Boletim da Cooperação na área da Justiça
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- Iago Fidalgo Carneiro
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1 Boletim da Cooperação na área da Justiça Nota Introdutória A ideia que presidiu à criação de um boletim sobre a cooperação na área da Justiça foi a necessidade de dar maior visibilidade às actividades executadas pelas diferentes entidades activas nesta área, permitindo, também, Legenda que todos descritiva disponham de informação sobre de o que imagem cada ou um tem gráfico. vindo a desenvolver nos vários países. Sendo este o número zero, julgou-se pertinente apresentar um breve historial do que tem sido a cooperação na área da Justiça ao longo dos últimos anos para, a partir desta edição, nos centrarmos nas actividades em curso, bem como na abordagem de temas que se revistam de interesse para a área da Justiça no plano da cooperação Internacional. Também se faz referência e balanço dos três principais objectivos para esta área: a estabilização da coordenação sectorial (GRI), a definição de um plano estratégico para o sector (INTERJUST) e o aumento sensível do contributo sectorial para a Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) de Portugal. Este boletim terá uma edição semestral, sendo distribuído juntamente com a newsletter da DGPJ. Esperamos que possa ser uma mais-valia para todos quantos se interessam pelas temáticas da Justiça e da Cooperação. João Assunção Ribeiro Director Gabinete de Relações Internacionais Ministério da Justiça - Portugal Breve historial da Cooperação para o Desenvolvimento na área da Justiça A cooperação Internacional do Ministério da Justiça integra-se nas grandes linhas da Política Externa portuguesa e, em particular, nas orientações traçadas pelo documento Uma visão Estratégica para a Cooperação Portuguesa, que concretiza as prioridades geográficas e sectoriais do país. No quadro desta visão, a cooperação internacional na área da Justiça, assume um papel de relevo para a consecução do objectivo sectorial Boa Governação, Participação e Democracia, uma vez que sem Justiça não há Estado de Direito. De igual modo, em contextos de maior fragilidade, uma dimensão fundamental da segurança pública (freedom from fear) diz respeito à necessidade de apoiar a construção do Estado de Direito, a protecção dos Direitos Humanos e as Liberdades fundamentais, áreas onde a cooperação na área da Justiça pode desempenhar um papel fundamental. Desde a década de oitenta que, de forma empenhada e contínua, Ministério da Justiça de Portugal tem apoiado os Ministérios homólogos dos Países de Língua Oficial Portuguesa e, de uma forma geral, o sector da Justiça nestes países, atentas uma língua e uma matriz jurídica comum. Este apoio/cooperação foi desenvolvido tanto por via bilateral, como pela via multilateral ou bi-multi.
2 Ao nível da COOPERAÇÃO BILATERAL as grandes linhas para o desenvolvimento na área da Justiça assentaram numa fórmula quadripartida de: (i) Apoio a reformas legislativas e edição de códigos; (ii) Assessorias técnico-jurídicas a Órgãos de Justiça, aos Ministérios da Justiça e a entidades suas tuteladas; (ii) Formação inicial e complementar de Juízes, Procuradores, oficiais de Justiça e formação específica para dirigentes, quadros técnicos e administrativos da área da Justiça; e (iv) Oferta de equipamentos e material, com particular realce para a oferta de bibliotecas Jurídicas. No âmbito da COOPERAÇÃO MULTILATERAL merece particular destaque as relações desenvolvidas com duas grandes áreas geográficas, designadamente, com os países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e com os países que integram a Ibero-América. No quadro da primeira são de realçar os trabalhos desenvolvidos no seio