Curso. RUÍDO, VIBRAÇÕES E ILUMINAÇÃO NOS LOCAIS DE TRABALHO Manual do Formando. Ruído nos Locais de Trabalho
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1 Ruído; Vibrações; Iluminação nos Locais de Trabalho Ruído nos Locais de Trabalho Manual do Formando
2 Curso 2 RUÍDO, VIBRAÇÕES E ILUMINAÇÃO NOS LOCAIS DE TRABALHO Manual do Formando Ruído nos Locais de Trabalho
3 P ERFIL, D ELTAC ONSULTORES E ISPA Manual do Formando Ficha Técnica Autor: Ernesto Manuel Dias Título: Ruído nos Locais de Trabalho Coordenação do Projecto: Maria da Graça Pinto e José Garcez de Lencastre Edição: Maio 2007 Produção apoiada por: UNIÃO EUROPEIA FUNDO SOCIAL EUROPEU GOVERNO DA REPÚBLICA PORTUGUESA PROGRAMA OPERACIONAL DO EMPREGO, FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL Perfil, DeltaConsultores e ISPA Lisboa, 2007
4 Índice Introdução 1 Objectivos 2 Princípios Gerais de Acústica 3 Som e Ruído 3 Natureza Física do Som 4 Características do Movimento Vibratório 5 Características da onda sonora 6 Propriedades físicas do som 7 Parâmetros básicos do som 9 Pressão sonora 11 Gama de pressões sonoras 11 Conversão em db através de gráficos e ábacos 14 Operações com decibéis 15 Controlo do Ruído 45 Medidas organizacionais 46 Medidas construtivas 46 Medidas de protecção individual 51 Medição dos Níveis de Ruído 55 Objectivos das medições 55 Constantes de tempo 55 Carta de ruído 56 Equipamentos de medição 57 Procedimentos de medida 60 Relatório da medição 60 Enquadramento Legal 61 Decreto Lei n.º 182/06 de 6 de Setembro 61 Sistema Auditivo Humano 18 Bibliografia 63 Constituição do Aparelho Auditivo 18 Funcionamento do Aparelho Auditivo 19 Informações 64 Audibilidade Humana 20 Sensação Auditiva 24 Avaliação Quantitativa dos Níveis Sonoros 26 Nível de Pressão Acústica Lp 26 Nível de Potência Sonora Lw 27 Nível Sonoro Contínuo Equivalente Leq, T 27 Exposição Pessoal Diária de um Trabalhador ao Ruído durante o Trabalho L EX, 8 h 28 Média Semanal dos Valores Diários da Exposição de um Trabalhador ao Ruído Durante o Trabalho L EX, 8 h 29 Pico de Nível de Pressão Sonora L C pico 30 Dose do Ruído D [ % ] 30 Tipos de Ruído 33 Consequências do Som 38 Acção do som sobre o aparelho auditivo 38 Risco de perda de audição 40 Efeitos do som sobre o organismo em geral 41 Audiometria 44
5 Capítulo 1 Introdução O ruído é, actualmente, um flagelo universal e são raras as pessoas que se conseguem subtrair à sua presença. O desenvolvimento tecnológico e a mecanização que proporcionam condições mais fáceis na nossa vida quotidiana, também se traduzem, na maioria dos casos, por um acréscimo de ruído. São exemplos característicos destas situações os aparelhos de uso doméstico, os meios de transporte, os equipamentos de trabalho utilizados nas actividades industriais, e toda uma panóplia de factores que contribuem, para a criação de uma elevada poluição sonora na qual a vida do homem se tem de desenvolver e em que o repouso e o trabalho se tornaram cada vez mais difíceis, ou até quase impossíveis. Além das repercussões no rendimento do trabalho, o ruído também afecta o indivíduo directamente. As estatísticas são unânimes em afirmar que o trabalho em ambientes ruidosos não só tem repercussões na quantidade e qualidade do trabalho efectuado, como também leva a outras consequências, tais como: Aumento do número de acidentes, fruto de um estado psicológico mais tenso; Aumento do índice de gravidade dos acidentes; Doenças do sistema nervoso; Aumento da fadiga no trabalho; Surdez Profissional. Do reconhecimento dos danos que o ruído nos pode provocar, nasceu a necessidade urgente de uma luta sem tréguas em todas as frentes em que ele se manifesta, nomeadamente na indústria, onde atinge níveis particularmente elevados na maioria das situações. 1
6 Objectivos No final da abordagem da Unidade 1 Ruído, o formando estará apto a: Caracterizar os diversos tipos de som, as grandezas sonoras e as unidades de medida com base nos princípios gerais de acústica; Descrever a constituição do ouvido humano, e a sua área de audibilidade normal; Efectuar a avaliação quantitativa dos níveis sonoros, com base nos parâmetros sonoros mais relevantes; Enumerar algumas consequências do ruído excessivo para a Saúde e a Segurança dos Trabalhadores; Enunciar algumas formas concretas de controlo de ruído e explicar os motivos pelos quais se devem usar os protectores auriculares; Interpretar relatórios técnicos de ruído elaborados por empresas prestadoras de serviço; Interpretar correctamente a legislação relativa à protecção dos trabalhadores contra os riscos decorrentes da exposição ao Ruído durante o trabalho. 2
7 Capítulo 2 Princípios Gerais de Acústica Antes de abordar o modo como se deve avaliar o ruído e as medidas específicas para a sua prevenção, apresenta-se uma sistematização de algumas noções gerais de acústica indispensáveis para a boa compreensão desta matéria. Som e Ruído Há duas maneiras diferentes de definir som: Como Fenómeno Físico ; trata-se de um movimento vibratório de um corpo que desencadeia o deslocamento de partículas de um determinado meio elástico; Como Fenómeno Psicológico ; trata-se de uma sensação auditiva agradável ou desagradável provocada pelo movimento vibratório de um corpo. Em acústica todos os sons são uniformemente designados como ruidosos, mas para o homem em geral e em particular, para o trabalhador, ruído é todo o som que lhe é desagradável ou inoportuno. É esta sensação, a impressão subjectiva de desagrado ou de desconforto que certos sons e em certas circunstâncias provocam, que é tomada como ruído. Os sons que sejam de fraca intensidade podem dar origem a incómodos. Por exemplo, o estalar de um soalho de madeira, um disco riscado, uma torneira mal fechada, podem ser igualmente desagradáveis. Quando os movimentos vibratórios (sons) surgem de noite, podem causar maior incomodidade na medida em que a tolerância no período nocturno é bastante inferior á do período diurno. O som pode causar danos materiais. Por exemplo, as ondas de choque causadas por aviões supersónicos podem estilhaçar os vidros das janelas. No entanto, a situação de maior gravidade ocorre quando o som causa traumatismos no aparelho auditivo. 3
