LEVANTAMENTO DE DADOS SOBRE O PROCESSO DE TRIAGEM DO CENTRO INTEGRADO DE PSICOLOGIA (CIP)

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1 MELLO, Ana Beatriz Guerra 1 ; PROVENZANO, Fernanda Viero 2 ; FERNANDES, Rodrigo Mestriner 3 RESUMO A Universidade Feevale, através do Projeto Centro Integrado de Psicologia (CIP) promove, desde 2011, o Grupo de Triagem. Este grupo tem a finalidade de receber os indivíduos que solicitam atendimento, com o objetivo de avaliar a possibilidade de atendimento ou a necessidade de encaminhamento para outras instituições, tanto públicas quanto privadas. Sendo assim, foi realizado um levantamento das fichas de triagem, a fim de caracterizar a população que aciona o serviço de atendimento psicológico, no período entre março a julho de Após a análise das variáveis relacionadas à população que solicitou atendimento psicológico no CIP, os resultados evidenciam que a maior procura pelo serviço foi por vinte e nove mulheres adultas (38%), seguido por vinte e uma crianças do sexo feminino (28%). Palavras-chave: Triagem. Atendimento psicológico. Clínica Escola. ABSTRACT The Feevale University through Project Center for Integrated Psychology (CIP) promotes ince 2011 the Screening Group for the purpose of screening individuals who request to ceive psychological care, in order to evaluate the possibility of the need for care or ferral to other institutions, public and private. Thus, we conducted a survey of the creening cords in order to characterize the population that drives the psychological service during the period from March to July After the analysis of variables related to the population who request psychological care in the CIP, results indicate that the increased demand was for twenty-nine adult women (38%) followed by twenty-one female children (28%). Key words: Screening. Psychological care. Clinic School. 1 Professora e supervisora do Curso de Psicologia e Orientadora do Centro Integrado de Psicologia, Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Feevale e Psicóloga clínica do Centro de Saúde da Mulher do município de São Leopoldo. 2 Acadêmica de Psicologia da Universidade Feevale. 3 Acadêmico de Psicologia da Universidade Feevale.

2 Introdução O Centro Integrado de Psicologia, projeto com caráter extensionista, pertencente à Universidade Feevale implantou, no primeiro semestre de 2011, a atividade do Grupo de Triagem, vinculada à ação de Atendimento Clínico. Esta atividade é a porta de entrada para o atendimento psicoterápico, sendo avaliada a indicação do paciente e o encaminhamento do mesmo de acordo com a demanda, através de reunião semanal realizada com o grupo de estagiários participantes, sob a coordenação da supervisora local Ana Beatriz Guerra Mello, responsável pela atividade. Segundo BLEGER (1998), a triagem é um instrumento fundamental do método clinico e é, portanto, uma técnica de investigação científica em psicologia. Tem, como propósito, obter dados preliminares sobre o paciente em perspectiva, sendo uma entrevista de tomada de dados, muito realizada em instituições tendo vários objetivos, dentre eles, investigar a adesão do paciente ao tratamento. A partir das fichas dos pacientes envolvidos neste processo foi realizado um levantamento de dados, visando conhecer a população que busca atendimento no CIP e, também, questionar a própria prática desta atividade dentro da região do Vale dos Sinos. O Centro Integrado de Psicologia (CIP), antigo Serviço de Psicologia, do Centro Universitário Feevale, tem caráter extensionista. Foi criado a partir do Projeto Político Pedagógico do Curso de Psicologia, implantado em março de 2002, vinculado ao ICHLA Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes da instituição. Tem como objetivos principais, oportunizar a articulação entre o ensino, pesquisa e extensão em Psicologia, oferecendo um espaço para a realização de observações e práticas dos acadêmicos do curso de Psicologia, além de promover atividades de qualificação aos alunos através de seminários e supervisões. Segundo Mello et al, In. Simon, Melo- Silva e dos Santos (2005, p. 351) o Serviço de Psicologia (atualmente Centro Integrado de Psicologia) tem, por objetivos, a

