A SITUAÇÃO DO EMPREGO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, UM ANO APÓS A CRISE MUNDIAL. O que esperar da demanda de trabalho no estado fluminense?

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1 A SITUAÇÃO DO EMPREGO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, UM ANO APÓS A CRISE MUNDIAL Fernanda R. Abreu Silva * O que esperar da demanda de trabalho no estado fluminense? O estado do Rio de Janeiro (ERJ) no último decênio apresentou uma dada recuperação econômica que, por sua vez, se fez acompanhar da expansão generalizada do estoque de emprego formal. A melhoria no que concerne à dinâmica do trabalho é facilmente vista em bancos de dados, como os da Fundação CIDE e do Tribunal de Contas do Estado, dos quais foram retirados os dados para a elaboração deste artigo. O setor responsável pela maior parcela de criação de empregos é o de Comércio e Serviços no qual a economia fluminense está baseada: ele paga cerca de R$ 20 milhões de reais em salários e outras remunerações ao empregar mais de um milhão e meio de pessoas (segundo as Pesquisas Anuais de Comércio e de Serviços, no ano de 2006). O aumento do emprego formal e a queda na taxa de desemprego sinalizam o momento positivo no qual o estado do Rio de Janeiro se encontra. De acordo com o economista André Urani, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), o Rio está com a oportunidade de parar o período de decadência em que esteve mergulhado durante décadas. Entre as melhorias analisadas, Urani comentou "a tentativa de articulação de esforços entre as três esferas do governo, a expansão do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) (...), o crescimento do Programa Bolsa Família e o programa de Saúde na Família, o ajuste das contas públicas e uma maior atração de investimentos privados" (Jornal O Globo, 24/08/09). Ante a fala do economista acima citado, podemos então propor, entre outros, três eixos de análise: o tipo de emprego ofertado pelos setores público e privado; as regiões do estado em que se verificou a criação dessas vagas; e a quantidade de empregos oferecidos vis-à-vis a qualidade da educação oferecida no e pelo estado. O crescimento do número de empregos formais no estado do Rio de Janeiro é observado em diversos setores da economia, o que chama atenção é a maior geração de vagas para os níveis médio e superior incompleto. A partir deste ponto, pode-se notar que

2 houve uma melhora da qualidade de educação no estado, pois, ao exigir tais níveis de escolaridade, o mercado de trabalho faz com que o indivíduo se qualifique e essa procura faz com que a educação se expanda, como uma relação mútua de causa e efeito. Inclusive, o fundador dos bancos Garantia, Pactual e MTT, Luiz Cézar Fernandes, afirma que a qualidade da educação pode ser comprovada pelo fato das principais empresas paulistas serem presididas por executivos naturais do Rio de Janeiro: O Rio está exportando o que há de melhor, que é seu capital humano (O Globo, 24/08/09). Os grandes empreendimentos em fase de construção, tanto partindo do poder público ou do capital privado, estão proporcionando uma distribuição estadual dos empregos gerados. Exemplificando: segundo uma pesquisa elaborada pela Fundação Getúlio Vargas, encomendada pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), o Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro atrairá por volta de 724 empresas e estas oferecerão mais de 160 mil vagas para a região que compreende as cidades de Itaboraí (onde está localizado o empreendimento, o COMPERJ), Guapimirim, Magé, Cachoeiras de Macacu, São Gonçalo, Niterói, Maricá, Rio Bonito, Tanguá, Silva Jardim e Casimiro de Abreu 1. Outro empreendimento significativo é o Porto do Açu na Região Norte. Este, com investimento privado oriundo das empresas do senhor Eike Batista, prevê a criação de pelo menos 5,1 mil vagas na região. A intensa criação de empregos na Região Norte se concentra nos municípios de Macaé e Campos; por conseguinte, a construção do Porto do Açu numa cidade pequena e pouco desenvolvida como é o caso de São João da Barra, aponta para a possibilidade da inserção de parcela daquele contingente populacional no mercado de trabalho formal, diminuindo, inclusive, a migração em busca de emprego para as cidades supracitadas.. Quanto à estrutura rodoviária, outro investimento público de relevância é o Arco Rodoviário Metropolitano, que ligará a cidade de Itaboraí ao Porto de Itaguaí, passando por toda Baixada Fluminense. A obra, recém iniciada, é apontada como sendo geradora de 140 mil empregos diretos e indiretos, devendo abrir, no futuro, 27 mil vagas nas empresas que serão instaladas em seu entorno. O Arco beneficiará oito municípios 2 com postos de trabalho na construção civil e após o término da obra, expandirá o campo de atuação em vista da necessidade de profissionais qualificados de diferentes áreas para as indústrias atraídas. De acordo com o Jornal O Globo de 23/08/09, a região será um celeiro de vagas, pois abrigará indústrias como a Companhia de Coque Calcinado de 1 Vale constar que seis desses municípios afetados diretamente pelo impacto da criação do Complexo pertencem à Região Metropolitana, a qual concentra a maior parte das indústrias do estado. 2 Serão 145km de extensão, passando por Itaguaí, Seropédica, Japeri, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Magé, Guapimirim e, por fim, Itaboraí. Os dados são da Secretaria de Obras do Estado.

