TUTELA ANTECIPADA - Concessão - Pedido contra a Fazenda Pública -

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1 TUTELA ANTECIPADA - Concessão - Pedido contra a Fazenda Pública - Obrigação de fazer - Fornecimento de medicamento especial - AIDS - Cabimento - Recurso não provido.recurso - Agravo de instrumento - Duplo grau de jurisdição - Concessão de tutela antecipada ante a Fazenda Pública - Decisão interlocutória - Não sujeição ao reexame obrigatório - Recurso não provido.tutela ANTECIPADA - Concessão - Fornecimento, pelo Estado, de medicamento para tratamento de AIDS - Imposição que decorre do texto das Constituições da República e do Estado e da Lei Federal n , de Violação ao princípio da separação dos poderes e ao artigo 273 do Código de Processo Civil - Inexistência - Recurso não provido.tutela ANTECIPADA - Concessão - Fornecimento, pelo Estado, de medicamento para tratamento de AIDS - Perigo de irreversibilidade da medida - Judiciário que, na aferição dos valores, não pode hesitar, dando preferência ao bem maior, que é a vida, deixando de lado o formalismo da possibilidade fática irreversível - Recurso não provido. ( TJSP - AgIn /1998 Rel. Des. Toledo Silva). TUTELA ANTECIPADA - Concessão - Pedido contra a Fazenda Pública - Obrigação de fazer - Fornecimento de medicamento especial - AIDS - Cabimento - Recurso não provido. RECURSO - Agravo de instrumento - Duplo grau de jurisdição - Concessão de tutela antecipada ante a Fazenda Pública - Decisão interlocutória - Não sujeição ao reexame obrigatório - Recurso não provido. TUTELA ANTECIPADA - Concessão - Fornecimento, pelo Estado, de medicamento para tratamento de AIDS - Imposição que decorre do texto das Constituições da República e do Estado e da Lei Federal n , de Violação ao princípio da separação dos poderes e ao artigo 273 do Código de Processo Civil - Inexistência - Recurso não provido. TUTELA ANTECIPADA - Concessão - Fornecimento, pelo Estado, de medicamento para tratamento de AIDS - Perigo de irreversibilidade da medida - Judiciário que, na aferição dos valores, não pode hesitar, dando preferência ao bem maior, que é a vida, deixando de lado o formalismo da possibilidade fática irreversível - Recurso não provido. Agravo de Instrumento n São Paulo - Agravante: Fazendo do Estado - Agravados: Renata Pedretti Sanchez Latorre e outros. (Voto n ) ACÓRDÃO Ementa oficial: Tutela Antecipada - Artigo 273 do Código de Processo Civil - Autores portadores de AIDS - De nada vale a alegação da agravante de que a tutela

2 antecipada não pode ser concedida porque há possibilidade de criar-se situação fática irreversível, uma vez que está em jogo a vida, e o Judiciário, na aferição dos valores, não pode hesitar, dando preferência ao bem maior, que é a vida, deixando de lado o formalismo da possibilidade fática irreversível - Inexistência de afronta ao artigo 273 do Código de Processo Civil e ao princípio da separação dos Poderes - Recurso improvido. ACORDAM, em Oitava Câmara de julho de 1998 de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação unânime, negar provimento ao recurso, de conformidade com o relatório e voto do Relator, que ficam fazendo parte do acórdão. O julgamento teve a participação dos Senhores Desembargadores José Santana e Pinheiro Franco. São Paulo, 9 de setembro de TOLEDO SILVA, Presidente e Relator. VOTO Agravo de instrumento contra a decisão de fls , que deferiu o pedido de antecipação da tutela, para o fim de determinar que a requerida forneça aos requerentes, de acordo com as prescrições médicas por eles apresentadas, os medicamentos necessários ao tratamento a que estão submetidos, desde que estejam dentro daqueles descritos na petição inicial. Sustenta a agravante que, os agravados, por serem portadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, ajuizaram ação ordinária, com pedido de antecipação da tutela, pleiteando seja a ré compelida a adquirir e fornecer-lhes os medicamentos necessários ao tratamento dessa enfermidade, cujo uso diário é essencial à sua sobrevivência, até a data em que essa provisão mostrar-se recomendável segundo orientação médica. Fundamentam o pedido no dever constitucional do Estado de garantir a todos o acesso à saúde e na Lei n , de 1996, cujo artigo 6º dispõe estar a assistência farmacêutica inserida no campo de atuação do Sistema Único de Saúde. Sustenta a recorrente a absoluta impossibilidade de utilização do disposto no artigo 273 do Código de Processo Civil em face das pessoas jurídicas de direito público; que nos termos do artigo 475, inciso II, do diploma processual civil, a sentença deve ser submetida ao duplo grau de jurisdição, sendo ineficazes os atos tendentes à sua liquidação antes do pronunciamento do Tribunal; que a tutela antecipada não pode ser concedida quando houver possibilidade de criar-se situação fática irreversível; que a tripartição das funções estatais tem a finalidade não só de delimitar as atribuições de cada um dos Poderes do Estado, como também evitar que se instaurem conflitos de competência entre eles, donde a necessidade do efetivo respeito dos prefalados limites; que, é inarredável a obediência, pela Administração, do procedimento licitatório à aquisição dos medicamentos; que, a prescrição do uso associado dos medicamentos inibidores de protease não