8 Natureza Física do Som O som é uma perturbação física criada num meio elástico, (líquido, gasoso ou sólido) caracterizada pela deslocação relativa de partículas desse meio ambiente e consequente variação de pressão e energia do mesmo. A maior parte dos sons que se propagam no ar (Exemplos: um prego que cai no chão, a voz humana, um motor a trabalhar, o chiar dos pneus, etc.) são provocados por vibrações de um corpo sólido designado por Fonte Sonora. A vibração de gases e líquidos também produz som: o trovão que ouvimos é produzido pela vibração das camadas de ar e das nuvens atmosféricas, outro exemplo é o pingar de água de uma torneira mal fechada. As partículas do ar, ao contactarem com o corpo (fonte), vibram e executam, em torno da sua posição de equilíbrio, o mesmo número de oscilações na unidade de tempo que as efectuadas pelo corpo. Este movimento, por sua vez, comunica-se, por contacto, às partículas adjacentes, transmite-se em todas as direcções, a partir da fonte, e dá origem a uma onda sonora. Como podemos ver na Fig. 1, ao tocarmos num fio metálico que esteja esticado e amarrado a duas cadeiras, aquele entra em vibração produzindo variações de pressão e energia. Tais flutuações de pressão e energia, Fig. 1 (Fio metálico em vibração) comunicam-se com as partículas adjacentes e propagam-se em todas as direcções dando origem ao som o qual vai perdendo a sua intensidade (deixa-se de ouvir) à medida que aquelas variações se vão afastando da sua origem. 4
9 Características do Movimento Vibratório As vibrações sonoras apresentam as mesmas características dos movimentos vibratórios em geral. Tomem como exemplo o som produzido pela vibração de uma mola e consideremos o movimento de uma partícula de ar no percurso da onda sonora emitida. A posição da partícula, em cada instante de tempo, poderá ser representada por uma curva sinusoidal, do tipo da indicada na Fig. 2, em que a linha horizontal representa a posição de equilíbrio da partícula e a linha ondulada a sua posição em cada instante do tempo. + DESLOCAMENTO Amplitude Ciclo TEMPO - Período Fig. 2 (Curva sinusoidal) A cada sequência completa de movimentos chama-se ciclos e o tempo necessário para que a partícula efectue um ciclo completo tem o nome de período (T). Como a sequência de movimento se repete de período em período, designa-se por movimento periódico. A frequência (F) do movimento é o número de ciclos completos efectuados na unidade de tempo e é igual ao inverso do período: 1 F = T Ao deslocamento máximo da partícula em qualquer das direcções chama-se amplitude sendo o deslocamento total duas vezes a amplitude. 5
10 Características da onda sonora Como podemos ver na Fig. 3, outra característica importante do movimento ondulatório, reside no facto de não haver transporte de matéria mas sim propagação da sua energia. Ora sendo a propagação do som efectuada precisamente através daquele movimento de partículas, a sua velocidade de propagação Fig. 3 (Propagação de energia) (v) depende da pressão, da elasticidade e da densidade do meio de propagação. Os meios mais densos propagam melhor o som, porque as partículas estão mais próximas e como tal, transmitem melhor uma às outras a energia causada pela vibração. Na Tabela 1, apresentam-se a exemplos da velocidade de propagação do som nalguns meios materiais elásticos. Tabela 1 Velocidade de propagação do som em alguns materiais Meios Materiais Elásticos Exemplos Velocidade de Propagação do som (m/s) Sólidos Borracha 1500 Cobre 3900 Terra 4000 a 6000 Líquidos Álcool etílico 1180 Mercúrio 1450 Água (T = 20º C) 1480 Gasosos Dióxido de carbono 260 Ar (T = 0º C) 331 Ar (T = 20º C) 340 6
11 Como o som se propaga através da vibração das partículas do meio, facilmente se podem deduzir que no vácuo não há Som. A distância percorrida por uma onda sonora durante um determinado tempo chama-se comprimento de onda (λ) e está relacionada com a velocidade de propagação (V) e o período (T) pela igualdade: λ = V x T A posição das partículas do meio, num dado instante t e numa dada direcção de propagação da onda sonora, poderá igualmente ser representada por um curva sinusoidal apresentada na Fig. 4, em que a linha horizontal representa a distância das partículas à fonte sonora e a linha ondulada a posição relativa de cada partícula no instante t. + DESLOCAMENTO Comprimento de onda Direcção de propagação da onda sonora DISTÂNCIA DA FONTE - Fig. 4 (Curva sinusoidal) Propriedades físicas do som Antes de referirmos aos parâmetros básicos do som e no sentido melhor compreensão daquilo que realmente está em causa, iremos fazer uma analogia entre o som e o calor. Por exemplo, um aquecedor eléctrico produz uma certa quantidade de energia por unidade de tempo (joules/s), isto é, potência W (joule/s). Este parâmetro permitenos avaliar a quantidade de calor que o aquecedor poderá produzir e é independente do local onde está instado. A energia calorífica radiada pelo aparelho, aquece toda a envolvente do local onde estiver instalado e o aumento de temperatura pode ser medido em ºC com um termómetro. 7
12 No entanto, como podemos concluir, com a ajuda da Fig. 5, a temperatura num determinado ponto da sala, não dependerá exclusivamente da potência calorífica do aquecedor, e da distância a este. A temperatura dependerá também da quantidade de calor absorvida pelas paredes, bem como, da quantidade de calor transmitida pelas paredes e janelas para o exterior. P [ W ] T [ º C ] (calor) Do mesmo modo, uma fonte sonora Fig. 5 (Temperatura da sala) produzirá uma quantidade de energia sonora por unidade de tempo (joule/s), isto é, uma certa potência sonora, W (watt = joule/s). A energia sonora radiada cria um determinado campo sonoro que é independente da envolvente acústica. Tal como o calor existente em qualquer ponto da sala não depende exclusivamente da potência do aquecedor, de igual modo a pressão sonora, p (Pa = N/m 2 ), num determinado ponto da referida sala não depende da potência sonora do equipamento. Como podemos observar na Fig. 6, a pressão sonora da sala irá depender da quantidade de energia sonora absorvida pelas paredes, bem como da quantidade de energia que é transmitida para o exterior. N p [Pa = ] m 2 P [ W ] Fig. 6 (Pressão sonora da sala) 8
