data da inauguração sobre a porta principal, considerada a fachada na lateral da Alfândega, desaparecem na reforma. A inscrição registrava a data de 1898, pois o Mercado teve sua inauguração marcada para o mês de dezembro desse ano, mas ela só ocorre em janeiro de Os cantos chanfrados 72 são mantidos apenas na rua Conselheiro Mafra, e os do vão central são reconstruídos salientes, em forma de torre, onde as escadas dão acesso às pontes que ligam as duas alas. Internamente, o número de lojas para o exterior é aumentado. Haviam sido construídas, em 1899, com as portas para a rua Conselheiro Mafra e apenas desse lado. Na reforma é que surgiram as lojas para o vão central. Completando, gradis de ferro e uma plataforma definem os espaços de cada comerciante. 68 Moldura que guarnece um arco. 69 Originalmente elemento estrutural, atualmente funciona mais como ornamento, adornando a parte superior de portas e janelas, ou a entrada social de uma construção. 70 Molduras (frisos) sobrepostas de modo a formar saliências na parte superior das paredes. 71 Coluneta de madeira, pedra ou metal que, regularmente distribuída, forma um corrimão ou peitoril. 72 Corte em ângulo (na maioria das vezes em 45 o ) que elimina os cantos vivos (90 o ).

93 93 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA A segunda ala, desafogada com a volta de vários comerciantes para o prédio da rua Conselheiro Mafra, depois da reinauguração, também recebe gradis de ferro, dividindo os quitandeiros em espaços maiores e demarcados. O conjunto arquitetônico do Mercado Público tem agora um novo trapiche, em alinhamento com a rua Deodoro, em concreto armado e cobertura. Na beira-mar, hoje avenida Paulo Fontes, existe uma rua estreita na lateral e sobre o muro de arrimo um parapeito com balaústres, onde uma escada bifurcada dá acesso ao mar e a uma grande mesa de alvenaria construída para servir aos limpadores de peixe. Com área de 4.150m 2, quase seis vezes maior que o edifício da Praça do Mercado, construído em 1851, sendo 2.865m 2 úteis para o comércio, finalmente Florianópolis tem um Mercado para atender às necessidades da população. A empreiteira recebe, durante 1931, dez parcelas pela reforma da primeira ala e mais alguns pagamentos extras. Cinco parcelas que foram localizadas somam 27:302$000 (27 contos e 302 mil réis). Em obras extras foram pagos mais 2:376$100 (2 contos, 376 mil e 100 réis). Segundo relatório assinado pelo tesoureiro, Leônidas de S. Medeiros, ao pagar a última parcela, em dezembro, a prefeitura possuía em caixa 18:624$840 (18 contos, 624 mil e 840 réis), e depositados no Banco do Brasil mais 70:000$000 (70 contos de réis). Outra curiosidade que passa despercebida aos comerciantes e freqüentadores é que as duas alas do Mercado não têm a mesma largura. A primeira possui 21m e a segunda 22,20m, mas com a mesma extensão, de 86m. Custo de vida A publicação dos preços praticados no varejo, verificada na edição de 7 de janeiro de 1932, no jornal República, traz à lembrança a tabela de preços do capítulo Balaio Velho com os valores dos gêneros alimentícios em 1851, comparados com 2001.

94 BALAIO NOVO 94 Acrescentando apenas os dados referentes a 1932, podemos acompanhar uma nova evolução dos preços. Equivalência do Custo A da Mercadoria (kg) por Hora Trabalhada (h) Mercadoria Em 1851 Em 1932 Em 2001 Réis Tempo B Réis Tempo H Real Tempo c Farinha de Mandioca 18 5 min min 1,20 33 min Feijão min min 2,80 77 min Goma D 3 29 min 1,00 28 min Fava min 5,00 2h18 min Amendoim com casca min 2,50 1h09 min Milho min min 0,50 14 min Batata Inglesa 32 9 min min 0,70 19 min Arroz pilado E min 1,00 28 min Café chumbado F min min 4,80 2h13 min Frango G min 2,50 1h09 min Ovos min 1,80 48 min Açúcar min 1,10 30 min A) Preços publicados na edição de 10 de janeiro de 1851 do jornal O Novo Iris. Atualizados em pesquisa nas feiras de Florianópolis, em 28 de dezembro de B) O salário de um professor primário, em 1851, importava, na média, em 33$280 (33 mil e 280 réis), ou 208 réis por hora. C) O correspondente salário de um professor primário, em 2001, é, na média, R$ 347,00, ou R$ 2,17 por hora. Dados da Secretaria de Estado da Educação e do Desporto de Santa Catarina. D) Fécula alimentícia que se extrai da mandioca. E) O arroz pilado, socado no pilão, era o equivalente ao arroz descascado. F) Depois de seco, o café era torrado e amassado no pilão. Alguns fornecedores ainda misturavam um pouco de açúcar mascavo, dando mais cor ao produto final. G) O frango era vendido vivo. H) Em 1932, um professor primário recebia de salário 420$000 (420 mil réis) por mês, ou 2$625 (2 mil e 625 réis) por hora. Os dois prédios funcionando, as pontes interligando as quatro torres, açougues, peixarias, quitandas, armazéns de secos e molhados, a Feira dos Colonos, lojas e cafés, agora o Mercado Público estaria concluído, exceto, novamente, pelo esquecimento dos oleiros. As louças de barro produzidas nas olarias da Ponta de Baixo, em São José, já eram famosas em Exportadas para Buenos Aires, Montevidéu e Rio de Janeiro, estavam novamente sendo relegadas

95 95 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA às intempéries. Sem local definido, seu comércio continua ao lado do Mercado, na rua Jerônimo Coelho, empilhadas no chão. A primeira ala agora tem o espaço interno reservado à Feira do Colono. Os agricultores vinham à cidade nas terças-feiras, madrugavam no Mercado e até as 12h de quarta-feira vendiam arroz, feijão, milho, galinhas vivas, queijos, salames e outros produtos caseiros. Época em que gente trabalhadora começa a escrever seu futuro. Seu Raulino abastece a carroça na Colônia Santana, São José, e depois de horas de estrada atravessa a ponte Hercílio Luz. Chega no dia anterior à feira, segue vendendo nos bairros Saco dos Limões e Trindade. Na praça XV de Novembro fornece carne para o Estrela Hotel, se hospedando ali. No dia seguinte, na Feira dos Colonos, negocia seus produtos. Seu Raulino e os filhos Paulo, Orlando, Walter e Antônio começam assim a delinear o Grupo Koerich. Quartos sem pensão Banhos quentes e frios Diárias de 4$000 a 5$000 (4 mil a 5 mil réis) Jornal Dia e Noite, em 18 de agosto de Anunciava o Estrela Hotel. Razoável a diária, pois, quase ao lado, o Restaurante Pérola, sofisticado, oferece refeições praticamente ao preço da diária: Menu do almoço de hoje 3$000 (3 mil réis). Sopa húngara, peixe ensopado à baiana, guisadinho à jardineira, assado à brasileira e banana a Rei Alberto. Sobremesa flan mirim, café ou chá. Jornal Dia e Noite, em 18 de agosto de O prefeito Mauro Ramos inicia a construção do frigorífico do Mercado Público, em Até então, o abastecimento de carne era diário, e as sobras jogadas ao lixo. O pescado, que se danificava mais facilmente, era encharcado com Creolina 73 e jogado no mar. 73 Nome comercial de desinfetante líquido, com base em sabão de resina e creosoto, com propriedades germicidas e anti-sépticas.

96 BALAIO NOVO 96 Mesmo com a necessidade do fechamento de algumas bancas de peixe e outras de carne para a concretização da obra, a importância para a saúde pública justifica a interferência. Assim era realizada uma antiga reivindicação dos comerciantes, que constava inclusive do edital para construção da segunda ala, em As lojas do Mercado começam a fazer história. Além de criarem uma valorização comercial para aquela área, anunciam: Relojoaria Royal Relógios de pulso, de bolso, despertadores para cima de mesa e balcão. Artigos para presentes. Taças para esportes. Vendas à vista e a longo prazo. Rua Conselheiro Mafra, edifício do Mercado, número 3. Jornal A Gazeta, em 18 de agosto de Casa das Novidades de Nicolau Buatim Recebeu variado e abundante sortimento de sedas, jogos de jersey e armarinho, bijuterias e brinquedos. Conselheiro Mafra, número 10, no Mercado Público. Jornal A Gazeta, em 18 de agosto de Salão Comercial Frutas geladas ou não, nacionais ou estrangeiras Cigarros e charutos, Mercado Público, 9 Jornal Dia e Noite, em 18 de agosto de Casa Veneza Calçados e chapéus Quereis calçado com gosto, elegância e economia? Procure a Casa Veneza de Francisco Evangelista e sobrinho Rua Conselheiro Mafra, números 1 e 2, esquina do Mercado Público. Jornal Diário da Tarde, em 17 de agosto de Ocupando a região onde se encontra hoje a Peixaria Milgon e a Pescados Silva, a câmara frigorífica comunitária do Mercado ficou conhecida como o Frigorífico Modelo. Assegurava, em 1940, a quali-

97 97 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA dade dos alimentos vendidos. Em suas três câmaras comportava 10 toneladas de peixe, cinco de carne e duas de verduras. Tinha também uma máquina para produção de gelo com 12 formas de 12,5kg. Especulação e o custo de vida ocupam as páginas do jornal: Os gêneros de primeira necessidade estão novamente em alta. Os ratos são os responsáveis, dizem os pombeiros. Subiram novamente os preços dos gêneros de primeira necessidade, alcançando alta exagerada na pauta da última feira do Mercado Público. O feijão chegou a 50$000 [50 mil réis o saco], a batata a 38$000 [38 mil réis o saco], e outros gêneros que estavam cotados por preços mais baixos tiveram alta imediata. Segundo nos afirmaram, os preços dos gêneros são feitos, também, sob condição prévia, antes de abrir o Mercado. Falamos com vários dos pombeiros e ambulantes, aos quais perguntávamos os motivos da alta. Responderam-nos que a grande quantidade de ratos que ultimamente apareceu, e de que deram notícia os jornais, foi a causa principal da alta. Em alguns paióis de gêneros, a invasão dos roedores chegou a assumir a violência de uma...kreg [sic]. [...] Várias centenas de sacas foram destruídas, perdendo-se os gêneros. Embora não tenhamos acreditado nas razões que nos foram dadas, nem por isso deixamos de fazer justiça à argúcia desses aproveitadores, que para se porem livres da lei da economia popular se prevalecem dos ratos, como influenciadores diretos na pauta de nossa feira. [...] É necessário que se faça saber a todos os interessados, que, por haver o governo extinguido a Comissão de Abastecimento, nem por isso deixou ao léu a defesa da economia nacional e, tanto assim é, que mantém no Rio o tribunal necessário para julgar os que tentam explorar a bolsa do público. Basta uma denúncia para aquele órgão, legítimo defensor dos direitos do povo, e os exploradores hão de sentir que

98 BALAIO NOVO 98 nem mesmo os ratos os salvarão. Jornal Diário da Tarde, em 23 de agosto de O feijão, há oito anos, em 1932, custava 20$000 (20 mil réis) o saco. Até 1940, tinha subido 250%, ou 31,2% ao ano. A batata aumentou 542%, ou 67,7% ao ano. A vida continua. Carlos Galhardo se apresenta nas salas do circuito cinematográfico Real. Na livraria Central, o Guia do Estado de SC, em primeira edição, com volume histórico e corográfico 74, custa 10$000 (10 mil réis). Pelos Correios, mais 1$000 (1 mil réis). Boas horas são marcadas no Mercado Público e nas páginas do Diário da Tarde sob o título: Relógio Luminoso O acreditado estabelecimento comercial Relojoaria Royal, sito à rua Conselheiro Mafra, edifício do Mercado, acaba de instalar em sua fachada um artístico relógio luminoso. [...] Jornal Diário da Tarde, em 18 de dezembro de Do varejo ao atacado Já corria mais rápido o tempo na década de 40. As distâncias estão menores com o avião e os ônibus intermunicipais aproximam populações distantes. O rádio nos Anos Dourados informa em instantes os acontecimentos mundiais. Uma das grandes mudanças é a extinção dos réis, a unidade monetária vigente. Getúlio Vargas, presidente do Brasil, assina o Decreto-lei Federal n o 4.791, que cria o cruzeiro, a nova moeda que vigora a partir de 1 o de novembro de Florianópolis cresce em direção ao Continente. A capital catarinense tem o menor território das capitais brasileiras, constatação que incomoda o interventor federal em Santa Catarina, Nereu Ramos. Sendo uma ilha, como aumentar sua área? A ponte Hercílio Luz já faz a ligação com o distrito de João Pessoa, município de São José, desde 1926, integrando a população e o comércio das duas cidades. 74 Relativo à corografia. Estudo ou descrição geográfica de um país, região, província ou município.

99 99 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Fato que leva a comissão criada a sugerir a reanexação. Nereu Ramos assina o Decreto-lei Estadual n o 941, de 31 de dezembro de 1943, incorporando João Pessoa a partir de 1 o de janeiro de Separada da Ilha desde 3 de janeiro de 1833, em conseqüência da criação do município de São José, esta área volta à cidade e readquire a denominação dos tempos coloniais: Estreito. Florianópolis, que possuía imóveis, agora tem A população sobe de para habitantes. Com a elevação repentina desse número, o Mercado passa por uma acomodação. Novos rumos são definidos, enquanto muitos negociantes começam a criar o fundamento para a história de seus estabelecimentos. O abundante sortimento de sedas, anunciado na imprensa, era o orgulho de Nicolau Buatim, fundador da Casa das Novidades, em 20 de outubro de Na primeira ala, fazendo frente para a rua Conselheiro Mafra, a loja ajudou a consolidar o comércio de tecidos na região. No toldo de lona, o nome grafado não deixa dúvidas. Nas mãos de Antônio Liberto Bernardo, atual proprietário, a antiga loja continua no ramo, adaptada aos novos tempos, vendendo confecção. De malinha na mão, cheia de botões, colchetes, elásticos, ele vai da vida de mascate ao próprio estabelecimento. A loja mais antiga, com o mesmo nome na fachada e pertencente à mesma família, resiste aos supermercados e lojas de departamentos. Quando se estabeleceu, em 25 de setembro de 1947, Gedeão Mansur continuou a vender armarinhos. Goteiras no telhado danificavam a mercadoria, então trocou de ramo, louças. Vendeu muita. Produto perecível, quebrava no transporte ou no manuseio. Quando chega o alumínio, é o primeiro a vender. Até então, as panelas eram de barro ou de ferro. A mercadoria vinha em engradados, embalada com palha. Era um Deus nos acuda aquela palha em dia de vento sul, recorda a filha Zenaide Mansur, que começou a trabalhar na loja em Hoje, entre panelas de marca e utensílios de cozinha, podemos ainda encontrar pombocas 75 e penicos esmaltados, o urinol, peças que muitos consideravam desaparecidas. Conhecido carinhosamente pelos amigos como seu Gedeão, o dono do bazar Mansur era também um grande contador de anedotas. 75 Tipo de lamparina feita de lata.

100 BALAIO NOVO 100 Hoje confinadas à Lagoa da Conceição, precariamente instaladas na Avenida das Rendeiras, uma homenagem prestada a elas, as rendeiras de Florianópolis tinham sua tradição melhor preservada antigamente. A renda de bilro ou de almofada, trazida pelos açorianos, era confeccionada por famílias no interior da Ilha desde o século 18. De tão importantes, hoje quase desaparecidas por falta de incentivo, levaram o prefeito Paulo Fontes a sancionar um decreto para beneficiálas, em A redação retrata bem sua importância: Decreto n o 7 O prefeito municipal de Florianópolis, no uso de suas atribuições, e tendo em vista o artigo 97 da lei número 12, de 16 de outubro de 1948, considerando que as rendas e os crivos confeccionados a mão constituem uma arte que merece o amparo do poder público; considerando que na Ilha e localidades circunvizinhas do Continente está localizado o maior número de rendeiras, que são pessoas de poucos recursos; considerando que a aquisição de rendas e similares tornou-se uma tradição e atrativo para os que visitam a capital; considerando que é necessário localizar a sua venda em ponto abrigado e confortável, decreta: Artigo 1 o - Fica criada a Feira das Rendas, que será localizada no prédio do Mercado Público, na parte fronteira à rua Conselheiro Mafra. Artigo 2 o - A feira terá caráter permanente, e na mesma só poderão ser vendidas rendas, crivos e trabalhos manuais similares. Artigo 3 o - O serviço de fiscalização será superintendido e executado pela Diretoria de Serviços Gerais. 1 o - Dentro de 90 dias serão baixadas instruções relati-vas à regulamentação da feira de que trata o presente decreto. Artigo 4 o - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação. Prefeitura Municipal, 11 de maio de Paulo Fontes, prefeito municipal

101 101 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Percival Callado Flores, secretário-geral Se o decreto não foi revogado, uma vez que a Feira terá caráter permanente, poderia ser reeditado, para que as rendeiras continuem a trançar suas rendas a declamar a antiga quadrinha 76 : O sereno desta noite Caiu na folha da palma O dia em que não te vejo Não faço renda com calma. Tinha acabado de dar baixa no Exército e, com 19 anos, junto com a mãe, começou a vender sementes. No primeiro dia, instalado em um armário no corredor transversal da segunda ala, vendeu apenas 1 cruzeiro. Chegou em casa chorando. O armário virou balcão, mais tarde duas portas. Hoje, quem nunca comprou semente, adubo, comida de passarinho ou cachorro na G.A. Carvalho? Fundada em 1 o de janeiro de 1953 por Gervásia de Andrade Carvalho e o filho Sérvio Túlio, a partir de 1956 ele recebe ajuda da esposa, Nezir Scheidt Carvalho. A semente era toda manual, a gente é que fazia tudo. A gente é que enchia [os saquinhos]. Agora tem muita agropecuária. As pessoas vêm aqui porque é de tradição, já conhecem. Naquela época, só tinha a Associação Rural, mais nada. Também aqui no meio passava carro. A gente estacionava na frente, recorda Nezir Carvalho. Pelos caminhos do destino, a loja fundada por mãe e filho, após a morte de Sérvio Túlio, voltou a ser de mãe e filho: Nezir Scheidt Carvalho e Fábio Túlio Carvalho, filho do casal. As casinhas No vão central, a confusão impera por volta de A pensão de Pedro Kowaslki, planejada em 1932 para ofertar pernoite aos colonos, tem sua clientela modificada. A freqüência de marginais, meretrizes, marinheiros e pessoas desempregadas transforma a região. O glamour do Mercado está desaparecendo. Barbearias, cafés, 76 Texto transcrito do livro Aspectos do Folclore Catarinense, de Doralécio Soares.

102 BALAIO NOVO 102 relojoarias perdem os melhores fregueses. Retratando a situação do Mercado, Carmelo Faraco, advogado e cronista, assina um artigo em A Gazeta. Mercado Público Municipal Se o amável leitor quiser acompanhar-nos mentalmente, iremos levá-lo a empreender um passeio maravilhoso. Visitaremos a anarquia (não confundir com autarquia) que se chama... Mercado Municipal. Começaremos no largo próximo à Alfândega. De início, o leitor verá o parapeito do cais completamente destruído. Anotemos. Os sanitários do prédio do Mercado são uma obra-prima do desmazelo, além de antiquados e antihigiênicos. Penetrando o Mercado adentro, devemos levar um lenço ao nariz, para evitar o mau cheiro. Nas bancas de peixe encontramos três câmaras frigoríficas. Apenas uma está funcionando a pau e corda. E isso há muito tempo. O resultado é que nessa única câmara colocam-se carnes, peixes, e, para completar, frutas e verduras. Almoço completo. Se o peixe fica impregnado de maçã ou carne, adquire sabor de bergamotas, não dá mal algum. Azar do comprador. Deixemos de lado os botequins e depósitos de lixo (que o mar, generosamente, limpa de quando em vez), ensaiemos novamente o calamitoso próprio municipal. A praia próxima é repelente, puro depósito de lixo. E que lixo... Continuemos nosso agradável passeio. Não nos preocupemos com as balanças, que há muito tempo não são aferidas. Para que? Finalizemos nossa jornada na rua Álvaro de Carvalho. Mais adiante não é possível. Todavia, ali, nas proximidades de um posto de gasolina, há ainda um grande depósito de esterco de cavalos. É o paraíso e o viveiro das moscas, baratas e mosqui-

103 103 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA tos. Não vamos fazer críticas. Os freqüentadores do Mercado sabem que não estamos desejando. O povo que julgue. Sim, apenas julgue, pois apelar ao leitor não adianta. O senhor prefeito está viajando. A cidade está entregue às baratas, como já uma vez nos declarou em plena Câmara Municipal o vereador Antônio Apóstolo, defensor destemido da anarquizada administração municipal. Há um recurso porém, amigo florianopolitano. Três de outubro 77 está próximo. Não se deve votar em troca de favores ou empregos, principalmente quando os favores são feitos com o dinheiro do povo e os empregos desnecessários dilapidam o erário público. Reclamar e votar a favor, não adianta muito. Ou será que nosso povo está anestesiado? Jornal A Gazeta em 16 de julho de A Feira dos Colonos não é suficiente para atender a população. Realizada nas quartas-feiras, oferecendo frutas, verduras, palmito 78 em tora e produtos da colônia, deixa as pessoas sem opção para os demais dias da semana. Aos poucos, quitandeiros e pombeiros vão se aglomerando, juntando-se aos caminhões e carroças, que também vendiam hortigranjeiros, criando uma improvisada feira livre do vão central, e se misturam ao tráfego da rua Francisco Tolentino. Novamente no mar está a solução. Na Praia do Vai-quem-quer 79, ao lado do Mercado, onde hoje estão localizados o Camelódromo e o terminal de ônibus, o prefeito ( ) Osmar Cunha construiu 15 casinhas para a exposição de frutas, verduras e legumes. Sobre o mar, de madeira e com apenas uma inclinação de telhado, as casinhas desafogaram em parte o vão central. Sempre espalhadas na calçada, debaixo de chuva e sol, as louças de barro conseguem um lugar protegido com a mudança da Associação 77 Eleições municipais, estaduais e federais. 78 Era vendido em toras, in natura. 79 A praia recebeu esse apelido popular pela grande quantidade de lixo acumulado.