3 "realização de práticas e estágios curriculares dos alunos do curso de Psicologia, bem como práticas e estágios curriculares de alunos de cursos de especialização e pós-graduação na referida área ou correlatas; desenvolvimento de atividades que visam à qualificação profissional dos estudantes, tais como seminários e supervisões; prestação de serviços à comunidade; e produção de conhecimentos relevantes a partir de pesquisas, reflexão crítica e continuada sobre os serviços prestados". Além de atender a uma demanda do Projeto Político Pedagógico do Curso de Psicologia, o Centro Integrado de Psicologia atende a demandas da comunidade interna e externa da Feevale, tendo, assim, um caráter extensionista. Inicialmente, as propostas de intervenção do CIP foram organizadas em núcleos de atendimento relacionados aos principais contextos de atuação da Psicologia, que são contemplados na estrutura curricular do curso. Nesta época, foram previstos Cinco núcleos direcionados e específicos de acordo com as áreas de atuação e as atividades a serem desenvolvidas: 1) Núcleo de Atendimento Psicológico Clínico (psicoterapia) e Avaliação Psicológica; 2) Núcleo de Psicologia Escolar; 3) Núcleo de Orientação Profissional e Planejamento de Carreira; 4) Núcleo de Consultoria em Psicologia do Trabalho e Organizacional; e 5) Núcleo de Consultoria em Psicologia do Esporte. Atualmente, o CIP se organiza em diferentes ações: Atendimento Clínico, Orientação Profissional e Desenvolvimento de Carreira, Violência Familiar, Psicologia Escolar, Neuropsicologia, Atendimento e Extensão em Psicopedagogia, Atendimento Liga de Combate ao Câncer, Reabilitação Cardíaco e Metabólico, Fibromialgia e Dor Crônica, Assessoria em Psicologia Jurídica, Abordagem e Tratamento do Fumante e Reabilitação Pulmonar DPOC/Asma. Triagem Dentro da ação de Atendimento Psicológico Clínico foi implantado o Grupo de Triagem, como atividade sistemática, que serve como porta de entrada para quem busca atendimento no local. Nunes (apud CUNHA, 1993, p. 43), detalha que:

4 A entrevista inicial, ou a primeira entrevista, é definida por Ocampo e Arzeno (1976), como uma entrevista semidirigida, durante a qual o sujeito tem liberdade para expor seus problemas, começando por onde ele prefere e incluindo o que deseja. Já para Cordioli (2007), as triagens foram avaliadas na variável sexo e faixa etária, considerando a população analisada, estando divididas em crianças até onze anos, adolescentes de doze a dezessete anos e adultos a partir de dezoito anos. É uma entrevista inicial com a finalidade de coletar informações sobre o motivo da consulta ou queixa principal, história de vida, passada e atual, do paciente, tratamentos (medicamentos, exames, etc.) e um resumo dos problemas e sintomas. A partir dessa entrevista clínica cria-se uma hipótese diagnóstica e indicações terapêuticas. Segundo Arzeno (1995), a triagem consiste em uma primeira entrevista com o paciente ou, no caso de crianças, com seus pais, visando esclarecer o motivo da consulta. Busca verificar qual é a causa da procura por ajuda, compreendida como motivo manifesto, uma vez que a mesma, ou os motivos que afloram na primeira entrevista, não são os mais autênticos. Pode ocorrer que, ao longo do processo, outros motivos possam ser descobertos. Cordioli (2008) refere que a entrevista inicial tem por característica, o fato de ser bem estruturada e de ser conduzida de forma a esclarecer se o paciente necessita ou não de tratamento, qual é o tratamento mais adequado, bem como constatar se há alguma modalidade de psicoterapia está indicada ou não, e qual seria essa modalidade. Conforme Cunha (2003), a triagem é também fundamental para avaliar a gravidade da crise, pois, nesses casos, torna-se de imprescindível o encaminhamento para um apoio medicamentoso. O atendimento oferecido pelo Centro Integrado de Psicologia caracteriza-se segundo o modelo focal-breve.

5 Essa opção viabiliza ao estagiário de psicologia clínica vivenciar a prática clínica processual, com início, meio e fim. Para tanto, é necessário que o paciente possua indicação para esse modelo de psicoterapia. Tendo em vista que o local não fornece atendimento psiquiátrico, por não haver pronto-atendimento vinte e quatro horas, o grupo de triagem responsabiliza-se pelo acolhimento da comunidade e possibilita o encaminhamento de casos, quando necessário, para outro local que forneça atendimento adequado à demanda, como por exemplo o encaminhamento ao Centro de Atendimento Psicossocial. Craig (1991) pontua que a triagem tem por objetivos: determinar a elegibilidade do paciente no âmbito da instituição; clarificar a natureza dos serviços oferecidos ou a natureza do tratamento que vai receber; comunicar regras, regulamentos e políticas da instituição; determinar a indicação de recursos mais adequados, caso necessário; bem como determinar o grau de prejuízo mental associado à condição clínica investigada, verificar sintomas, comprometimentos neurológicos, abuso de drogas, distúrbios psiquiátricos significativos. Levando em consideração a explanação acerca da importância da triagem, compreende-se que sua prática, no estágio, é fundamental para efetuar um encaminhamento adequado dos casos. A triagem também é importante para identificar a queixa do paciente e, a partir desta, conduzir à terapia mais adequada a cada caso. Inicialmente, no Serviço de Psicologia, o processo de triagem ocorria da seguinte maneira: "o primeiro atendimento no Núcleo se dá através da Entrevista de Triagem, marcação realizada pela recepção do Serviço de Psicologia, conforme a demanda explícita e os horários disponíveis. A entrevista é realizada por algum dos profissionais do Serviço que avalia a demanda trazida pelo cliente, a possibilidade de atendimento no Núcleo ou a necessidade de encaminhamento a um outro Serviço. Caso o atendimento seja elegível ao serviço, ele é encaminhado para o atendimento compatível com a sua problemática e demanda (individual ou grupo) ou é alocado em uma lista de espera e aguardará ser chamado de acordo de acordo com a disponibilidade." (GUERRA et al, apud SIMON, MELO-SILVA e DOS SANTOS, 2005, P. 354).