13 Parâmetros básicos do som Quando uma fonte sonora produz um som com uma determinada Potencia Sonora (P), dá-se uma transferência de energia da fonte para as moléculas de ar adjacentes segundo uma propagação radial. O fluxo de energia que numa determinada direcção atravessa um elemento de superfície é designado por Intensidade sonora, (I). Como podemos ver na Fig. 7, em cada ponto que envolve a fonte sonora, aquele fluxo de energia dará origem a uma Pressão Sonora (pi) p 2 p 1 I 2 P I 1 Potência Sonora P [ W ] Intensidade Sonora I [ W/ m 2 ] Pressão sonora p [ pa [ Pa = = N/ N/ m 2 ] 2 ] Fig. 7 (Ponto envolvente da fonte sonora) Como se relacionam estes parâmetros? Estes 3 parâmetros básicos do som estão relacionados do seguinte modo: I = P = 4Π r 2 p 2 ρ V Em que: I Intensidade sonora P Potência sonora P Pressão sonora r Distância à fonte ρ Densidade do meio V Velocidade do som 9
14 As igualdades anteriormente referidas demonstram-nos com toda a clareza que a potencia sonora (P), é directamente proporcional à intensidade sonora (I) e ao quadrado da pressão sonora (p). Do mesmo modo, verifica-se que a intensidade sonora e a pressão sonora diminuem com o quadrado da distância à fonte. Se a distância à fonte aumentar para o dobro, a mesma quantidade de energia atravessará uma área que quatro vezes maior e consequentemente I 2 = I 1 /4. Por outro lado, se a intensidade diminuir para ¼, a pressão sonora irá diminuir para metade. Quais as unidades desses parâmetros? As unidades dos parâmetros básicos do som são os constantes da Tabela 2: Tabela 2 Parâmetros básicos do som Parâmetros Básicos Potência Sonora [ P ] Unidades W (joule/ segundo) Intensidade Sonora [ I ] W/m 2 Pressão Sonora [ p ] Pascal (N/ m 2 ) Quais os Aspectos Fundamentais a Reter? A intensidade sonora e a pressão sonora poderão ser medidas directamente utilizando instrumentos apropriados; A potência sonora pode ser calculada a partir de medições da pressão sonora fazendo correcções à envolvente acústica; A potência sonora também pode ser calculada a partir de medições da intensidade sonora fazendo correcções à superfície de medição; A potência sonora destina-se principalmente para classificar, em termos quantitativos, as diversas fontes de ruído; A intensidade sonora permite localizar e qualificar as fontes de ruído, sendo por isso, extremamente útil no estudo das soluções de controlo do ruído; A pressão sonora é o parâmetro utilizado quando o objectivo é a avaliação de situações de incomodidade ou de risco de trama auditivo. 10
15 Pressão sonora Ao movimento vibratório das partículas de meio elástico estão associadas flutuações de pressão do memo meio acima e abaixo do valor pressão existente na ausência de vibrações sonoras (pressão estática) A Pressão Sonora é a diferença entre a pressão num dado instante e a pressão atmosférica. A Fig. 8, representa um diapasão que ao vibrar, provoca variações da pressão ar ambiente que se sobrepõem à pressão estática do ar ( 10 5 Pa) Fig. 8 (Vibração de um diapasão) Gama de pressões sonoras Comparada com a pressão estática do ar, a variação da pressão sonora na gama audível é muito pequena, situando-se entre os 20 µ Pa e os 100 Pa. 20 µ Pa corresponde ao som mais fraco que um indivíduo consegue ouvir sendo por isso designado por limiar de audição. Uma pressão sonora de 100 Pa é tão elevada que causará dor e por isso é considerado como limiar da dor. A aplicação directa de escalas lineares em Pa, torna-se praticamente impraticável pois conduz a números muito grandes e portanto nada práticos para serem utilizados. Além disso, sabe-se hoje em dia, que o ouvido humano responde de uma forma logarítmica e não linear aos estímulos sonoros. Em virtude das razões mencionadas, optou-se exprimir os parâmetros sonoros como uma razão logarítmica entre os valores medidos e os valores de referência. 11
16 A esta Razão Logarítmica chama-se Decibel db O Que é Decibel? É uma unidade logarítmica adimensional que exprime o nível de pressão ou intensidade sonora, num ponto, em relação a um valor de referência. A intensidade ou pressão sonoras, quando expressas em db, são designadas, respectivamente por Li (nível de intensidade sonora) ou Lp (nível de pressão sonora). O nível de intensidade sonora é dado pela relação: Li = 10 log I (1) I 0 Em que Li Nível de intensidade sonora I Intensidade sonora considerada I 0 Intensidade de Referência Nota: Por acordo internacional foi escolhido como Intensidade de Referência o valor de watts/cm 2 o qual corresponde ao limiar de audição para um som de 1000 Hz. 12
17 Excepto perto da fonte sonora ou em locais em que a reflexão do som se torna importante, há uma proporcionalidade directa entre a pressão sonora e a intensidade dada pela expressão: I =Kp 2 (2) O nível de pressão sonora poderá ser dado, substituindo na expressão assinalada com (1), I e I0 pela relação assinalada com (2). Daqui resulta: Li = 10 log I = 10 log I 0 p 2 p 2 0 = Lp Ou seja: Lp = 20 log p p 0 db (3) Em que: Lp Nível de pressão sonora P Pressão eficaz no ponto de medida Po Pressão de Referência Nota: Por acordo internacional foi escolhido como Pressão de Referência o valor de 20 µ Pa o qual corresponde ao limiar de audição para um som de 1000 Hz. Conclusões Da expressão (3) pode-se extrapolar que, quando a relação (2) se verifica, o Nível de Intensidade Sonora (Li) e o Nível de Pressão Sonora (Lp) são expressos pelo mesmo número de decibéis. 13