104 BALAIO NOVO 104 Rural. Instalada agora na rua Francisco Tolentino, continua a oferecer os insumos agropecuários aos moradores da Ilha e Continente, liberando o pequeno galpão que ocupava, sobre o mar, em frente ao Mercado, na continuação da rua Jerônimo Coelho. Com a permissão da prefeitura, os oleiros se cotizam, ampliam o galpão e ali se abrigam. Hoje estão mais confortáveis, apesar de localizados fora do Mercado, no Largo da Alfândega. O mais antigo deles, Laudêncio Pereira, recorda: Existiam 14 olarias, 11 pescarias e quatro caieiras 80 de conchas, todas funcionando na Ponta de Baixo, em São José. Transportadas as loucinhas em baleeiras, para a Ilha, precisavase de três pessoas para carregar a embarcação. Uma trazia as peças da olaria, outra levava até o barco e a terceira arrumava as louças de barro por entre capim seco, evitando danificá-las. Alguidar, buião e moringas eram vendidos pelo Bidinho, Manoel de Matos e Francisco Valverde. O nome da mãe de Francisco era Amélia, e ele ficou conhecido como Chico Mélia. Conversando, Laudêncio esclarece que havia dois tipos de buião, o de passar o café, com um bico para servir, e o de talhar leite, sem bico. Vendia muito era o torrador, um tipo de alguidar com boca mais aberta, onde as pessoas torravam o grão de café. E dá uma dica: para usar uma panela de barro pela primeira vez, deixe cheia d água de um dia para o outro. As loucinhas de barro, sonho de toda menina na época, seu Laudêncio, com a experiência de 50 anos, alerta: isso foi criação do seu Zeferino. Ele era aleijado, andava com as mãos, se firmando. Fazia as loucinhas, pescava e vendia no Mercado. Não pedia esmolas, sempre foi um homem trabalhador. Vinha da Ponta de Baixo, de canoa, passava ali por Coqueiros, costeando, sem bater nas pedras. E o barco dele era a vela! Mas da pequena olaria, onde a família trabalhava, as peças mais bonitas quem fazia eram os filhos. A senhora dele fazia um cavalo com um homem montado, gramofone, uma porção de coisas, boi-de-mamão, pau-de-fita, orquestra de sapo, de macaco. Era um sucesso. Hoje, nossas louças e diversos artesanatos de barro voltaram ao 80 Local onde se calcina a casca de moluscos marinhos para a fabricação da cal.

105 105 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA lugar comum, e estão fora do Mercado Público. No largo da Alfândega, próximo à praça Fernando Machado, uma construção iniciada pelo prefeito Antônio Henrique Bulcão Vianna abriga oito oleiros, desde 1 o de maio de 1993, onde seu Laudêncio, aos 72 anos, atende no período da manhã e seu filho, Roberto Pereira, à tarde. Português dos ovos Para os moradores do interior da Ilha, o Mercado dos anos 50 continua sendo o principal ponto comercial. Apesar da dificuldade de transporte individual e coletivo, muitas comunidades vivem em função do comércio na região do Centro. A farinha de mandioca, o milho e o leite são levados ao Mercado, junto com feijão e hortaliças. Nos Ingleses, praia do norte da Ilha, o dinheiro de valor na temporada da tainha era o ovo de galinha. Os maridos embarcavam nas traineiras para cercar o peixe no Rio Grande do Sul, sem data para retorno. Com os filhos para criar, as compras nas vendas eram pagas pelas mulheres com ovos de galinha. Na véspera da Feira dos Colonos, o Português passava e arrematava os ovos, acomodando-os em um barril com serragem, na caçamba da caminhonete Ford. Em Ponta das Canas, algumas pessoas se recordam de seu Ximbica. Baixinho, de andar ligeiro, ia ao Mercado vender ovos com um cesto nas costas. A pé, ida e volta. O apelido ele ganhou por andar rápido, parecido com uma ximbica, o popular calhambeque. Dos anos 50, do Café do Comércio e do Bar do Joca, muitas lembranças continuam vivas. Chique, com mesas de mármore, era o melhor sanduíche e a melhor média, com bastante leite, em xícara, recorda o manezinho Décio Bortoluzzi. Delícias do Café do Comércio, funcionando com frente para a rua Conselheiro Mafra, próximo à Farmácia Esperança, de propriedade de Nilo Laus. Com as portas abertas, no vão central está o Bar do Joca. Grandes mesas coletivas cobertas com oleados 81 xadrez e farinha de mandioca acondicionada em garrafas de leite. Localizado onde funciona hoje o Armazém Vando, abria suas portas às 2h da manhã para atender aos feirantes que já ajeitavam seus tabuleiros. Pescadores e estivadores faziam reuniões em suas dependências. Na safra da 81 Lona ou pano impermeabilizado por uma camada de verniz.

106 BALAIO NOVO 106 tainha ou anchova, era comum se avistar caminhões com o barco na carroceria recrutando profissionais. A proximidade com o porto, cais Rita Maria, fez do Bar do Joca o ponto de encontro dos estivadores. O melhor local para selecionar os trabalhadores que iriam descarregar os navios atracados. Sempre com uma curiosidade ou simpatia a ditar, Nicanor Delfino Conti, o Nicanor dos Passarinhos, vende no interior da primeira ala gaiolas, passarinhos e alimentação para aves. Era a referência dos criadores. A paixão pela fauna era tanta que chegou a ter um minizoológico em sua residência da rua Almirante Lamego, onde criava um jacaré e pássaros exóticos. Mercado da Mauro Ramos Com uma tendência exclusivamente comercial, o Centro estava afastando os moradores para os bairros, sendo necessária a descentralização do abastecimento. O prefeito Osmar Cunha, em 1957, aprova a construção de mais dois mercados na capital, um na Ilha e outro no Estreito. A Lei n o 315 autoriza a abrir concorrência para a edificação do Mercado Público da Mauro Ramos, a ser construído em um terreno da prefeitura, situado no triângulo das avenidas Hercílio Luz e Mauro Ramos e rua Emílio Blum. O prédio tem projeto de Ivo Monteiro Martinez, sendo edificado pelo Consórcio Catarinense de Desenvolvimento S.A., e responsabilidade técnica de Jorge Ramalho Anachoreto. A imprensa noticia a inauguração: [...] A inauguração, sábado, do primeiro supermercado em Florianópolis, constituiu acontecimento de grande relevo, levando ao local autoridades dos três poderes estaduais, das guarnições militares, do clero, especialmente convidadas, representantes do povo e público em geral. A obra não só se destaca pelos grandes benefícios que trará aos moradores das avenidas Mauro Ramos, Hercílio Luz e ruas adjacentes, como também vale pela estética de suas linhas. A Prefeitura de Florianópolis e o Consórcio Catarinense de Desenvolvimento S.A. estão de parabéns, por terem pro-

107 107 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA porcionado a nossa cidade tão importante melhoramento. A construção do primeiro supermercado, iniciada na gestão do prefeito Osmar Cunha e cuja concessão foi dada ao Consórcio de Desenvolvimento Econômico S.A., que construiu no prazo razoável, foi concluída já com o senhor Dib Cherem à frente do governo municipal. A solenidade de sábado Após o senhor arcebispo metropolitano, dom Joaquim Domingues de Oliveira, ter feito a bênção do local, usou da palavra o senhor Oswaldo Machado, diretor-presidente do consórcio, que disse de sua satisfação por entregar à prefeitura e, conseqüentemente, à cidade, obra de tamanho vulto, que veio preencher a lacuna no progresso da capital. Ressaltou o apoio recebido do ex-prefeito Osmar Cunha e do atual, ambos prestando toda assistência aos trabalhos, para se desenvolverem. Finalmente, pôs à disposição do senhor Dib Cherem as chaves do magnífico supermercado. [...] Concluídos os atos da inauguração, o povo ali presente percorreu todas as dependências do belíssimo prédio, examinando detidamente suas instalações e informando-se de tudo que lhe atraía a curiosidade. Nele funcionarão, já se sabe por enquanto, farmácia, fiambreria, loja, etc, resolvendo o problema dos moradores da grande zona de Florianópolis, que já não precisarão locomover-se a grandes distâncias.[...] Jornal Diário da Tarde, em 27 de abril de Inaugurado em 25 de abril de 1959, um sábado, foi aberto para o público na segunda-feira. Dispunha de 34 boxes, 22 lojas e área de 2.847m 2. Acabou sendo um misto de mercado e rodoviária. As empresas de ônibus interestaduais e intermunicipais atendiam aos clientes em pequenas lojas, voltadas para a avenida Hercílio Luz, que vendiam passagens, serviam de sala de espera e guarda-volumes. Ônibus parados, a calçada servindo de plataforma e os passageiros embarcando, essa foi a rotina até que, em 7 de setembro de 1981, foi inaugurado o novo Terminal Rita Maria. Lanchonetes, uma banca de revistas e uma farmácia propiciavam

108 BALAIO NOVO 108 algum conforto aos viajantes. O comércio de alimentos era realizado no interior. Exceto a Fiambreira Koerich, que funcionava na parte externa, com frente para a avenida Hercílio Luz. No grande espaço central, em forma de triângulo, 34 boxes dividiam com tabuleiros a atenção da clientela. A história cruza o caminho dos mercados. A Feira dos Colonos é transferida para o supermercado da Mauro Ramos, liberando espaço no prédio da rua Conselheiro Mafra. Hoje, as lojas externas comercializam de acessórios para automóveis a produtos de 1,99. E o interior é usado como depósito. Um solitário comerciante garante ainda ao prédio um pouco do charme para o qual foi projetado. Quando as empresas de ônibus foram transferidas para o Terminal Rita Maria, seu Lelo montou uma quitanda na antiga loja da Empresa Santo Anjo da Guarda Ltda. Dois anos mais tarde, João Bernardino da Silva compra o estabelecimento. Quem não conheceu uma venda deste tipo, tem a chance de fazê-lo. Com a frente voltada para a avenida Hercílio Luz, na quitanda Silva podem ser compradas frutas em qualquer quantidade, uma maçã, uma laranja ou um pêssego, verduras também, um tomate, uma beterraba ou uma berinjela. Não, não é igual ao sacolão, os preços são diferenciados. Pesados um a um em uma balança, das antigas, com ponteiro e bandeja, têm o valor total da compra calculado em uma máquina de somar Facit, aquela de apenas quatro operações, bobina de papel e manivela. Atendendo a um público variado, dos lojistas do prédio a pessoas que param para comprar um talão de estacionamento de Zona Azul, Silva cresce seu faturamento com a venda de alguns produtos coloniais. Ovos, queijos, lingüiças penduradas ao lado de costelinhas defumadas para feijoada chamam a atenção do público. Ele não pensa em trocar de ramo, ou mesmo fechar sua quitanda. A grande lacuna deixada quando da desativação do Mercado Público da Mauro Ramos é preenchida por uma loja do Supermercados Imperatriz, em frente. Mercado do Estreito Se o Mercado da Mauro Ramos era denominado na imprensa da época o nosso supermercado, como poderíamos classificar o estabelecimento que o prefeito Osmar Cunha tinha planejado na Lei n o 315, de

109 109 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA 19 de setembro de 1957, a ser construído no bairro Estreito? O artigo 3 o da lei definia: A construção deverá obedecer aos princípios da moderna engenharia, da técnica e terá: a) um mínimo de 33 (trinta e três) boxes de dimensões não inferiores a 12 (doze) metros quadrados, destinados à exposição e venda de carne, lacticínios, peixes, aves, secos e molhados, cestos e artigos de manufatura regional, pássaros, bazares de tecidos, artigos de caça e pesca, varejo de especiarias, doces gelados e demais artigos normais do mercado; b) um mínimo de 66 (sessenta e seis) bancas para exposição e venda de verduras, legumes, flores, sementes, especiarias, etc; c) dependências próprias para instalação de farmácias, subagências de bancos, salões de barbeiros, bares, restaurantes, papelarias e livrarias, lojas de modas e comércio em geral, bem como escritórios de administração, posto de aferição de pesos e medidas, primeiros socorros, coleta postal e também instalação sanitária completa. O prefeito era um visionário. Se a obra imaginada tivesse sido construída com essas especificações, certamente teríamos em Florianópolis um shopping center por volta de 1962 que poucas capitais hoje possuem. O curioso dessa lei é que, editada em 19 de setembro de 1957, situava o terreno para a construção nas esquinas das ruas 24 de Maio e 3 de Maio, no Estreito, nomenclatura de logradouros que não existiam mais. A rua 24 de Maio, em 28 de agosto de 1955, já havia adquirido a denominação de Fúlvio Aducci, e a referida rua 3 de Maio passou a ser designada Heitor Blum em 15 de março de Corretamente localizado o empreendimento, no terreno onde funcionava o Matadouro Público, transferido em 27 de abril de 1959 para Campinas, seria edificado o Mercado do Estreito. A execução fica a cargo do Consórcio Catarinense de Desenvolvimento S.A., o mesmo que construiu o Mercado da Mauro Ramos. Após a demolição do prédio do Matadouro Municipal, começaram as obras.

110 BALAIO NOVO 110 No terreno de 3.536m 2 são construídos apenas 1.122m 2, distribuídos entre 31 boxes, dois sanitários, sala de administração e dois acessos ao vazio central, descoberto. Inauguração não houve, e sobre quando principiou o comércio as informações são desencontradas. Em algum momento do ano de 1962, com Oswaldo Machado no cargo de prefeito, as lojas abriram suas portas com o edifício inacabado. Hoje semi-abandonado, abriga 11 lojas e um comércio de frutas e verduras do sistema Direto do Campo em um galpão de madeira edificado no vazio central. Casa lotérica, um bar, lojas de presentes, de tintas, de produtos naturais e uma oficina de motos fazem o mix. Nicolau José Müller, o Alemão, é o proprietário mais antigo. Não comercializa nada, presta serviços. Conserta balanças, inclusive aquelas tipo relógio, do Mercado Público. Desde 1969 exerce o ofício, herdado do pai. Não lembra de qualquer festividade para abertura do Mercado e afirma não existir sequer placa comemorativa. Foi simplesmente aberto este Mercado. Lutando contra o progresso, arrumando balanças analógicas, com pratos e ponteiros, justifica sua escolha profissional: A balança é o símbolo da Justiça, certo? Então, o cliente não quer que roube. Quer o peso certo. O cliente não quer ser roubado. Eu aprendi assim. Pescador de Mercado Nem só casos obscuros povoam as histórias de Florianópolis nos anos 60, quando a população chega a habitantes. A qualidade dos produtos ofertados, a simpatia no atendimento e bons preços notabilizam a alguns. Apesar de instalados dez, 15 anos antes, da década de 60 é que vêem as melhores histórias do Mercado. Histórias de pescador não podem faltar na Ilha da Magia. Brincadeira comum era chegar em casa com um peixe embrulhado, embaixo do braço, e anunciar: Pesquei! Ói, ói, ó, só se foi no Mercado... Sempre alguém implicava com o pescador de paletó do centro da cidade. Mas a Casa do Pescador, no vão central, fornecia material de pesca para amadores e profissionais. Eu ainda tenho uma recordação da Casa do Pescador, um motorzinho de enrolar linha. Relembra Izair Campos, hoje no ramo, que comprava linha em metro na loja de Joa-

111 111 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA quim César de Oliveira. Falando de pescado, João Frederico de Souza, há 58 anos trabalhando no Mercado Público de Florianópolis, lembra da fartura que havia antigamente, a qualidade e o tamanho dos peixes. Meros de 100 e 200 quilos eram comuns, esses pequenos de hoje... isso é manjuba! Chegava muita pescada amarela, muita garoupa, miraguaia grande. A maior parte, quem comprava era o Altamiro Barbie, que tinha negócio aqui dentro do Mercado, onde hoje é o Box 32. Fornecia para o Exército e a Marinha. Mães e avós ainda lembram do Chico Escamador. Descia a escada lateral ao Mercado, e na mesa à beira-mar, com suas facas sempre afiadas, limpava os peixes. Tainhas, tainhotas, corvinas, escamava e ia colocando em uma caixinha. Era num piscar de olhos. Governava 82 40kg de peixes quase todo dia para o Bar do Joca. Escamar ou lonquear 83, Francisco Manuel da Rosa era mestre na arte. Aos domingos, o Mercado fechava. Os pescadores de fim de semana passavam para comprar isca, tatuíras 84 vendidas no balaio. Moradores compravam camarão na lata para o almoço de domingo. Fresquinhos, no balaio, eram vendidos pelos pescadores em frente à porta principal da segunda ala, no lado da Alfândega. Não tinham balanças e a medida era uma lata de azeite. Um litro, um quilo! Os mais espertos amassavam o fundo da lata ou a lateral, onde seguravam e exibiam aos olhos do freguês a lata cheia. Esse era o camarão da lata. Apesar das casinhas de frutas e verduras na praia da Francisco Tolentino, o vão central continua repleto de comerciantes, quando Acácio S.Thiago, prefeito ( ), faz uma nova intervenção. Procurando amenizar a situação, a Feira dos Colonos é transferida para o prédio da avenida Mauro Ramos. Alguns cerealistas que negociavam no vão central foram em parte remanejados para o interior da primeira ala, e também parte dos vendedores que negociavam nas casinhas. Solução paliativa, pois a grande quantidade de fornecedores não permite a recolocação de todos e a segunda ala não comporta mais 82 Limpar o peixe, escamar e eviscerar. 83 Retirar em tiras o couro de alguns peixes, como o cação. 84 Pequeno crustáceo que habita praias arenosas, fazendo escavações na areia; tem coloração branca e cerca de 3cm de comprimento.

112 BALAIO NOVO 112 negociantes. Está completa, com 25 tabuleiros, 12 açougues e três bancas de pão. As padarias eram poucas e nos bairros as galeotas 85 entregavam em domicílio. Localizadas na entrada do Mercado, pelo lado da Alfândega, havia duas vitrines de pães. Mas só na banca do Zezinho se comprava o saudoso pão de milho, caseiro, meio molhadinho. Aliás, a senhora que fazia aquele pão era da Enseada do Brito. Mas morava aqui em Capoeiras. Ela tinha uma panificadora assim, braçal, artesanal, e a especialidade era o pão de milho, que a gente cortava e ele era úmido por dentro. Era como comer pamonha. Era o tipo de uma pamonha. A gente colocava mel e um queijinho e aquilo penetrava no pão. As pessoas comiam tanto, que sempre saía um reforço [vendia mais], esclarece José Isaltino da Rosa, o Zezinho. E o pão do Ribeirão [da Ilha] que vinha num caminhão, com a lona sobre o caminhão, mas encaixotado, direitinho, saquinho transparente? Vinha em quantidade. Ele agüentava oito dias, sem química. Era feito na base da banha. O pão francês também era melhor que os próprios biscoitos da época. A banca do Zezinho funcionou por 33 anos, até 1988, quando não resistiu à concorrência das padarias. Mas Zezinho continua no Mercado. Está no box 36. A respeito da banca de pão que existia no corredor transversal, junto da Fiambreria Dona Clara, onde funciona hoje a lanchonete do Scotti, ele esclarece: o primeiro dono daquela banca foi o seu Joca. Um senhor que era tio da minha esposa. Ele fornecia pão naquela época, há uns 55, 60 anos. Eu era pequeninho e sei da história através da esposa dele. Fornecia para os três navios do Hoepcke, que eram o Anna, o Max e o Carl. Aqui no Mercado existiram oito bancas de pães, e isso antes de mim. Ao lado do posto de pão do Zezinho, quem também fornecia pães, doces, tranças e roscas de polvilho era Maria Ventania, na banca que herdou do pai, seu Canuto. Bananas recheadas, sonhos e balas queimadas também podiam ser compradas nas vitrines de pão. 85 Carroça com duas rodas e caixa com abertura onde se acondicionava os pães.

