FENOMENOLOGIA DA EXISTÊNCIA: LIBERDADE PROJETIVA HEIDEGGERIANA COMO FUNDADORA DO MUNDO E DO MUNDO DO DASEIN
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1 FENOMENOLOGIA DA EXISTÊNCIA: LIBERDADE PROJETIVA HEIDEGGERIANA COMO FUNDADORA DO MUNDO E DO MUNDO DO DASEIN Autor: Franklin Deluzio Silva Junior deluziofranklin@gmail.com Coautor: Jefferson da Silva Santos thomasjefferson_br@hotmail.com Resumo: A formulação exposta na obra heideggeriana Ser e Tempo nos concede um fundamento ontológico-existencial da liberdade. Discutir se somos ou não livres, implica pensar que apenas somos livres quando fazemos aquilo que queremos. Deste modo, a liberdade não é um conceito unânime entre os teóricos, uma vez que diversos filósofos na história da filosofia tentaram desenvolver um conceito que resolvesse essa questão teórica da liberdade. A liberdade encontrou na abertura da presença (dasein) do ser um novo papel, a saber, modelar as coisas presente no mundo. A existência está posta, construída e viva, o ser lançado no mundo como dasein, tem a possibilidade de decidir ou não, mas sua relação com o mundo é intrínseca a sua natureza existencial, as possibilidades, as decisões, as concepções de mundo, os costumes, são motores existenciais do homem livre, lançado no mundo. A correspondência com tudo isso, que foi citado, fica a serviço da liberdade. São momentos inseparáveis, o relacionamento do ser, a correspondência do processo e a liberdade. A liberdade pode ser definida através de vários vieses, pode ser entendida como: liberdade de agir, liberdade de pensar, liberdade de escolhas, liberdade de querer, liberdade sexual, respeitada as regras do que podemos chamar de democracia. Heidegger nos apresenta que o homem lançado no mundo é portador de uma liberdade, o problema que ele encontra depende de que contexto o homem foi lançado, visto que existem concepções de mundo que inibe a capacidade criativa e libertadora do homem. Em Heidegger, a liberdade tem contornos no conceito de dasein, o homem como ser de possibilidades, e este dasein se dá em condições de possibilidades, implicando liberdade e sempre com a capacidade de decidir sobre algo, as possibilidades ontológico-existenciais do ser, que é livre, nos garantem possibilidades existenciais autênticas. A liberdade humana é apenas liberdade enquanto o homem existe, pois ela é propriedade exclusiva do homem. Nosso objetivo é sustentar que a problemática da liberdade em Heidegger, perpassa por dois conceitos importantes na analítica heideggeriana, a saber, a autonomia e autenticidade. Autonomia como a capacidade do homem em não se perder pela vida inautêntica, mas sim, experimentar sua capacidade de vivenciar sua autenticidade, ou seja, sua fidelidade a seu próprio eu e não deixar se enveredar pelo eu dos outros, que é banal, mundano e falso. A única coisa que o homem não escolhe é nascer, e há uma possibilidade final, ela cessa todas as possibilidades, a saber, a morte. Palavras-chave: Liberdade, Autonomia, Autenticidade.
2 INTRODUÇÃO: LIBERDADE E EXISTÊNCIA O autor da floresta negra rejeitou parte da fenomenologia husserliana, pois o objetivo desta era descobrir estruturas da consciência, Heidegger muda o propósito entendendo que a fenomenologia tem a finalidade de compreender a estrutura do ser aí (ek-sistente) 1 e suas manifestações na cotidianidade, seguramente conceituada como realidade efetiva (HEIDEGGER, 2007, p. 308). Sua objeção não era entender delimitadamente a liberdade do sujeito, mas o fundamento da existência geral. Entretanto, a liberdade é introduzida neste aspecto, visto que é primordialmente e tem raízes profundas na existência do homem. Neste pressuposto, Heidegger entra no campo ontológico, evidenciando a liberdade como uma propriedade que permite instaurar a relação do ente na sua totalidade, e lança à seguinte assertiva, a tradição no decorrer dos anos confundiu a noção de ser e ente, e isso prejudicou a busca por uma essência humana, o homem hoje vive uma existência inautêntica no íntimo de uma sociedade concreta fundamentada apenas nas estruturas superficiais da cotidianidade e que não busca o fundamento do ser na existência do ente, posto que, é na busca pelo ser que encontramos o ente. Nesse âmbito, verifico que essas questões sobre ser e ente, são observações espalhadas que não indicam uma perspectiva etológica da liberdade, necessitando assim de uma discussão, investigação e solução das estruturas do cotidiano na sociedade concreta e materialista, dentro das especulações existencialistas da filosofia heideggeriana, destacando assim alguns problemas básicos e considerando a filosofia como uma prática de vida, filosofia aqui como atitude, entrelaçada com conceitos liberdade e existência irrefletida. A investigação filosófica anunciada até aqui consiste em interpretar de maneira fenomenológica, ontológica e existencial a temporalidade das possibilidades do homem jogado no mundo (HEIDEGGER, 1979, p. 139). O tema liberdade está longe de uma unanimidade. Tal discussão é problemática, mas Heidegger abordou em seu Curso sobre os Problemas Fundamentais da Fenomenologia, curso este ministrado no verão de 1927 que é uma nova reinterpretação de uma parte do livro Ser e Tempo. A obra traz uma abordagem analítica em cima do dasein e submetida à temporalidade, essa comunicação tem por finalidade verificar o método fenomenológico- 1 ek-sistente é o deixar-ser do ente, que libera o homem para a sua liberdade.