18 Vejamos agora através de dois exemplos simples como se podem transformar grandezas de sons expressas nas unidades referidas anteriormente, em níveis expressos em db. Exemplo 1: Qual é o valor em db de um som com intensidade de w/cm 2? Exemplo 2: Li = 10 log I/I 0 = 10 log /10-12 = 10 log 1 = 10 x 0 = 0 db A pressão sonora de um dado som é 200 Pa. Qual é o nível deste som em db? Lp = 20 log p/p 0 = 20 log 200/20 x 10-6 = 20 log 10 7 = 20 x 7 = 140 db Conversão em db através de gráficos e ábacos É possível a utilização do Gráfico 1 em alternativa à fórmula para converter pascais em decibéis ou vice versa: Gráfico 1 Conversão de decibéis em pascais e vice versa 200 Lp [db ] p P [Pa]
19 Em seguida apresentaremos na Tabela 3, uma equivalência de valores de pressões sonoras em Pascal e os correspondentes níveis em decibéis. Tabela 3 Equivalência de valores entre Pascais e Decibéis Dessa equivalência de valores, podemos afirmar que a escala dos db é de leitura muito mais fácil e está compreendida entre os 0 db (limiar de audição) e os 130 db. Operações com decibéis Como o decibel não é uma grandeza aditiva e no intuito de facilitar os cálculos evitando o uso sempre incómodo das tábuas de logaritmos foram construídos ábacos que nos permitem mais facilmente somar ou subtrair decibéis. Adição de Decibéis Muitas vezes, quando estamos em presença de duas fontes sonoras distintas tornase necessário saber qual será o nível sonoro resultante do funcionamento simultâneo daquelas fontes. 15
20 Através do Ábaco I podemos facilmente somar decibéis procedendo do seguinte modo: Ábaco I db + db Exemplo: L 1 = 55 db L 2 = 51 db L L = 4 db L + L T = 1.4 db = = 56.4 db Calcular a diferença L entre os dois níveis de pressão sonora; Usar a curva para obter o L + ; Adicionar L +, ao nível mais elevado para obter o nível global L T. Através do Ábaco 1, também podemos constatar que: A soma de dois valores iguais resulta num aumento de 3 db e não o dobro; Pode-se adicionar mais de duas fontes, combinando-as em passos sucessivos: Exemplo:
21 Subtracção de Decibéis Outras vezes, torna-se necessário saber o nível sonoro de uma determinada fonte, na presença simultânea de outra fonte sonora residual importante. Através do Ábaco II podemos facilmente subtrair decibéis procedendo do seguinte modo: Ábaco II db - db Exemplo: L S+N S+N = 60 db L N = 53 db L L = 7 db L - = 1 db L s = 60-1 = 59 db Achar a diferença entre os níveis sonoros a subtrair; Se a diferença for superior a 3 db entrar com o respectivo valor Na escala horizontal L e usar a curva para obter L na escala vertical; Subtrair L ao valor mais elevado para obter o resultado final; Se a diferença for inferior a 3 db entrar na escala vertical L com o respectivo valor e usar a curva para obter L na escala horizontal; Subtrair L ao valor mais elevado para obter o resultado final; 17
22 Capítulo 3 Sistema Auditivo Humano P ara que um som seja ouvido torna-se indispensável que o mesmo se propague até nós, que seja captado pelos nossos ouvidos e que seja transmitido ao cérebro a impressão sonora. Convém, portanto, conhecer minimamente a constituição do ouvido humano para melhor percebermos o mecanismo da audição. Constituição do Aparelho Auditivo Como podemos ver na Fig. 9, o ouvido humano pode ser dividido em três partes principais: 1. Pavilhão auricular Canal auditivo 3. Tímpano 4. Martelo Estribo 6. Bigorna 7. Canais semicirculares 8. Vestíbulo 9. Caracol Ouvido Externo Ouvido Médio Ouvido Interno Fig. 9 (Ouvido humano) O ouvido externo, constituído pelo pavilhão auricular ou orelha, pelo canal auditivo e pelo tímpano; é no canal auditivo que se forma o cerume produzido pelas glândulas aí existentes; O ouvido médio, formado por uma cavidade onde se encontram ao ossículos: martelo, estribo e bigorna; 18
23 O ouvido interno ou labirinto, constituído por uma série de cavidades e também ele dividido em três partes: os canais semicirculares responsáveis pelo equilíbrio, o vestíbulo e o caracol em forma de espiral e cheio de líquido. Funcionamento do Aparelho Auditivo Quando ocorrem variações de pressão do ar superioras a 20 µpa provocadas pela vibração de uma fonte sonora, as mesmas são captadas pelo pavilhão auricular e canalizadas para o tímpano. Este, por sua vez vibra transmitindo aos ossículos do ouvido médio as impressões sonoras. O último destes ossículos, o estribo, transmite por sua conta as vibrações a uma membrana (localizada à entrada do ouvido interno) que amplia a onda sonora cerca de 20 vezes. As vibrações são transmitidas de seguida ao caracol, dividido longitudinalmente em três canais por duas membranas, numa das quais se encontra o órgão de Corti formado por milhares de células sensoriais. Como o caracol está cheio de líquido, as vibrações que lhe são transmitidas provocam um movimento ondulatório nessas membranas e por consequência no órgão de Corti. O movimento ondulatório deste órgão desencadeia, por sua vez, a excitação das células sensoriais, iniciando-se assim a transmissão dos impulsos nervosos ao cérebro, e proporcionar assim que possamos escutar os diversos tipos de sons. O mecanismo da audição comporta pois basicamente duas fases: 1. Mecanismo de Transmissão Através do qual a onda sonora se propaga, do ouvido externo, até ao tímpano, pelo ar e pelos corpos sólidos que constituem o ouvido médio. 2. Mecanismo de Percepção Através do qual a onda sonora ao movimentar o líquido existente no ouvido interno (endolinfa) pressiona as diferentes células constituintes do caracol originando os impulsos nervosos responsáveis pela percepção do som por parte cérebro. O ouvido médio encontra-se ainda ligado à trompa de Eustáquio cujo papel principal é, exactamente o de permitir a passagem de ar em direcção ao ouvido médio, de modo que, quando engolimos, se possam igualar as pressões, de um lado. E do outro do tímpano. É por isso, que ao escalarmos uma serra, sentimos uma impressão nos ouvidos a qual é traduzida na dificuldade em ouvir, pois a pressão atmosférica diminui à medida que a altitude aumenta. Os nossos tímpanos ficam sujeitos a pressões diferentes de um lado e do outro, passando nós a ouvir em péssimas condições. Para solucionar o problema devemos engolir várias vezes em seco, para abrir a trompa de Eustáquio, reequilibrando assim a pressão dos dois lados do tímpano 19