113 113 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Sabor na memória Baleeiras e outras embarcações aportavam na praia, trazendo todo tipo de mercadoria. Além de peixes, produtos agrícolas, louças de barro, também a cal produzida na Ponta de Baixo, São José, desembarcava na beira-mar. Até tijolos de barro da Palhoça. Estabelecidos na segunda ala, comerciantes entram para a história. Muitos têm reconhecimento popular na atualidade, relembrados e fazendo parte da tradição do Mercado. Morcilha, embutido à base de miúdos e sangue de porco, de origem alemã, a inesquecível tinha um endereço: Mercado Público, box 39, Armazém Dona Clara. Alemã, natural de Berlim, chegou à Ilha na década de 20, acompanhando o marido Kurt Ramtour. Com alguns réis no bolso, compraram um terreno no Estreito e começaram a produzir embutidos de forma artesanal, com o apoio da família. Primeiro foram as lingüiças de porco, que vendiam no Mercado em tabuleiros. No tempo que ele fez isso, não tinha a ponte. Então eles embarcavam numa canoa, onde era o Mayer antigamente [começo da rua Fúlvio Aducci]. Eles iam a pé, com os produtos até ali, embarcavam na lancha e atravessavam pra Ilha. Dia de vento sul virava tudo e perdiam tudo, relembra Tea Yolanda Ramtour Pinto Rosa, filha do casal. Desembarcavam na Praia de Fora (praça Esteves Júnior) e carregavam nas costas até o Mercado. Aos poucos, com muito trabalho, compraram um tabuleiro. Dona Clara, com três filhas, ficou responsável pelas vendas e seu Kurt encarregado da criação de suínos, galinhas e da produção. Do tabuleiro à gaiola assim era chamada a banca, fechada com um gradil e depois ao Armazém, dona Clara foi a primeira comerciante mulher do Mercado. O lugar era dominado pela presença masculina. Ela entrava em qualquer bar, acostumada a uma vida mais pra frente. Saía do Mercado, dava uma volta e do lado de cá [rua Conselheiro Mafra] tinha o seu Jorge. Era um negócio de café e doces. Então minha mãe ia tomar café lá. Ficava assim de homem espiando na porta. E minha mãe não andava de calça comprida. Ela andava de vestido, mas entrava em qualque lugar. Ninguém mexia com a minha mãe. Era dessas que, se alguém mexesse com ela, o que tivesse pela mão ela já dava na cabeça

114 BALAIO NOVO 114 do fulano. Às vezes se metiam a querer ser engraçadinhos, porque era mulher! Naquele tempo, de manhã cedo não se via uma mulher no Mercado. só se via homem. Com a chegada da 2 a Guerra Mundial, e a fábrica ampliada, produzindo morcilhas, presuntos, fiambres e banha, seu Kurt importou uma moderna máquina de moer carne. Produção crescendo, passaram a fornecer também para os navios, que faziam escalas na cidade. Produtos de qualidade. O inesquecível patê vermelho, molinho, para passar no pão, o branco, honesto, puro fígado de suíno, torresmos e presuntos cozidos. Iguarias que fizeram sucesso e tinham um cliente em especial, Nereu Ramos, interventor do Estado. Sempre que viajava ao Rio de Janeiro, levava muito fiambre e patê. E aquela morcilha? Eu nunca mais comi morcilha com pão. Às vezes eu vou a algum lugar e vejo aquela morcilha. De que é feita? Aí eu vou abrir e tem um cheiro... A morcilha do meu pai era ótima porque a tripa tem que ser muito bem lavada. Senão, dá mau cheiro. Ele usava muito o taiá 86. Moía com a carne e os temperos. Meu pai tinha um quintal só de temperos. Ele não queria que ninguém entrasse ali. O segredo ficou no quintal de temperos, recorda Tea Yolanda, com uma ponta de orgulho. E como empacotei manteiga! Minha mãe tinha manteiga de tina, de 50, 100 quilos. E nós fazíamos tudo pacotinho de 1 quilo, meio quilo, de 250 e de 100 gramas. Tudo era posto numas caixinhas, porque era mole a manteiga e ela ia pra geladeira, e quando endurecia retirava e botava naquele gradeadozinho. Ficavam todos os pacotinhos certos. Cansei de fazer isso. Comecei a trabalhar com 12 anos no Armazém Dona Clara. A rotina era dura. O Mercado abria às 4h da manhã, e às 5h já havia clientes. Mas entre as delícias acima vendiam também secos e molhados, queijos, geléias, chimias 87 e bolachas Cestari, Duchen e Aymoré. E, entre um pedaço de sabão Joinville e outro, vendiam também o sabão Lux, em caixa, especial para lavar roupa de seda. E para a higiene pessoal, sabonete Eucalol. Fiambreria bem montada, inclusive com geladeira. E no início 86 Planta originária da América tropical e muito cultivada como alimento, de folhas largas e cor azulada, e que, picadas e cozidas, servem como verdura. 87 Geléia preparada com frutas cozidas em açúcar.

115 115 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA dos anos 60 Kurt Ramtour, aos 63 anos, se aposenta. Como para encerrar as atividades no Mercado precisava pagar uma alta indenização aos empregados, transferiu o Armazém Dona Clara para seu funcionário mais antigo, que o acompanhava desde garoto, Werner Baron. No mesmo local, com os mesmos produtos e atendimento à clientela, o estabelecimento ficou conhecido pelo apelido do novo proprietário, Bubi. A Fiambreira do Bubi. Outra morcilha que deixou saudades no Mercado era a vendida por Nelson Spinoza. Elaborada em família, tinha um ingrediente a mais, a couve mineira cortada bem fininha, o que a deixava crocante. A lingüiça de porco, bem temperada, podia ser comprada junto com secos e molhados. Depois eles começaram a fazer carne seca. Eles mesmos faziam. O pai virava. De duas em duas horas tinha que virar, lembra Ana Maria Fernandes da Luz, proprietária do bazar Ana Spinoza, que hoje vende utensílios para cozinha, de panelas a formas de empadinha. Mas começou vendendo gêneros alimentícios. Bacalhau, carne seca, feijão, arroz, farinha. Tudo o que você imagina. Nós fornecíamos aos barcos de pesca. E tínhamos os balcões como eram os armazéns antigamente. Era secos e molhados, diz Ana Maria. Nossas mães lembram bem do trabalho de comprar uma galinha viva para o almoço de domingo. Não era tarefa fácil depenar e limpar a ave. Atenta às oportunidades e necessidades dos consumidores, a família Koerich fornece no Mercado os primeiros frangos limpos da cidade. Um luxo para a época. A fiambreria oferece também lingüiças, salames, queijos, charque, além do leite instantâneo Ninho, óleo Primor, manteiga Frigor e outros produtos fabricados. O mais antigo comerciante não gosta de falar sobre o assunto. Mas tradição não falta, é humildade. Aprendeu a trabalhar com a carne no primeiro açougue que foi instalado em Florianópolis fora do Mercado, o Açougue do Povo. Entrou no Mercado Público trabalhando como empregado até que, em 1944, Irineu do Livramento montou seu próprio estabelecimento. E trabalhou a vida inteira no ramo. Hoje, com 75 anos, ainda passa todos os dias no box 9, onde seu filho, Rogério, continua a manter a tradição familiar. Rogério começou aos 9 anos ajudando o pai. Aprendia os segredos para um bom corte na carne e colaborava na limpeza. Hoje, aos 47 anos, não pretende trocar de profissão. Saudosista e apaixonado

116 BALAIO NOVO 116 pelo Mercado, relembra: antigamente, o fiscal passava todo dia para conferir a qualidade da carne. Às 17h30min chegava o encarregado soando um sino. Era o aviso: vai fechar o Mercado. Meia hora depois as portas eram cerradas, as bancas continuavam abertas, não tinham portas, e as pessoas colocavam sacos de aniagem 88 sobre os produtos e pronto. Ninguém mexia! Hoje... Vai mais longe no tempo, recordando histórias da família. Meu bisavô era conhecido aqui como Antônio Surdo. Era avô da minha mãe, que casou com 12 anos. O nome dele era Antônio Xavier da Rosa. Ele não ouvia bem, mas trabalhava direto aqui. Trabalhou com o seu Nelson [Spinoza] e outros antes dele. Quando esses saíram, veio o seu Nelson e ele continuou. Chegava de madrugada, lidava com o boi, desossava, serrava na mão, e não tinha carteira assinada. Ganhava carne e deixavam limpar o mocotó pra ele vender. Meu bisavô é que ajudava a descarnar os bois, recorda Rogério Livramento. Chaira em punho e o vaivém da faca, demonstra que a habilidade nos cortes da carne bovina é de pai para filho. Ricardo Vidal, que há 30 anos chegou ao box 12, um dos três que pertenciam à família, está atento à preferência do consumidor e à temporada turística de Florianópolis. Hoje, os cortes são mais sofisticados. Tenho que acompanhar os muitos cortes de supermercado e também o turismo. Vem gente de outros países, de outros Estados, e cada um tem um corte diferente de carne. Então, tem que fazer conforme manda o figurino. Quando chega o verão, com a visita dos argentinos, eu tenho que trabalhar de acordo com o que eles estão acostumados. As vezes, só o nome é que muda. É acém ou lombo. O corte é o mesmo. Na costela é diferente. A gente corta o osso ao comprido, e os paulistas e os gaúchos cortam tipo uma ripa. Os ossinhos saem tudo assim ó [mostra com as mãos os pedaços pequenos]. Aqui em Florianópolis o osso saía inteiro e depois a gente serrava ele em pedacinhos. Tem mais, o corte que o gaúcho chama de tatu, o paulista chama lagarto. Pro argentino é peseto. Direto do abatedouro da Trindade, pertencente à família, a carne chegava ao Mercado por volta das 4h da manhã, e muitas vezes às 88 Pano grosseiro feito de juta ou outra fibra vegetal.

117 117 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA 6h já havia fila para comprar. Na década de 40, o produto só po-dia ser vendido até a 1h da tarde. Não havia refrigeração e os fiscais da Vigilância Sanitária confiscavam o excedente. Era assim no açougue de Osvaldo, pai de Ricardo, e no açougue de seu tio, Pedro Vidal. A tia, dona Corrucha, Agripina Vidal, trabalhou por quase 40 anos no Mercado, na fiambreria que possuía. A morcilha era uma maravilha, abatiam o porco à tarde, picavam os ingredientes, fechavam os embutidos e no outro dia de manhã vinham aqueles balaios de morcilhas, tudo pro Mercado, feito por ela, recorda Ricardo Vidal. Alimentos sempre tiveram a sua sazonalidade. Não somente em função do período de colheita, como também relacionados às festas, religiosas ou populares. Aqui não seria diferente. Na safra da tainha, da anchova, três unidades por preço de uma, na Semana Santa, um peixe pelo preço de três. Na safra da uva, quando o trânsito ainda corria no vão central, quem não lembra dos três ou quatro caminhões vendendo caixas de uva? E onde comprar a árvore de Natal? Em frente ao Mercado! Se podia escolher o tamanho dos pinheiros recém-cortados, tal era a quantidade em oferta. Tudo ao alcance dos fregueses, ou no vão central, ou em frente ao trapiche, na continuação da rua Deodoro. Apaixonado pela Ilha, Cláudio Alvim Barbosa 89, o Zininho, compôs Rancho de Amor à Ilha, vencendo o concurso municipal para escolha do hino oficial da cidade. A música foi adotada oficialmente em 8 de julho de 1968, e a cada versão, a cada vez que é entoada, aperta o coração dos manezinhos. Rancho de Amor à Ilha Um pedacinho de terra, perdido no mar!... Num pedacinho de terra, beleza sem par... Jamais a natureza reuniu tanta beleza jamais algum poeta teve tanto pra cantar! 89 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 178.

118 BALAIO NOVO 118 Num pedacinho de terra belezas sem par! Ilha da moça faceira, da velha rendeira tradicional Ilha da velha figueira onde em tarde fagueira vou ler meu jornal. Tua lagoa formosa ternura de rosas poema ao luar, cristal onde a lua vaidosa sestrosa, dengosa vem se espelhar... Mercado de Capoeiras A publicação no Diário Oficial da Lei n o 852, de 23 de novembro de 1967, autoriza o prefeito Acácio Garibaldi S.Thiago a edificar mais um Mercado Público. Dois lotes comprados na rua Campolino Alves, em Capoeiras, com área de 828m 2, pareciam ser o local ideal. Um simpático prédio, com 490m 2, parecia ser perfeito. Mas, segundo moradores, não funcionaram além de dois meses algumas poucas bancas de frutas e outras de verduras. Em março de 1970, a lei n o 947 permitia que fosse aberta uma licitação para arrendamento do prédio. Sem interessados, já foi cozinha da Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital), escritório do Projeto Bom Abrigo e, hoje, fevereiro de 2002, se encontra com as portas trancadas. Mercado da Trindade Procurando descentralizar o abastecimento, o prefeito anuncia mais um projeto. Cidade ganha novo Mercado na Trindade A Prefeitura Municipal vai construir mais um Mercado Público, no bairro da Trindade, cujo contrato será assinado

119 119 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA amanhã pelo prefeito Acácio S.Thiago e a firma Comasa, contratada para a execução da obra. De outra parte, já foram iniciadas as obras do Mercado de Capoeiras, cuja conclusão está prevista para fins de novembro. Terá uma área de 330m 2 para ter todas as condições de atendimento. O senhor Acácio S.Thiago esteve na tarde de ontem inspecionando a construção do Mercado de Capoeiras e foi informado pelos construtores que a obra será entregue no prazo previsto. Jornal O Estado, em 31 de julho de Para os moradores do bairro da Trindade, acostumados a fazerem suas compras no Mercado Público, foi um alívio. Foi a primeira vez que eu vi a mercadoria na frente dos olhos. Antes não podia pegar, estava sempre atrás do balcão. Quando não estava atrás do balcão, estava no alto. Era mercadinho, com frigorificozinho, tinha a carne ali exposta, Eu estava acostumada a ver trazerem a carne lá de trás. Tinha esse frigorificozinho e tinha mais um na entrada. No mercadinho era tudo assim, bonito. Nós chamávamos depois de pequena fiambreria, relembra Matilde Vieira, professora, moradora do bairro. Não funcionou mais que dois anos, com poucas opções de mercadorias e bem mais caro que o Mercado do Centro. Desde 1970, a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) utiliza o prédio, e há 22 anos funciona no local o NETI (Núcleo de Estudos da Terceira Idade). Mercado do Saco dos Limões O prefeito era um construtor de mercados. Dois dias depois de anunciar o Mercado da Trindade... Prefeitura anuncia para 1969 a construção de novo mercado Afirmando que no início do próximo ano espera começar as obras de um mercado público no Saco dos Limões, desde que, para tanto, os moradores daquele bairro colaborem com o empreendimento, o prefeito Acácio S.Thiago assinou na tarde de ontem [31 de julho] o contrato para a construção do Mercado da Trindade, para um prazo de construção de 150 dias. Jornal O Estado, em 2 de agosto de 1968.

120 BALAIO NOVO 120 Desta vez, o prefeito não tem culpa. Parece que os moradores daquele bairro não colaboraram com o empreendimento e o Mercado não saiu do papel. Noventa milhões em ação... E a seleção brasileira foi tricampeã no México, em Passeatas, festas, escolas de samba, e a alegria tomou conta dos habitantes da cidade, que já eram Nesse momento, Aldo Brito, que tinha uma fábrica de camisetas e uniforme escolar, abre o Bazar Brito, no Mercado Público. Aproveitando a boa fase do futebol brasileiro, se especializou em jogos de uniformes para times de futebol. Vendi muito para políticos. Eram 100, 200 jogos de camisas na véspera de eleição. No tempo que o Amin começou a carreira, comprava muito aqui, o Colombo Salles, o Bulcão Vianna. A clientela era grande e só havia eu aqui no Mercado. Hoje, ele não fabrica mais. Revende e ampliou as ofertas na loja. Tem toalhas, camisetas, calções, meias, jogos completos dos principais times de futebol. As camisetas preferidas são as do Flamengo e Vasco. Antigamente, por uma questão de identificação, vendia muito bem as do Santos Futebol Clube. É que a pesca ligava as duas cidades, Florianópolis e Santos (SP) desde o tempo de colônia, mas o centro pesqueiro catarinense foi transferido para Itajaí. Avaí ou Figueirense? Com um sorriso nos lábios, Brito desconversa. Se o time vai bem, vende qualquer uma. Mas, comerciante atento, adotou um marketing próprio. Hasteia uma bandeira de cada time na porta do estabelecimento. Na falta de animação das torcidas, fica neutro e, na dúvida, sobe a bandeira do Brasil. Na cidade circulava a lista da Cadep (Campanha em Defesa da Economia Popular), que unia consumidores, empresários e o governo em prol da economia doméstica. Nos meios de comunicação veiculavam uma relação com vários produtos e onde podiam ser encontrados com o menor preço. Participavam alguns comerciantes do Mercado Castilho Manoel dos Santos, secos e molhados, Orlando Elpo, atacadista e varejista de arroz, Vanderlei Manoel Amaro e Manoel Amaro, do Armazém Vando, também secos e molhados, e, finalizando, K. Miyahara, comercializando verduras e legumes. Este é uma País que vai pra frente...

