Envelhecimento, direitos e proteção: perspetivas atuais e pistas para o futuro
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- Larissa Casqueira Pinto
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1 Envelhecimento, direitos e proteção: perspetivas atuais e pistas para o futuro Catarina Alvarez Piscóloga e Jurista Coordenadora do projeto Cuidar Melhor
2 CONTEXTO: O ENVELHECIMENTO EM PORTUGAL De 2011 a 2011, o número de pessoas com 65 ou mais anos cresceu cerca de 19% Pessoas com 65 ou mais anos = 19% da população total De 1970 a 2011, a esperança média de vida aumentou 13 anos Portugal Esperança média de vida (à nascença) Total (idade) 67,1 79,8 Homens 64 76,7 Mulheres 70,3 82, pessoas com 65 e mais anos INE, Censos pessoas com 65 e mais anos
3 CONTEXTO: O ENVELHECIMENTO EM PORTUGAL Indíce de Envelhecimento: Quantas pessoas com 65 ou mais anos existem por cada 100 jovens? % % Em 2060, resultado do agravamento dos desequilíbrios geracionais, o índice de envelhecimento poderá vir a atingir o valor de 307 idosos por cada 100 jovens INE, 2014
4 INTRODUÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM JURÍDICA NO ENVELHECIMENTO Cuidados de Saúde Apoio Social Enquadramento Familiar Tutela jurídica «Em ordem a garantir em todas as fases da vida o respeito pela dignidade da pessoa humana» (Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2015)
5 INTRODUÇÃO: PARA O DIREITO, O ENVELHECIMENTO É UM DESAFIO INTERVENÇÃO JURÍDICA Novos protagonistas Novos problemas Novas soluções Novas relações contratuais
6 INTRODUÇÃO: ABORDAGEM VERTICAL OU TRANSVERSAL? Direito para as Pessoas Idosas Estruturas governamentais e judiciais específicas Envelhecimento como indicador de desenvolvimento inspirador de uma política integrada Direito da Família Direito da Segurança Social Direito Penal Direito do Trabalho Direito das Sucessões
7 1. ENQUADRAMENTO JURÍDICO INTERNACIONAL Princípios das Nações Unidas para as Pessoas Idosas Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia Recomendação sobre a promoção dos direitos humanos das pessoas idosas do Comité de Ministros aos Estados membros (CM/Rec (2014) 2) Convenção dos Direitos do Homem e da Biomedicina
8 PRINCÍPIOS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS PESSOAS IDOSAS Independência Participação Cuidados Realização pessoal Dignidade A ONU recomenda aos governos que, na medida do possível, incorporem estes princípios nos seus programas governamentais (Assembleia Geral das Nações Unidas Resolução 46/91)
9 CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA
10 RECOMENDAÇÃO SOBRE A PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS IDOSAS DO COMITÉ DE MINISTROS AOS ESTADOS MEMBROS LINHAS DE AÇÃO Não discriminação, nomeadamente, em razão da idade Promoção da autonomia e participação Proteção contra a violência e os abusos Proteção social e emprego Promoção da saúde Acesso à justiça (Assembleia Geral das Nações Unidas Resolução 46/91)
11 CONVENÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DA BIOMEDICINA Artigo 2.º Primado do ser humano O interesse e o bem-estar do ser humano devem prevalecer sobre o interesse único da sociedade ou da ciência. Artigo 3.º Acesso equitativo aos cuidados de saúde As Partes tomam, tendo em conta as necessidades de saúde e os recursos disponíveis, as medidas adequadas com vista a assegurar, sob a sua jurisdição, um acesso equitativo aos cuidados de saúde de qualidade apropriada.
12 CONVENÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DA BIOMEDICINA Artigo 5.º Regra geral Qualquer intervenção no domínio da saúde só pode ser efetuada após ter sido prestado pela pessoa em causa o seu consentimento livre e esclarecido. Esta pessoa deve receber previamente a informação adequada quanto ao objetivo e à natureza da intervenção, bem como às suas consequências e riscos. A pessoa em questão pode, em qualquer momento, revogar livremente o seu consentimento.
13 CONVENÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DA BIOMEDICINA Artigo 10.º Vida privada e direito à informação 1 - Qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida privada no que toca a informações relacionadas com a sua saúde. 2 - Qualquer pessoa tem o direito de conhecer toda a informação recolhida sobre a sua saúde. Todavia, a vontade expressa por uma pessoa de não ser informada deve ser respeitada. 3 - A título excepcional, a lei pode prever, no interesse do paciente, restrições ao exercício dos direitos mencionados no nº2.