24 Através da Tabela 4, podemos sintetizar que o fenómeno da audição compreende as seguintes transformações de energia: Tabela 4 Fenómeno da Audição OUVIDO EXTERNO OUVIDO MÉDIO OUVIDO INTERNO ENERGIA SONORA ENERGIA MECÃNICA ENERGIA NERVOSA Audibilidade Humana Todos sabemos que não conseguimos ouvir o som produzido pelos apitos dos tratadores de cães ou o emitido pelos morcegos. O ouvido humano só capta sons entre determinadores valores de frequência ou seja ente os 20 Hz e os Hz. No entanto à medida que nos tornamos cada vez mais velhos, o limite máximo de frequências captadas pelo ouvido humano baixa para valores da ordem dos Hz. Os sons com frequências acima de Hz correspondem a vibrações tão rápidas que os nossos ouvidos não conseguem distingui-los, não os ouvimos; são os ultras sons. Em contrapartida, os sons com frequências abaixo de 20 Hz correspondem a vibrações tão lentas que os nossos ouvidos também não os captam; são os infra sons. Embora não sendo audíveis para o Homem, tanto os infra sons como os ultras sons podem provocar transtornos. Os infra sons de grande intensidade produzem náuseas, vómitos, tremores e dores na nuca. Por sua vez, os ultras sons tornam-se mais perigosos produzindo aos Hz, alterações sanguíneas se a intensidade se elevar, ou provocar hemorragias e ataques epilépticos ao atingir os 100 db para uma frequência rondando os 30000Hz. A zona de frequências a que o ouvido humano é mais sensível situa-se próximo dos 2000 Hz a que correspondem sons três oitavas acima do dó central (piano), havendo pessoas capazes de distinguir sons com apenas 6 Hz de diferença em termos de frequência. A nossa fala integra fundamentalmente sons cuja frequência está compreendida entre os 200 e os 4000 Hz. 20
25 Há animais que captam sons inaudíveis para os seres humanos. Os cães, por exemplo, escutam sons até Hz de frequência, e os golfinhos, por sua vez, emitem sons que podem ir até aos Hz. Além da audibilidade humana depender da frequência do som produzido, a capacidade de ouvir está relacionada com a sua intensidade. Há sons que não conseguimos ouvir, apesar de a sua frequência caber dentro dos limites de audibilidade do espectro sonoro, porque a sua amplitude é tão pequena (som fraco) que a energia transferida para o meio onde o som se propaga não é suficiente para impressionar o nosso ouvido. Maior problema poderá sem dúvidas constituir o som de grande intensidade (som forte) pois a quantidade de energia transferida para os nossos ouvidos poderá provocar efeitos nefastos no aparelho auditivo. Há som que origina dor e outro que pode provocar a surdez se o tempo de exposição for prolongado. A audibilidade humana exprime-se numa unidade chamada fone. Limites de Audibilidade Para que o ouvido humano capte um som, a onda de pressão correspondente tem que apresentar uma intensidade compreendida entre o valor mínimo e um máximo, para cada frequência emitida. Estes valores, mínimo e máximo, de intensidade constituem os limites de audibilidade. O Gráfico 2, relaciona as frequências (Hz) e as intensidades ou pressões sonoras (db), na determinação da audibilidade de um som. db Gráfico 2 Audibilidade de um som Vibração Limiar da dor Audível Conversação Normal Limiar de audição Inaudível Inaudível Hz 21
26 Curvas Isofónicas Como vimos anteriormente, devido à estrutura do nosso aparelho auditivo e às características do nosso sistema nervoso relacionado com a audição, não reagimos da mesma maneira a um som com determinada intensidade mas que esteja em frequências diferentes. Assim, sabe-se que a sensibilidade máxima ocorre à volta dos 4000 Hz, diminuindo nas altas e baixas frequências. Por exemplo, um estímulo sonoro com a frequência de 1000 Hz e 70 db de intensidade terá 70 fones de audibilidade, enquanto os mesmos 70 db a 63 Hz, são equivalentes a 56 fones. Na Fig. 10, apresenta-se um conjunto de curvas designadas por Curvas Isofónicas que representam, tal como o nome indica, o nível de pressão ou intensidade para que sons puros de diferentes frequências sejam considerados como tendo a mesma intensidade auditiva. Limiar da dor Intensidade [ db ] Limiar da Audição Frequência [ Hz ] Fig. 10 (Curvas isofónicas) Observando atentamente as referidas curvas, podemos facilmente deduzir que o intervalo entre as mesmas só é uniforme para a frequência dos 1000 Hz variando de resto, em todas as outras frequências. 22
27 Curvas de Ponderação Já vimos anteriormente que a resposta do ouvido humano não varia linearmente com a frequência. Para correlacionar os valores medidos, com a resposta do ouvido introduziram-se nos instrumentos de medição (sonómetros e dosímetros) filtros de ponderação cujas curvas de ponderação, tal como podemos constar na Fig. 11 seguem aproximadamente as curvas isofónicas. Atenuação Fig. 11 (Curvas de ponderação) Desta figura, podemos inferir ou generalizar que: Existem vários tipos de filtros ponderados normalizados (A, B, C, D) que correspondem de uma forma não linear às diferentes frequências; As curvas A, B e C seguem as isofónicas 40, 70 e 100; A curva A é aquela que melhor correlaciona os valores medidos com a incomodidade ou risco de trauma aditivo; A curva D dá especial ênfase à gama de frequências entre 1000 Hz a Hz e é muito usada nas medições de ruído de tráfego aéreo. Podemos também através da Tabela 5, podemos ter uma perspectiva de qual será a atenuação sonora em db, proporcionada pelos filtros de ponderação A e C relativamente às frequências centrais em banda de oitava. Frequência central de oitava (Hz) Atenuação do Filtro A (db) Atenuação do Filtro C (db) Tabela 5 Atenuação dos Filtros de Ponderação