121 121 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Anunciavam os cantores Don e Ravel. Os Incríveis declaravam seu amor. Eu te amo meu Brasil, eu te amo... A euforia havia tomado conta dos brasileiros. Florianópolis entra no embalo e comemora o fim das longas filas nas cabeceiras da ponte Hercílio Luz, que não suportava o imenso tráfego. Colombo Salles, governador ( ), dá início à construção da segunda ponte. Há mais de um século a solução encontrada era conhecida, e mais uma vez vão aterrar o mar. Desta vez, também destroem mais dois belos patrimônios públicos, a Ilha do Carvão e seu castelinho. Orlando Elpo, um dos últimos grandes atacadistas se aposenta. Vende o ponto para Jaime Costa. Comerciante desde 1961, quando tinha uma venda no bairro Saco Grande e uma clientela de 70 cadernetas, Jaime recorda: o comerciante aceitava [como pagamento] tudo porque revendia depois. Tem uns irmãos meus que compravam muitos ovos até pra lá [nos Ingleses]. Eles iam a cavalo nas casas comprar ovos, galinha, farinha. Naquela época, o pessoal trabalhava na lavoura. E faziam um pouquinho a mais e vendiam. Inicialmente, continuou no ramo de cereais, arroz, farinha, feijão, vendendo no atacado e varejo, em Aos poucos foi trocando a linha de produtos e o estabelecimento recebeu nova denominação, Armazém Costa. Foi se especializando em miudezas até se transformar na Casa Costa. Felizmente, me dei bem. Sempre tive um movimento muito bom ali. Muito afreguesado o meu ponto. Eu procurava sempre comprar mais em conta. Comprava sempre à vista. Quem compra tudo à vista sempre tem maior facilidade, de comprar mais em conta e vender mais em conta. E eu gostei muito, porque naquela época eu trabalhava com o pessoal de Criciúma a Itajaí. Tinha sempre novidades. No fim, eu me dediquei mais a embalagens plásticas e papéis. Praticamente eu fui o rei do papel ali. Após problemas de saúde, um infarto, em 1983 passou o ponto. Mas quem trabalhou a vida inteira não pode parar. Aos 73 anos, Jaime Costa dá expediente na empresa do filho, a agência publicitária Propague, de Roberto Costa. Para não ficar parado em casa, completa. Grandes transformações acontecem em Florianópolis. Tubulões despejam toneladas de areia a partir da Prainha, em direção à Rita Maria. O aterro chega ao Mercado em novembro de 1973, afastando

122 BALAIO NOVO 122 para sempre as embarcações, os pescadores e o mar. Devagar andava a remodelação do frigorífico do Mercado Público. Construído em 1939, teve uma reforma em 1956 e outra em Ficou conhecido como Frigorífico Modelo. Mas a falta de manutenção tinha paralisado há seis meses a conservação de 100 toneladas de peixes, carnes e verduras. Reformadas, as três câmaras diminuíram as reclamações dos clientes em dezembro de Muitos fregueses do Mercado queixavam-se também que alguns alimentos ficavam com cheiro de outros, conseqüência da forma como as caixas de diversos produtos eram empilhadas. [...] Depois da reforma, os alimentos somente poderão ser guardados em caixas de plástico, mais higiênicas e resistentes, ao contrário das de madeira, que acumulam sujeiras e restos de diferentes alimentos. Informa o jornal O Estado na edição de 15 de setembro de E o inesquecível Miramar é demolido no mês de outubro de 1974, na gestão de Nilton Severo da Costa, prefeito ( ) nomeado durante a ditadura militar. A empresa Western Telegrafh Cable Company, que operava o cabo submarino, na esquina das ruas Tiradentes e Nunes Machado, estava sendo desativada. O arquiteto Paulo Roberto Rocha, diretor da Divisão de Planejamento da Prefeitura, passando por ali, solicita a doação do antigo relógio exposto na fachada. Após alguns estudos e a construção de uma plataforma, o relógio foi instalado no Mercado nos últimos dias do mês de abril de A inscrição na lateral da caixa nos remete à Inglaterra do início do século 20, onde se lê: feito por Gillette e Johnston. E se observa a data de Foram momentos de dificuldades para os comerciantes. A população, se distanciando do Centro, ultrapassava os limites do município. Bairros limítrofes de São José já abrigavam parte das pessoas que trabalhavam e estudavam em Florianópolis. Continua a descentralização comercial quando surgem os novos centros de abastecimento, os supermercados. Nova onda de decadência se eleva sobre o Mercado Público. A utopia do Milagre Econômico começava a dar sinais de fracasso, a inflação, o desemprego, principalmente na construção civil. Surge o trabalho informal. No largo entre o Mercado e a Alfândega aparecem os primeiros camelôs, por volta de Vendem principalmente

123 123 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA pequenos produtos nacionais, espelhinhos, pentes e escovas, muitos artigos de armarinho. Dentro, na ala da rua Conselheiro Mafra, as bancas de frutas ficam sem clientela, sufocadas pela concorrência dos supermercados. Em frente, os camelôs vendem, e bem, suas bugigangas. Aos poucos, os comerciantes do Mercado vão trocando as frutas, primeiro por armarinhos e depois para sandálias e calçados. Ninguém sabe ao certo quem começou ou quando. Uma atitude impulsionada pela necessidade de sobrevivência. Foi nesse tempo que seu Vando, Vanderlei Manoel Amaro, que trabalhava com produtos agrícolas desde 1940, quando vendia batata e cebola na calçada do vão central, passou por dificuldades. Não com os clientes, mas com a concorrência 90. Atencioso, com produtos de qualidade e preço bom, tinha seu box sempre bem freqüentado. Com o fim do comércio de gêneros alimentícios na ala, se transferiu para um local mais amplo, no vão central. O Armazém Vando, box 16, com a gerência de seu filho, Elson Ricardo Amaro, continua a vender secos e molhados, sacos de papel, barbantes, rolhas de cortiça e embalagens. Ainda é um armazém. Mário Valgas vende sapatos, mas não deixa de ter orgulho de seu passado de trabalhador. Entre um cliente e outro, sempre atencioso, lembra do tempo que saía de casa para pegar pão. Acordava às 2h, ajeitava os estribos do cavalo, subia na galeota e partia rumo à padaria. Morava no Saco Grande, vendia pão de porta em porta até a barra do Sambaqui. E depois? Eu vendia verdura naqueles balainhos, não sei se tu te lembra, naqueles pauzinhos, curto assim, nas costas, com os balaios pendurados, gritando: Olha a laranja, olha a banana, olha o tomate! Em 1954, eu já andava vendendo com meu pai. Vendia verduras e legumes de manhã e de tarde vendia frutas. Nós vínhamos aqui e comprávamos caixas de uva. Comprava aquele saquinho de papel baixinho, enchia de uva e vendia nos pontos de táxi. Também aquelas pêras-ferro, pêra d água. Vendia nos pontos onde tinha aquelas senhoras que lavavam roupa pra fora. Tinha ônibus só pra carregar as lavadeiras. A gente sentava em cima das trouxas e elas ficavam doidas! 90 Ver Balaio de Siri, pág. 168.

124 BALAIO NOVO 124 O ponto de ônibus da Trindadense era ao lado do Teatro Álvaro de Carvalho, e fazia a linha para o Itacorubi, tradicional bairro de lavadeiras. Elas buscavam as trouxas nas casas e devolviam na semana seguinte, bem lavadas, passadas e muitas vezes engomadas. Box 39, sempre no 39, como Mário gosta de frisar, vendia frutas. Também não agüentou o movimento dos camelôs e a chegada dos supermercados. Primeiro o Pão de Açúcar, depois o Riachuelo, o Im-peratriz e aí veio o Angeloni pra matar tudo. Antes, os caminhões paravam aqui, nós comprávamos no atacado e botávamos nas bancas pra vender. Era uma correria, não é? Porque não tinha supermercado. Só tinha as feiras uma vez por semana. Hoje é quase todo dia. Em pé, atrás do pequeno balcão, continua a ser manezinho autêntico, dos poucos que ainda habitam o Mercado. Mário atende aos clientes com o jeito carinhoso dos ilhéus, sempre conversando e usando o diminutivos nas palavras. A mudança de frutas, verduras e cereais foi lenta e gradual. Alguns tentaram manter a tradição e insistiram com comércio de palha e vime, mas não resistiram. Apaixonada por artesanato, a nora de Nicanor dos Passarinhos assumiu o box quando ele se aposentou. No começo, há 21 anos, vendia gaiolas e alimentação para aves. Não gostava muito, não gosto de ver pássaro preso, eu morro de pena, diz Orivalda Florindo Conti. Aos poucos, foi adquirindo artesanatos, cestos, esteiras, lembranças e presentes, e ficou sendo a única lojista a vendê-los, depois que seu Cachoeira, já falecido, fechou seu box. Na Pau e Palha, entre esteiras,orivalda explica a diferença entre uma e outra. Tem aquela de taboa e a de junco, que é feita lá na Pinheira. É uma coisa que daqui a pouco vai ficar extinta porque, onde o pessoal colhe, já estão aterrando e o pessoal tá ficando sem a matéria-prima. Esteiras de taboa ou piri, antigamente eles usavam pra botar debaixo do colchão. Pra não passar friagem. Diziam que era bom. Hoje eles usam pra barraca, quando acampam, fazem forração também, forram o teto, serve pra forrar móveis, fazem painel. O junco é a designação de várias plantas que nascem nos alagadiços, finas e flexíveis. De suas hastes são confeccionadas aquelas esteiras fininhas, usadas para a praia e muitas vezes como cortina. Eu recebo pequeninha pra fazer jogo americano. São peças rústicas.

125 125 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Balaios estão desaparecendo com a devastação da Ilha e arredores. Sem mata, sem cipó, sem balaio. Tão tradicionais que deram origem ao dito popular mofas com a pomba na balaia 91. Resposta de desdém do autêntico manezinho quando o preço do produto ofertado é exorbitante. O arame tomou o lugar dos filetes de bambu e as boas peneiras sumiram. Bilboquê, pião e carrinhos de madeira ainda existem à venda no Mercado Público; quase desapareceram, junto com bonecas e bruxinhas de pano. Hoje as crianças só querem eletrônicos, afirma a lojista. Mercado da Coloninha Inaugurado em 1978, funcionou no primeiro momento como entreposto da Ceasa (Centrais de Abastecimento S.A.), ficando conhecido como Ceasinha. Aos sábados, a feira livre no pátio atendia aos moradores vendendo no varejo. Com a saída da Ceasinha, a Secretaria do Continente instalou-se no mezanino do prédio desde junho de 1990, quando o edifício passou pela primeira reforma, sendo a segunda realizada em Nesse ano, a Secretaria ganhou a palavra regional, se transformando em Secretaria Regional do Continente. Apesar da boa localização e um grande público consumidor no entorno, o Mercado da Coloninha, oficialmente Centro de Abastecimento Oswaldo Machado, funciona com a metade da capacidade. O prédio, com aproximadamente 570m 2, tem 37 boxes, rampas de acesso para caminhões e pátio de estacionamento no pavimento térreo. Duas lanchonetes, um restaurante, uma peixaria e algumas bancas de frutas e verduras ocupam 19 boxes. Reformados desde 1997, os outros 18 boxes se encontram fechados, à espera de licitação. Abandono e a Associação No início dos anos 80, o Mercado Público de Florianópolis entra mais uma vez numa trajetória de decadência. Abandonado, sem manutenção e o comércio sem condições de competir com os supermercados, o declínio total é uma questão de tempo. 91 O mesmo que balaio.

126 BALAIO NOVO 126 Na tentativa de melhorar a situação, os comerciantes fundam a Acovemapuf (Associação dos Comerciantes e Varejistas do Mercado Público de Florianópolis), em 30 de julho de Oreste Mello, proprietário na época de dois estabelecimentos, a Casa Universal e a Casa Nacional, foi eleito primeiro presidente. Nessa época, até o relógio havia parado. Apaixonado por ele e pelo Mercado, Oreste Mello conta: Fiquei trabalhando nele e depois de oito horas consegui fazer funcionar. Ninguém gastou nada e tá funcionando até hoje. A única coisa que ele come muito é o óleo Singer, que eu boto na máquina pra azeitar. O resto é o tic-tac perfeito e ainda mantendo a hora certa desde Uma vez, recebi uma carta de um casal de turistas da Holanda, a quem havia mostrado o relógio, e dentro tinha o seguinte: uma carta do presidente da Gillette e Johnston, que ainda fabrica sinos e relógios para o mundo inteiro. Ele contava, em inglês, que houve uma paralisação durante a Segunda Guerra Mundial, mas que depois voltaram a fabricar sinos e relógios. E o que mais me empolgou foi o Livro Razão, a folha do livro que eles mandaram em cópia xerox, datada de 11 de junho de 1911, quando os relógios saíram pro Brasil. Vieram três relógios: um para o Rio de Janeiro, um para Buenos Aires e um para Florianópolis. E o relógio continua aqui, prestando uma informação, que é a hora certa a toda a nossa população. Muita gente chega embaixo dele e acerta o seu relógio. Apesar da situação de abandono que passava o Mercado, Roberto Henrique Barreiros Silva resolve acreditar no conselho de seu avô, o político catarinense Barreiros Filho, que sugeria: sempre que viajar, o primeiro lugar que você deve visitar são os mercados. Dentro deles você sempre vai encontrar representantes de todos os segmentos da sociedade local. Beto conclui: fiquei com isso na cabeça. Quando foi pra montar um negócio, não tive dúvidas, escolhi o Mercado. Aberto em 3 de março de 1984, o Box 32 tornou-se o point da cidade. Atravessando os limites do Estado e invadindo os países vizinhos, sua fama se deve, sem dúvida, à eclética clientela e cardápio. Orgulhoso de seu estabelecimento, que oferece mais de 800 variedades de bebidas e diversos pratos sofisticados e da culinária ilhoa, explica as preferências gastronômicas dos habitués: O nosso campeão é o pastel de camarão, que contém em seu recheio

127 127 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA 100 gramas de camarão. Alguns jornalistas chegam aqui e dizem ah, quero provar. Espera que eu vou pesar. Você vai pesar e ver que tem 110, 120 gramas, por causa da massa. Os 100 gramas de recheio eu garanto. Ele é seguido pelo bolinho de bacalhau, e depois nós temos as ostras. Ostras vivas, criadas aqui na Ilha do Papagaio. Desde o início só temos delas. E muitos derivados do camarão, que é trabalhado de várias formas: natural, ao bafo, milanesa, casadinhos, grelhados, enfim. Temos um trabalho muito grande com o camarão que é também o prato predileto dos turistas. O Box tem pratos pra todo mundo. A gente tem desde um pastel, um bolinho de bacalhau, até o escargô, e o presunto espanhol Pata Negra. Mas, o atendimento que deixa o cliente à vontade diferencia o Box 32 de outros locais, sendo enfatizado pelo proprietário: É um lugar onde você não é obrigado a nada. Eu costumo resumir dizendo o seguinte: o Box é mais ou menos a geladeira dos sonhos da sua casa. Aqui você não tem obrigatoriedade de nada. Se você quer um quarto de uma porção, a gente faz pra você. Então é como na sua casa, que você abre um queijo e não tem que comer ele todo. Se você quiser uma taça de champagne, uma taça de vinho, ou meia taça, um quarto, nós fazemos o impossível para servir. Entre troféus e prêmios, fotos de figuras ilustres disputam a atenção no Box 32. Astor Piazzola, Fernando Henrique Cardoso, Juarez Machado, Jamelão, Adriana Calcanhoto, Luís Fernando Veríssimo, Brizola, Juca Chaves. Como recordação, se pode adquirir uma garrafa da cachaça Box 32, envelhecida em tonel de carvalho e engarrafada com exclusividade por um alambique de Luís Alves. Polêmicos, o Box 32 e seu proprietário Beto Barreiros, sem agradar a todos, são alvo de críticas e elogios. Aplausos, ganhou da Escola de Samba Quilombo, no Carnaval de 1989, que apresentou na avenida o samba-enredo Apoteose do Box 32. Discussões à parte, o fato de investir capital em um imóvel em degradação e lutar pela conservação e restauração do Mercado não deixa dúvidas. Atitudes incomodam. Freqüentadora assídua Se alguém perguntar quem mais freqüentou o Mercado, a lista de nomes deve chegar à ponte Hercílio Luz. Fulano, Beltrano, esse ou aquele político, suposições. Se alguém falar Tita, pode acreditar.

128 BALAIO NOVO 128 Folclórica na cidade, suas histórias se relacionam com o Mercado Público pela alegria e carinho que os lojistas tinham para com ela. E Tita diariamente ali passava, ou para pedir algum trocado, ou para brincar, ou mesmo xingar algum desafeto. Negra, com data de nascimento incerta e seu 1,15m de altura, deixou um vazio na rotina do Mercado com sua morte. Viveu seus últimos anos da bondade dos comerciantes, que sempre lhe ofereciam algum alimento. Entre um sorriso ou palavrão, quem poderia esquecer aquela que, de saias justas, geralmente na cor branca, com sua peruca loura, passava no Mercado a caminho da Gafieira do Laudelino, ou outro local para dançar. A melhor história da mascote do Mercado não se refere ao local, e sim à cidade. Desde nova na vida, sempre carregando uma fileira de filhos, um dia, sentada na escadaria da Catedral, foi abordada por uma senhora da sociedade. Tita, tantos filhos para criar, eu tenho mais condições e você poderia deixar eu criar uma dessas crianças sugeriu a socialite. Que ouviu de Tita: Quer ter filho, quer ter filho, vai dar a pomba 92 como eu di! Coisas de Zelita da Silva, a nossa Nêga Tita. Quem marcou seu tempo no Mercado foi o Juca do Lloyd, José do Valle Pereira. Adquiriu o apelido por trabalhar na Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro. Quando não estava a bordo, ou no escritório, chegava às 5h da manhã. Abria o Mercado! Contam que muitas vezes ele ia de pijama, tal era a paixão pelo local. Outra personagem foi Antônio Salum. Chegava de madrugada e também abria o Mercado. Por esse motivo ganhou o apelido de Coruja. Ele chegava aqui e dava cocadinha pra um, bananinha recheada pra outro. Sempre vinha com uma pilha de notas de baixo valor em dinheiro pra dar pra todo mundo aqui, pra pobreza, relembra Oreste Mello. Patrimônio preservado? Nos bastidores, o Mercado estava sendo negociado com a maior rede de supermercados do Brasil. Na ocasião em que se discutia seu destino, alguém comentou que o prédio não estava tombado. 92 Vulva.

129 129 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Redigido às pressas e aprovado com urgência, o decreto permitiu, como poucas vezes aconteceu na cidade, a preservação de um patrimônio público pertencente ou destinado ao povo, à coletividade conforme o dicionário Aurélio. O conjunto arquitetônico, cartão-postal da cidade, foi salvo da especulação imobiliária em 20 de março de O decreto municipal n o 35, de autoria do vereador D.J. Machado, tombou o Mercado Público da rua Conselheiro Mafra. Os outros três mercados, da Mauro Ramos, do Estreito e da Coloninha (Centro de Abastecimento Oswaldo Machado), cotinuam relegados ao esquecimento. Relembrando, o da Trindade e o de Capoeiras foram fechados. As atitudes concretas começaram com o fechamento do vão central ao trânsito de veículos. Porque todo o trânsito da [rua] Jerônimo Coelho e da [rua] Francisco Tolentino era feito por aqui. Aí eu me aborreci com aquilo, falei com o Cláudio Ávila da Silva [prefeito na época] e ele disse: Pode fechar. Não vi nada! Na segunda-feira eu vim aqui, coloquei seis tubos neste lado e seis no lado de lá e aí foi um bafafá tremendo, conta Oreste Mello. Medida que foi aprovada mais tarde em conjunto com a Prefeitura Municipal, Detran e Associação de Comerciantes e Varejistas do Mercado Público de Florianópolis. Época em que se cria também o Troféu Amigo do Mercado Público. Visando a agraciar os colaboradores, sem vulgarizar ou ser político, apenas 26 pessoas foram homenageadas até Com o prédio do Mercado Público tombado, o governador ( ) Esperidião Amin, através da Fundação Catarinense de Cultura, assina um convênio com a Prefeitura Municipal para sua restauração. Em 16 de outubro de 1984, com as obras em andamento, entrega ao prefeito ( ) Cláudio Ávila da Silva a primeira parcela de Cr$ 20,7 milhões 93 (US$ 8.452) 94, dos Cr$ 145 milhões (US$ ) previstos para a obra. 93 Cruzeiro. Denominação da moeda brasileira entre 31 de março de 1970 e 27 de fevereiro de Após dez reformas monetárias fica difícil avaliar o poder aquisitivo da moeda. Para melhor entendimento, os valores foram convertidos em dólar.

130 BALAIO NOVO 130 Uma briga entre a empreiteira da obra e o prefeito (1985) Aloísio Piazza deixa a restauração parada. O Estado noticiava: A restauração do prédio do Mercado Público está parada já há 25 dias e não se sabe quando vai continuar. Tablados e andaimes inúteis depõem contra o aspecto do edifício que até agora de melhoria só recebeu o telhado novo da fachada para a avenida Paulo Fontes, e mesmo assim aproveitando-se telhas velhas. Mistério O prefeito Aloísio Piazza diz que a empreiteira recebeu o pagamento, e a mesma afirma que não. As obras estão paralisadas e ainda faltam ORTNs 95 [US$ 8.732], que deverão ser repassadas para o término da construção. Jornal O Estado, em 11 de outubro de Foram quatro anos até concluir a restauração. Em ritmo lento, quase parando. Finalmente, na administração municipal ( ) de Edison Andrino a obra foi acelerada a partir de 16 de abril de 1988, com um custo estimado de Cz$ 58 milhões 96 (US$ ). Prevista para 150 dias, atrasos causados por embargos na Justiça, solicitados por antigos comerciantes de peixe que não concordavam com o projeto de restauração, fizeram com que a conclusão acontecesse em 240 dias. A reinauguração ocorreu em 16 de dezembro de 1988, apesar da placa comemorativa indicar 12 de novembro. Foi a grande reforma geral do conjunto arquitetônico em 56 anos. A primeira ala já havia sido reformada em Desta vez foram recuperados os telhados, madeiramento e telhas e as torres voltaram a ter cobertura, conforme projeto original. Reboco, pintura, piso interno e sanitários completavam a parte estrutural. Instalações elétricas, telefônica e de prevenção de incêndio foram refeitas e atualizadas. Recuperação de esquadrias e grades de ferro finalizaram a restauração, que custou ao município Cz$ 100 milhões (US$ ), 27,5% a mais que o previsto. Ficando o custo total da restauração, desde 1984, em Cz$ 270 milhões (US$ ). 95 Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional. 96 Cruzado. Moeda vigente de 28 de fevereiro de 1986 a 15 de janeiro de 1989.