3 existencial heideggeriano para compreensão da liberdade como necessidade 2, visando evitar erros na descrição da existencialidade da pre-sença 3. A liberdade em Heidegger é uma necessidade do dasein 4, isso não significa que o dasein pode fazer o que desejar, mas faz aquilo que sua necessidade e sua possibilidade alcança. A liberdade é garantida pela temporalidade do dasein, haja vista ser no mundo significa o ser do dasein. LIBERDADE COMO NECESSIDADE Heidegger em Ser e Tempo (2005), chama o mundo de insignificante, aberta pela via da angústia, devido à impossibilidade de se projetar em um poder-ser da existência primariamente fundado na ocupação. Desentranhar dessa ocupação significa deixar vir à luz a possibilidade de um poder-ser em sentido próprio, a angústia coloca o ser lançado enquanto possível de repetição (HEIDEGGER, 2005, p. 141). Por conseguinte, Heidegger propõe a existência como dasein, palavra alemã que ele utiliza para apresentar a existência como estar aí ou presença, lançado no mundo, o dasein está intrinsecamente destinado ao ser do ente natural, essa afirmação põe a liberdade voltada a para analítica existencial, nos apresentando um ser sem procedência e que se apresenta na sua cotidianidade. Essa análise mostra que o existente surge sem uma noção geradora e sem os por que dessa demonstração. Essa figura do acaso, numa analítica consciente, confirma o estranhamento existencial entre a noção de autêntico e do originário. A liberdade existencial é uma dimensão ampla, mas ocorre por uma redução através da sedimentação da atualidade, precisamos de uma análise fenomenológico-existencial para resolvermos uma questão que a moral limita. Problema este que as ciências positivas decapitaram do individuo, mas através de uma análise fenomenológica podemos esclarecer tais vivências. O que garante a liberdade é a temporalidade, entendida aqui como o ser do dasein que é intimamente ligado a temporalidade, mas o que podemos afirmar sobre temporalidade? 2 Necessidade é entendida aqui no conceito da palavra alemã (brauchen), sendo obrigação ou utilidade. 3 Heidegger introduz este conceito pre-sença na obra Ser e Tempo, concebendo como a constituição do caráter do ser, segundo este ou aquele modo de ser. 4 Dasein é uma palavra alemã utilizada por Heidegger que significa, Da, o aí do dasein que é abertura do ser, ele é a clareira. Daí percebemos o processo de desconstrução da definição de homem, visto que Heidegger quer tomar o conceito de homem na essência, acima de um simples vivente.