6 No primeiro semestre de 2011 houve a implementação da atividade do grupo de triagem. As sessões realizadas com os usuários do serviço são supervisionadas e avaliadas, para depois também serem discutidas e reavaliadas entre os integrantes do grupo de triagem que conta com, no mínimo, um integrante de cada supervisor, sob a coordenação de um supervisor local. Esse formato do processo de triagem não apenas organiza os atendimentos dentro do CIP, mas também promove o encontro e a discussão de casos entre os estagiários. Já a triagem, ao ser realizada, faz-se necessária para conhecer o paciente e avaliar a possibilidade de atendimento ou a necessidade de encaminhamento. O primeiro contato constitui-se numa atividade investigativa, na qual se ouve e se elabora alguma hipótese diagnóstica através dos dados levantados. A triagem é importante para conhecer a pessoa que está na frente do profissional de Psicologia, quem está buscando tratamento. Não é possível realizar um atendimento sem triagem e, preferencialmente, sem que haja uma boa anamnese. A prática de triagem possibilita a obtenção de dados para que possa ser estabelecido o foco da psicoterapia breve, a partir da hipótese diagnóstica. Durante esse processo é necessário pensar no caso, em suas implicações e supervisioná-lo. O grupo de triagem ainda possibilita as interpretações dos colegas de diferentes abordagens, complementando e enriquecendo a aprendizagem em avaliação de casos. Porém, há também casos de sujeitos que não são indicados ao tratamento oferecido em terapia breve focal, surgindo a necessidade de encaminhamento para a rede de serviços, pública e privada. Este fato é relatado por Mello et al, (apud Simon Melo - Silva e dos Santos, 2005, p ): "ressalta-se que o Núcleo prioriza o atendimento de pacientes economicamente desfavorecidos, sendo que os diagnósticos de psicose, paralisia cerebral, deficiência mental profunda, risco de suicídio, quadro

7 neurológico evolutivo de deteriorização progressiva e irrecuperável, deverão ser encaminhados a outros locais". Metodologia A partir da prática da atividade do Grupo de Triagem foi realizado um levantamento dos atendimentos realizados pelos dez estagiários participantes no primeiro semestre de Esse levantamento de dados buscou conhecer a população que demanda atendimento e caracterizar os pacientes em psicoterapia no Centro Integrado de Psicologia. Para tanto, foram levantadas as fichas de triagem realizadas nesse período, sendo levantados os dados referentes a sexo e à faixa etária. Considerando a população analisada, ela foi dividida em crianças até onze anos, adolescentes de doze a dezessete anos e adultos a partir de dezoito anos. Resultados Em primeiro lugar, foi avaliada a indicação para atendimento no Centro Integrado de Psicologia ou a necessidade de encaminhamento para outro local que propicie atendimento mais adequado ao caso específico. Sendo assim, foram levantados os dados referentes a 97 (100%) indivíduos, sendo 77 triados (79%) e 20 desistências (21%). Das 77 triagens efetuadas (100%), 90% obteve atendimento no CIP, sendo que os outros 10% dos casos foram encaminhados para a rede privada ou pública. Os encaminhamentos são realizados de acordo com as possibilidades de atendimento para a rede externa. Todos os casos que não apresentam indicação para o CIP são avaliados para a oferta de atendimento, levando em consideração a demanda do paciente e os serviços disponíveis na região ao qual este pode ter acesso. Por fim, foi realizado um levantamento de todas as variáveis, fazendo o cruzamento de todas as faixas etárias e sexo correspondente, onde foi possível perceber que a maior demanda está em mulheres adultas (38%), seguido de