131 131 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA A ponte em frente à Alfândega foi ocupada pela Fundação Franklin Cascaes, e a da rua Jerônimo Coelho pela administração do Mercado e o Núcleo de Transportes. Incêndio Durante a restauração, um incêndio ocorrido em 6 de junho de 1988, uma segunda-feira, às 4h30min, ocasionado por um vazamento de gás próximo à fiação elétrica, destruiu parcialmente nove lojas. Sem feridos, os prejuízos materiais na estrutura do prédio foram avaliados em Cz$ 5 milhões (US$ ) pela SUSP (Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos). A segunda ala, nas proximidades do Box 32, ficou interditada por 15 dias. Nas páginas de O Estado, a notícia demonstrava sensibilidade para com os lojistas tradicionais. Os estabelecimentos mais antigos atingidos pelo fogo foram os restaurantes Trapiche, Goiano II e a Casa do Pescador. Esta, que tinha no estoque muito material inflamável, nylon e isopor, foi a que mais sofreu a ação do fogo. O seu proprietário, Joaquim César de Oliveira, ainda não pôde avaliar o total do prejuízo. Perdi uns Cz$ 2 milhões [US$ ] em materiais de cozinha, lamentou o dono do Trapiche, Renato Adriano Manoel dos Santos. A sobreloja do restaurante ficou destruída, assim como a do Goiano II, de propriedade de Amauri Vieira. O fogo começou no forro, ninguém sabe onde, disse Vieira. O primeiro a notar foi um garçom. Deu um estouro lá em cima, pegaram extintores, mas não conseguiram apagar. Ele avalia as perdas em mais de Cz$ 3 milhões [US$ ]. Jornal O Estado, em 7 de junho de Vão Central? Destinado às exibições folclóricas, exposições de artesanato ilhéu e apresentações musicais, foi denominado, em dezembro de 1988, de Espaço Cultural Luís Henrique Rosa 97, na gestão do prefeito Edison Andrino. 97 Ver Balaio de Figurinhas, pág. 181.

132 BALAIO NOVO 132 Muitos não lembram ou não sabem, e muitos vão recordar: Amigos, Está no ar Seqüências da Modelar. Tem música, humorismo E bate-papo com os fãs Esse alegre programa da Diário da Manhã... Com a voz de Zininho, o jingle abria o programa da rádio Diário da Manhã, na década de 60. No ar, entrava Luís Henrique Rosa, apresentando o programa de auditório Seqüências da Modelar. Variedades e entrevistas. Falava com artístas, lançava músicas e novos talentos. Assim, com carisma e talento, começou sua vida artística o músico catarinense, que, nascido em Tubarão, adotou a Ilha da Magia. Na Bossa Nova foi nosso representante. Não, não foi só de paulistas e cariocas que se fez esse movimento musical. Luís Henrique participou com várias composições. No Rio de Janeiro, depois de se destacar na capital catarinense, onde já era amigo de João Gilberto, lançou o disco A Bossa Moderna de Luís Henrique. Foi o primeiro de sua carreira, gravado pela Philips, em 1963; o último foi Mestiço, gravado quando morava em Florianópolis. Com a chegada do regime militar, a Revolução de 64, mudou-se para os Estados Unidos junto com o Zimbo Trio, Os Cariocas, Jorge Ben Jor, João Gilberto, Geraldo Vandré, Sidney Müller, Sivuca, Tom Jobim e outros tantos artistas e intelectuais. Eles moravam num hotel que se chamava Um, Dois, Três. E nesse hotel quem é que estava? Miriam Makiba. Ela estava precisando de dois brasileiros pra fazerem um arranjo musical, e foi o Luís Henrique quem fez. Foi, então, que ele conheceu a Liza Minelli, num elevador. Ele estava falando com um cara sobre feijoada e ela perguntou se ele era brasileiro. Ele disse que era e estava fazendo um show em determinado lugar. Deu um cartão pra Liza e ela foi assistir ao show. A partir daí ficaram amigos, conta Décio Bortoluzzi, amigo e confidente de Luís Henrique. Em 1970, em parceria com Oscar Brown Jr., Luís Henrique escreveu a peça musical Joy 66, apontado pela crítica especializada

133 133 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA como um dos cinco melhores trabalhos off Broadway em Nova Iorque. Outros grandes músicos também eram amigos seus, como Bill Evans, Chick Corea, Duke Ellington e Stan Getz. Famoso, lançou sete discos nos EUA antes de voltar ao Brasil, após participar como convidado em uma turnê pelo Japão. Divulgou e freqüentou o Mercado Público entre amigos da Ilha e personalidades: Zininho, Neide Maria Rosa, Liza Minelli, João Gilberto e Elis Regina. Todos se deliciavam com a comida típica servida ali. A merecida homenagem passa despercebida. Uma escondida placa em uma coluna do vão central, lembra o compositor, esquecido pela municipalidade e os meios de comunicação, que insistem em chamar o Espaço Cultural Luís Henrique Rosa de, simplesmente, vão central. O futuro? O passado já foi relatado e o presente está acontecendo. Com 103 anos de existência, completados em 5 de fevereiro de 2002, o Mercado Público continua a ser polêmico e, por tradição tem seu futuro incerto. Apesar de possuir o maior número de manezinhos por metro quadrado, onde ainda é possível se ouvir o cumprimento carinhoso, no grito: Ô tu aí, ô istepô... Chama o manezinho do lado de dentro do balcão. Ô, tás tolo, tás? Responde o outro manezinho do lado de cá. Sendo hoje o local mais democrático da Ilha, acabou suplantando de longe o Ponto Chic como centro da fofoca. Ainda se pode comprar uma tainha, um camarão e farinha, se pouca, o meu pirão primeiro. Se bebe um bom copo de caldo de cana no Laurentino ou uma champanha importada no Box 32. Pode-se comprar uma tradicional esteira, um balaio ou uma sandália de dedo, as havaianas, ou mesmo uma alpargata. O local onde os políticos se aglomeram às vésperas de eleições, quando se lembram do povo, aquele que bebe sua cachacinha em algum restaurante no Espaço Cultural Luís Henrique Rosa. Nos fins de semana, música, muita cerveja e paquera. Melhor seria se a chuva fosse aparada pela cobertura móvel projetada, e imóvel em alguma gaveta de algum burocrata, que não freqüenta mercado, só supermercado. Com 144 boxes, distribuídos entre 129 proprietários, deixou há muito de ser mercado para se transformar na sala de visitas da cidade. Sobrevive dos aluguéis, sem investimentos na manutenção por parte da

134 BALAIO NOVO 134 Prefeitura Municipal, segundo Oreste Mello, presidente da associação que congrega os lojistas. Enquanto IPHAN, SPHAN, SUSP, IPUF e outras siglas se revezam em opiniões sobre o que pode ou não pode, o Mercado, como no passado, tende à descaracterização completa. Como último investimento, teve a iluminação de realce inaugurada em 22 de novembro de Enfim, de administrador em administrador, de projeto em projeto, de prefeito em prefeito, o nosso Mercado Público vai sobrevivendo em sua tradição, obstinado. Só falta carinho para com o Mercado (que é) Público. E essa gente honesta e alegre merece que seu patrimônio seja melhor preservado. Que siga com bons ventos rumo ao bicentenário.

135 135 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

136 BALAIO DO JOÃO Poderia ser do Manoel, do Joaquim, do Mário, mas é o balaio do João. Mas não é apenas do João. É do João Frederico de Souza. Com muitas histórias, além da sua própria, pessoa mais apaixonada e devotada ao Mercado Público não há.

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138 BALAIO DO JOÃO 138 Manezinho do Ribeirão da Ilha, mas há 40 anos morador do Saco dos Limões, seu João Frederico de Souza começou a trabalhar no Mercado Público aos 14 anos. Não tem vergonha, e sim muito orgulho, diz ele, hoje com seus 75 anos de vida. Eu era varredor, trabalhei dez anos varrendo. De primeiro, passavam as carroças de um lado para o outro, descarregavam palmito, frutas e verduras. Deixavam as caixas ali. Nós é que íamos limpar. Às 10h da manhã já tínhamos feito a limpeza e vinha uma carretinha da prefeitura juntar o lixo, recorda João Frederico. Mas chegou o dia da aposentadoria. O dia que ele deixou o trabalho, por decreto, desceu e disse: Seu Oreste, tô indo embora, o prefeito determinou, porque a lei não permite. Seu João, não posso fazer nada. Ele foi descendo a escada e, quando chegou lá embaixo, olhou pra mim e uma lágrima desceu dos seus olhos. Eu fiquei emocionado, mas não podia fazer nada. Foi embora. Oito dias depois a esposa dele sentou aqui e disse: Oreste, eu gostaria que você fizesse alguma coisa pelo João. Ele está em casa, olhando pro chão, há sete dias, sem comer. Porque isto aqui é a vida dele. Eu queria que ele viesse trabalhar de graça. Porque ele tem que se empolgar. Ele é um homem vigoroso, fala pouco, mas conhece muito. Olha, o que eu posso pagar pra ele é um salário mínimo. Ela disse que não precisava pagar nada. Não, eu pago um salário mínimo, afirmei.

139 139 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Então, ele veio. Hoje está alegre e o maior orgulho dele é ficar aqui, cuidar daqui, chegar às 6 horas da manhã, abrir o Mercado, ir embora ao meio-dia. É um homem muito sério. E outra coisa, é um patrimônio aqui do Mercado. A história contada por Oreste Mello e confirmada por João Frederico mostra o tamanho da paixão desse manezinho, que confunde sua existência com a do Mercado. Contratado da Associação dos Comerciantes, com a interferência de sua mulher, Onésia Francelina de Souza, com quem está casado há 47 anos, ele continua seu romance com o Mercado Público. As lembranças de João Frederico que são muitas podiam ser ampliadas. Juntei ao Balaio do João as informações obtidas nas entrevistas, nas pesquisas e, numa crônica livre, saí pelo Mercado: Passeando com o João Antigamente, os ônibus eram escassos, muito poucos mesmo. As pessoas iam de manhã para o Centro e só voltavam à noite. Tinham de esperar para ir embora. Andavam pela cidade, pelas pracinhas e pelo Mercado. A vida no Mercado era dura. Carne era descarregada todo dia e os açougueiros chegavam à meia-noite. Tinha açougueiro que pegava um boi. Outros ficavam com quatro ou cinco. E começavam a carnear desde cedo. O Mercado abria às 5h e já tinha fila. Peixe e carne só podiam ser vendidos até as 10h, depois disso o fiscal chegava, condenava tudo e espalhava Creolina por cima. Começando pela frente da primeira ala, rua Deodoro esquina com Conselheiro Mafra, ali está a loja de Amadeu Galego, português da segunda leva, que aportou aqui em A Casa Miranda, o nome vem de uma homenagem a sua cidade natal em Portugal, vendia confecções. Atualmente entrou para o ramo de armarinhos. Quando Galego comprou o estabelecimento, ali se vendia calçados, e a loja se chamava Casa Veneza. Antes de comercializar roupas prontas, continuou a vender calçados por algum tempo, sendo o forte as sandálias Havaianas. Naquele tempo [final dos anos 60] nós chegamos a ser exclusivistas das sandálias Havaianas. Distribuíamos para toda Santa Catarina. Vinha gente de São Joaquim, Bom Retiro, Urubici, Alfredo Wagner, Tubarão. O último pedido foi acima de 22 mil cruzeiros. Se não me

140 BALAIO DO JOÃO 140 engano, foram pares de sandálias Havaianas. Era tudo 2. Foi por isso que não esqueci, recorda Amadeu Galego. Seguindo pela calçada da Conselheiro Mafra, chegamos à Casa das Novidades, fundada por Nicolau Buatim em 20 de outubro de Hoje nas mãos de Antônio Liberto Bernardo, continua no ramo de confecções. Sem esquecer dos bares e cafés, Bar Brasil e Café do Comércio. Onde funciona a Casa Raposo, era a barbearia de dois irmãos. Engraçado era que ninguém gostava de cortar cabelo nem fazer barba com eles porque, dizem, eram meio carniceiros. Na outra ponta, esquina com a rua Jerônimo Coelho, funcionou durante muitos anos a padaria Foguinho. Pães, bolos e uma rosca de polvilho inesquecível, assim como a bananinha encapada, de sabor ímpar. Tão chique era o nosso Mercado, que, em 1939, funcionava na calçada da rua Conselheiro Mafra a Relojoaria Royal. Foi quando instalaram um relógio luminoso na fachada. Não, não era aquele do vão central, era outro. E tinha também a Farmácia Esperança. Dobrando a esquina, voltando pelo lado de dentro, tudo mudou. Aqui, antigamente era só a Feira dos Colonos, que abria nas quartasfeiras. Muito mais tarde, lá pelos anos 60, quando a Feira foi para o Mercado da Mauro Ramos, é que vieram as bancas de frutas e o comércio dos cerealistas. Indo em direção da Alfândega, tinha umas quatro bancas que vendiam balaios, esteiras, peneiras e muitos brinquedos. Bruxinhas de pano, caminhões e carrinhos de madeira, canoa pequeninha, com remo e tudo. Eram produzidos por gente daqui. Hoje chamam de artesanato. Mudou muito, mas tem gente que vende calçado e que é daquele tempo, Vendiam frutas e depois mudaram. Está acontecendo também a descaracterização desta ala. Coisas que não têm nada a ver com o Mercado. Sapatos, sandálias são produtos populares, ainda vai, mas aqui dentro da primeira ala uma loja que vende aparelhos de telefone celular e outra vendendo roupas, já é demais. O Bar Plácido, de Plácido Manoel da Silveira, é antigo aqui. Funciona desde 1 o de maio de No corredor do meio da ala, saída para o vão central, tinha umas rendeiras. Sabe, aquelas que fazem rendas de bilro, coisa da gente. Vendiam as rendas dependuradas na parede. As mulheres sentavam num caixotinho, com as almofadas da renda no colo, e ficavam ali, tecendo. Outras vendiam nas portas dos hotéis. Na

141 141 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA frente do Lux Hotel, do Royal, no Empório Rosa e na calçada da Caixa Econômica Federal, onde foi o Hotel La Porta, sabes? E essa garapeira? É nova, tem uns 30 anos. Mas o Laurentino Martins, que é o dono, começou onde era a loucinha de barro, perto da Associação Rural, na rua Francisco Tolentino, na Praia do Vaiquem-quer. Depois mudou para a frente da outra ala, na beira do cais. Juntando tudo, dá 43 anos vendendo caldo de cana. Agora quem toca são os filhos, o Amarildo e o Laurentino Martins Filho. Voltando ao largo da Alfândega, quando fizeram a segunda ala, ligaram as duas com essas pontes. Ali onde funciona o Pirão, do Valério Matos, restaurante típico, antes era a pensão Kowalski. Bom, neste lado, o do relógio, aqui no Espaço Cultural Luís Henrique Rosa, tem mais gente nova. Mas a maioria está no Mercado há 30, ou 40 anos, mais ou menos. Tinha algumas lojas de confecção. Era aqui que os pescadores faziam suas compras. Hoje tem armarinhos. A Vera Cruz e Achar Aviamentos são de portugueses. Esta, da Maria Achar, e aquela de Mário dos Reis Raposo. Mas, quem está comandando são os filhos Ricardo José Raposo e Sérgio Luiz Raposo. Tem o bazar do Geraldino Manoel da Silva, a Casa das Louças e Alumínio, que desde 1975 funciona aqui. Mais uma loja que não tem nada a ver com o Mercado é o Paraíso das Canetas. E ainda colocam esses mostruários na porta, atrapalhando o visual do prédio. O Goiano, dos restaurantes antigos, é o único que sobreviveu. Tem a Mercadolândia, que vende produtos para festas e o Armazém do Vando, onde funcionava o Bar do Joca, inesquecível. Fechando essa calçada, o Ponto 15, restaurante de Lauro Raimundo de Paula. Olhando para o lado do Terminal Urbano, onde está o Camelódromo Municipal era praia, onde funcionavam as casinhas com as verduras, antes de serem comercializadas no interior da primeira ala. Depois as louças de barro passaram a ser vendidas nesse local. Em cima, onde hoje está instalada a administração do Mercado, era a casa do administrador. O mais enérgico deles foi seu Marcos Nunes Vieira. O homem era fogo. Lei era lei. Ali onde está o Depósito de Meias Gebai era a barbearia do Nero Feamino. Bom, e o Bazar Mansur funciona no box 35 desde A briga é para saber qual é a loja mais antiga. Dependendo da avaliação,

142 BALAIO DO JOÃO 142 são duas. A Casa das Novidades é de 1937, mas já passou por vários proprietários. O Bazar Mansur sempre foi da família. Seu Gedeão morreu e as filhas continuaram. As duas lojas são as mais antigas, apesar dos dez anos de diferença. Antes de Mansur instalar seu comércio, ali era a barbearia do Moraes. Caminhando, ao lado está o bazar Ana Spinoza, depois o restaurante O Mercador, de Ângela Maria e Carlos Alberto Fernandes da Luz. A loja de artigos para festas Caracol é de Maria Elzi Amaro, filha de seu Vando. Na esquina do corredor lateral da segunda ala, Renato Andrino Manoel dos Santos é o dono do restaurante Trapiche, desde Antes, seu pai, Andrino Manoel dos Santos, tinha no mesmo local uma agropecuária. Muito antes, na época em que era tudo comércio de secos e molhados, era a Fiambreria do Andrino. No outro lado da porta, o box do Leca. A peixaria tem novo proprietário, Cristiano Fábio Martins, desde que Manoel Jacques Luiz Vieira morreu, há um ano, depois de trabalhar no comércio de peixe por 30 anos. Ao lado, temos a Barbearia Leka s, de Francisco Manoel Vieira. A padaria Preço Bom é nova, tem cinco anos de Mercado, e é de João da Silveira. A Casa Costa, ao lado, funciona há muito tempo. Na época em que vendia secos e molhados, era de Orlando Elpo, depois de Jaime Costa, quando virou Armazém Costa, mais tarde Casa Costa, e agora é de Válter Coelho e os filhos. Mantendo o mesmo nome, se especializaram em embalagens e produtos para festas, desde ingredientes para doces, bolos e salgados até a decoração. Nezir Scheidt Carvalho continua vendendo sementes e insumos para agricultura, como seu marido fazia. Atualizada, comercializa artigos para animais de estimação. Seu Irineu, o funcionário mais antigo da loja, tem um carinho especial para com os pombos do Largo da Alfândega. Todos os dias, por volta das 9h, carregando uma bacia com 5kg de milho, ele os alimenta. Primeiro, quando não havia geladeira, foi um depósito de sal, depois um bar, o Bar Laguna. Quando Valdemar da Silva comprou o ponto, passou a comercializar louças. Em 1976, trocou de ramo e vendia galinha viva, d angolas, passarinhos e alimentação para aves. Isso até Hoje, o filho, Lázaro Valdemar da Silva tem no local o Ilha s Bar, e quem gerencia o estabelecimento são seus filhos.