4 Heidegger em sua obra Ser e Tempo afirma: A temporalidade do ser-no-mundo que assim emerge demonstra-se, também, fundamento da espacialidade especifica da presença. Deve-se mostrar a constituição temporal de distanciamento e direcionamento. Em seu sentido temporal, a decisão representa uma abertura própria da presença. A constituição temporal de cada um dos fenômenos remete cada vez, a uma temporalidade, que como tal, garante a unidade estrutural possível de compreensão, disposição, decadência e discurso (HEIDEGGER, 2005, p ). Percebo que a liberdade em Heidegger tem profundidade fenomenológica, sem isso é apenas uma necessidade natural, uma vez que, a observação será apenas no campo das emoções, dos sentimentos, o positivista vai olhar apenas o físico, naturalmente o comportamento é observável. Este tipo de análise não se concretiza, visto que o diagnóstico analítico observa apenas o homem como um animal, e quem de direito estuda o homem como animal é a zoologia. Na análise fenomenológica existencial, o homem observa o mundo de uma forma natural, mas a compreensão heideggeriana da palavra de-cisão nos faz compreender que essa palavra vem associada ao ser descoberto é um modo privilegiado de abertura. Decisão 5 é escrito por Heidegger com hífen: de-cisão (Entscheidung), o uso do hífen remete a alusão de que a de-cisão é intrínseca ao campo das possibilidades, Heidegger entende pela própria possibilidade a mais própria das possibilidades fáticas, por si mesma degradadas, ou seja, a possibilidade é um elemento de comunicação da ordem de uma experiência que vem da cotidianidade e que mantém uma relação com a própria liberdade aberta pelo dasein. Nesta compreensão, Heidegger deixa claro que a capacidade da liberdade de de-cisão encontra-se definida, visto que é o que pode ser. A liberdade a cada momento na temporalidade e na possibilidade deixa ao ente ser o ente que ele é, assim a liberdade como já esperávamos é um ato de adesão, deixar-se aderir ao ente. Segundo Heidegger, essa adesão é um desvelamento, desocultação ou um ser descoberto. A liberdade é um ato que ultrapassa todo ente particular e a totalidade do ente, isso acontece por causa do dasein, antes de qualquer conceito legitimado pela sociedade sobre liberdade, como por exemplo, sendo livre arbítrio ou escolha, antes de tudo isso Heidegger afirma que liberdade é adesão ao descobrimento do ente como tal (HAAR, 1990, p ). 5 De-cisão é uma ruptura com o significado de uma decisão individual e trespassar para uma inauguração do campo de possibilidades.
5 A liberdade encontrou na abertura da pre-sença (dasein) do ser um novo papel, a saber, habilidade de transformar a si mesmo, libertação, ligar-se a, liberdade para dominação da sensualidade (liberdade inautêntica), determinação de si a partir da lei de sua própria essência (liberdade autêntica) e por fim a capacidade para o bem e para o mal (INWOOD, 1999, p. 106). A existência está posta, construída e viva, o ser lançado no mundo como dasein, tem a possibilidade de de-cisão ou não, mas sua relação com o mundo é intrínseca a sua natureza existencial, as possibilidades, as decisões, as concepções de mundo, os costumes, são motores existenciais do homem livre, lançado no mundo. A correspondência com tudo isso, que foi citado, fica a serviço da liberdade. São momentos inseparáveis, o relacionamento do ser, a correspondência do processo e a liberdade (INWOOD, 2004, p. 128). A LIBERDADE NA QUALIDADE DE FUNDAMENTO A liberdade em Heidegger não é tão bem tematizada, somente aparece quando Heidegger a coloca como a natureza do fundamento. Ou seja, na concepção heideggeriana a liberdade é considerada como a origem do fundamento em geral (HEIDEGGER, 2007, p.103). Vale notificar que a liberdade proposta não se iguala ao livre-arbítrio. A liberdade citada é o elo de unificação entre o homem e o seu ser, uma liberdade adquirida pela transcendência, é o momento de encontro do ser e o homem denominado como dasein, entendido como eis-aí-ser. Heidegger em Ser e Tempo, nos diz sobre o caráter ontológico do dasein: Esse fato de ser, caráter ontológico do Dasein, encoberto em sua proveniência e destino, mas tanto mais aberto em si mesmo quanto mais encoberto, chamamos de estar-lançado em seu pre, no sentido de, enquanto ser-no-mundo, esse ente ser sempre o seu pré. A expressão estar-lançado deve indicar a facticidade de ser entregue à responsabilidade (HEIDEGGER, 1988, p.189). A facticidade explica Heidegger que não é a fatualidade de um ser simplesmente dado, mas um caráter dado pela pre-sença assumida na existência do ser-aí. Torna-se livre em Heidegger é uma religação a àquilo que é fundamento para a existência e que ilumina para a libertação, assim como a alegoria da caverna de Platão. O homem só aceita a liberdade se aceita-se uma religação com o esplendor secreto do ser e a necessidade de tal acontecimento apropriativo é mais forte que a própria liberdade. Acontecimento apropriativo é o ponto que perscruta a si mesmo, é para o interior desse meio que o pensamento e a liberdade precisa se conduzirem em toda essenciação da