8 crianças do sexo feminino (28%), crianças do sexo masculino (15%), adultos do sexo masculino (9%) e por fim adolescentes do sexo feminino (6%) e masculino (4%). Considerações finais A partir dos resultados obtidos, é possível perceber a importância do processo de triagem dento do (CIP). O processo realizado se faz efetivo ao acolher o sofrimento da comunidade do Vale dos Sinos, através da escuta, possibilitando um atendimento adequado a demanda da população. Os resultados revelam que a grande maioria dos sujeitos é atendida dentro do (CIP), abrangendo 90% da demanda solicitada, sendo que apenas 10% dos casos são encaminhados para rede do Vale dos Sinos, visando obter um tratamento que supra a demanda deste paciente. O levantamento de dados evidencia, ainda, que a população que frequenta o CIP é composta de crianças do sexo feminino e masculino (43%), adolescentes (10%) e adultos, de ambos os sexos (47%). Ao acrescentar a variável sexo, observa-se que a maior procura ocorre por parte de mulheres adultas (38%). Este resultado vem ao encontro da pesquisa realizada por Campezatto e Nunes (2007), na qual afirmam que este perfil é correspondente de maior procura por atendimento psicológico. Porém, os resultados apontam discordância quanto à população infantil. Enquanto o estudo investigativo de Campezatto e Nunes (2007) aponta uma maior procura do sexo masculino, o levantamento feito demonstra maior procura do sexo feminino. O aumento da procura de atendimento para crianças do sexo feminino é explorado pela pesquisa de Boaz e Nunes (2009) que indica a escassez de bibliografia referente à queixa de diferentes gêneros. As autoras sugerem que a ocorrência de um processo de externalização por parte das meninas. A partir da atividade do Grupo de Triagem foi estabelecido o contato com outros locais que oferecem atendimento para os casos sem indicação para psicoterapia de enfoque focal-breve. Assim, um documento contendo os locais

9 sugeridos fica na recepção, estando ao alcance dos responsáveis pela triagem, a fim de efetuar o encaminhamento. Dentre as possibilidades, podem ser citadas CRAS (Congregação Pastoral da Saúde, Instituição religiosa que atende crianças e mães), CAPS (via UBS), AFAD (Associação da Família e Amigos do Down) e IPSI (Instituto de Psicologia). O Grupo de Triagem também possibilita a oportunidade de pensar os encaminhamentos internos, ou seja, para aqueles que ingressam no atendimento clínico oferecido pelo local (CIP), há a indicação da modalidade de atendimento mais indicada, se em grupo ou individual e também da abordagem, que pode ser Psicanalítica ou Cognitiva Comportamental. Esse levantamento de dados vem a evidenciar a importância do processo de triagem, que consiste na porta de entrada na instituição: é o lugar que começa a possibilitar o indivíduo ao tratamento psicológico, seja dentro ou fora do Centro Integrado de Psicologia. A triagem é um momento de acolhimento, que permite o primeiro contato do paciente com suas questões pessoais e onde se começa a elaboração de um plano terapêutico para este. REFERÊNCIAS ARZENO, Maria Esther Garcia. Psicodiagnóstico Clínico: Novas Contribuições. Porto Alegre: Artes Médicas, BLEGER, José. Temas de psicologia: entrevista e grupos. São Paulo (SP): Martins Fontes, BOAZ, Cristine; NUNES, Maria Lúcia Tiellet. Caracterização das queixas de meninos e meninas em clínicas-escola nos últimos trinta anos. IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS, Disponível em: CRISTINE_BOAZ.pdf>. Disponível em 27 de set. de 2011.

10 CAMPEZATTO, Paula von Mengden and NUNES, Maria Lúcia Tiellet. Caracterização da clientela das clínicas-escola de cursos de Psicologia da região metropolitana de Porto Alegre. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2007, vol.20, n.3 [cited ], pp Disponível em: Acesso em 27 de set. de CRAIG, Robert J. Entrevista clínica e diagnóstica. Porto Alegre (RS): Artes Médicas, CORDIOLI, Aristides Volpato. Psicoterapias: Abordagens Atuais. Porto Alegre: Artmed, Psicoterapias: Abordagens Atuais. Porto Alegre: Artmed, CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico V. 5ed. Porto Alegre, RS: Artmed, GUERRA, Ana Beatriz Guerra, ZUWICK, Ana Maria, REPPOLD, Caroline Tozzi, RIBEIRO, Marianne M. Stolzmann Mendes Ribeiro, FRISHENBRUDER, Sandra Laura e TEIXEIRA, Rita de Cássia Petrarca In. SIMON, Cristiane Paulin, MELO- SILVA, Lucy Leal e DOS SANTOS, Manoel Antônio (orgs.). Formação em Psicologia: serviços-escola em debate. São Paulo: Vetor, 2005.