14 2. ENQUADRAMENTO JURÍDICO NACIONAL Constituição da República Portuguesa (Terceira idade art. 72º) Código Civil (Prestação de Alimentos arts. 2003º e seguintes) Resolução do Conselho de Ministros sobre a Família (nº 50/ Família e Envelhecimento) Código Penal (homicídio qualificado art. 132º, violência doméstica art. 152º) Proteção Social das Pessoas Idosas (Legislação diversa) (Resolução do Conselho de Ministros nº 50/2004)
15 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA Artigo 72.º (Terceira idade) 1. As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social. 2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade.
16 CÓDIGO CIVIL PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS ARTIGO 2003º (Noção) 1. Por alimentos entende-se tudo o que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário. 2. Os alimentos compreendem também a instrução e educação do alimentado no caso de este ser menor. ARTIGO 2004º (Medida dos alimentos) 1. Os alimentos serão proporcionados aos meios daquele que houver de prestá-los e à necessidade daquele que houver de recebê-los. 2. Na fixação dos alimentos atender-se-á, outrossim, à possibilidade de o alimentando prover à sua subsistência.
17 CÓDIGO CIVIL PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS ARTIGO 2009º (Pessoas obrigadas a alimentos) 1. Estão vinculados à prestação de alimentos, pela ordem indicada: a) O cônjuge ou o ex-cônjuge; b) Os descendentes; c) Os ascendentes; d) Os irmãos; e) Os tios, durante a menoridade do alimentando; f) O padrasto e a madrasta, relativamente a enteados menores que estejam, ou estivessem no momento da morte do cônjuge, a cargo deste. 2. Entre as pessoas designadas nas alíneas b) e c) do número anterior, a obrigação defere-se segundo a ordem da sucessão legítima. 3. Se algum dos vinculados não puder prestar os alimentos ou não puder saldar integralmente a sua responsabilidade, o encargo recai sobre os onerados subsequentes.
18 RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS SOBRE A FAMÍLIA OBJETIVOS (Resolução do Conselho de Ministros nº 50/2004)
19 RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS SOBRE A FAMÍLIA FAMÍLIA E ENVELHECIMENTO (Resolução do Conselho de Ministros nº 50/2004)
20 CÓDIGO PENAL Artigo 132º Homicídio qualificado 1 -Se a morte for produzida em circunstâncias que revelem especial censurabilidade ou perversidade, o agente é punido com pena de prisão de 12 a 25 anos. 2 -É susceptível de revelar a especial censurabilidade ou perversidade a que se refere o número anterior, entre outras, a circunstância de o agente: a) Ser descendente ou ascendente, adoptado ou adoptante, da vítima; b) Praticar o facto contra pessoa particularmente indefesa, em razão da idade, deficiência, doença ou gravidez; (...) (Resolução do Conselho de Ministros nº 50/2004)
21 CÓDIGO PENAL Artigo 152º Violência Doméstica 1 -Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais: a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge; b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação de namoro ou uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação; c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; ou d) A pessoa particularmente indefesa, nomeadamente em razão da idade, deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite; é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal. (...)
22 PROTEÇÃO SOCIAL DAS PESSOAS IDOSAS PRESTAÇÕES DE SEGURANÇA SOCIAL Pensão de Velhice Pensão Social de Velhice Acréscimo Vitalício de Pensão (antigos combatentes) Benefícios adicionais de saúde Complemento Especial à Pensão Social de Velhice (antigos combatentes) Complemento por cônjuge a cargo (36.80 ) Complemento Solidário para Idosos Suplemento Especial de Pensão (antigos combatentes) DGSS, Maio 2015
23 2012 DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE Regulação das diretivas antecipadas de vontade, designadamente sob a forma de testamento vital, e a nomeação de procurador de cuidados de saúde Criação do Registo Nacional do Testamento Vital (RENTEV) Testamento Vital: Documento unilateral e livremente revogável pelo próprio, no qual uma pessoa manifesta antecipadamente a sua vontade consciente, livre e esclarecida, no que concerne aos cuidados de saúde que deseja receber, ou não deseja receber, no caso de, por qualquer razão, se encontrar incapaz de expressar a sua vontade pessoal e autonomamente Lei nº 25/2012
24 2013 AUMENTO DO NÚMERO DE PROCESSOS DE INTERDIÇÃO Orientação técnica nº 17/2013 do ISS
25 2014 AUMENTO DO NÚMERO DE PROCESSOS DE INTERDIÇÃO Há cada vez mais idosos declarados incapazes pela Justiça de gerir a sua pessoa e património. Os processos quase triplicaram em 10 anos, sobretudo por causa do aumento de diagnóstico de doenças mentais.