28 Tentando agora efectuar uma recapitulação sobre tudo aquilo que foi já descrito em termos da audibilidade humana podemos extrair as seguintes conclusões principais: Principais Conclusões : O ouvido humano não apresenta a mesma sensibilidade para todas as frequências; O ouvido humano ouve melhor nas frequências compreendidas entre os 500 e 5000 Hz; Para baixos níveis de pressão sonora há maior dependência da audibilidade em relação à frequência; Abaixo de determinado nível de pressão sonora, que é variável de frequência em frequência, o nosso ouvido não ouve nada, existindo uma curva Limiar de Audição a partir do qual começamos a ouvir; Acima de determinado nível de pressão sonora, que é variável de frequência em frequência só sentimos dor, existindo uma curva designada pelo Limiar d Dor ; As curvas de ponderação são idênticas às curvas de igual intensidade auditiva. Sensação Auditiva A sensação auditiva é a resposta do ouvido a um estímulo sonoro. Às características objectivas de um som irão certamente corresponder características subjectivas de sensação auditiva. Sendo assim temos: CARACTERÍSTICAS DO SOM (Objectivas) Deslocamento Pressão Intensidade Frequência Espectro de Frequência Intensidade Auditiva 24 CARACTERÍSTICAS DA SENSAÇÃO AUDITIVA (Subjectivas) Intensidade Auditiva Altura do Som Timbre
29 A intensidade auditiva de um som é a característica que nos permite classificar um som como mais forte ou mais fraco do que outro sendo a resposta do ouvido à pressão sonora. Para qualquer frequência, a resposta do ouvido varia directamente com a pressão ou intensidade mas não de forma linear. Na Tabela 6, estão indicados os efeitos subjectivos das variações do nível de pressão sonora: Tabela 6 Efeitos subjectivos Variações Do Nível De Pressão Sonora 1 db Efeitos Subjectivos Requer muita atenção para ser perceptível 3 db Somente perceptível 5 db Nitidamente perceptível 10 db O dobro (ou metade) da intensidade audível 20 db Muito mais forte ou (muito mais fraco) Altura do Som A altura do som é a característica que permite classificar um som como mais grave ou mais agudo do que outro sendo a resposta do ouvido às frequências audíveis do som que como vimos anteriormente estão compreendidas entre 20 Hz e Hz. Num som periódico, quanto mais elevado for a sua frequência, mais alto ou agudo será o som Nos sons aperiódicos como são exemplos os correntes, a sua altura irá certamente depender das suas frequências dominantes ou seja das frequências em que a energia sonora é mais elevada. Timbre O timbre é a característica que permite distinguir sons com a mesma intensidade auditiva e a mesma altura, produzidos por fontes diferentes e depende da composição espectral do som. Nos sons correntes não se pode falar propriamente em timbre mas antes na qualidade de som. É a forma como a energia se distribui palas várias frequências audíveis que nos permite distinguir sons produzidos por fontes diferentes. 25
30 Capítulo 4 Avaliação Quantitativa dos Níveis Sonoros Na generalidade das situações, nomeadamente aquando do exercício da actividade industrial, o nível de pressão sonora (Lp) a que um trabalhador está sujeito não é constante, isto é, varia amiudadamente ao longo do seu período de laboração. A este facto a acrescentar a circunstância, do mesmo indivíduo poder estar sujeito a diferentes tipos de ruído. Torna-se portanto, necessário estabelecer alguns parâmetros quantitativos de níveis sonoros que sejam mais relevantes, bem como descrever os diferentes tipos de ruído que possam normalmente existir. Nível de Pressão Acústica Lp Como vimos anteriormente, trata-se de um valor de pressão acústica expresso em db pela relação: Lp = 20 log p p 0 db Em que: Lp Nível de pressão sonora P pressão eficaz no ponto de medida p 0 Pressão de Referência = 2 x 10-5 Pa 26
31 Nível de Potência Sonora Lw É o valor da potência sonora expresso em db pela relação: Lw = Lp + 20 log r + 11 Em que Lw Nível de potência sonora Lp Nível de pressão sonora em db r Distância à fonte em metros Nível Sonoro Contínuo Equivalente Leq, T Representa um nível sonoro constante que, se estiver presente durante todo o tempo de exposição, irá produzir os mesmos efeitos em termos de energia, que o nível variável. No Gráfico 3 podemos visualizar melhor uma representação do Leq para um som que esteja a variar constantemente ao longo do tempo. Gráfico 3 Representação do Leq Leq,T 27
32 A definição matemática é dada pela fórmula: Leq,T = 10 log 1 T t 0 p( t ) p 0 2 dt Em que: Leq. T Nível sonoro contínuo equivalente no intervalo de tempo T T Período de medição p( t ) Pressão sonora instantânea p 0 Pressão sonora de referência (20 µ Pa) Normalmente, a pressão sonora instantânea é ponderada (A) e portanto o Leq é expresso em db (A). Exposição Pessoal Diária de um Trabalhador ao Ruído durante o Trabalho L EX, 8 h Representa um determinado nível de ruído, em db (A), a que um trabalhador está sujeito enquanto desempenha as suas funções num dia de trabalho. Segundo o Decreto Lei n.º 182/06 de 06-09, expressa-se através da seguinte fórmula matemática: Te L EX,8 h = LAeq,Te + 10 log ( ) 2 T o Em que: L EX, 8 h Exposição pessoal diária ao ruído em db (A) LAeq, Te Nível sonoro contínuo equivalente ponderado A ao fim do tempo de exposição Te Te Tempo de exposição To Tempo de referência = 480 minutos 28
33 Vejamos agora através de um exemplo simples como se pode calcular o L EX, 8 h utilizando a expressão matemática referida anteriormente. Exemplo: Qual é a exposição pessoal diária ao ruído de um trabalhador que apresenta um LAeq igual a 85 db (A) ao fim de 4 horas)? L EX, 8 h = LAeq, Te + 10 log T/T 0 = log 240/480 = log 0.5 = 81.9 db (A) = 0 db Média Semanal dos Valores Diários da Exposição de um Trabalhador ao Ruído Durante o Trabalho L EX, 8 h Representa, em db (A), uma média aritmética das exposições diárias ao ruído, a que um trabalhador está sujeito enquanto desempenha as suas funções numa semana de trabalho. Segundo o Decreto Lei n.º 182/06 de 06-09, expressa-se através da seguinte fórmula matemática: L EX, 8 h = 5 k =1 L( EX, 8 h ) k 5 Em que: L EX, 8 h Média semanal ao ruído em db (A) L( EX, 8 h ) k Exposição pessoal diária ao ruído em db (A) no dia k 29