143 143 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Cadê o mari? Ai que saudade do mar, que batia bem ali nos fundos da Alfândega. Antes, aqui neste ponto é que se vendia o camarão na lata, aos domingos. No tempo de Natal, os caminhões que vendiam pinheirinhos, ou paravam aqui, ou atrás da Alfândega, perto do trapiche. Foi tudo aterrado. Entrando na segunda ala, a primeira peixaria é da Pescados Silva, de Edemésio e Maria Alice Silva. Ao lado, o caldo de cana é de Primeiro foi o Alberto Luiz Elias, agora o filho, Amarildo, mas o box é dividido. A outra metade vende artesanatos e sapatos, e colocaram uma vitrine em frente, bem onde tinha as bancas de pão. A do Zezinho, José Isaltino da Rosa, e a do seu Canuto, que depois passou para a filha, Maria Ventania. Vamos andar pelo lado direito, depois voltamos pelo esquerdo. Três peixarias, três proprietárias. Peixaria Guimarães, de Ana Maria Guimarães, há 38 anos instalada aqui; Peixaria do Tuca, de Terezinha Euzébio Guimarães, e a Peixaria Ventania, de Maria Ventania, que tinha a banca de pão, se lembra? A loja do seu Miyahara, que oferecia verduras e legumes, agora tem material para pintura e artes plásticas. Mercado Público em Florianópolis praticamente é sinônimo de peixe. Desde 1973, Marci Silveira tem a Peixaria Silveira. Na esquina do corredor transversal, de um lado está a Peixaria Oliveira, que Adúcio Vítor Oliveira herdou do pai, e hoje os filhos dele, Ronaldo Adúcio e Rodrigo Adúcio é que tocam o estabelecimento. Do outro lado, o peixeiro mais antigo em atividade é Nelson Santos. Na peixaria com seu nome, atua no Mercado desde o tempo em que as bancas nem tinham numeração. Antes de chegar ao famoso e já tradicional Box 32, passamos pela Central de Caça e Pesca, onde Sérgio Murilo Guimarães atende aos esportistas. Ele é neto de seu Manezinho, muito conhecido porque tinha uma banca que só vendia bananas, box 23, ali do lado da Maria Ventania. Mais uma banca restou dos bons tempos do Mercado. As irmãs Cardoso, Neosi, Nézia e Malvina, ainda vendem verduras. E na mesma banca que seu pai comprou, em 1957, quando trabalhava com o antigo proprietário, senhor Iamim, que vendia madeira. É, madeira para fogão

144 BALAIO DO JOÃO 144 a lenha. Isso. Ainda no começo da década de 60 se vendia feixes de lenha, tudo amarradinho. Era só colocar embaixo do braço e levar. Ao lado, funcionava a administração. Quando esta mudou-se para cima, na ponte da rua Jerônimo Coelho, o box foi dividido. Pelo lado de dentro, depois da banca de pão, José Isaltino da Rosa montou a Pastelaria do Zezinho, também conhecida como Box 36. Fazendo frente para a rua, na outra metade do box está instalado o Bazar Brito, aquele das bandeiras e uniformes de futebol. À beira-mar, vemos o Camelódromo Municipal. Antigamente, bem em frente à porta, sobre o muro de arrimo, estava instalado o galpão da Associação Rural, mais tarde ocupado pelos oleiros. Entrando de volta no Mercado, o primeiro box é a Fiambreria Spinoza. Sempre esteve com a família. Primeiro o pai, Nelson, e agora o filho, Alvim Nelson Fernandes da Luz. A carne verde (fresca) sempre teve presença obrigatória no Mercado. Aurino Manoel dos Santos ainda mantém a atividade no Açougue e Fiambreria Aurino. Ao lado, o box de Inácio Silvino da Silva, que trabalhou por 32 anos com carne e mudou para secos e molhados, montando o Empório Mania da Ilha. Depois da febre do Box 32, vários pontos de reunião surgiram. Entre eles a Choperia Zero Grau, de Margarete Sardá e Roseane Mayer. Novo também é o Bazar Caramuru, de Ari Carlos Rachadel, que há dez anos vende artesanato. Antes era açougue. Deste lado só tinha açougues. Aqui do lado, no açougue Livramento, Irineu é o açougueiro mais velho, diz o filho, Rogério do Livramento, que o acompanha há 35 anos. Seu Irineu começou no Mercado em 1944, e há quase 60 anos trabalha com carnes. Andando mais um pouco, está a Toca do Urso, o bar de Válter Ribas e Rosana Dalbona. Na seqüência, a floricultura Estação das Flores, que Graziela, filha de Edegar Jacques, administra, desde que o pai fechou o açougue. E o último dos três açougues remanescentes pertence a Osvaldo Vidal, administrado pelo filho, Ricardo Vidal, que também aprendeu o ofício da carne com o pai. Se confunde com o corredor a lanchonete e caldo de cana do Scotti. Foi posto de venda de pão nos anos 50 e 60 e nessa época já servia café acompanhado de sonhos e bananas recheadas. De volta ao corredor principal, volta também a saudade do Armazém Dona Clara, instalado onde funcionam as duas primeiras peixarias

145 145 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA do Chico, nos boxes 15 e 16, administradas pelos filhos Jorge e Francisco. O Chico Peixeiro, Francisco Martiniano Jacques, não confundir com o Chico Escamador, atua no comércio de peixes do Mercado desde o tempo em que não havia boxes. O pescado era vendido em tabuleiros (ou bancas). Alugados por dia. Oxalá a fartura de pescado fosse a mesma de antigamente. Sardinhas, porquinhos, bagres eram peixes sem valor na década de 60. Hoje, com a escassez de anchovas, tainhas, garoupas, qualquer peixe dá um caldo. E o camarão, só na vitrine. Mesmo assim, Hamilton Antônio da Silveira segue os passos de seu pai, Antônio João, que instalou a Peixaria do Nico há 40 anos. Filha da dona Maria Ventania, que tinha o posto de pão, Maria Ventania Filha é a proprietária da Peixaria Ventania, e no ramo, de mãe para filha, Andrezza Pereira cuida do outro estabelecimento da família. Antes, aqui funcionava a Fiambreria Koerich. No box 18, mais uma Peixaria do Chico, dirigida pelo filho Marcelo Jacques. Há 30 anos no box 18 A, Maria Alice Furtado da Silva e o marido Edemésio Belmiro da Silva atendem a outra banca da Comércio de Pescados Silva. Finalizando, a Milgon Pescados, estabelecida há 23 anos, de propriedade de Milton Francisco Oscar. Entre o box 18 e esta peixaria funcionava o Frigorífico Modelo, a câmara comunitária de conservação de alimentos inaugurada em Saindo do Mercado, quem viveu os bons tempos se assusta ao relembrar que bem ali, onde está o ponto de táxi, a beira-mar já não existe mais. Onde hoje estaciona o primeiro veículo da fila era o começo do trapiche, ponto em que barcos, como os de Alfredo Sardá, descarregavam 20, 30 toneladas de peixes. A rua lateral, onde se pescava na balaustrada ou se apreciava o trabalho de Chico Escamador, virou a avenida Paulo Fontes e estacionamento para caminhões. Parece vingança, mas desta vez não foi o Mercado que se apossou do mar, mas o mar que se afastou.

146 BALAIO DE FOTOS Fotos misturadas, sem data, algumas já esmaecidas pelo tempo. No fundo do balaio, os retratos ainda guardam as lembranças do passado. Mas, bem revirado, fotos fantásticas reavivam a memória.

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148 Comércio realizado na praia da Praça do Mercado, construído em O primeiro Mercado Público. Ao fundo, o prédio da Alfândega. Foto tirada entre 1890 e Acervo IHGSC James Tavares - 4.mar.2002 Praça Fernando Machado, onde foi edificado o primeiro Mercado Público de Florianópolis. Banco de Imagem/FFC Fachada do prédio do Mercado, demolido em Ao fundo, a rua Conselheiro Mafra.

149 Banco de Imagem/FFC Comerciantes se aglomeram na lateral da Praça do Mercado. Acervo Assembléia Legislativa Fac símile da planta que acompanhava o ofício do presidente Ferreira de Brito, encaminhado à Assembléia Legislativa em Possívelmente, era a projeto sugerido na lei n o 92.

150 O Mercado inaugurado em 1899, alinhado à rua Conselheiro Mafra e à beira-mar. James Tavares - 4.mar.2002 Banco de Imagem/FFC Conjunto arquitetônico que compõe o Mercado Público de Florianópolis. A primeira e a segunda ala, unidas pelas torres e duas pontes.

151 Acervo IHGSC Compradores se reuniam em frente ao Mercado e ao primeiro trapiche. Foto registrada entre 1899 e Acervo IHGSC Interior da primeira ala, onde nota-se em primeiro plano, no tabuleiro, peles de animais vendidas entre alhos e bananas. As colunas de ferro fundido se encontram hoje no interior dos boxes.

152 Banco de Imagem/FFC Trapiche para desembarque das mercadorias destinadas ao Mercado. Acervo IHGSC Rua Conselheiro Mafra em dia de Feira dos Colonos. Comerciantes entre carroças e, à direita, um pombeiro. Acervo IHGSC Os peixeiros vendiam em tabuleiros, a céu aberto, pois o interior do prédio não comportava o grande número de vendedores. Foto batida após a construção do alpendre, em 1915.

153 Dois registros do alpendre à beiramar. Ao lado, olhando em direção à Rita Maria. Abaixo, uma vista parcial a partir da rua Jerônimo Coelho, em direção ao Largo da Alfândega. Acervo IHGSC acervo IHGSC O comércio das tradicionais louças de barro era realizado no alpendre, ao fundo do Mercado. E as mercadorias eram espalhadas pelo chão. Acervo IHGSC

154 Banco de Imagem/FCC Acervo Blasio Junkes/Foto B Na primeira foto, nota-se que o abrigo sobre o trapiche foi retirado após a conclusão do alpendre. Acima, uma vista parcial da fachada voltada para o Largo da Alfândega. O casarão ao fundo ainda hoje compõe a paisagem com o Mercado. Ambas as fotos foram feitas a partir de 1915, quando o prédio tinha passado por um pintura geral.

155 Acervo IHGSC Vista panorâmica do Mercado na década de 60. O mar ainda chegava à lateral do prédio. Acervo IHGSC O Mercado na década de 50. No local onde os barcos estão ancorados, aterrado em 1972, na foto abaixo uma árvore está plantada no lugar. James Tavares - 4.mar.2002

156 Acervo Blasio Junkes/Foto B Acervo Blasio Junkes/Foto B A Praia do Vai-quem-quer, hoje aterrada. No local foi edificado o Camelódromo Municipal. À direita, o pequeno galpão abrigava a Associação Rural. A foto abaixo foi feita após 1958, quando já existiam as casinhas das louças de barro.

157 Acervo IHGSC Acervo Oreste Mello O vão central, Espaço Cultural Luís Henrique Rosa, em dois momentos. Acima, na década de 40, e abaixo, no final dos anos 50, quando o Mercado, em 1958, passava por algumas reformas

158 Acervo família Ramtour O saudoso Armazém Dona Clara. Um cliente conversa com a proprietária, Clara Ramtour, apoiada ao balcão. O Esrado - 28.ago.1972 A banca de verduras e a peixaria onde está instalado o Box 32.

159 Acervo família Koerich Galinhas limpas, o novo pudim Royal e produtos coloniais eram comercializados na Fiambreria n o 5 da família Koerich, instalada na segunda ala. Acervo família Livramento Pai e filho, Irineu e Rogério Livramento, posam, em 1966, no açougue da família.

160 O Estado - 28.ago.1972 Havia um grande número de açougues lado a lado, em frente ao Box 32. James Tavares - 4.mar.2002 Hoje, os açougues dividem o espaço com bares, artesanato e empórios.

161 James Tavares - 4.mar.2002 Acima, as peixarias que, além do pescado, comercializam o berbigão, camarões e outros frutos do mar. À direita, o registro da maior tragédia acontecida no Mercado. O incêndio parcial ocorrido em 6 de junho de O Estado - 6.jun.1988

162 O Estado - 28.ago.1972 James Tavares - 4.mar.2002 O interior da primeira ala, após a tranferência da Feira dos Colonos para o Mercado da Mauro Ramos, passou a ser ocupado por bancas de frutas e alguns armazéns de secos e molhados. A partir dos anos 80, as frutas foram trocadas por calçados, à exceção do Bar do Plácido, do caldo de cana do Laurentino e lojas de artesanato.

163 Fachada do centenário Mercado Público Municipal de Florianópolis, voltada para o Largo da Alfândega. James Tavares - 4.mar.2002

164 BALAIO DE SIRI Quem nunca viu um balaio cheio de siri? Uns sobre os outros, andam para lá, sobem para cá, e as garras emaranhadas. Quando se retira um, vêm vários pendurados. Assim são as histórias. Ninguém sabe, ninguém tem, ninguém conta, até começar. Começou, uma puxa a outra, e aí vai, vai...

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166 BALAIO DE SIRI 166 Salomé Um turista chegou aqui e disse que queria a cabeça da garoupa. Só a cabeça. Chegou outro e pediu uma garoupa, só que ele não queria levar a cabeça. Pediu pra retirar. Foi o meu pai que atendeu [Adúcio Vitor de Oliveira]. Ele pediu que se pesasse a garoupa, limpasse e cortasse em postas. E disse: dá a cabeça pra esse cara aí que eu não gosto da cabeça e eu vou lá no carro buscar o talão de cheques. O funcionário serrou, deu a cabeça pro cara e ele foi embora. Até hoje estamos esperando o outro voltar com o cheque pra levar a garoupa. Eles ficaram com a cabeça, e nós ficamos com a garoupa posteada. Depois... vendemos em postas. Estavam de combinação. O cara deu o golpe pra levar a cabeça. Ronaldo Adúcio de Oliveira. É sereia Sabe aquelas redes, não tem? Essas redes de pescaria. A Tita, que era mascote do Mercado, tava pronta pra dançar na gafieira do Laudelino, que ficava na Ivo Silveira. De peruca loira. Imagina, uma pessoa que era de cor, era mulata, com uma peruca loira e uma minissaia branca, bem curtinha. Aí veio aqui no Mercado, sapatão alto e tal. Pegamos uma rede e armamos. Na hora que a Tita chegou, a gente jogou a rede. Tarrafeamos a Nêga Tita. E ela tentava sair daqueles cômoros de linha. Aí a galera começou a gritar: Pegamos, pegamos a sereia! Essa foi muito engraçada. Faz uns 20 anos. Ouvida no Mercado. Dizem! Momentos de dificuldades financeiras rondavam o Mercado na década de 80. Quase sem manutenção, a fiação antiga não suportava a demanda da carga elétrica, aquecia e desligava os disjuntores. Alguém sugeriu: liga um ventilador.

167 167 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Dizem que, na frente do quadro de luz, dois ventiladores esfriavam o equipamento. Ouvida no Mercado. Sempre na moda Ainda hoje nós recebemos um carregamento. Não podemos deixar faltar. Vou ser bem sincera. Quando cheguei aqui, há um ano, olhei e disse assim: mas que barbaridade, que loucura essa quantidade de urinol, isso é um absurdo. Como língua não tem osso, logo, logo eu vi que quem estava errada era eu. Toda vez que se pede esmalte ao representante, a primeira coisa que tem que pedir são penicos. Sabes porque? Às vezes uma pessoa doente, que está na cama, precisa até pra fazer um exame em laboratório. Hoje usa-se mais porque tem mais pessoas de idade em casa. Você pode flambar esse material. Bota álcool ali e toca fogo, que não tem problema. Pode levar em cima da chama e deixar ferver. É uma panela. Se não for usado, pode usar como panela. Tem gente que compra pra derreter alguma coisa. Só deixa de ser panela depois de ter sido usado a primeira vez. Uma vez o pai foi a Santo Amaro fazer entregas. Levou e vendeu muita coisa. Na volta, passou num freguês que queria lhe dar coalhada. Ele não tinha onde colocar e botou no urinol, pois estava limpo. Lavou, botou um plástico, a coalhada e trouxe pra casa. A mãe, quando viu, ficou apavorada. Marlene e Zenaide Mansur. O pai mandou Aí, tinha aquelas "senhoras", meretrizes, que ficavam aqui nos fundos do Mercado. Tinha uma com um eslaque branco era o meu pai que mandava eu fazer isso, porque ele era muito atentado então eu coloquei minha mão na bandeja de fígado, fiz tipo uma almofada de carimbo, cheguei e dei uma palmada na mulher. Meu pai mandou! Ficou a minha mão certinha. Aí a mulher veio aqui e fez o maior rolo. Queria chamar o delegado pra me prender. Eu fui suspenso do Mercado. Fui suspenso muitas vezes. Tinha o seu Pedro, que varria aqui. Ele era um senhor também, que era careca, tinha aquela doença, como é que se diz... que cai todo o cabelo da pessoa. Um dia, o pai diz assim, olha tu vai lá no tabuleiro do Dato, pega um ovo, chega lá e toca na cabeça do Pedro. Eu fiz assim:

168 BALAIO DE SIRI 168 tirei o chapéu e, pum, um ovo na cabeça do cara. Suspenso 15 dias do Mercado. Eu vivia suspenso daqui, direto. Ricardo Vidal. Mofas com a pomba na tarrafa Uma vez, o Exército precisou de pombos para soltar numa solenidade. E vieram pedir pra nós. Tinha um funcionário que era o melhor tarrafeador que se conhecia na cidade. Ele mora em Palhoça, o seu Leodoro. Um dia eu falei pra ele: O senhor venha no Mercado que eu vou dar um dinheirinho pro senhor. É que eu preciso de uns 200 pombos. Mas como é que nós vamos fazer, seu Oreste? ele perguntou. Nós vamos dar uma tarrafada. Mas como? A gente joga o milho, bem cedo, às 6 horas da manhã, e o senhor joga a tarrafa. O homem era bom! De manhã bem cedo, ele me esperando com uma tarrafa bonita, boa, uma tarrafa que abria mais ou menos umas 12 braças. Era impressionante! Quando largamos o milho, que a pombarada desceu, ele lançou a tarrafa. Quando ele largou, era tanto pombo que ela levantou. Alguns voaram embora. Mas sabes quantos pegamos? Foram 123. Numa tarrafada! Colocamos tudo dentro duma caixa e levamos para o Exército. Na solenidade, deram os tiros e soltaram os pombos para uma revoada. Ficou lindo. Só que deu outro problema. A maioria deu uma volta por cima do batalhão, olhou, atravessou a ponte e veio de volta. Mas uns ficaram. Depois, o general Dutra, pai da Márcia Dutra, que na época era coronel e comandava o batalhão, me ligou perguntando: Oreste, o que eu faço com esses pombos? Ora, dá um jeito, coronel respondi. Estavam lá, sujando todo o batalhão. O Aldírio Simões acabou fazendo uma crônica. O comandante leu e morreu de rir. Oreste Mello. Pescaria Era vendida em balaio. É... pra pescar. Vendiam outras iscas, mas o que mais a gente comprava era tatuíra, que a gente levava vivinha e colocava uma areinha, lá na praia de Coqueiros, e aquilo ali ficava

169 169 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA uma semana, aquela tatuirinha viva. A gente pescava corvina com ela. Izair Campos. Modelo e exemplo A cartilha de Nereu Ramos, interventor do Estado, nunca foi para agradar esse ou aquele. Está escrito na lei, cumpra-se. O Açougue Modelo, um dos primeiros em Florianópolis, pertencia à empresa Vaz e Di Bernardi. A carne tinha o preço controlado e não podia sofrer reajustes. Um dia, subiram o quilo em 200 réis. Nereu Ramos soube e mandou prender Eliseu di Bernardi, por dois dias, um dia para cada 100 réis de aumento. João Frederico de Souza. Concorrência O seu Castilho era engraçado. Porque tinha o Vando do lado. Então, quando tinha dois, três clientes no Vando, que eram duas portas, ele ficava escondido. Quando o freguês dava uma olhadinha ele fazia assim ó [assobiava] pra chamar. O Vando olhava e ele [disfarçava]. Um dia, até foi engraçado. O Fermino, que trabalhava na frente, que tinha um armazenzinho, contava que um dia estava cheio de freguês no Vando e ele estava de costas, atendendo. O Castilho estava desesperado porque no armazém dele não tinha ninguém. Passou a mão num balde de feijão e jogou nas costas do cara. Pegou bem na orelha. O cara olhou e ele assobiou e disfarçou. Izair Campos. Outros tempos Não era tão movimentado como hoje. Era outra clientela que freqüentava o Mercado. Era aquele pessoal que vinha lá do interior da Ilha e até de Santo Amaro, que vinham aqui comprar em atacado com o pai. Vinham comprar a carne, o leite. Porque não tinha geladeira. A carne tinha que ser comprada todo dia. Tinha fila pra comprar carne e também o leite. Zenaide Mansur. A mão que assina Entrou-se com o projeto de tombamento na Câmara, que aprovou e foi para o prefeito sancionar. Era o Cláudio Ávila da Silva. Nós viemos aqui no dia 20 de março de 1984, às 10h40min, e naquela mesa histórica [aponta] que está aqui, na nossa administração, foi assinado

170 BALAIO DE SIRI 170 pelo [atual] presidente da Assembléia, Onofre Santo Agostini, que era o chefe de Gabinete do Cláudio. Sabes porque? Por que o Cláudio estava com a mão quebrada, com o braço quebrado. Oreste Mello. Internacional Uma senhora argentina, muito engraçada, bem extrovertida, chegou aqui e queria: colita, colita... E eu achava que era uma rabada. Rabada? No, no! Colita! Eu penso, meu Deus, mas o que é essa tal de colita. A gente achava que ela tava contando uma piada. E ela levantou o vestido aqui na frente do box e batia: Acá, colita! Mas não é rabo, rabada, senhora? No! Aí fomos ver. Sabes o que era? A maminha da alcatra. Como aquilo é comprido, eles chamam de colita. O marido, que estava junto, explicou: Isso aqui [apontando], nádegas. E colita seria uma coisa comprida, uma cola, cola da alcatra, a maminha. Ricardo Vidal. Ao cliente com carinho Com seu jeito lânguido de falar, o verdadeiro manezinho tem um carinho todo especial com a clientela. Além de não ter pressa, usa naturalmente o diminutivo para qualificar sua mercadoria. Tem tudo. Tem a toalha, a camisa e o calção. Tem gente que já compra o conjuntinho completo. Sai mais barato. Vem na caixinha e já fica um presentinho embalado, não é? Aldo Brito, explicando os produtos que vende. Lembro também do seu Mansur, que vendia panelas de alumínio. Pra mim, aquilo ali foi o que marcou o Mercado. Porque, em matéria de carinho e bondade, era um cara excepcional. Muito atencioso. Todos que pra ele chegavam, podia ser um estranho, ele dizia: Ô querido! Ô, meu amorzinho. Assim é que ele tratava as pessoas. Izair Campos, relembrando Gedeão Mansur.