3 Petróleo (Coquepar), a fabricante de cosméticos Niely e a Novagerar (tratamento de resíduos) que já adquiriram terrenos ao longo do Arco. Nesta mesma matéria jornalística, o governador do estado, senhor Sérgio Cabral, através da sua assessoria, afirma que a obra é estratégica para o Rio e o início das negociações dos terrenos disponíveis próximos ao Arco representa um indício de que a região vai gerar muitas oportunidades. Segundo a Fundação CIDE, os cinco municípios que mais geraram empregos no ERJ foram: Rio de Janeiro, Macaé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Campos dos Goytacazes por ordem de grandeza. Dentre esses, três pertencem à Região Metropolitana (Rio, Duque de Caxias e Nova Iguaçu) e dois à Região Norte (Macaé e Campos). Isso ocorre pela importância que o estado atribui aos setores da petroquímica e siderurgia; importância que André Urani classifica como excessiva, apontando, nestes termos, que outros setores deveriam ser priorizados, como o de audiovisual, o da economia criativa, o do turismo e o de serviços. Já de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o estado fluminense foi o segundo estado a criar mais empregos formais no último ano, elevandoos em 5,48% em relação ao ano anterior. Ainda nesse mesmo banco de dados 3, a Região Metropolitana foi essencial para o bom resultado do Rio, pois criou empregos no último ano. Em seguida, aparecem os municípios de Macaé, Duque de Caxias e Rio das Ostras. Retomando a questão da educação, ao analisar os dados do Anuário Estatístico da Fundação CIDE, percebe-se que a atuação do estado no ensino tem aumentado. Ou seja: a rede de ensino público vem tomando maior espaço, pois em 2005, do total de alunos matriculados no ensino médio no estado, 79,76% eram atendidos pela rede pública, sendo que em 2007 esse percentual passou para 83,15%. Portanto, ao associar essa análise ao aumento da oferta de empregos para o nível médio, como já foi dito, é possível observar uma relação de interdependência entre essas esferas. Para tornar mais claro: os esforços para a capacitação do profissional estariam diretamente ligados à demanda de vagas de trabalho ofertadas pelo mercado, principalmente de carteira assinada. A título de exemplo se pode citar fundações como SENAI e SENAC, presentes em todo estado, as quais apresentam crescimento no número de matriculados em cursos de qualificação, com ênfase nos setores de comércio e indústria. Mais uma vez justificado pelo aumento de postos de trabalho oferecidos nesses segmentos. 3 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). 4 Nota Técnica/FIRJAN: Acompanhamento Mensal do Mercado de Formal de Trabalho Agosto 2009.

4 Quanto ao mês de Agosto/2009, a movimentação do emprego formal apontou um resultado acima do esperado pelos otimistas, no ERJ criou-se 63,8% do que fora criado em todo semestre anterior 4. Foram oferecidos novos postos de trabalho, seis mil a mais que o mês antecedente (que já havia sido considerado o melhor em 2009). O setor de Serviços continuou como o principal contratante, criando vagas; seguido da Indústria, que conseguiu reverter o saldo negativo do ano, com novas vagas; e o setor da Construção Civil, que voltou a crescer depois de dois meses de desaceleração, com postos. Agosto ainda foi o primeiro mês em 2009 em que todas as regiões do estado mostraram uma expansão do mercado de trabalho. A Capital gerou novos empregos no mês, sendo a maior parte desses em Serviços e Comércio, seguido da Construção Civil. A região Leste seguiu a mesma tendência, criando empregos formais nesses mesmos setores. O Sul Fluminense teve seu segundo resultado positivo no ano e praticamente zerou o saldo negativo do primeiro semestre ocasionado pelos efeitos da crise mundial. Já na região Serrana, deu-se o primeiro resultado positivo na criação de vagas por conta da indústria metalúrgica de Três Rios e da indústria de confecções de Petrópolis. Entretanto, a região Norte não seguiu esse fluxo, apesar de ter um saldo positivo, apresentou queda no nível de demanda de trabalhadores. Isso ocorreu por conta do encerramento de atividades industriais ligadas à cana-de-açúcar e ao álcool devido à entressafra. No mês de Setembro/2009, o estado fluminense obteve o quarto melhor resultado nacional de geração de empregos formais com vagas e manteve como o melhor desempenho no acumulado 12 meses dentre todos os outros estados: A aceleração na geração de postos de trabalho formal fluminense no segundo semestre teve como conseqüência um saldo acumulado no ano de empregos. Nos últimos 12 meses, foram gerados novos postos de trabalho mantendo o estado, em termos absolutos, com o melhor resultado nacional nesta base de comparação (Nota Técnica/FIRJAN, Setembro de 2009). O setor de Serviços permaneceu como maior contratante com empregos. A Construção Civil continua contratando a ritmo acelerado e a Indústria apresentou o melhor resultado do ano ao admitir novos empregados.

5 Diante a todos os dados aqui apresentados, é possível perceber a recuperação da economia fluminense no que refere à criação de empregos formais, tendo o setor de Serviços como principal base empregatícia de grande parte ERJ. Os números apresentados pelo Ministério do Trabalho foram majoritariamente satisfatórios, o Rio está respondendo às expectativas positivas para este período pós-crise. Tende, inclusive, a seguir em plena atividade já no próximo ano, visto o saldo de mão-de-obra absorvida neste segundo semestre de * A autora é graduanda em História pela UFRJ e bolsista de IC.