Introdução às ciências penais

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1 Aldo Rodrigues de Souza Luciano Pereira de Souza Introdução às ciências penais e ao estudo do direito penal 1ª Edição São Paulo 2015

2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Souza, Aldo Rodrigues de Introdução às ciências penais e ao estudo do direito penal / Aldo Rodrigues de Souza, Luciano Pereira de Souza. 1. ed. São Paulo : Editora Verbatim, Bibliografia ISBN Direito penal 2. Direito penal - Brasil 3. Direito - Introdução I. Souza, Luciano Pereira. II. Título CDU-343 Índices para catálogo sistemático: 1. Direito penal 343 Editor: Antonio Carlos Alves Pinto Serrano Conselho Editorial: Antonio Carlos Alves Pinto Serrano, André Mauro Lacerda Azevedo, Fernando Reverendo Vidal Akaoui, Fulvio Gianella Júnior, José Luiz Ragazzi, Hélio Pereira Bicudo, Luiz Alberto David Araujo, Luiz Roberto Salles, Marcelo Sciorilli, Marco Antônio Moreira da Costa, Marilena I. Lazzarini, Motauri Ciochetti Souza, Oswaldo Peregrina Rodrigues, Roberto Ferreira Archanjo da Silva, Suelli Dallari, Vanderlei Siraque, Vidal Serrano Nunes Júnior, Vinicius Silva Couto Domingos. Assistentes editoriais: Bárbara Pinzon de Carvalho Martins e Klaus Prellwitz Capa e diagramação: Manuel Rebelato Miramontes Direitos reservados desta edição por EDITORA VERBATIM LTDA. Rua Zacarias de Góis, 2006 CEP São Paulo SP Tel. (0xx11) editoraverbatim@editoraverbatim.com.br

3 A Ele consagramos todas nossas ações e aos alunos da graduação em Direito oferecemos este trabalho, como forma de retribuir a valiosa experiência que nos têm proporcionado na docência do ensino superior.

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5 A função da Criminologia é reunir um núcleo de conhecimentos verificados empiricamente sobre o problema criminal (momento explicativo). Corresponde à Política Criminal transformar essa informação sobre a realidade criminal, de base empírica, em opções, alternativas e programas científicos, desde uma óptica valorativa (momento decisivo): é a ponte entre a experiência empírica e as decisões normativas. O Direito Penal concretiza as opções previamente adotadas (a oferta político- -criminal de base criminológica) em forma de norma ou proposições jurídicas gerais e obrigatórias (momento instrumental ou operativo). Antonio García-Pablos de Molina.

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7 SUMÁRIO RESUMO...9 INTRODUÇÃO QUADRO GERAL DAS CIÊNCIAS PENAIS Ciências Penais Normativas e Não-normativas...14 A) Ciências penais normativas: Direito Penal, Processual Penal e de Execução Penal...16 B) Ciências penais não normativas: a criminologia As ciências penais normativas vinculam-se à Filosofia As ciências penais normativas vinculam-se à História As ciências penais vinculam-se à Política Criminologia (momento explicativo), Política criminal (momento decisório) e Direito (momento instrumental) na resposta social à violência de gênero: a Lei Maria da Penha Política criminal: conceitos, modelos, movimentos e processos Sinopse do capítulo primeiro: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PENAL Denominação e conceito Finalidade preventiva Caráter Dogmático Posição do Direito Penal no âmbito do conhecimento Posição sistemática Relações do Direito Penal com outros setores do direito: Conteúdo do Direito Penal Evolução conceitual do Direito Penal Função de tutela...66 A) Idéia de bem jurídico B) Importância para o Direito Penal Breve introdução à teoria geral do delito Legislação penal brasileira:...72