26 2015 ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO - 4 MEDIDAS MEDIDA 1: REFORÇAR OS DIREITOS DOS IDOSOS Objetivo: Enunciar de forma expressa e clara os direitos dos idosos, assumindo um conjunto de princípios orientadores na interpretação e aplicação das normas legais pertinentes Desenvolver políticas adequadas à proteção dos direitos dos idosos, designadamente, nas áreas da saúde e da segurança social. DIREITOS DOS IDOSOS LEGALMENTE CONSGARADOS Independência Participação Assistência Realização Pessoal Dignidade + Acesso à informação Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2015
27 2015 ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO - 4 MEDIDAS MEDIDAS : REGIME DE INCAPACIDADES E SUPRIMENTOS ALTERAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL E LEGISLAÇÃO AVULSA Medidas de Proteção de Maiores em situação de incapacidade: interdição, inabilitação, mandato e gestão de negócios PRINCÍPIOS DE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO: dignidade da pessoa humana, prévia audição e participação, informação, necessidade e proporcionalidade, flexibilidade (caráter evolutivo) e preservação patrimonial Deve ser expressamente delimitada a concreta área de incapacidade de exercício que afete determinada pessoa (vários graus ou medidas) Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2015
28 2015 ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO - 4 MEDIDAS MEDIDAS : REGIME DE INCAPACIDADES E SUPRIMENTOS ALTERAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL E LEGISLAÇÃO AVULSA Objetivo: Reforçar a autonomia e a dignidade das pessoas com capacidade diminuida Exemplos: A instituição onde a pessoa se encontrar tem obrigação de sinalizar a situação de incapacidade ao Ministério Público; possibilidade da tutela ser exercida por pessoa colectiva; possibilidade da própria pessoa requerer a sua interdição, escolhendo o seu tutor. Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2015
29 2015 ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO - 4 MEDIDAS MEDIDA 3: ALTERAÇÃO AO CÓDIGO CIVIL DIREITO SUCESSÓRIO Objetivo: Reforçar a proteção dos direitos dos idosos, em matéria de direito sucessório. Ações a desenvolver: Alterar o art. 2034º do Código Civil e criar uma nova norma no título da sucessão testamentária, no capitulo da indisponibilidade relativa Exemplo: Incapacidade por indignidade, o condenado por crime de maus tratos ou por crime de violência doméstica contra o autor da sucessão Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2015
30 2015 ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO - 4 MEDIDAS MEDIDA 4: ALTERAÇÃO AO CÓDIGO PENAL Objetivo: Reforçar a proteção dos direitos dos idosos, através da tutela penal. Ações a desenvolver: Introduzir normas no Código Penal que sancionem comportamentos que atentem contra os direitos fundamentais dos idosos Exemplo: Constitui crime coagir uma pessoa idoso que se encontre, à data, notoriamente limitada ou alterada nas suas funções mentais, em termos que impossibilitem a tomada de decisões de forma autónoma ou esclarecida, a outorgar procuração para fins de administração ou disposição dos seus bens Resolução do Conselho de Ministros nº 63/2015
31 ENVELHECIMENTO INCAPACIDADE DEPENDÊNCIA TRÊS IDEIAS-CHAVE A incapacidade não é uma consequência do envelhecimento Nem todos as pessoas dependentes são incapazes O suprimento da vontade não é um estigma é um direito
32 ENVELHECIMENTO IDADISMO CONSEQUÊNCIAS Tendência para a infantilização e paternalismo Quebra de laços entre gerações Violência sobre pessoas idosas Sibila Marques Idadismo, 2011 Ed. FFMS
33 ENVELHECIMENTO IDADISMO É UM PROBLEMA GRAVE NA SOCIEDADE PORTUGUESA A discriminação em relação à idade é a principal forma de discriminação sentida pelos portugueses (17%) ATENÇÃO: A liberdade e a cidadania não têm idade! Situação de vulnerabilidade em qualquer momento da vida Dra. Paula Guimarães Sibila Marques Idadismo, 2011 Ed. FFMS
34 ENVELHECIMENTO COMISSÕES DE PROTEÇÃO DE IDOSOS Faz sentido fazer uma anologia com o modelo aplicável aos jovens e criar uma resposta específica para as pessoas idosas? OU SERÁ PREFERÍVEL Adotar um modelo holístico, integrado e inclusivo de proteção da família (preventiva e reativa) que defenda as pessoas em situações de vulnerabilidade ao longo do seu ciclo de vida?
35 IMAGEM GESTÃO LIVRE DO SEU PATRIMÓNIO AUTO-REALIZAÇÃO SOCIAL, CONVÍVIO COMUNITÁRIO E FAMILIAR DIREITOS DAS PESSOAS IDOSAS PRESTAÇÃO DE CUIDADOS PERSONALIZADA, CONTRATUALIZADA E DE QUALIDADE RESERVA DA VIDA PRIVADA AUTO-DETERMINAÇÃO APOIO DO ESTADO E DA SUA FAMÍLIA REPRESENTANTE LEGAL EM CASO DE INCAPACIDADE PRIVACIDADE PARTICIPAR NA GESTÃO DAS RESPOSTAS SOCIAIS QUE FREQUENTA RESPEITO PELO SEU PERCURSO DE VIDA
36 Contactos CATARINA ALVAREZ Coordenadora do projeto Cuidar Melhor Tel:
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