Nova regulamentação do trabalho aos domingos e feriados no comércio. Medida Provisória nº 388/07.
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- Camila Bernardes Galindo
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1 Nova regulamentação do trabalho aos domingos e feriados no comércio. C O N S U L T A Medida Provisória nº 388/07. Consulta-nos a FECOMÉRCIO/RS sobre a nova regulamentação do trabalho no comércio aos domingos, prevista na Medida Provisória nº 388/07. R E S P O S T A I. DAS NORMAS GERAIS Dentre os direitos constitucionalmente assegurados aos trabalhadores no artigo 7º da Carta Magna figura o "repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos". O repouso semanal remunerado é uma medida de proteção ao trabalhador, que consiste no direito do empregado de não trabalhar durante pelo menos um dia, préfixado em cada semana, sem prejuízo da remuneração correspondente. A Constituição Federal de 1988, recepcionou a legislação ordinária sobre a matéria que vigorava à época de sua promulgação. O repouso semanal remunerado está disciplinado nos arts. 67 e 68 da Consolidação das Leis do Trabalho, bem como nos artigos da Lei nº 605/49. O artigo 1º da Lei nº 605/49 institui que: "Art. 1º. Todo empregado tem direito ao repouso semanal remunerado de vinte e quatro horas consecutivas, preferentemente aos domingos e, nos limites das exigências técnicas das empresas, nos feridos civis e religiosos, de acordo com a tradição local." (o grifo é nosso) A legislação prevê, entretanto, que em virtude de exigências técnicas das empresas, poderá ser concedida autorização em caráter transitório ou permanente para o trabalho aos domingos. Não é outra a regra inserta no art. 8º combinado com o art. 10 da Lei nº 605/49 "Art. 8º Excetuados os casos em que a execução do serviço for imposta pelas exigências técnicas das empresas, é vedado o trabalho em dias feriados civis e religiosos, garantida, entretanto, aos empregados a remuneração respectiva, observados os dispositivos dos art. 6º e 7º. Art. 10. Na verificação das exigências técnicas a que se referem os artigos anteriores, ter-se-ão em vista as de ordem econômica, permanentes ou ocasionais, bem como as peculiaridades locais.
2 Parágrafo único. O Poder Executivo, em decreto especial ou no regulamento que expedir para fiel execução desta lei, definirá as mesmas exigências e especificará, tanto quanto possível, as empresas a elas sujeitas, ficando desde já incluídas entre elas as de serviços públicos e de transportes.". II. O TRABALHO AS DOMINGOS NO COMÉRCIO VAREJISTA EM GERAL REGRAS ANTERIOR À MP 388/07 Antes de 1990, o comércio varejista em geral incluía-se na regra geral, ou seja, aos empregados deveria ser garantido o repouso semanal preferencialmente aos domingos e nos feriados civis e religiosos. O trabalho aos domingos nos estabelecimentos do comércio varejista em geral somente foi autorizado por força do Decreto nº /90. A autorização, contudo, estava condicionada à prévia celebração de acordo ou convenção coletiva de trabalho, ao respeito das normas de proteção ao trabalho e ao disposto no art. 30, inciso I, da Constituição Federal Vejamos a redação do art. 1º do indigitado decreto: Art. 1º Fica facultado o funcionamento aos domingos do comércio varejista em geral, desde que estabelecido em Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho, respeitadas as normas de proteção ao trabalho e o art. 30, inciso I, da Constituição Federal. Grifo nosso Entretanto, a Lei , editada em 19 de dezembro de 2000, alterou a regulamentação então vigente para autorizar o trabalho aos domingos no comércio varejista em geral, independentemente da prévia celebração de convenção ou acordo coletivo de trabalho. Vejamos a redação do art. 6º do indigitado diploma legal: Art. 6º. Fica autorizado, a partir de 9 de novembro de 1997, o trabalho aos domingo no comércio varejista em geral, observado o art. 30, inciso I, da Constituição. Parágrafo Único. O repouso semanal remunerado deverá coincidir, pelo menos uma vez no período máximo de quatro semanas, com o domingo, respeitadas as demais normas de proteção ao trabalho e outras previstas em acordo ou convenção coletiva. Destarte, por expressa autorização legislativa federal, o trabalho aos domingos no comércio varejista em todo o território nacional, desde 9 de novembro de 1997, foi plenamente autorizado. As empresas deveriam apenas conceder o repouso semanal no domingo pelo menos uma vez no período máximo de quatro semanas, respeitar as