8 3 - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PENAL MODERNO Princípios jurídico-positivos previstos expressamente em dispositivos constitucionais e legais...78 A) Princípio da Legalidade:...78 A1) Princípio da Legalidade e a técnica de definição dos crimes...80 A2) Classificação da Lei Penal...81 B) Princípio da Irretroatividade da lei penal e retroatividade benéfica Princípios jurídico-positivos sem previsão expressa nos dispositivos constitucionais...83 C) Princípio da culpabilidade...83 D) Princípio Humanitário Princípios penais revelados pela doutrina...86 E) Princípio da Lesividade (ou ofensividade)...86 F) Princípio da Insignificância (=bagatela; irrelevância)...86 G) Princípio da Intervenção Mínima (ultima ratio = último argumento)...87 H) Princípio da Adequação Social Complementação entre os Princípios Penais, os Princípios do Processo Penal e da Execução Penal...90 ALGUMAS CONCLUSÕES PROVISÓRIAS...95 REFERÊNCIAS...99

9 RESUMO O objetivo do presente trabalho é apresentar de modo didático o panorama das ciências penais na atualidade. No capítulo 1 foi estudado o quadro geral das ciências penais, sua bifurcação entre ciências normativas e não normativas e a relação destas com a História, a Filosofia e a Política. No capítulo 2 examinamos a denominação e conceito de Direito Penal, sua finalidade preventiva. Também examinamos a posição que o Direito Penal ocupa no âmbito do conhecimento e sua posição sistemática no ordenamento jurídico. Examinamos ainda o conteúdo do estudo do Direito Penal, o significado de Direito Penal objetivo e subjetivo. Sobrevoamos a evolução conceitual do Direito Penal e examinamos sua principal função, a tutela de bens jurídicos. Finalmente, fizemos uma brevíssima apresentação da legislação penal brasileira, onde identificamos algumas das principais leis, apenas como forma de introdução ao estudo do tema. Finalmente no capítulo 3 foram examinados os princípios do Direito Penal moderno, sua função garantista e limitadora do poder punitivo estatal, os princípios consagrados expressamente na Constituição Federal, os previstos implicitamente e aqueles revelados pela doutrina e reconhecidos na jurisprudência, com destaque para a legalidade (reserva legal absoluta, anterioridade, taxatividade), a irretroatividade da lei penal e a retroatividade da lei penal benéfica, o princípio da culpabilidade, o princípio humanitário, a lesividade ou ofensividade, o princípio da insignificância, o princípio da adequação social e o princípio da intervenção mínima. Discutiu-se, também, a complementação entre os princípios penais e os princípios processuais e de execução penal. PALAVRAS-CHAVE: Ciências Penais; Direito Penal; Política Criminal; princípios penais.

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11 INTRODUÇÃO Este trabalho é dirigido aos estudantes da graduação em Direito e procura servir de roteiro para o estudo de uma disciplina introdutória na área penal. A idéia de organizar este trabalho partiu de uma solicitação do Prof. Dr. Fernando Reverendo Vidal Akaoui, Ilustre Promotor de Justiça do Ministério Publico do Estado de São Paulo, para que colaborássemos na elaboração do plano de ensino de uma disciplina denominada Introdução às Ciências Penais e ao Estudo do Direito Penal. A própria denominação atribuída à disciplina justifica a necessidade de estudo dos seus conteúdos na formação do bacharel em Direito, seja como disciplina específica, seja como parte integrante das disciplinas de Direito Penal. Este trabalho contém visões simplificadas por ser uma obra para fins didáticos, mas cada uma de suas linhas e entrelinhas se confronta com a irracionalidade, que se coloca como a maior inimiga da legitimidade, da eficácia e da fundamentação ética do sistema penal na atualidade. Procura oferecer uma breve visão integrada da Ciência Dogmática do Direito Penal com as Ciências não-normativas, em atenção à Criminologia e a Política Criminal. Com presente trabalho - em que utilizamos vários recursos didáticos sob a forma de quadros-resumo, esquemas e figuras, exame de casos célebres, além de atividades e exercícios - pretendemos colaborar para que o estudante e futuro bacharel em Direito adquira as seguintes habilidades e conhecimentos: Reconhecer uma possível proposta de classificação das Ciências Penais, bifurcada em ciências penais normativas (Direito Penal; Direito Processual Penal; Direito de Execução Penal) e ciências penais não normativas (Criminologia. Medicina Legal. Psicologia forense. Criminalística). Reconhecer a íntima ligação entre as Ciências Penais e a História, a Filosofia e a Política. Conhecer as linhas político-criminais, e os processos político-criminais de criminalização x descriminalização, penalização x despenalização, prisionização x desprisionização cautelar.