3 encontra consenso sequer entre os maiores especialistas mundiais nesse assunto. Recurso regularmente processado, com resposta. É o relatório. Dispõe o artigo 273 do Código de Processo Civil que, O Juiz, poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I) haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II) fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. No caso, é incontroverso que os agravados são portadores do vírus da AIDS, motivo pelo qual necessitam, com a máxima urgência, dos medicamentos mencionados na inicial, prescritos pelos médicos, e, por serem pessoas pobres, não têm condições financeiras de adquiri-los. Por esse motivo, pedem que o Estado lhes forneça os medicamentos, e o fazem com base em preceito constitucional e na Lei Federal n , de A ação ordinária de obrigação de fazer é extremamente morosa, mormente quando é ajuizada contra o Estado que, se vencido em Primeiro Grau, esgota todos os recursos possíveis, até na fase de liquidação da sentença. Por esse motivo, o Código de Processo Civil fornece meios ao Juiz de antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida. No dizer do eminente CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, Como por diversos modos o tempo pode conduzir à frustração dos direitos das pessoas que buscam tutela através do processo, variados são também os instrumentos que ao longo dos séculos se excogitaram para neutralizar esses efeitos perversos. Há direitos que sucumbem de modo definitivo e irremediavelmente quando a tutela demora, mas há também situações em que, mesmo não desaparecendo por completo a utilidade das medidas judiciais, a espera pela satisfação é fator de insuportável desgaste, em razão da permanência das angústias e incertezas. Há também o desgaste do processo mesmo, como fator de pacificação com justiça, o que sucede quando o decurso do tempo atinge os meios de que ele precisa valer-se para o cumprimento de sua missão social (prova e bens). Desde a complicação das formas, excesso de atos e de recursos, até a simples demora judicial na tramitação dos feitos e oferta da tutela - tudo conjura contra a efetividade do sistema e, para o combate a cada uma dessas causas, certas medidas são bastante conhecidas e algumas são até bem antigas. Um direito é mortalmente atingido, quando as demoras do processo impedem qualquer utilidade do provimento que ele produziria ( Tribunal da Magistratura, 337, Caderno de Doutrina/ julho e agosto 1998).

4 No caso em apreço, caso não seja concedida a antecipação da tutela pleiteada na inicial, a pretensão dos autores será mortalmente atingida, pois sendo portadores de moléstia gravíssima, não podem aguardar o lento tramitar do processo para somente a final, se a ação for julgada procedente, obter o benefício. De acordo com o artigo 196 da Constituição da República a saúde é direito de todos e dever do Estado, e nos termos do artigo 223 da Constituição Estadual, Compete ao Sistema Único de Saúde, nos termos da lei, além de outras atribuições: V) a organização, fiscalização e controle da produção e distribuição dos componentes farmacêuticos básicos, medicamentos, produtos químicos, bioteconológicos, imunobiológicos, hemoderivados e outros de interesse para a saúde, facilitando à população o acesso a eles. A Lei Federal n , de 1990, dispõe no artigo 2º que, A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu exercício. E, nos termos do artigo 6º, Estão incluídos ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde - SUS: II - de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. Além do mais, convém salientar, a Lei n , de , determina que os portadores do HIV (vírus da imunodeficiência humana) e doentes de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) receberão, gratuitamente, do Sistema Único de Saúde, a medicação necessária a seu tratamento, dispondo o artigo 2º que, As despesas decorrentes da implementação desta Lei serão financiadas com recursos do orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme regulamento. Irrelevante para o caso a alegação da agravante de que a aquisição dos medicamentos depende de procedimento licitatório. A douta Magistrada, ao conceder a tutela antecipada, limitou-se a determinar a aquisição dos medicamentos, não tendo dispensado a agravante da adoção dos procedimentos próprios e indispensáveis. Por outro lado, sequer se pode falar em afronta ao disposto no artigo 475 do Código de Processo Civil, uma vez que não se trata de sentença, mas de decisão interlocutória, atacável por agravo de instrumento, que não está sujeita ao reexame necessário. A decisão recorrida preenche os requisitos do artigo 273 do Código de Processo Civil, de nada valendo a alegação da agravante de que a tutela antecipada não pode ser concedida porque há possibilidade de criar-se situação fática irreversível, pois está em jogo a vida, e o Judiciário, na aferição

5 dos valores, não pode hesitar, dando preferência ao bem maior, que é a vida, deixando de lado o formalismo da possibilidade fática irreversível. Sequer se pode falar em ofensa ao princípio da separação dos Poderes, consagrado na Constituição da República. É que, por força de preceito constitucional, é assegurado a todos o acesso à Justiça, impondo-se ao Judiciário o dever de apreciar todas as questões que lhe forem apresentadas. Assim sendo, como bem decidiu o eminente Desembargador Nigro Conceição, se é assegurado a todos, indistintamente, o acesso à Justiça, a fim de assegurar direitos postergados ou violados, inegavelmente, não tem o Judiciário, para cumprir sua sagrada missão de julgar, outra alternativa senão a de apreciá-los, em face das normas que os concedem ou asseguram, para garantir-lhes o exercício ou eficácia. Limitar a atuação do Judiciário, nesse campo, data maxima venia, é obstar o próprio cumprimento da Lei Maior quando assegura o acesso à Justiça, sempre que exista um direito violado ou na iminência de o ser (fls ). A respeitável decisão recorrida não comporta reparo e fica mantida. Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso. No mesmo sentido: - Agravo de Instrumento n São Paulo - Segunda Câmara de Férias - Julgamento: Relator: Aloísio de Toledo - Votação unânime.