3 demais normas de proteção ao trabalho e outras previstas em convenção coletiva de trabalho, e observar o art. 30, inciso I, da Constituição Federal. De outra parte, em relação aos feriados, não havendo qualquer autorização expressa, em princípio, ao comércio varejista em geral estava vedado o direito de funcionar em tais datas. III. O TRABALHO AOS DOMINGOS E FERIADOS NAS ATIVIDADES COMERCIAIS PREVISTAS NO DECRETO Nº /49 Como visto no item I, o art. 1º da Lei 605/49 prevê, como regra geral, a concessão do repouso aos empregados preferencialmente aos domingos No mesmo diploma legal (art. 10 da Lei 605/49) está previsto ainda que, em virtude de exigências técnicas das empresas ou de interesse da comunidade local, poderá ser concedida autorização em caráter transitório ou permanente para o trabalho nos dias normalmente destinados ao repouso. Neste diapasão, a norma que regulamentou a Lei nº 605/49 - Decreto nº /49 - concede, no artigo 7º, autorização permanente para o trabalho dos empregados em atividades constantes da relação anexa. Assim versa o aludido artigo: "Art. 7º. É concedida, em caráter permanente e de acordo com o disposto no 1º do artigo 6º, permissão para o trabalho nos dias de repouso a que se refere o art. 1º, nas atividades constantes da relação anexa ao presente regulamento. (...)" (grifo nosso) A relação anexa prevê diversas atividades divididas entre os planos de enquadramento sindical previstos no quadro anexo ao art. 577 da CLT, quais sejam, Indústria, Comércio, Transportes, Comunicações e Publicidade, Educação e Cultura e Agricultura e Pecuária. As atividades previstas especificamente no item II, referente ao comércio, são as seguintes: II - COMÉRCIO 1) Varejistas de peixe. 2) Varejistas de carnes frescas e caça. 3) Venda de pão e biscoitos. 4) Varejistas de frutas e verduras. 5) Varejistas de aves e ovos.
4 6) Varejistas de produtos farmacêuticos (farmácias, inclusive manipulação de receituário). 7) Flores e coroas. 8) Barbearias (quando funcionando em recinto fechado ou fazendo parte do complexo do estabelecimento ou atividade, mediante acordo expresso com os empregados). 9) Entrepostos de combustíveis, lubrificantes e acessórios para automóveis (postos de gasolina). 10) Locadores de bicicletas e similares. 11) Hotéis e similares (restaurantes, pensões, bares, cafés, confeitarias, leiterias, sorveterias e bombonerias). 12) Hospitais, clínicas, casas de saúde e ambulatórios. 13) Casas de diversões (inclusive estabelecimentos esportivos em que o ingresso seja pago). 14) Limpeza e alimentação de animais em estabelecimentos de avicultura. 15) Feiras-livres e mercados, inclusive os transportes inerentes aos mesmos. 16) Porteiros e cabineiros de edifícios residenciais. 17) Serviços de propaganda dominical. 18) Artigos regionais nas estâncias hidrominerais (acrescentado pelo Decreto nº , de e revogado pelo Decreto s/nº de ) 19) Comércio em portos, aeroportos, estradas, estações rodoviárias e ferroviárias. 20) Comércio em hotéis. 21) Agências de turismo, locadoras de veículos e embarcações. 22) Comércio em postos de combustíveis. 23) Comércio em feiras e exposições". (Números 19 a 23 acrescidos pelo Decreto nº , de ) O item VI da relação anexa, outrossim, prevê faz referência aos serviços funerários, atividade econômica incluída no 2º grupo (comércio varejista) do plano da Confederação Nacional do ComércioAlém das atividades comerciais expressamente listadas, a jurisprudência pátria consagrou o entendimento de os supermercados, por interpretação análoga e extensiva, também estão enquadradas na relação anexa ao Decreto /49.