34 Vejamos também através de um simples exemplo, o modo como se pode determinar o L EX, 8 h utilizando a expressão matemática referida anteriormente. Exemplo: Qual é a exposição pessoal semanal ao ruído de um trabalhador cujas exposições diárias, em db (A), são com respectivamente, 80, 70, 85, 90 e 82? L EX, 8h = L( EX, 8h ) 1 + L( EX, 8h ) 2 + L( EX, 8h ) 3 + L( EX, 8h ) 4 + L( EX, 8h ) 5 /5 = ( )/5 = 407/5 = 81.4 db (A) = 0 db Pico de Nível de Pressão Sonora L C pico Um trabalhador poderá estar exposto durante o seu trabalho a diversos níveis de pressão sonora instantânea. Segundo o Decreto Lei n.º 182/06 de 06-09, expressa-se através da seguinte fórmula matemática: P C pico P 0 L C pico = 10 log ( ) 2 Em que: L C pico Nível máximo instantâneo do ruído em db (C) P C pico Valor máximo de pressão sonora instantânea, a que um trabalhador está sujeito, ponderado C, expresso em Pa P o Pressão de referência = 20 x 10-6 Pa O valor máximo de pico de nível da pressão sonora, em geral é medido directamente pelos sonómetros integradores. Dose do Ruído D [ % ] Nas situações em que um trabalhador não possua um posto de trabalho fixo, há muitas vezes a necessidade de se saber qual a percentagem de ruído (dose), a que o trabalhador poderá estar sujeito nos diversos postos móveis e assim determinar exposição pessoal diária L EX, 8 h. 30
35 A dose de ruído define-se portanto, como o nível sonoro contínuo equivalente ponderado (A) a que um trabalhador está sujeito durante um período de referência, que pode ser de 8 horas diárias ou de 40 horas semanais. Em Portugal conforme se vê na Fig. 12, e de acordo com a Norma Portuguesa 1733, o valor máximo admissível correspondente a uma dose de 100% é de 90 db (A), ainda que o valor recomendado seja de 85 db (A) db (A) + = 100% Fig. 12 (Valor máximo admissível) A vantagem de exprimir a dose de ruído em percentagem está precisamente no facto de ser assim possível comparar a dose acumulada com o critério dos 100% seja qual for o período de medição. Como critério genérico para a avaliar a Exposição ao Ruído podemos aplicar o preconizado na Tabela 7: Tabela 7 Avaliação da Exposição ao Ruído Leq (8 H) Risco Nível 80 db (A) Nulo Segurança 85 db (A) Reduzido Alerta 90 db (A) Considerável Alarme 115 db (A) Elevado Crítico 31
36 Estimativa da Dose de Ruído Podemos estimar a dose total de ruído de um trabalhador que ocupa diversos postos de trabalho durante as 8 horas laborais, utilizando o Ábaco III (nomograma para a determinação do Leq). Ábaco III Nomograma para a determinação do Leq Tempo [ T i ] 100 Leq db (A) DOSE-(%) [ D i ] 120 Minutos Horas Segundos Minutos EXEMPLOS: T =15 m e Dose = 100% Leq = 105 db (A) T = 60 m e Dose = 4 % Leq = 85 db (A) Este ábaco funciona da seguinte maneira: Marcar, na coluna mais à esquerda, o Tempo [ Ti ] de exposição do trabalhador consoante o posto de trabalho; Marcar na coluna do meio a percentagem (%) da Dose [ D i ] a que o trabalhador está sujeito ao fim do tempo [ T i ]; Unir através de uma régua, os pontos assinalados anteriormente, para obter na coluna da direita, o Leq respectivo. 32
37 No intuito de explanar melhor este método simples, vamos considerar o seguinte caso: Exemplo: Qual a Dose Total, assim como o L EX,8 h respectivo, de um trabalhador que passa 1 hora na oficina exposto a 100 db (a) e 7 horas no escritório exposto a 80 db (A)? Recorrendo ao Ábaco III podemos converter directamente os valores do Leq medidos, em doses de ruído equivalentes e obter o L EX,8 h ou seja o valor de Leq correspondente a 8 horas de trabalho. Assim sendo temos: Logo: Para Leq = 100 db (A) e T 1 = 1 h Dose = 120% Para Leq = 80 db (A) e T 2 = 7 h Dose = 9% Donde vem: Dose Total = = 129% Para Dose Total = 129% e T = 8 h L EX,8 h = 91.5 db (A) Tipos de Ruído Podemos descrever um ruído de acordo com os seguintes factores determinantes: As características do campo sonoro; O espectro de frequências; A variação de nível com o tempo. Características do Campo Sonoro A energia sonora nem sempre se propaga livremente a partir da fonte e este facto raramente acontece quando estamos a falar no chamado ruído industrial. Quando o som radiado a partir de uma fonte atinge uma superfície (paredes, tecto, chão, etc.) parte da energia incidente é reflectida e outra parte absorvida ou eventualmente transmitida através desta mesma superfície. Numa sala com muitas superfícies reflectoras toda a energia sonora é reflectida criando-se assim um campo sonoro uniforme designado por sala reverberante. 33
38 Por outro lado, numa sala com superfícies demasiado absorventes, toda energia radiada será absorvida e portanto o campo sonoro diminui à medida que se afasta da fonte. Uma sala com estas características é designada por anecoica. Como na maioria das situações as salas não são reverberantes, nem anecoicas, porque têm características intermédias, podemos tal como se pode observar na Fig. 13, dividir a área em torno da fonte em quatro zonas distintas: Fig. 13 (Zonas distintas em torno da fonte) O Campo Próximo é a zona adjacente à fonte, na qual pequenas alterações na posição do microfone dos equipamentos de medição se traduzem por variações significativas do nível de pressão sonora. O Campo Afastado divide-se em dois tipos: Campo Livre O som comporta-se do mesmo modo que ao ar livre, diminuindo de nível à medida que a distancia aumenta; Campo Reverberante As reflexões dos sons nas paredes e obstáculos são tão importantes como a própria fonte. Podemos admitir a regra empírica segundo a qual numa grande sala ou ao ar livre, o nível sonoro diminui aproximadamente 6 db quando a distância duplica. O nível sonoro de uma máquina de pequenas dimensões permanece constante até uma distância de 1.50 m começando depois a diminuir. Segundo a Tabela 8, um torno automático, por exemplo, com 92 db (A) de Potência Sonora apresenta, ao ar livre, os seguintes níveis sonoros à medida que a distância aumenta para o dobro: Tabela 8 Atenuação com a distância Distância (m) Nível sonoro db (A)