12 12 Aldo Rodrigues de Souza e Luciano Pereira de Souza Compreender em caráter introdutório e provisório a presunção de inocência e a questão da prisão antes da condenação penal e a prisão-pena Compreender a noção de bem jurídico, sua importância, funções e relação com o Direito Penal, sabendo identificar alguns bens jurídicos protegidos na Parte Especial do Código Penal Brasileiro; Conhecer os princípios do Direito Penal moderno, sabendo aplicá-los casos hipotéticos e concretos; Conhecer o enunciado, fundamento legal e constitucional, desdobramentos e alcance do princípio da legalidade; Conhecer o significado do princípio da culpabilidade, o apontado fundamento constitucional e seus consectários; Conhecer os principais dispositivos da Constituição Federal com interesse para o Direito Penal; Justifica-se o presente diante da necessidade de preparar os profissionais do direito para atuarem no mercado, com suficiente domínio da gênese, dos fundamentos, da evolução e do conteúdo do ordenamento jurídico vigente, particularmente na área penal. Pois, não é somente mero desejo das instituições de ensino superior, de seu corpo diretivo, seus mestres e demais colaboradores que os profissionais do direito saídos dos bancos universitários possuam estas qualificações, trata-se de uma exigência do estado e do corpo social.

13 1. QUADRO GERAL DAS CIÊNCIAS PENAIS Conhecimentos de diferentes áreas são reunidos para investigar, compreender, explicar e controlar 1 o fenômeno (individual, social e normativo) da criminalidade. Zaffaroni e Pierangelli organizam as Ciências Penais em dois grandes grupos, um deles contendo as ciências normativas (ou jurídicas) e o outro formado por ciências e técnicas de outros setores do conhecimento que se ocupam no todo ou em parte do crime; denominadas não-normativas para distinguir das ciências jurídicas. 2 1 Controle da criminalidade (ou seja, da violência, do comportamento desviado das expectativas sociais e merecedor de repressão) não significa a eliminação da criminalidade, posto que uma sociedade completamente sem crime é impossível. Nesse sentido, Emile DURKHEIM,. Las reglas del método sociológico. (Trad.) Ernestina de Champourcín. México:Fondo de Cultura Econômica, 1º Ed. em francês, 1895, 1ª Ed. em espanhol, 1986, 2ª reimpressão 2001, p Disponível em 2 ZAFFARONI, Eugênio Raúl e PIERANGELLI, José Henrique, Manual de Direito Penal Brasileiro, RT, 1997, pág. 162.

14 14 Aldo Rodrigues de Souza e Luciano Pereira de Souza Direito Penal Direito Processual Penal (realiza DP) a) Normativas Direito de Execução Penal (executa DP) Filosofia + Ciências Penais Biologia Criminal História Criminologia Psicologia Criminal Sociologia Criminal + b) Não-normativas Medicina Legal (+ psiquiatria forense) Política Psicologia e sociologia judicial Criminalística Quadro 1 Ciências Penais 1.1. Ciências Penais Normativas e Não-normativas As ciências penais normativas correspondem aos ramos do Direito que definem os delitos e as suas conseqüências jurídicas (penas ou medidas de segurança), disciplinam a relação entre o poder punitivo estatal e a liberdade individual, regulam o processo e as formas de proceder para apurar e declarar a responsabilidade penal, impor e executar as penas. São elas, o Direito Penal, o Direito Processual Penal e o Direito de Execução Penal. Possuem natureza dogmática, sendo constituídas por normas vigentes que devem ser cumpridas ainda que se pretenda questionar a justiça ou afirmar a injustiça do seu conteúdo e das conseqüências de sua aplicação. O universo das ciências normativas é regido por relações de atributividade. As normas atribuem certas conseqüências (ou sanções) a determinadas hipóteses fáticas. Os fatos e as suas conseqüências ligam-se por meio de relações de atributividade, não de causalidade. O método mais adequado para o seu estudo é o técnico-jurídico, que se desenvolve, basicamente, por meio da interpretação do significado da lei,