5 Além das atividades comerciais expressamente listadas, a jurisprudência pátria consagrou o entendimento de os supermercados, por interpretação análoga e extensiva, também estão enquadradas na relação anexa ao Decreto /49. Ocorre que a legislação em referência resta marcada pela fadiga legislativa, pois completa mais de cinqüenta anos. Dessarte, a denominação utilizada é a da época de sua edição, quando o comércio de gêneros alimentícios dava-se apenas em pequenos estabelecimentos. Na época em que foi promulgada a Lei existiam apenas mercados de pequeno porte. Com efeito, o comércio varejista de gêneros alimentícios transformou-se, evoluiu, e com o tempo foram surgindo os supermercados, que nada mais são do que grandes mercados. Os supermercados de hoje são uma versão ampliada dos "mercadinhos" que existiam quando a lei foi editada. Assim, a compreensão do termo supermercado na acepção de mercado comporta-se na "mens legis" do Decreto nº /49. Até etimologicamente, o supermercado é um mercado em escala maior. Vejamos decisão do Superior Tribunal de Justiça que conforta este entendimento: RECURSO ESPECIAL. QUESTÃO PRELIMINAR CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE SE INTERPRETAR CONSTITUCIONALIDADE DE NORMA LOCAL. RECURSO CONHECIDO PELA ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO ARTIGO 7º, DO DECRETO 27048/49 QUE REGULOU A LEI 605/49. ABRANGIDOS PELAS EXCEÇÕES ALI PREVISTAS PODENDO FUNCIONAR AOS DOMINGOS E FERIADOS. RECURSO DESPROVIDO. 1. Não existe possibilidade de, em sede de Recurso Especial, ocorrer pronunciamento sobre a constitucionalidade ou não de determinada norma de direito local. Tal tarefa pertence ao Supremo Tribunal Federal. 2. O Decreto Federal 27048/49, que em seu artigo 7º, regulamentou a Lei 605/49, permite que os mercados varejistas de peixe, carne fresca e de caça, pão e biscoito, de frutas e verduras; de aves e ovos; feiras livres e mercados; inclusive os de transporte relativos aos mesmos, funcionem aos domingos e feriados. Os Supermercados constituem a versão modernizada desse tipo de mercado e, portanto, gozam, também, dessa situação jurídica. 3. Recurso Especial conhecido e desprovido. (RESP nº /RS (2000/ ) - Recorrente: Município de Porto Alegre; Recorrido: Big Shop - Real Praia de Belas - Companhia Real de Distribuição. DJ de ) IV. DAS NOVAS REGRAS SOBRE O COMÉRCIO AOS DOMINGOS PREVISTAS NA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 388/07
6 No dia 6 de setembro de 2007 foi publicada a Medida Provisória nº 388/07, que dá nova redação ao art. 6º da Lei /00, bem como insere um novo dispositivo no referido diploma legal (art. 6º-A). A MP, que já está em vigor, foi encaminhada ao Congresso Nacional e deve ser deve apreciada no prazo de sessenta dias, prorrogável por uma única vez, sob pena da perda da eficácia. Vejamos in verbis a nova redação do art. 6º: IV. A. Da abrangência da autorização A primeira e mais significativa alteração diz respeito ao campo de abrangência da autorização. Com efeito, a redação original na Lei /00 expressamente consignava em sua autorização a expressão comércio varejista em geral. Assim, a abertura aos domingos no comércio atacadista e no comércio de serviços em geral nunca foi garantida por lei, devendo ser estabelecida por acordos entabulados com os sindicatos de empregados. Já a nova redação do art. 6º, ao referir-se apenas ao comércio em geral, autoriza o funcionamento aos domingos de todas as atividades listadas nos seis grupos integrantes do Plano da CNC, conforme quadro anexo ao art. 577 da CLT. O comércio atacadista e o comércio de serviços passam ao abrigo da autorização prevista no art. 6º da Lei IV. B. Da periodicidade da concessão do repouso semanal aos domingos Outra alteração bastante significativa diz respeito à periodicidade da concessão do repouso semanal aos domingos. A redação original do art. 6º previa a concessão do repouso em um domingo no período máximo de quatro semanas. Já a nova redação do art. 6º garante ao comerciário a concessão de repouso semanal ao domingo pelo menos uma vez no período de três semanas. Assim, se o empregado trabalha por dois domingos consecutivos, obrigatoriamente gozará a folga semanal no domingo seguinte. Ainda uma questão que gera certa controvérsia diz respeito a quando a folga deve ser concedida, antes ou depois do domingo trabalhado. O Ministério do Trabalho e Emprego - MTE dizimou esta dúvida através de orientação administrativa que afirma o início da semana na segunda-feira. Vejamos: PRECEDENTE ADMINISTRATIVO Nº 46 JORNADA. DESCANSO SEMANAL REMUNERADO. PERIODICIDADE. O descanso semanal remunerado deve ser concedido ao trabalhador uma vez em cada semana, entendida