da Conferência de Ministros da Justiça dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CMJCPLP), cuja existência, datada de 1991, antecede a criação da própria CPLP. Decorrente desta, são ainda de destacar a criação da Rede de Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional dos Países de Língua Oficial Portuguesa e a assinatura, em Novembro de 2005, no decurso da Conferência da Praia, das três Convenções entre os Estados Membros da CPLP, designadamente, a Convenção de Auxílio Judiciário Mútuo em Matéria Penal, a Convenção de Extradição e a Convenção sobre Transferência de Pessoas Condenadas. No quadro da segunda, relevam as inúmeras acções desenvolvidas no âmbito da (i) Conferência de Ministros da Justiça da Ibero-América (COMJIB), em particular os trabalhos desenvolvidos no seio dos seus quatro grupos de trabalho, designadamente, Acesso à Justiça; Luta Contra a Criminalidade Organizada; Modernização da Justiça e das novas tecnologias aplicadas à modernização da Justiça e Reforma dos Sistemas Penitenciários; (ii) da IberRed constituída por pontos de contacto em cada país com o objectivo de facilitar e agilizar a cooperação judicial em matéria civil e penal; e (iii) do Grupo de Santiago de Compostela, grupo informal que procura criar uma dinâmica reforçada entre a Argentina, o Brasil, Espanha e Portugal, com particular incidência nas áreas da extradição e da luta contra o tráfico de seres humanos. Ao nível da COOPERAÇÃO BI-MULTILATERAL, merece especial destaque a parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que possibilitou o destacamento, para Timor Leste, de Juízes, Procuradores e oficiais de Justiça portugueses, com vista à consolidação deste sector no quadro pós-independência. De igual modo, importa referir as inúmeras acções de formação ao abrigo do Projecto Apoio ao Desenvolvimento dos Sistemas Judiciários dos PALOP (financiadas no quadro do PIR-PALOP da Comissão Europeia e cofinanciadas pelo IPAD) de que beneficiaram quase 300 quadros dos Ministérios da Justiça dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
3 Desafios da Cooperação na área da Justiça Em 2009, as verbas declaradas pela Justiça para a cooperação e os valores apurados para o cálculo da AJUDA PUBLICA AO DESENVOLVIMENTO (APD), não evidenciaram aquilo que, na DGPJ, se pensava ser o real esforço da Justiça no quadro da cooperação para o desenvolvimento. Assim, um dos primeiros desafios assumidos foi desenvolver esforços para uma apurada contabilização das verbas despendidas pelos vários Órgãos e entidades activos no quadro da cooperação internacional da Justiça. Como corolário da actuação desenvolvida pela DGPJ/GRI e a colaboração de todos, 2010 foi um ano de afirmação e consolidação da cooperação portuguesa na área da Justiça, com a APD da Justiça a alcançar os ,80 euros contra os ,00 euros de Para o futuro próximo, o grande desafio será dotar a cooperação internacional da área da Justiça de maior visibilidade, coerência e previsibilidade, através da execução do PROGRAMA INTEGRADO DE COOPERAÇÃO PARA A JUSTIÇA (INTERJUST) Com o lançamento e desenvolvimento do INTERJUST pretende-se dotar a área da Justiça de uma ferramenta que potencie um melhor desempenho de todos no quadro internacional e uma maior percepção e compreensão, por terceiros, do conjunto de acções desenvolvidas pelos vários actores da Justiça no âmbito da cooperação internacional. Em simultâneo, visa-se ultrapassar limitações e constrangimentos decorrentes da escassez de recursos materiais e financeiros e potenciar a nossa maior riqueza, designadamente, a existência de recursos humanos com uma enorme capacidade de ir ao encontro do outro, adaptando produtos, métodos e procedimentos a distintas realidades socioeconómicas e geográficas.
