Guilherme Carvalho NÃO EXISTE AMOR EM SÃO PAULO. (Crônicas paulistanas)

Transcrição

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2 Guilherme Carvalho NÃO EXISTE AMOR EM SÃO PAULO (Crônicas paulistanas)

3 Capa: Jacqueline Regina Edição: Guilherme Carvalho Revisão: Maecela Matheus e Guilherme Carvalho [ Nenhuma parte desta publicação deve ser reproduzida, transmitida, transcrita, sem autorização por escrito do autor] [ Esse texto é comporto pela tipologia High Tower Text 10, 12 e Jane Austen 20] 3

4 Dedicado a todas as pessoas que ainda acreditam que ainda existe amor em São Paulo e também a GLÁUCIA CARVALHO DE PAULA BASSOLLI, ( ) tia e irmã. - G. 4

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6 AMOR a.mor sm (lat amore) 1 Sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigura belo, digno ou grandioso. 2 Grande afeição de uma a outra pessoa de sexo contrário. 3 Afeição, grande amizade, ligação espiritual. 4 Objeto dessa afeição. 5 Benevolência, carinho, simpatia. 6 Tendência ou instinto que aproxima os animais para a reprodução. 7 Desejo sexual. (Definição encontrada on-line) 6

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8 As várias formas de dizer eu te amo OBRIGADO BOM DIA EU TE AMO ALÔ ES- TOU COM SAUDADES NOS VEMOS AMA- NHÃ ATÉ MAIS SE CUIDA VOCÊ NÃO DE- VIA FAZER ISSO PARE, POR FAVOR TE ADORO ESTAVA PENSANDO EM VOCÊ SONHEI COM VOCÊ SÓ LIGUEI PARA SA- BER SE VOCÊ ESTÁ BEM VOCÊ PRECISA SE ALGUMA COISA? EU ESTOU AQUI PARA TUDO VOCÊ É MEU AMIGO(A) EU ME IMPORTO COM VOCÊ As vezes há mais formas de dizer eu te amo do que imaginamos. Essas três palavras simples podem ser ditas de diversas formas, 8

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10 Você o ama? Já lhe disse: fazendo uma forcinha a gente pode amar qualquer um Truman Capote BONEQUINHA DE LUXO 10

11 Sobre São Paulo A CIDADE DE SÃO PAULO, também é intimamente conhecida por Sampa, Terra da Garoa e Paulicéia. Tem cerca de 460 anos, completados em Sua data de fundação é 25 de janeiro de 1554 e tem como lema a frase em latim Don Dvcor Dvco (Não sou conduzido, conduzo). Tem uma população estimada em 11 milhões e 821 mil habitantes, número esse que se altera a todo momento. Não citarei a taxa de natalidade e mortalidade paulistana, muito menos a de crimes que reduzem cada vez mais a população. Tem como seus principais bairros, Sé, República, Santana, Liberdade, Mooca, Itaquera, Pinheiros, Morumbi, Jabaquara, dentre outros, seus parque mais conhecidos é o Parque Villa-Lobos e o mundialmente conhecido Parque do Ibirapuera. Com mais de um milhão de metros quadrados, é nessa cidade maravilhosa, o centro empresarial e monetário brasileiro, que será o plano de fundo dessas histórias. Com 11

12 toda essa imensidão, apenas uma coisa sai da boca dos paulistanos: Realmente existe amor em São Paulo? 12

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14 Michelle Para Michelle Nunes, mais que uma amiga, que, por muito tempo insistiu que eu escrevesse alguma coisa decente para ela, e não historietas rápidas escritas no verso de folhas em aulas de Geografia I NUNCA DESPREZE UMA PESSOA HOJE. Ela pode ser importante pra você amanhã. Dei-me conta disso há duas semanas em um feriado prolongado de setembro em que fui viajar com meus pais para nossa casa de campo. No começo, eu implicava e resistia cada tentativa de sedução se posso chamar assim mas, quando finalmente cedi, me surpreendi. É disso que eu estou falando. Eu estava à procura do cara legal. O menino bonito que me amasse e que compusesse músicas pra mim. Pensei que 14

15 tinha o achado: Brad, meu vizinho. Ele era o tipo do cara perfeito. Alto, nem muito forte e nem muito fraco, do jeito perfeito. Ele tocava violão e guitarra. Tinha uma banda na garagem de casa que ensaiava todas as tardes, depois de voltarem da praia. Ele também surfava. O rostinho de menino com aqueles olhos verdes penetrantes que deixava qualquer uma louca em conjunto ao cabelo castanho claro que os cobria parcialmente. Pena que ele não ligava pra mim. Ou provavelmente nem sabia que eu existia. Eu só era a vizinha que estudava na mesma escola que ele, porém duas séries abaixo. MICHELLE, VEM JANTAR! gritou minha mãe naquela noite enquanto a banda de Brad ensaiava. Eu ouvia atentamente sentada ao lado da janela, enquanto fazia meu dever de física. Física sempre fora um mistério pra mim. Eu não sabia como havia conseguido entrar no colegial. TÔ ESTUDANDO! gritei do andar de cima com a porta entreaberta. Desembalei uma Butter Toffes em uma taça na minha frente e coloquei-a na boca. Fechei os olhos por um momento enquanto tentava fazer uma conta mentalmente, 15

16 mas a música de Brad me fez delirar. A música era tão linda e profunda e pude concluir que sua voz não era nada mais que perfeita. Pensava no dia em que ele fosse famoso: Brad se apresentaria em grandes estádios e eu iria falar Eu era vizinha dele e ouvia os ensaios todos os dias. Reprovei em física porque ficava ouvindo os ensaios dele.. Mi! A mãe tá chamando você pra comer. - disse Isabelly, minha irmã mais nova na porta do quarto. Vencida pelo cansaço, desci. Mastigava a bala enquanto descia as escadas e, assim que cheguei à cozinha, minha mãe deu chilique. Os famosos chiliques e clássicos de D. Neide: Michelle, você tá comendo doce de novo!? Eu estou aqui me matando pra fazer comida pra filhos ingratos que ficam comendo doce e não jantam. Que bosta! ela virouse e jogou a colher-de-pau na pia. A janta está no fogão. Lucas, Monique e Isabelly, meus irmãos, me observavam sentada à mesa enquanto eu ficava sem reação. Qual era o problema em chupar uma bala? Minha mãe certamente nunca ouviu falar que o chocolate melhora a concentração. Minha mãe, arredia, foi para a sala e ligou na 16

17 novela dela. Sabíamos que ela estava brava quando ela parava de fazer o que estava fazendo para ver a novela. Segundo ela, a realidade da novela era bem melhor do que sua realidade. Por isso, passava horas vendo a novela se deixasse. Todos comemos. Era terça à noite, portanto era a vez de Monique lavar a louça, e, como sempre, com muita reclamação ela o fez e voltei para o quarto. Tinha 20 exercícios de física para serem entregues no outro dia e só tinha feito dois. Quando cheguei ao quarto, Brad já tinha parado de cantar e parecia estar jantando. Vindo da casa dele, eu ouvia o titilar dos talheres e algumas risadas: sinal de que os amigos dele estavam lá. Depois de muito esforço, fiz mais dois exercícios, embora tivesse se passado mais de uma hora. Larguei de lado e copiei-os da internet. Iria colar a prova inteira da Amanda mesmo, logo não havia motivo para me matar para fazer contas. Jornalismo não precisa de física. Tomei um longo banho, deitei na cama e dormi. O outro dia era quarta e tinha escola. 17