7 esta como o período compreendido entre segunda-feira e domingo. Inexiste obrigação legal de concessão de descanso no dia imediatamente após o sexto dia de trabalho, sistema conhecido como de descanso hebdomadário. Destarte, nos dias em que o empregado trabalhar aos domingos, o repouso deverá ser concedido de forma antecipada, ou seja, de segunda à sábado. A não observância de tal regramento poderá submeter a empresa a fiscalização e autuação pelo MTE. Destarte, nos dias em que o empregado trabalhar aos domingos, o repouso deverá ser concedido de forma antecipada, ou seja, de segunda à sábado. A não observância de tal regramento poderá submeter a empresa a fiscalização e autuação pelo MTE. Ainda, esclareceu o MTE que nada impede o trabalho durante mais de sete dias consecutivos, isto porque nosso sistema não é de descanso hebdomadário. A obrigação da empresa é conceder o repouso durante a semana, que se inicia da segunda-feira e finaliza no domingo. Caso o empregado goze o repouso semanal na segunda-feira e na sexta-feira da semana posterior, trabalhará por dez dias consecutivos sem violar qualquer disposição legal trabalhista. IV. C. Da observância da Legislação Municipal - Art. 30, inciso I da Constituição Federal A nova redação do caput do art. 6º da Lei inclui a expressão observada a legislação municipal. Entendemos que a inclusão da expressão é absolutamente irrelevante, pois a redação original já previa a observância do inciso I do art. 30 da Constituição Federal. A competência legislativa municipal está disciplinada no artigo 30 da Constituição Federal: "Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local. (...)" A jurisprudência é uníssona no sentido de que apenas o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais inscreve-se dentre as atribuições do legislativo municipal, desde que a legislação a ser editada não conflite com normas federais ou estaduais. O Colendo Supremo Tribunal Federal, consagrando o entendimento jurisprudencial dominante, editou duas súmulas sobre o tema, as quais seguem transcritas in verbis: "419. Os municípios têm competência para regular o horário do comércio local, desde que não infrinjam leis estaduais ou federais válidas.
8 645. É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. Veja-se que as indigitadas orientações mencionam a competência municipal para legislar sobre horário, mas não sobre o fechamento de estabelecimentos comerciais em determinados dias da semana. O Tribunal de Justiça Gaúcho, indo ao encontro da posição da Suprema Corte, firmou entendimento de que a disposição sobre dias de funcionamento não se trata de interesse local do município, e lei municipal neste sentido é inconstitucional. Leis municipais de vários municípios do Estado do Rio Grande do Sul, as quais vedavam a possibilidade de abertura do comércio aos domingos, foram declaradas inconstitucionais por este tribunal. A atual posição do TJRS está perfeitamente resumida na passagem do voto do Des. Armínio José Abreu Lima da Rosa abaixo transcrita. Segundo o desembargador, leis municipais que vedam o funcionamento do comércio aos domingos contrariam princípios basilares previstos na Carta Magna Estadual. Vejamos: Não fosse isso, tratou de discorrer, explicitamente, quanto aos princípios da impessoalidade e da razoabilidade, assim como princípios da promoção do bem-estar social do homem como fim essencial da produção e do desenvolvimento econômico do trabalho e do trabalhador, com sua associação a uma política de expansão das oportunidades de emprego e de humanização do processo social de produção, com a defesa dos interesses do povo (art. 157, II). E, em chamamento particular dirigido aos municípios, impõe-lhes deveres de melhorar a qualidade de vida nas cidades (art. 176, I) assim como promover o desenvolvimento econômico local. (...) A quase olímpica restrição ao comércio, em domingos e feriados, implica hostilidade manifesta aos princípios relativos ao valor social do trabalho, do desenvolvimento, da livre iniciativa, expansão econômica e, como é óbvio, melhoria da qualidade de vida da cidade. A par disso, infere-se a irrazoabilidade da lei que, ao suposto atendimento dos interesses de uma categoria termina por refletir-se na vida de toda a coletividade, afastando-a sobremaneira. (Adin , DJE 24/06/2004) Na verdade, o fechamento do comércio aos domingos não atende ao interesse da comunidade local. Ora, o comércio aos domingos dá mais opção aos consumidores; possibilita a compra familiar; aumenta a arrecadação do estado e município; e fomenta o emprego.
