DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Transcrição

1 1 de 5 25/05/ :15 Poder Judiciário da União TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS 13VARCVBSB 13ª Vara Cível de Brasília Número do processo: Classe judicial: PROCEDIMENTO COMUM (7) AUTOR: MARIA MARGARIDA MARTINS SALOMAO RÉU: FACEBOOK SERVICOS ONLINE DO BRASIL LTDA. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA Cuida-se de ação de obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada ajuizada por MARIA MARGARIDA MARTINS SALOMÃO, qualificada nos autos, em face de FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA. e DIREITAJF. Para tanto, alega a autora que no dia 12 de maio de 2017 o segundo requerido publicou foto da requerente com a ofensiva afirmação: Onde estão os R$ 8 milhões desviados da UFJF? Margarida Salomão puxa saco de ladrão. Em conjunto com a fotografia foi postado, ainda, o seguinte dizer: Esta é a rainha do PT em Juiz de Fora. Aduz a requerente que a publicação possui cunho nitidamente ofensivo razão pela qual pugna a sua remoção, inclusive, em caráter liminar. Requer, ainda, o fornecimento dos dados do perfil DIREITAJF, a fim de que seja oportunizada a tomada das providências necessárias em relação à pessoa que propagou com animus caluniandi a postagem. É o breve relatório. Passo a fundamentar e decidir. O exame de cabimento da tutela antecipada, na espécie, deve ser realizado, por força

2 2 de 5 25/05/ :15 da especialidade, à luz dos requisitos especificamente elencados na Lei /14, que estabeleceu o marco civil da internet, e que, em seu artigo 19, 4º, assim dispõe: 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no 3º, poderá antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. No campo da tutela antecipada cibernética, exige-se, portanto, segundo a doutrina especializada, a presença de quatro requisitos específicos e cumulativos, a saber: a) prova inequívoca; b) verossimilhança; c) fundado receio de dano irreparável; e d) ausência de interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet (elemento de ponderação casuística e proporcional). Passo, nessa toada, ao exame dos elementos exigidos para a concessão do provimento inibitório. A liberdade de expressão é direito constitucionalmente albergado, de indiscutível magnitude, que deve, todavia, conviver com outros direitos de idêntica estatura, dada a reconhecida inexistência de direitos absolutamente incondicionados ou cujo exercício compareça ilimitado ou irrestrito, ao talante exclusivo do titular. Dessa forma, a liberdade de expressão deve ser exercitada com consciência e responsabilidade, em respeito à dignidade alheia, para que não resulte em prejuízo à honra, à imagem e ao direito à intimidade da pessoa abrangida na matéria. Excede os limites da crítica e abusa da liberdade de expressão aquele que imputa a outrem, por meio de veículo de comunicação de massa, inclusive na mídia eletrônica, fato ofensivo à honra da pessoa citada na matéria. Na situação em exame, verifica-se que o conteúdo da postagem não apresenta, em princípio, propósito informativo, mas apenas faz um questionamento acerca de suposto desvio de verba pública com menção ao nome da requerente sem qualquer suporte comprobatório.

3 3 de 5 25/05/ :15 Nesse sentido, observa-se que, a priori, a providência razoável é a retirada de tal postagem, na medida em que ela por si só é ofensiva Corroborando esse entendimento: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INTERNET. MANIFESTAÇÃO OFENSIVA POR MEIO DE BLOG. BLOQUEIO. POSSIBILIDADE. PROVEDOR RESPONSÁVEL PELA HOSPEDAGEM DO BLOG. 1. O abuso do direito à manifestação de pensamento deve ser coibido em tutela ao direito à honra e à imagem daquele que foi atingido pelo excesso praticado a pretexto de se exercer a liberdade de expressão. 2. O legislador ordinário regulou a matéria nos termos do art. 20 do Código de Civil, determinando que, salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. 3. Ainda que não se afigure razoável filtrar todos os resultados de busca com o nome da parte ofendida, se o provedor responde pela hospedagem do espaço em que foi publicado o conteúdo ofensivo, revela-se possível o bloqueio ao acesso à matéria injuriosa. 4. Agravo de instrumento conhecido a que se dá parcial provimento. (Acórdão n , AGI, Relator: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 10/07/2013, Publicado no DJE: 18/07/2013. Pág.: 58) Outrossim, o fundado receio de dano irreparável está presente levando-se em consideração que quanto mais tempo a publicação permanecer acessível à coletividade, mais leitores terão acesso ao texto e imagem ofensivos, o qual ultrapassou a mera exposição do pensamento, para tornar-se ofensa à honra objetiva da autora. Ademais, a possível perda dos dados de identificação do ofensor, poderá obstar a busca pela demandante de futura reparação por danos morais. Por outro lado, no que toca ao pedido liminar de fornecimento dos dados do usuário DIREITAJF verifico que os efeitos da medida de urgência são irreversíveis, não sendo

4 4 de 5 25/05/ :15 possível restituir as partes ao status quo ante caso proferida uma sentença de improcedência do pedido da parte, porque a medida postulada tem cunho evidentemente satisfativo. Outrossim, a urgência tange à retirada do conteúdo e não a identificação da fonte. Assim, para que se alcance um resultado satisfatório caberá ao FACEBOOK manter guardados os dados de identificação do usuário do perfil DIREITAJF até o julgamento do presente feito. Ante o exposto, com fundamento no artigo 19, 4º, da Lei do Marco Civil da Internet, DEFIRO PARCIALMENTE a antecipação de tutela requerida, a fim de determinar ao réu FACEBOOK que proceda a imediata retirada da postagem hospedada na URL / /?type=3&theater, no prazo de 48 (quarenta e oito horas),bem como para manter guardados os dados de identificação do usuário do perfil DIREITAJF até o julgamento do presente feito, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) até o limite de R$ ,00 (cem mil reais). Não possuindo a autora elementos de identificação para integrar o usuário/proprietário da página DIREITAJA no pólo passivo da lide caberá a sua exclusão e ao final da lide, em caso de procedência do pedido e alcançado os dados do usuário, postular em, demanda própria, eventuais pretensões em face do usuário. De acordo com o art. 334 do CPC, porque a petição inicial preenche os requisitos e não é o caso de improcedência liminar, deveria ser designada data para realização de audiência de conciliação ou de mediação, a não ser que ambas as partes manifestem desinteresse pelo ato. No entanto, considerando os princípios fundamentais que regem o direito processual civil moderno, especialmente aqueles enfatizados pelo legislador no novo Código, cabe ao magistrado verificar a conveniência da realização dessa audiência.

5 5 de 5 25/05/ :15 Atenta, outrossim, às peculiaridades da controvérsia "sub judice" e diante da possibilidade, conforme artigo 139, inciso V, do CPC, de designar audiência de conciliação uma vez completada a relação jurídica processual com a citação da ré, deixo, por ora, de designar aquela audiência. Cite-se o réu FACEBOOK para responder, conforme artigo 231, incisos I e II do CPC. Intimem-se. Cumpra-se. BRASÍLIA, DF, 24 de maio de :36:13. MARYANNE ABREU Juíza de Direito Substituta