171 171 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Senhora? Voltei pra encomendar a rede. Então tá certo. Já vou telefonar pra lá. O senhor quer endereço, telefone? Marca aí direitinho, Luciano [funcionário]. Marca direitinho, tá? O nome dela, telefone. Eu já vou pedir. Então, dia 30, mais ou menos? Isso. Então eu dou uma ligadinha lá pelo dia 27 [cliente]. Izair Campos, atendendo uma cliente. Pode, pode trocar. Queres a caixinha, querida? Porque depois o senhor não troca, não é? Pode trocar, não tem problema. Mas é bom tu levar na caixinha, que é mais simpático, né? É, e não suja tanto. Eu gosto de guardar os sapatos na caixa. É, e essa caixinha é uma beleza. Essa caixinha aqui é jóia. Isso aqui serve pra tu colocar documentos. Tenho até pena de jogar fora. Mário Valgas, vendendo um par de sapatos. Aonde a vaca vai... Acho que a história interessante que mais marcou aqui no Mercado foi a da vaca. O cara vinha com uma vaca e ia passar pelos fundos. Aí ofereceram um conto [1 cruzeiro] pra ele. E ele, pra ir pro bar do Goiano, tomar um traguinho, começou a puxar a vaca. A vaca não queria entrar por causa da multidão de gente. E ele a puxar, puxar, e a vaca acabou entrando. E quando chegou aqui bem no meio a vaca deu aquela talagada que vocês conhecem, não tem? Olha, foi um alvoroço aqui dentro. E pra tirar a vaca? Pode perguntar pro Jorge, filho do Chico Peixeiro, que ele vai te contar. Ele diz que é a história que mais marcou. Imagina, a pessoa ficar puxando uma vaca pra dentro do corredor e chega aqui no meio, a vaca dá uma talagada e carimba o Mercado. Ricardo Vidal. O que tomba vem abaixo? Outra do tombamento do Mercado Público. Quando se deu aqui a história de tombar, grilou muita gente. Eu estava almoçando no Goiano

172 BALAIO DE SIRI 172 e, de repente, chegou um comerciante e perguntou: Seu Oreste, dá licença? Vão tombar o Mercado, não vão? Vão respondi. E qual é o primeiro lado que eles vão destruir? Acho que a máquina vai passar no lado de lá primeiro, no lado das peixarias. Eles acharam que tombar era destruir o Mercado. Eu achei fantástico isso aí. Oreste Mello. Dos céus O hidroavião é do meu tempo, mas eu era pequena. Eu tinha verdadeiro pavor. Queria ver, mas tinha medo e me escondia numa coluna que tinha ali no posto do Cristobal e ficava olhando assim [se esconde atrás do balcão]. Quando ele descia, precisa ver a fumaça que levantava na água. Eu ficava horrorizada com aquilo. Mas daí a pouco ia sentando, sentando e já ia saindo uma baleeira pra pegar o pessoal lá e desembarcar aqui no trapiche atrás da Casas da Água [rua Frederico Rolla com Pedro Ivo]. Marlene Mansur. Racionamento E também teve uma época que as pessoas faziam fila pra com-prar. Era um peixe pra cada pessoa. Uma tainha pra cada pessoa. Existiu aqui um administrador chamado Marcos, Marcos Nunes Vieira, que foi o mais severo do Mercado Público. Então, existia essa fila. Aí chegou um grande da polícia, um primeiro-sargento. Chegou na vez dele e ele diz assim: o senhor me embrulha duas tainhas bonitas. Não, é uma tainha pra cada um respondeu o peixeiro. Aí ele fez um rolo... Puxou a carteira, dizendo que era da polícia... Chamaram o Marcos. Ele disse: Não, o senhor vai levar só uma tainha. É a lei e o senhor não vai passar fora da lei. É lei de quem? perguntou o cliente. Do Mercado, da administração. Naquele tempo era pequeninho [se refere ao comércio da cidade], era só o Mercado. O administrador tinha uma força tremenda. Ele fechava box por 10, 15, 20 dias e ninguém abria. Aí o Marcos continuou:

173 173 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA O senhor vai levar uma e, se não quiser, não tem nenhuma. Se o senhor teimar, eu mando prender o senhor. Aí o cara puxou a carteira de novo. E o Marcos disse: o senhor tá preso. Veio o grande lá, o major, e levou o cara preso. Mário Valgas. Otcho, o cachorro A Liza, uma vez, estava andando em Los Angeles e viu um cachorro. Botou o nome dele de Otcho. Conclusão! O Otcho estava ficando velho lá em Los Angeles, ou Nova Iorque, onde ela morava. O que aconteceu? Mandou o Luiz Henrique trazer o cachorro pra Florianópolis. Ele veio de engradado e tudo. Mas estava muito velhinho e ficou na casa da irmã dele, a Regina, que mora até hoje em Coqueiros. E a casa dela não é no chão, tem uma altura. Aí, um dia, o Luiz Henrique chegou e disse: pô o Otcho desapareceu, puta que pariu, se a Liza sabe... O Otcho havia se metido debaixo da casa e ficado trancado, preso. E nós a procurar por ele. Décio Bortoluzzi. Fornecedores O Mercado funcionava a noite inteirinha. Chegava mercadoria de carroça, cargueiro, lancha, bote que vinha do sul da Ilha, Ratones, do lado de lá também [Continente], da Enseada do Brito. Chegava lancha cheia de abacaxi. Ali na ponte, de madrugada se via uma fila de carroça, uma atrás da outra. A ponte naquele tempo era de assoalho de madeira. Eram trilhos de madeira grossa, ficavam uns espaços e iam apodrecendo. A prefeitura ia trocando, mas mesmo assim muito cavalo quebrou a perna ali. Laudêncio Pereira. É bomba, é bomba Não tem aquela correia? A correia da geladeira ali [apontando para o local da câmara frigorífica construída em 1939]. A correia dessa câmara ficava em cima. Tinha uma escada e as padariazinhas ficavam embaixo. Um dia, rebentou uma delas. A poeira foi um dilúvio dentro deste Mercado. Parecia que tinha estourado uma bomba [ri bastante], Aí as mulheres da padaria embaixo começaram a gritar que era uma bomba. Todo mundo neste Mercado começou a correr e aquela fumaceira invadiu tudo. Foi a coisa mais feia, nesse dia. E não

174 BALAIO DE SIRI 174 era bomba, era a correia do frigorífico. E todos achando que era uma bomba. Ricardo Vidal. Burriquete ou miraguaia? Não sei se tu sabe essa história do trapiche lá na ponta. Tinha um senhor que trabalhava nos Correios. Quando no verão ameaçava trovoada, ele pegava burriquete de caniço. É, quebrava um marisquinho, fisgava lá no anzol e pegava burriquete de três, quatro quilos. Ele tinha até um balaio com alça pra colocar o que pescava. Era o seu Bohrer. Grande pescador. Sabes aqueles barcos [traineiras] de peixe que chegavam ali? Ficavam várias pessoas nadando, esperando a tainha que caísse na água. Naquele época não tinha espírito de malvadeza. Se fosse hoje, eles estavam nadando com um pedaço de pau pra cutucar os balaios e fazer o peixe cair. José Isaltino da Rosa, Zezinho. Seu Marcos Reforma teve. Reformaram o telhado, trocaram o madeiramento. Mas depois de 60 já foi feita outra troca. Ali dentro do Mercado não era assim como tá agora. Eram tabuleiros de verduras, frutas. Era tudo com grade de ferro, um tipo de tela. Eram compartimentos. E não se botava nada na rua, tudo dentro dos tabuleiros. Não era como hoje, que invadem espaço [do público]. Se fosse o seu Marcos, na época, ele não deixava. Ele mandava mesmo tirar. Ele morava no Mercado, naquela parte que é a administração hoje, e a administração era embaixo, ali onde tá a banca do Zezinho. Laudêncio Pereira. Serviço de Ajuda ao Cliente Chegou uma freguesa aqui, bem gorda. Veio comprar um penico. Aí o pai [seu Mansur] mostrou os pequenos. Ela disse assim: Será que vai caber? O pai olhou... e disse: não, o grande é que vai caber. Ela chegou a colocar o urinol atrás pra ver se servia. Zenaide Mansur. Dropando no açougue E nesse tempo [estavam reformando o Mercado] tinha uma desos-sa de carne aqui, e os ossos estavam tudo aqui debaixo da mesa, guardados. Eu estava atendendo um cliente. Estava eu e um funcionário no

175 175 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA açougue, o Áureo. Ele era surfista. No meio dessa confusão, caiu um caibro desses. Despencou desse telhado aí e veio tudo abaixo. Imagina, como se vocês estivessem conversando comigo agora. O assoalho de madeira e todo esse telhado vir em cima. Imagina o barulho que foi. Áureo, o surfista que eu tô te falando, mergulhou debaixo da mesa onde estavam os ossos. Sabe o que aconteceu? Ele espetou um osso daqueles na barriga. Quase morre espetado nos ossos. Vê a idéia do cara de mergulhar debaixo da mesa! Quase se matou. Eu e o freguês ficamos espantados, porque ninguém esperava. E o Áureo, que estava cochilando? Mas quando ele ouviu o estouro, mergulhou debaixo da mesa, e quando a gente viu já estava com o osso espetado na barriga. É brincadeira! Ricardo Vidal. Língua, linguado Durante uma entrevista, ouvi: Quem sabe tudo aqui dentro é o Linguado. Quem é o Linguado? perguntei. O João Frederico de Souza. O funcionário mais antigo. Mais tarde fui conversar com seu João e perguntei: Seu João que história é essa de linguado? Só pode ser coisa desses filhos da puta desses peixeiros. É que, quanto fica absorto, seu João coloca a ponta da língua no canto da boca, fazendo lembrar o linguado, peixe que tem a boca de lado. Além dos peixeiros, outros também conhecem o apelido. Ronaldo Adúcio de Oliveira, peixeiro, e Rogério do Livramento, açougueiro. Homem de fé Enquanto realizava um pequena entrevista no box 21, na segunda ala, um cliente fez questão de comentar: Eu tomei caldo de cana aqui, há 40 anos. Agora, entrei no Mercado e me perguntei: será que ainda existe aquele caldo de cana? Moro em Brasília e vim pra tomar o caldo de cana dele (apontando para o proprietário). Saboreando um copo duplo da bebida, Joel Pinto desafia: Daqui há 40 anos eu volto!

176 BALAIO DE FIGURINHAS Bons tempos dos álbuns de figurinhas, se lembra? A disputa por figurinhas carimbadas na esquina. Todos as conheciam, mas como era difícil achá-las. No próximo balaio, algumas dessas figurinhas ilustres que muito contribuíram para o desenvolvimento de Florianópolis.

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178 BALAIO DE FIGURINHAS 178 Alfredo Maria Adriano d Escragnole Taunay, Visconde de Taunay Filho de Félix Émilie Taunay, diretor da Academia Imperial de Belas Artes. Alfredo nasceu no Rio de Janeiro em 22 de fevereiro de Foi engenheiro militar, político, historiador e romancista, sendo um dos fundadores de Academia Brasileira de Letras. Publicou seu primeiro título, Mocidade de Trajano, sob o pseudônimo de Sílvio Duarte. Como político, foi presidente da Província de Santa Catarina em 1876, quando no Palácio Cruz e Sousa nasceu seu filho, Afonso Taunay. Presidiu a Província do Paraná em 1885 e, no ano seguinte, foi eleito deputado geral por Santa Catarina, e a seguir senador ( ), na vaga do Barão de Laguna, Jesuíno Lamego da Costa. Morreu no Rio de Janeiro, em 25 de fevereiro de Álvaro Augusto de Carvalho Jornalista e militar, nasceu em Florianópolis em 1 o de março de Dedicado à literatura, escreveu para o jornal Província e a revista Marítima. Amante do mar, refletiu sua paixão nas obras teatrais, Pedro Martelli e Raimundo. Em sua homenagem, o Teatro Santa Isabel passou a ser denominado Álvaro de Carvalho. Morreu em Buenos Aires, em 5 de setembro de Barão de Laguna O almirante Jesuíno Lamego da Costa fez carreira na Marinha de Guerra, onde se alistou aos 14 anos e, ao lado de seus irmãos, José e Firmino Lamego, participou das lutas contra as províncias do Prata. Em 31 de julho de 1821, em nome e representando o imperador do Brasil,

179 179 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA dom João VI, redigiu e assinou o Tratado de Incorporação, anexando o Estado de Montevidéu ao Reino Unido de Por-tugal, Brasil e Algarves, sob a denominação de Estado Cisplatino. Foi suplente de Jerônimo Coelho na Câmara dos Deputados, em 1860, e agraciado com o título de Barão de Laguna em Com o falecimento de José da Silva Mafra, assumiu a cadeira de senador, cargo vitalício. Jesuíno Lamego de Costa nasceu em 13 de setembro de 1811, em Laguna, morrendo de morte natural no Rio de Janeiro em 16 de fevereiro de Cláudio Alvim Barbosa, Zininho Boêmio, o poeta e compositor Zininho nasceu em Florianópolis em 8 de maio de A história do rádio na capital catarinense se confunde com a história do autor de Rancho de Amor à Ilha, hino oficial de Florianópolis. Gravações de programas de rádio nas décadas de 50 e 60, e inúmeras canções, formam o acervo do artista que tantas alegrias marcou para a cidade. Aos 12 anos de idade foi crooner da orquestra do Clube 12 de Agosto. Entre 1965 e 1970, esteve no Rio de Janeiro cantando ao lado de Elizete Cardoso, no Copacabana Palace. Suas músicas foram, durante muitos anos, as mais tocadas nos bailes de carnaval. Com sua morte, em 5 de setembro de 1998, em Florianópolis, ficou para sempre o exemplo de amor à Ilha. Conselheiro Manoel da Silva Mafra Formado em Direito, em São Paulo, exerceu a magistratura em São José e Florianópolis, sua terra natal, onde nasceu em 12 de outubro de Exerceu o cargo de juiz de direito em Minas Gerais, Pernambuco e no Paraná, quando foi nomeado Ministro da Justiça. Mais tarde, advogou a questão dos limites entre Santa Catarina e Paraná, defendendo seu Estado. Político, foi deputado geral por Santa Catarina em duas legislaturas, eleito pelo Partido Liberal. Morreu em Niterói, Rio de Janeiro, em 11 de março de Dom João (VI) Filho de dona Maria I, assumiu o trono como príncipe regente quando sua mãe foi declarada louca. Como herdeiro natural, foi acla-

180 BALAIO DE FIGURINHAS 180 mado dom João VI com a morte da mãe, em Sua personalidade não combinava com as necessidades de mandatário. Era calado, tímido e indeciso, de quando em quando tinha acessos de melancolia e indiferença com os que o cercavam e os problemas do reino. Casou-se com dona Carlota Joaquina de Bourbon, com quem teve nove filhos. Com a morte do primogênito, dom Antônio, dom Pedro de Alcântara e Miguel viria a ser o imperador do Brasil, dom Pedro I, o proclamador da Independência. Dom Pedro II Quando dom Pedro I abdicou, em 7 de abril de 1831, seu filho Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade. O Brasil, durante dez anos, foi governado por Regências. Coroado dom Pedro II aos 16 anos, em 18 de julho de 1841, o imperador casou-se com Maria Thereza Christina de Bourbon aos 18 anos e tiveram quatro filhos. Seu governo foi marcado por decisões corretas e sensatas, com o país passando por uma fase de progresso econômico. Foi responsável pela descentralização da produção da região Nordeste para a Centro-sul, quando ocorreu a transformação da agricultura, baseada no cultivo de café. Incentivou o crescimento das exportações e procurou desenvolver a indústria, sempre se mostrando partidário de novas tecnologias. Governou o Brasil até a Proclamação da República, quando foi exilado, morrendo em Paris, aos 66 anos. Fernando Machado de Sousa O militar catarinense nasceu em Florianópolis em 11 de janeiro de 1822 e tombou alvejado na Guerra do Paraguai, na ponte de Itororó, em 6 de dezembro de Sua estátua foi inaugurada em 1902 na praça Floriano Peixoto, que recebeu a denominação de praça Fernando Machado em 6 de outubro de 1993, pela lei n o Floriano Peixoto Militar de carreira, nascido em 30 de abril de 1839, lutou na Guerra no Paraguai do início ao fim, alcançando o posto de comandante-dearmas. Com o fim do combate, foi nomeado presidente da Província

181 181 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA do Mato Grosso. Em 15 de novembro de 1889, mesmo como ajudante-general, não participou diretamente da Proclamação da República. Se recusou a lutar com as tropas golpistas de Deodoro da Fonseca, mas também negou apoio à monarquia, posição que favoreceu o golpe. Nas eleições de 1891, concorreu a vice-presidente na chapa encabeçada por Prudente de Morais. As eleições de presidente e vice eram separadas. Assim, Deodoro da Fonseca ganhou para a presidência e Floriano Peixoto para a vice-presidência. Com a renúncia de Deodoro, Floriano assumiu a presidência da República. Apesar da Constituição determinar novas eleições, ele se negou a convocá-las. Seu governo foi marcado por grande instabilidade. Nesse período, teve início a Revolta da Armada, na Guanabara, hoje Rio de Janeiro, e a Revolução Federalista, no sul do País. Combateu as revoltas com muita violência, conseguiu derrotá-las, mas isso lhe rendeu a alcunha de Marechal de Ferro. Foi o responsável pelo massacre do forte de Anhatomirim, em Florianópolis, onde foram mortos seus opositores. No final de seu governo, já doente e sem força política, concluiu o mandato e transmitiu o cargo a Prudente de Moraes, eleito pelo povo em 15 de novembro de Morreu em 29 de junho de1895. Imperatriz Maria Thereza Christina de Bourbon A princesa nasceu em Nápoles, filha de Francisco II, rei das Duas Sicílias, e de Maria Isabel de Bourbon, infanta da Espanha. A necessidade de um casamento consistente para dom Pedro II levou à Europa uma missão que durou dois anos para selecionar sua mulher. Com contrato de casamento acertado, a cerimônia ocorreu em território napolitano, sem a presença do imperador. Thereza Christina chegou ao Brasil em 3 de setembro de 1843, quando conheceu dom Pedro II. Sempre ao lado do marido, preocupada com as causas sociais, ficou conhecida por sua popularidade e foi carinhosamente chamada de Mãe dos Brasileiros. Tiveram quatro filhos, Pedro, Afonso, Leopoldina e Isabel. O primogênito e Afonso morreram na infância. Isabel, a mais nova, ficaria conhecida como a Princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea.