9 Todas as pesquisas de opinião dirigidas aos consumidores indicam, sem sombra de dúvidas, que interessa à sociedade a abertura do comércio aos domingos. Recente pesquisa realizada pelo Instituto IBOPE, amplamente divulgada na mídia comprova que a sociedade é amplamente favorável à abertura do comércio aos domingos. Vejamos os dados obtidos com a pesquisa: 73% da população faz compras neste dia; 69% das pessoas que trabalham aos domingos fazem compras nestes dias; 71% é favorável à abertura do comércio aos domingos; A vedação ao funcionamento do comércio atende apenas aos interesses minoritários de um pequeno grupo de comerciários com certeza a minoria desta laboriosa classe -, que vive sob o retrógrado manto do sindicalismo paternalista. Ocorre que a sociedade não está organizada, seus interesses difusos jamais são atendidos. Ao revés, as classes minoritárias estão extremamente bem organizadas e exercem forte pressão nos parlamentos, que infelizmente ainda estão suscetíveis a tais procedimentos. Destacamos parte do voto do Exmo. Desembargador Araken de Assis, onde esta situação é apreciada de forma peculiar e brilhante. (...) Rendem-se os Parlamentos, de um modo geral, à pressão convergente dos trabalhadores, olvidando o interesse dos consumidores. Ora, a posição dos comerciários, neste tema, é a do atraso, e profundamente conservadora, senão reacionária. Retrata uma mentalidade antiquada: quanto menos labuta, melhor; quanto menor a carga semanal de trabalho, melhor; tão mais numerosos os feriados e feriadões, muito melhor; e assim por diante. É a cultura do ócio e da indolência, ou a defesa da cigarra, na fábula de La Fontaine. Mas, a Constituição nos quer formiga. (Adin nº , DJE 20/10/2003) Assim, ainda que exista legislação municipal que limite o funcionamento do comércio aos domingos, através do controle de constitucionalidade concentrado (ADIN) ou difuso (ações ordinárias), tal restrição poderá ser superada. IV. D. Do respeito às normas gerais de proteção e às normas previstas em acordo ou convenção coletiva O parágrafo único da nova redação do art. 6º da Lei /00 mantém a previsão de respeito às normas estipuladas em negociação coletiva (a anterior redação fazia referência às normas previstas em acordo ou convenção coletiva) Desta forma, caso exista vedação ao funcionamento do comércio aos domingos inscrita em norma coletiva, tal restrição deve prevalecer.
10 Igualmente, mantém-se a previsão de observância das normas gerais de proteção. Dentre as normas protetivas a serem observadas podem ser destacadas a limitação da duração normal do trabalho a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais; a remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do trabalho normal; e a licitude das alterações contratuais por mútuo consentimento e sem prejuízo do empregado. IV. DAS NOVAS REGRAS SOBRE O COMÉRCIO AOS FERIADOS PREVISTAS NA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 388/07 Nos casos de exigência de trabalho nos feriados, mesmo autorizado por convenção coletiva de trabalho, o comércio varejista em geral nunca esteve livre da autuação dos fiscais. Como já afirmado anteriormente, a redação original da Lei /00 limitava a autorização aos domingos. Vejamos, in verbis, o que dispõe o Precedente Administrativo nº 9 da Secretaria de Inspeção do Trabalho: AUTORIZAÇÃO PARA O TRABALHO EM FERIADOS NACIONAIS E RELIGIOSOS VIA ACORDO COLETIVO OU CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO. NECESSIDADE DE PRÉVIA PERMISSÃO DA AUTORIDADE COMPETENTE EM MATÉRIA DE TRABALHO. Os acordos coletivos ou convenções coletivas de trabalho podem estabelecer as regras de remuneração e/ou compensação para o trabalho em dias feriados, mas não são instrumento hábeis para afastar a competência da autoridade em matéria de trabalho para exercer o controle do trabalho em tais dias. A MP 388, entretanto, introduziu o art. 6-A na Lei /00, garantindo definitivamente a possibilidade da abertura do comércio em geral aos feriados, desde que autorizado por Convenção Coletiva de Trabalho. Vejamos a redação do dispositivo: Art. 6º-A. É permitido o trabalho em feriados nas atividades do comércio em geral, desde que autorizado em convenção coletiva de trabalho e observada a legislação municipal, nos termos do art. 30, inciso I, da Constituição. (NR) Como o legislador não utilizar palavras desnecessárias, nos parece que a referência à Convenção Coletiva é taxativa, ou seja, não é permitida a autorização por Acordo Coletivo. Registre-se que a Legislação Consolidada contempla vários dispositivos que fazem referência expressamente a Acordo e Convenção Coletiva de Trabalho. Se esse fosse o espírito da lei, certamente a expressão acordo estaria também inclusa no dispositivo. De outra parte, é preciso registrar que as atividades especificamente relacionadas na relação anexa ao Decreto /49, mesmo as comerciais, não são e nunca foram regidas pela Lei /00. Por via de conseqüência, não são atingidas pelas novas normas trazidas na MP 388/07.