6 verdade do ser. Em primeiro lugar não conseguiremos perceber como Heidegger pensa essa noção, visto que acontecimento apropriativo é algo que surge no âmbito radical acerca do surgimento de projetos de mundo em geral. Heidegger aponta para o modo que caracterizou os acontecimentos históricos que não transforma apenas dimensões da vida, de indivíduos, ou grupos singulares, mas que instauraram novos modos de relação entre a liberdade humana e o ente na totalidade. A percepção deste horizonte do acontecimento apropriativo, nos confronta com uma proliferação que não possui nenhuma clareza, a essência da verdade é a liberdade, uma liberdade que deixem os entes serem eles mesmos, sendo que se deixo os entes serem, eles me deixam ser, permitindo assim liberdade de movimento (INWOOD, 1999, p. 107). Dizer que há uma ligação essencial entre acontecimento apropriativo e os surgimentos históricos de projetos de mundo permanecem uma informação vazia enquanto não sabemos que significa um projeto de mundo e o que distingue de um acontecimento histórico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desta feita, o pensamento heideggeriano é um pensamento mais de necessidade, que da liberdade (HAAR, 1990, p. 173). Sabemos que o ser tem a necessidade do ser humano, em razão que é o único existente que é aberto, é a clareira do ser, de modo que um fruto obedece às regras da natureza, exemplificando, a laranja não decide sobre sua natureza, se ela quer cair ou não no dia equivocado da sua natureza, assim como o pombo não decide se quer comer caviar num certo dia, o pombo come conforme sua natureza e sua seletividade. Heidegger encara a liberdade de acordo com as possibilidades que o dasein se doa, de modo das condições transcendentais. As possibilidades ontológico-existenciais do ser livre são voltadas para possibilidades existenciais autênticas, a saber, a liberdade para a morte para Heidegger é uma conquista autêntica e a única que sobrevive do âmbito do dasein. A liberdade humana só é liberdade por causa do homem que a torna possível. O homem é a oportunidade/ocasião/mediação (Gelegenheit), essa trajetória torna possível a manifesta totalidade do ser, ela é a oportunidade de uma possibilidade de uma verdade metafísica. A liberdade como (sein lassen) uma atividade humana que deixa ser, respectivamente (jeweilige) e em dado momento deixa o ente ser, o ente que ele é. Nisso, garante a liberdade como um ato de adesão, consistindo ao ente o deixar-ser e remetendo para a abertura do que já está aberto.
7 Assim, a clareira do ser é seu campo livre e a autêntica liberdade é aquela que situa no descobrimento da aletheia para reencontrar no obscurecimento da apropriação da essenciação do ser. A noção central do ser-aí, Heidegger quer dizer que nosso ser se determina pelo nosso aí, ao mesmo tempo, o que entende por aí é uma questão histórica, nós somos seres históricos e a partir deste horizonte sedimentados ou horizontes constituídos de sedimentações que o aí se significa por meio dos sedimentos dado pelo mundo. Esta compreensão tem haver com o ser possível, e ao mesmo tempo com a liberdade pensada como a determinação da possibilidade para a possibilidade. Livre não é o ente que pode a partir de si escolher sem julgo, mas livre é o ente que pode possibilidade, que pode concretizar existencialmente possibilidades de ser. Ele é livre porque é originariamente indeterminado, mas ao mesmo tempo determinado em campos de realizações de possibilidades.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HAAR, M. Heidegger e a essência do homem. Tradução de Ana Cristina Alves. Lisboa: Instituto Piaget, Heidegger, M. Die Groundprobleme der Phänomenologie. (Trad. it. I problemi fondamentali della fenomenologia de Adriano Fabris, Genova, Il melangolo, Nietzsche, vols. I e II. Trad. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, Ser e tempo. Parte I. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. 15ª ed. São Paulo (SP): Vozes; Ser e tempo. Parte II. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. 13ª ed. São Paulo (SP): Vozes; Sobre a essência do fundamento. In Heidegger conferências e escritos filosóficos (E. Stein, trad., introds. e notas). São Paulo: Abril, Col. Os Pensadores. INWOOD, Michael. Dicionário Heidegger. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999., Michael. Heidegger. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
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