182 BALAIO DE FIGURINHAS 182 Jerônimo Francisco Coelho É considerado o fundador da imprensa catarinense. Nascido na Cidade de Laguna, em 30 de setembro de 1806, fundou em 1831, na capital da Província, o jornal O Catharinense. Líder do Partido Liberal, foi deputado na Assembléia Provincial e deputado geral de 1836 a Ainda na vida política, presidiu o Rio Grande do Sul e outros Estados, além de ocupar os cargos de ministro da Marinha, em 1844, e de ministro da Guerra, em Jornalista, as idéias que defendeu na imprensa são suas maiores obras literárias. Morreu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de João da Cruz e Sousa Negro, nasceu em Florianópolis em 24 de novembro de Foi criado por Clarinda Fagundes de Sousa e seu marido, o marechal Guilherme Xavier de Sousa, com quem vivia como filho de criação. Seu pai, Guilherme, mestre pedreiro do marechal, e sua mãe, Carolina, lavadeira, viviam sob proteção da família Sousa, como escravos libertos. Discriminado, não cursou o ensino superior, mas aos 20 anos fundou com o conterrâneo Virgílio Várzea o jornal Colombo. Poeta simbolista, publicou dois livros, Missal e Broquéis, ambos em Vitimado por tuberculose, morreu na cidade de Sítio, Minas Gerais, em 19 de março de Luiz Henrique Rosa O compositor e cantor catarinense nasceu em Tubarão em 25 de novembro de Em Florianópolis, lançou-se na vida artística através de programas de rádio na Diário da Manhã. Inicialmente fazendo locução e apresentação de programas locais, na década de 60 conheceu Elis Regina e João Gilberto, magos da Bossa Nova. Boêmio, foi dono do bar Samburá, localizado anexo ao restaurante Rosa, na praça XV de Novembro, freqüentado por radialistas, compositores e notívagos. Mudou-se para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde lançou seu primeiro disco de Bossa Nova. Foi morar em Nova Iorque e tocou com grandes personalidades, quando conheceu Liza Minelli, sua grande amiga. Nesse período, no exterior, lançou sete discos, sendo

183 183 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA aplaudido pela crítica americana. Liza veio a Florianópolis em 1979 e, ao lado de Luís Henrique, conheceu a Ilha da Magia, e freqüentou o Mercado Público. Avesso a automóveis, por fatalidade do destino morreu em um acidente de carro em 9 de julho de 1985, nas proximidades do Armazém Vieira, na Costeira, em Florianópolis. Príncipe Conde d Eu Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orleans tornou-se príncipe ao renunciar à nacionalidade francesa e adotar a brasileira, casando-se com a princesa Isabel, herdeira do trono brasileiro. Formado na Academia Militar de Segóvia, na Espanha, após o casamento recebeu as honras de marechal do exército brasileiro e o comando geral da Artilharia. Acompanhou o imperador na rendição dos paraguaios em Uruguaiana. Depois da Proclamação da República, seguiu a família real no exílio. Johann Moritz Rugendas Como participante da Expedição Langsdorff, veio ao Brasil em Registrou paisagens, cenas do cotidiano e o trabalho escravo até 1824, quando abandonou a expedição e voltou à Europa, publicando o livro Voyage Pittoresque dans le Brésil, ilustrado com suas pinturas. Retornou ao Brasil para pintar os retratos de dom Pedro II, da imperatriz Thereza Christina e do príncipe dom Afonso, em Partiu definitivamente no ano seguinte. Alberto Santos Dumont O brasileiro, Pai da Aviação, nasceu em Palmira, atual Santos Dumont, em Minas Gerais, em 20 de julho de Aos 18 anos, foi enviado pelo pai para completar seus estudos em Paris. No primeiro momento se dedicou ao automobilismo, participando inclusive de competições internacionais. Mas ficou conhecido pelo grande número de inventos, culminando com o avião. No balão Brasil, o único que teve nome, os demais foram apenas números, fez sua primeira demonstração de vôo em 4 de julho de Com o balão dirigível de número 6, contornou a torre Eiffel, em 1901.

184 BALAIO DE FIGURINHAS 184 Após 29 minutos e 30 segundos, retornando ao ponto de partida, ganhou o prêmio Deutsh de la Meurth. As experiências com o 14-BIS começaram em julho de Santos Dumont planejava elevar-se do solo apenas com seus próprios meios, impulsionado por um motor. Em Paris, com o biplano construído em forma de T invertido, cauda à frente e as asas na parte posterior, armação de bambu e cobertura de seda japonesa, pesando 290 quilos, percorreu a distância de 60 metros a uma altura entre 2 e 3 metros, em 23 de outubro de Finalmente, o homem podia voar. O fato é homologado como o primeiro vôo mecânico do mundo. Novamente com o 14-BIS, exibindo sua nova invenção, os ailerons, em 12 de novembro realizou um vôo de 220 metros, a uma altura de 6 metros, em 21 segundos. Assim, Santos Dumont comprovou que o aparelho mais pesado que o ar, o avião, funcionava, deixando o Campo de Bagatelle, em Paris, aplaudido pelos franceses. Alberto Santos Dumont assinava Santos=Dumont. Explicava a atitude afirmando que desta forma homenageava suas duas origens. Dizia que Santos, o orgulho de ser brasileiro, era igual a sua descendência francesa, Dumont. Morreu no Brasil, no Guarujá, em São Paulo, em 23 de julho de Victor Meirelles de Lima Após exibir seus primeiros trabalhos em Florianópolis, onde nasceu em 18 de agosto de 1832, o pintor catarinense foi aluno da Imperial Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Quando ganhou uma viagem de estudos para a Europa, em 1852, morou entre Paris e Roma. Retornando ao Brasil, lecionou na Academia onde havia sido aluno. Mais tarde foi condecorado com o Grau de Cavalheiro da Ordem da Rosa, pelo imperador dom Pedro II. Sua obra mais famosa, o quadro A Primeira Missa no Brasil, se encontra exposto no Museu Nacional, Rio de Janeiro. Pintou entre outros quadros a Batalha de Guararapes, Batalha Naval de Riachuelo e Juramento da Princesa. A casa onde nasceu, em Florianópolis, foi transformada no Museu Victor Meirelles, situada na rua de mesmo nome, no Centro da cidade. Morreu em 22 de fevereiro de 1903, no Rio de Janeiro.

185 185 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA

186 BALAIO NA CABEÇA Enquanto o pombeiro vai de casa em casa para vender suas quitandas, o autor vai de arquivo em arquivo. Se ele vende de porta em porta, a pesquisa vai de documento em documento. E a informação pode, às vezes, pesar tanto quanto um balaio cheio de mandioca, feijão ou milho.

187 187 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA Bibliografia A ÉPOCA. Florianópolis. Exemplar de 11 de agosto de A GAZETA. Florianópolis. Exemplares de agosto de A GAZETA. Florianópolis. Exemplar de 16 de julho de A HISTÓRIA DA MPB-III (A Bossa Nova). Disponível em: < cafemusic.com.br>. Acesso em: 2 de novembro de A INVENÇÃO DO TELEFONE. Disponível em < Acesso em: 15 de outubro de ALBERTO SANTOS DUMONT, biografia. Disponível em: < Acesso em: 22 de dezembro de ANEXO, jornal A Notícia. Morre Zininho, O poeta da Ilha. Disponível em: < Acesso em: 2 de novembro de A NOTÍCIA. Joinville. Exemplar de 6 de setembro de A NOTÍCIA. Joinville. Exemplar de 9 de março de AN CAPITAL. Florianópolis. Exemplar de 21 de dezembro de AN CAPITAL. Florianópolis. Exemplar de 9 de dezembro de AN CAPITAL. Florianópolis. Exemplar de 24 de dezembro de AN CAPITAL. Florianópolis. Exemplar de 25 e 26 de dezembro de ANUÁRIO CATARINENSE, n o 4, 1951, Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Resumos: NBR 6023/2000. Rio de Janeiro, BERGER, Paulo (org.). Ilha de Santa Catarina - Relatos de Viajantes Estrangeiros nos Séculos XVIII e XIX. Florianópolis: Assembléia Legislativa de Santa Catarina, BOX 32, Ponto obrigatório para quem está na Ilha. Disponível em: < Acesso em: 2 de setembro de CABRAL, Osvaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro, v.1. Florianópolis: Editora da UFSC, CÂMARA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS, Índice de leis. Disponível em: < Acesso em: 1 o de novembro de COMO FAZER REFERÊNCIAS. Disponível em: < Acesso em: 8 de novembro de CONTI, Nicanor Delfino. Nicanor dos Passarinhos. Florianópolis: Nicanor Delfino Conti, CORTE PORTUGUESA NO BRASIL. Disponível em: < com/vinicrashbr> Acesso em: 23 de setembro de CRUZ E SOUSA, LiteraturaNET. Disponível em: <

188 BALAIO NA CABEÇA 188 hpg.ig.com.br>. Acesso em: 14 de outubro de DESTERRO. Lex: Coleção de Leis do Município de Florianópolis de 1891 a Litografia da Livraria Moderna, DESTERRO. Livro caixa de despesas e receitas de 1851 a Manuscrito. DESTERRO. Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de 1849 a Manuscrito, 146 páginas. DESTERRO. Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de 1885 a Manuscrito, 200 páginas. DESTERRO. Livro de atas das sessões da Câmara Municipal de 1893 a Manuscrito, 200 páginas. DESTERRO. Livro de atas das sessões do Conselho da Intendência Municipal de 1890 a Manuscrito, 200 páginas. DIÁRIO CATARINENSE. Florianópolis. Exemplar de 1 o de março de DIÁRIO DA TARDE. Florianópolis. Exemplares de janeiro de 1939 a abril de1941. DIÁRIO DA TARDE. Florianópolis. Exemplares de abril de DOM JOÃO VI. Disponível em: < Acesso em: 31 de outubro de ESTADO DE SÃO PAULO. Manual de Redação e Estilo. São Paulo, EUGÊNIO RAULINO KOERICH - A Trajetória do Empresário. Família Koerich (org.). Florianópolis, FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, FLORIANO PEIXOTO, biografia. Disponível em: < com>. Acesso em: 25 de dezembro de FLORIANO PEIXOTO, biografia. Disponível em: < Acesso em: 8 de dezembro de FLORIANÓPOLIS. Guia Digital de Florianópolis, v IPUF, Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis, CD-ROM. FLORIANÓPOLIS. Lei n o 315, de 19 de setembro de Dispõe sobre abertura de concorrência pública para construção de mais um mercado municipal na cidade, no subdistrito do Estreito. FLORIANÓPOLIS. Lei n o 319, de 19 de setembro de Dispõe sobre a abertura de concorrência pública para construção de um mercado (avenida Hercílio Luz) nesta capital. FLORIANÓPOLIS. Lei n o 352, de 23 de novembro de Autoriza o Poder Executivo a alinear área de terras, em Capoeiras, para a construção de um mercado. FLORIANÓPOLIS. Lei n o 704, de 20 de agosto de Modifica dispositivos do Código Municipal referentes aos mercados. FLORIANÓPOLIS. Lei n o 947, de 13 de março de Autoriza o Poder Executivo a arrendar o Mercado de Capoeiras. FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção das Leis do Município de Florianópolis, de 1895 e Gabinete sul-americano, FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis do Município de Florianópolis de 1896 a Tipografia da Livraria Moderna, 1901.

189 189 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA FLORIANÓPOLIS. Lex: Livro de Leis e Resoluções do Governo Municipal, Gabinete Tipográfico de O Dia. FLORIANÓPOLIS: Lex: Leis e Resoluções do Município de Florianópolis, Tipografia Gutemberg, FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis e Resoluções do Município de Florianópolis, Oficina de O Dia, [191-]. FLORIANÓPOLIS. Lex: Leis e Resoluções do Município de Florianópolis, Livraria Cisne, FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis e Resoluções do Município de Florianópolis, 1915 e Oficinas Gráficas de A. Phoenix FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis de Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis de Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, FLORIANÓPOLIS. Lex: Coleção de Leis e Resoluções de Tipografia Modelo, FLORIANÓPOLIS. Livro de atas de concorrência das propostas de construção das paredes do Mercado Público, Manuscrito, 49 páginas. FLORIANÓPOLIS. Livro de lançamento de termos de contratos diversos, Manuscrito, 191 páginas. FLORIANÓPOLIS. Livro de registro de ofícios e portarias, Manuscrito, 38 páginas. FLORIANÓPOLIS. Livro de registro de ofícios e portarias, Manuscrito, 49 páginas. FLORIANÓPOLIS. Cópia do projeto da primeira ala do Mercado da rua Conselheiro Mafra, [19 ]. FLORIANÓPOLIS. Planta do Mercado Municipal, avenida Mauro Ramos. Original, FLORIANÓPOLIS. Planta do Mercado Municipal, rua Conselheiro Mafra. IPUF, FLORIANÓPOLIS. Planta do Mercado Municipal, rua Fúlvio Aducci, Original, FLORIANÓPOLIS. Relatório apresentado ao Conselho Municipal pelo superintendente Heitor Blum. Exercício de Livraria Moderna, FLORIANÓPOLIS. Relatório apresentado ao interventor federal do Estado pelo prefeito da capital, Mauro Ramos. Exercício de Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, FOLHA DE S.PAULO. Manual de Redação. São Paulo, GALERIA DE OURO. Disponível em: < Acesso em: 2 de novembro de GUERRA DO PARAGUAI. Disponível em: < Acesso em: 23 de setembro de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Recenseamento de Rio de Janeiro: Tipografia da Estatística, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Séries Estatísticas Retrospectivas, volume 2, tomo 1, edição de Edição fac-similar. JOHANN MORITZ RUGENDAS, biografia. Disponível em: < ceveh.com.br>. Acesso em: 22 de dezembro de 2001.

190 BALAIO NA CABEÇA 190 JORNAL DE SANTA CATARINA. Blumenau. Exemplar de 17 de outubro de JORNAL DIA E NOITE. Florianópolis. Exemplar de 18 de agosto de JORNAL DO COMMÉRCIO. Florianópolis. Exemplar de 7 de dezembro de JORNAL DO COMMÉRCIO. Florianópolis. Exemplar de 4 de setembro de MUNICÍPIO DE SANTO AMARO DA IMPERATRIZ. Disponível em: < Acesso em: 31 de outubro de NOSSA HISTÓRIA, Victor Meirelles e a sua história. Disponível em: < Acesso em: 15 de novembro de NORMAS TÉCNICAS PARA TRANSCRIÇÃO E EDIÇÃO DE DOCUMEN- TOS MANUSCRITOS. Disponível em: < Acesso em: 14 de outubro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplares de maio de 1898 a janeiro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 9 de junho de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 7 de agosto de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 27 de outubro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 25 de janeiro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 15 de setembro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 10 de maio de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 11 de outubro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 22 de novembro de O ESTADO. Florianópolis. Exemplar de 4 de fevereiro de O GOVERNO FLORIANO PEIXOTO ( ). Brasil, Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: < Acesso em: 8 de dezembro de O LEGADO COLONIAL, O Segundo Reinado - Limites com o Uruguai, a Venezuela e o Paraguai. Brasil, Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: < Acesso em: 25 de dezembro de O LEGADO COLONIAL, O Segundo Reinado - Relações com o Prata ( ). Brasil, Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: < mre.gov.br>. Acesso em: 31 de dezembro de O NOVO IRIS. Florianópolis. Exemplares de setembro de 1850 a janeiro de BIS. Disponível em < Acesso em: 16 de outubro de REFORMAS DO SISTEMA MONETÁRIO BRASILEIRO. Disponível em: < Acesso em: 24 de julho de REPÚBLICA. Florianópolis. Exemplar de 2 de fevereiro de REPÚBLICA. Florianópolis. Exemplar de 6 de fevereiro de REPÚBLICA. Florianópolis. Exemplar de 7 de fevereiro de REPÚBLICA. Florianópolis. Exemplar de 25 de março de REPÚBLICA. Florianópolis. Exemplares de janeiro de 1931 a janeiro de RUGENDAS, biografia. Disponível em: < Acesso em: 22 de dezembro de 2001.

191 191 MERCADO DO MANÉ AO TURISTA SANTA CATARINA. Lex: Índice de Leis de 1835 a Palácio do Governo da Província de Santa Catarina, [185-]. SANTA CATARINA. Lei n o 93, de 27 de abril de Autoriza o presidente da Província a contratar a construção do Mercado. SANTA CATARINA. Ofícios da Diretoria de Obras Públicas de 1887 a Manuscritos. SANTA CATARINA. Ofícios recebidos no Palácio em Manuscritos. SANTA CATARINA. Ofícios dos engenheiros para o Palácio do Governo em Manuscritos. SANTA CATARINA. Planta do projeto do Mercado, parte integrante da lei n o 92. Original, [1838]. SANTA CATARINA. Registro de correspondência da Câmara Municipal à Presidência, de 1848 a Manuscritos. SANTA CATARINA. Relatório do interventor Nereu Ramos. Exercício de Outubro de SILVA, Adolfo Nicolich. Ruas de Florianópolis - Resenha Histórica. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, SILVA, Nivaldo Jorge da. A Descoberta do Mercado Público. Florianópolis: Associação dos Comerciantes e Varejistas do Mercado Público de Florianópolis, SÍMBOLOS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Governo do Estado de Santa Catarina. Disponível em < Acesso em: 19 de dezembro de SOARES, Doralécio. Aspectos do Folclore Catarinense. Florianópolis: Edição do Autor, TITULARES DO GOVERNO ESTADUAL, Santa Catarina. Disponível em: < Acesso em: 28 de outubro de TURKISH BATHS IN HARROGATE, Our History. Disponível em: < Acesso em 1 o de novembro de VEIGA, Eliane Veras da. Memória Urbana. Florianópolis: Editora da UFSC e Fundação Franklin Cascaes, VISCONDE DE TAUNAY, Academia Brasileira de Letras. Disponível em: < Acesso em: 13 de outubro de Entrevistas BORTOLUZZI, Décio. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em dezembro de 2001 e fevereiro de 2002, gravação em fita cassete. BRITO, Aldo de. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em dezembro de 2001, gravação em fita cassete. CAMPOS, Izair. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em outubro de 2001, gravação em fita cassete. CARVALHO, Nezir Scheidt. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em fita cassete. CONTI, Orivalda Florindo. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em setembro de 2001, gravação em fita cassete. COSTA, Jaime. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em fita cassete. FILHO, Laurentino Estanislau Martins. Entrevista concedida a Ricardo

192 BALAIO NA CABEÇA 192 Moreira de Mesquita em março de 2002, gravação em fita cassete. GALEGO, Amadeu do Nascimento. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em outubro de 2001, gravação em fita cassete. KOERICH, Antônio Obet. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em março de 2002, gravação em fita cassete. LIVRAMENTO, Rogério. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em fita cassete. LUZ, Ana Maria Fernandes da. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em novembro de 2001, gravação em fita cassete. MANSUR, Zenaide e Marlene de Moraes. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em setembro e outubro de 2001, gravação em fita cassete. MANSUR, Zenaide. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em dezembro de 2001, gravação em fita cassete. MELLO, Oreste. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em janeiro e fevereiro de 2002, gravação em fita cassete. MÜLLER, Nicolau José. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em dezembro de 2001, gravação em fita cassete. OLIVEIRA, Ronaldo Adúcio. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em março de 2002, gravação em fita cassete. PEREIRA, Laudêncio. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em dezembro de 2001 e janeiro de 2002, gravação em fita cassete. ROSA, José Isaltino. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em março de 2002, gravação em fita cassete. ROSA, Tea Yolanda Pinto. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em fevereiro de 2002, gravação em fita cassete. SILVA, João Bernardino da. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em dezembro de 2001, gravação em fita cassete. SILVA, Roberto Henrique Barreiros. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em dezembro de 2001, gravação em fita cassete. SOUZA, João Frederico de. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em agosto de 2001 e janeiro de 2002, gravação em fita cassete. VALGAS, Mário. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em setembro de 2001, gravação em fita cassete. VIDAL, Ricardo. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita e Verlaine Silveira em outubro de 2001, gravação em fita cassete. VIEIRA, Matilde. Entrevista concedida a Ricardo Moreira de Mesquita em março de 2002, gravação em fita cassete. Imagens ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. Fac-símile cedido da planta do Mercado. BARRIOS, Leandro. Desenho em crayon cedido pelo artista. FUNDAÇÃO FRANKLIN CASCAES (FFC). Fotos cedidas do Banco de Imagem, ampliadas no Foto Anacleto.

193 Florianópolis, anos da fundação da póvoa de Nossa Senhora do Desterro (1673) 288 anos da criação da freguesia de Nossa Senhora do Desterro (1714) 276 anos da criação do município de Desterro (1726) 264 anos da criação da Capitania de Santa Catarina (1738) 108 anos da denominação Florianópolis (1894) 171 anos da Imprensa Catarinense (1831) 149 anos do primeiro livro impresso em Santa Catarina (1853) 82 anos da fundação da Academia Catarinense de Letras (1920) 170 anos do nascimento do pintor Victor Meirelles (1832) 141 anos do nascimento do poeta Cruz e Sousa (1861) 73 anos do nascimento do compositor Cláudio Alvim Barbosa, Zininho (1929) 64 anos do nascimento do compositor Luís Henrique Rosa (1938) 151 anos da inauguração da Praça do Mercado (1851) 103 anos da inauguração da primeira ala do Mercado Público Municipal (1899) 71 anos da inauguração da segunda ala do Mercado Público Municipal (1931) Pré-impressão Copyright 2002 by Ricardo Moreira de Mesquita Todos os direitos desta edição reservados ao autor Impresso no Brasil/Printed in Brazil

194

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