11 Em que pese a redação mencione o comércio em geral, há que se ressaltar que tanto a Lei /00 como a MP 388/07 não revogaram expressamente a Lei 605/49 e o Decreto /49. Ademais, não há que falar em revogação tácita, pois neste caso as farmácias, os hospitais, as funerárias os postos de combustível, os hotéis, dentre outros, deveriam contar com a concordância dos respectivos sindicatos de empregados, manifestada em norma coletiva, para exigir o trabalho aos feriados. Na realidade, as atividades relacionadas pela legislação de 1949 são todas essenciais. Especificamente no que pertine ao comércio, a relação descreve atividades de comércio de bens e de serviços de primeira necessidade, que por sua essência, devem funcionar sempre, seja aos domingos seja aos feriados. Imaginar o fechamento de hospitais e funerárias aos feriados é contrariar o postulado da razoabilidade como congruência, a menos que seja editada nova legislação proibindo doenças e óbitos em tais datas. Portanto, a MP 388/07 não atinge as atividades especificamente relacionadas no anexo ao Decreto /49, não havendo, assim, em relação a elas, que considerar a convenção coletiva como condição sine qua non para o funcionamento aos feriados. Igualmente, quanto à periodicidade da concessão do repouso aos domingos, em nosso entendimento as atividades previstas na relação anexa ao Decreto /49 são regidas pela Portaria 417/66, que assim dispõe em seu art. 2º: Art. 2º - Os agentes de Fiscalização do Trabalho, no tocante ao repouso semanal, limitar-se-ão a exigir: (...) b) das empresas legalmente autorizadas a funcionar, nesses dias, a organização de escala de revezamento ou folga, como estatuído no parágrafo único do mesmo artigo, a fim de que, pelo menos em um período máximo de sete semanas de trabalho, cada empregado usufrua pelo menos um domingo de folga. Destarte, as empresas autorizadas a exigir o trabalho aos domingos e feriados por força da Lei 605/49 e Decreto /49 deverão conceder aos seus empregados, no mínimo, um repouso semanal no domingo no período de sete semanas. Entretanto, por cautela e resguardo, caso seja possível, sugerimos que todas as empresas do comércio em geral procurem observar o prazo de 3 semanas previsto na atual redação do parágrafo único do art. 6º da Lei /00 (redação dada pela MP 388) Alertamos, finalmente, que algumas Convenções ou Acordos Coletivos possuem regras próprias sobre a periodicidade da concessão do repouso aos domingos. III. CONCLUSÕES
12 Ante todo o exposto, concluímos que: a) o trabalho aos domingos no comércio em geral permanece autorizado por força do caput do art. 6º da lei federal nº /00; b) nos termos da atual redação do caput do art. 6º da Lei /00, com redação dada pela MP 388/07, a autorização para o trabalho aos domingos não se restringe ao comércio varejista, abrange também o comércio atacadista e o comércio de serviços; c) conforme o art. 6º-A da Lei /00 com redação dada pela MP 388/07, o trabalho aos feriados no comércio em geral somente será exigível quando autorizado por Convenção Coletiva de Trabalho; d) conforme orientação unânime do Tribunal de Justiça Gaúcho, leis municipais que vedam ou restringem o funcionamento do comércio aos domingos são inconstitucionais; e) o parágrafo único do art. 6º da Lei /00 estabelece que o repouso deverá coincidir com o domingo pelo menos uma vez no período máximo de três semanas; f) o citado parágrafo único prevê ainda o respeito às normas coletivas, de sorte que a vedação à abertura do comércio aos domingos inscrita em convenção coletiva de trabalho vincula a empresa representada; g) as atividades especificamente relacionadas no anexo ao Decreto /49, mesmo as comerciais, não são e nunca foram regidas pela Lei /00; h) por via de conseqüência, não são atingidas pelas novas normas trazidas na MP 388/07. É o nosso parecer, SMJ. Porto Alegre, 26 de outubro de FLÁVIO OBINO Fº ADVOGADOS ASSOCIADOS S/C Eduardo Caringi Raupp - OAB/RS
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