4 Acções de Cooperação para 2011 Para o ano de 2011 a área da Justiça mantém o empenho no reforço dos laços privilegiados que nos ligam aos Países e Regiões de Língua Oficial Portuguesa e à Ibero-América, sem deixar de afirmar o seu potencial de cooperação junto de outros parceiros internacionais. Actualmente, encontram-se já aprovados os Programas Anuais de Cooperação com Cabo Verde e Guiné- Bissau, estando os demais em fase de apreciação no Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), entidade coordenadora e co-financiadora da cooperação portuguesa. Investigação Criminal Na senda dos anos anteriores e visando dar continuidade a projectos já iniciados, encontram-se em curso as assessorias desenvolvidas pela Polícia Judiciária portuguesa junto das suas homólogas de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. De igual modo, e a solicitação do Ministro do Interior de Angola, encontram-se neste país, a prestar assessoria, cinco elementos da Polícia Judiciária, designadamente dois especialistas em homicídios, dois especialistas em tráfico internacional de drogas e um perito do laboratório de polícia científica. Estes peritos, que deverão permanecer no país por um período de cerca de seis meses, irão colaborar com as autoridades locais na resolução de problemas de criminalidade existentes em Angola, com especial enfoque para o tráfico internacional de droga, homicídios e segurança pública. Em Timor Leste, está a decorrer um curso para a selecção dos futuros elementos da Polícia de Investigação Criminal (PIC) deste país, projecto que conta com o apoio da Polícia Judiciária que destacou para o terreno um Inspector Chefe e, mais recentemente, um psicólogo, para prestar apoio às provas de selecção psicológicas. Para breve, espera-se a assinatura de um acordo com o IPAD que permitirá o desenvolvimento de acções de formação dos futuros elementos desta força policial, bem como a aquisição de equipamento para a mesma, ao abrigo do mecanismo da cooperação delegada. Ainda para este ano encontra-se previsto retomar a assessoria à Policia de Investigação Criminal de São Tomé e Príncipe.
5 Registos e Notariado Entre 5 de Junho e 2 de Julho esteve em Cabo Verde uma equipa multidisciplinar de seis peritos do Instituto dos Registos e Notariado (IRN) com o objectivo de ministrar um curso de formação para vinte e cinco conservadores e notários e para prestar assessoria à Direcção- Geral dos Registos, Notariado e Identificação nas áreas da simplificação de Certidões Online, da uniformização de actos praticados pelos serviços base territoriais e ainda para apoio à concretização de uma auditoria técnica. De igual modo, o IRN acolheu no passado mês uma delegação da Direcção Nacional de Registos e Notariado de Moçambique, chefiada pelo seu Director Nacional, Dr. Arlindo Magaia, que se deslocou ao nosso país com o objectivo de efectuar um estudo comparado em matéria de registo predial e registo automóvel.
6 Sistema Penitenciário Na sequência do trabalho desenvolvido no ano transacto na Guiné-Bissau, em que a Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP), com o apoio do IPAD, ministrou formação para oitenta guardas prisionais e cinco directores prisionais, oferecendo ainda fardamentos e equipamento específico, deslocaram-se já para a Guiné-Bissau duas equipas de peritos da DGSP, uma para ministrar um curso para 12 chefias prisionais e outra para prestar apoio à organização do funcionamento dos Estabelecimentos Prisionais de Mansoa e Bafatá, que entraram em funcionamento no início do passado mês de Junho, com o apoio do Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime (UNODC) e financiamento canalizados através do Fundo da Comissão para a Consolidação da Paz da Organização das Nações Unidas para o país. Para o ano em curso, encontram-se ainda previstas mais acções de formação e assessoria na área prisional. Em São Tomé e Príncipe decorreu uma missão exploratória na área prisional e da reinserção social, composta por um dirigente da DGSP e da Direcção-Geral da Reinserção Social (DGRS), com o objectivo de se efectuar um diagnóstico da situação do país nestas duas áreas, ao nível legislativo, de carências formativas e do estado das infra-estruturas. No quadro desta missão, a equipa foi recebida por Sua Excelência o Ministro da Justiça e da Reforma do Estado. Ainda este ano deverão ser implementadas as primeiras acções de cooperação decorrentes da avaliação efectuada. Esta missão conta com o apoio do IPAD que cedeu alojamento no Bairro da Cooperação Portuguesa na cidade de São Tomé e com o enquadramento da estrutura da Cooperação portuguesa junto da Embaixada de Portugal neste país.
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