39 Se efectuássemos as mesmas medições numa sala de dimensões reduzidas, a atenuação obtida seria muito menor em virtude das paredes e do tecto produzirem a reverberação de parte do som e este som reflectido juntar-se ao directo. Espectro de Frequências O espectro de frequências de qualquer ruído, que representa, afinal a curva de um dado ruído em função da sua intensidade e da respectiva frequência pode ser contínuo ou com sons puros audíveis. Trata-se portanto, de uma representação gráfica da medição do nível sonoro para cada uma das bandas de frequência. Esta representação revela-se bastante mais útil para a luta contra o ruído, nomeadamente para seleccionar o protector auricular, do que a medição do nível sonoro global em que as frequências se encontram todas misturadas. Segundo estudos efectuados em 1961 pelo Ministério de Saúde Pública de França, um determinado espectro de ruído pode ser comparado com um Gráfico 4 designado por Curva de Nível de Ruído onde estão definidas três zonas: Zona I Os níveis de cor verde zona consideram-se sem risco; Zona II Os níveis de cor amarela considera-se de alarme; Zona III Os níveis de cor vermelha consideram-se perigosos. db(a) Gráfico 4 Curva de Nível de Ruído Pressões Sonoras I- Zona sem risco III- Zona perigosa II- Zona de alarme Frequências Ao observarmos as análises espectrais de ruídos representadas no Gráfico 5, onde a traço pintado de cor branca se assinala o espectro de uma serra circular, e o traço ponteado de cor branca se marca o espectro de um compressor, constata-se: A serra circular apresenta valores de pressão sonora mais elevados nas frequências mais altas (som agudo); O compressor possui níveis de pressão mais elevados nas frequências mais baixas (som grave). 35 Hz
40 Gráfico 5 Análises Espectrais de Ruídos Pressões Sonoras db(a) Espectro do Compressor Espectro da Serra Circular III- Zona Perigosa II- Zona de Alarme I- Zona sem risco Frequências Hz Variação de Nível com o Tempo Segundo a dependência do tempo, o ruído pode classificar-se em estacionário ou uniforme e não uniforme. Mais precisamente, podemos afirmar que um ruído é uniforme ou não uniforme conforme a diferença Lp entre os valores máximo e mínimo do nível de pressão sonora for inferior ou a 5 db (A) respectivamente. No Gráfico 6, abaixo indicado, iremos apresentar um exemplo típico de ruído uniforme. Gráfico 6 Ruído Uniforme Pressão Sonora Lp Exemplo: Ventilador Lp < 5 db(a) Tempo O ruído não uniforme pode ser dividido em três tipos: flutuante (com um nível que varia continuamente ao longo do período de observação) intermitente (com um nível que desce abruptamente para o nível de ruído de fundo várias vezes, durante o período de observação, mantendo-se assim constante durante um tempo 1s) e impulsivo (quando a diferença entre o valor máximo de pressão sonora Lpico e o nível sonoro contínuo equivalente LAeq, T for a 20 db num intervalo de tempo superior a 5 minutos. O ruído impulsivo pode, por sua vez, classificar-se em impulso isolado e impulso estável. Neste último caso verifica-se uma série de impulsos de amplitude comparável com intervalos menores do que 0.2 s entre os impulsos individuais. 36
41 Nos Gráficos 7, 8, 9 e 10 encontram-se representados os diversos tipos de ruído aludidos nos dois últimos parágrafos, bem como os respectivos exemplos. Gráfico 7 Ruído Flutuante Pressão Sonora Exemplo: Esmerilagem Gráfico 8 Ruído Intermitente Pressão Sonora Exemplo: Compressor Gráfico 9 Ruído Impulsivo Isolado Pressão Sonora Pressão Sonora Exemplo: Martelagem Gráfico 10 Ruído Impulsivo Estável Exemplo: Prensa Automática tica T < 125 x 10-3 s 37
42 Capítulo 5 Consequências do Som C omo vimos anteriormente, o som é captado pelo ouvido externo (tímpano) e é transmitido do ouvido médio (sistema de alavancas) ao ouvido interno (transdutor) o qual transforma vibrações mecânicas em impulsos nervosos que irão ser transmitidos ao nosso cérebro para posterior processamento e interpretação. Uma pessoa exposta a níveis sonoros muito elevados, ou durante longos períodos de tempo, corre o risco de que os transdutores existentes no ouvido interno (células ciliadas) sejam danificadas irreversivelmente provocando o trauma auditivo. Quando o nível sonoro é muito elevado, a rigidez muscular do ouvido médio modifica-se no sentido de reduzir a sensibilidade auditiva. Infelizmente, este mecanismo defensivo só funciona nas frequências mais baixas e existe um tempo de resposta muito reduzido ( 300 milésimos de segundo) entre a percepção auditiva e o actuar dos músculos. Daqui resulta que não possuímos qualquer tipo de defesa nas frequências mais elevadas, nem a impulsos de curta duração. Acção do som sobre o aparelho auditivo As perdas de audição (surdez) dependem da frequência e da intensidade do som, sendo mais evidentes para os sons puros e para as frequências elevadas. A fadiga auditiva manifesta-se por um abaixamento reversível da acuidade auditiva e é determinada pelo grau de perda de audição e pelo tempo que o ouvido demora a retomar a audição inicial. Pode ser considerada assim, uma medida indirecta de admissibilidade perante o som, implicando deste modo que seja fixado um limite de perda de audição após a exposição. Quando a exposição a sons se mantém durante muito tempo, irá aparecer um défice permanente na acuidade auditiva devido ao início de um processo de destruição das células ciliadas do órgão de Corti. Como aquele défice se processa para além das frequências de conversação não irão ser detectadas na nossa actividade diária. Paralelamente, irão ser desencadeados outros fenómenos auditivos tais como: distorção dos sons, aparecimento de uma tonalidade metálica, sobreposição das curvas de transmissão sonora por via aérea e por via óssea. Posteriormente, pode-se formar um escotoma (em forma de U ou em V) que se vai localizar à volta dos 4000 Hz em virtude do facto de a maior parte dos sons 38
43 provenientes da poluição sonora industrial apresentar um espectro de frequências entre 1500 Hz e 3500 Hz. Este escotoma ao estender-se progressivamente para as baixas frequências, acaba por atingir a percepção da palavra. Segundo estudos efectuados por Bell, que podem ser observados no Gráfico 11 a evolução das perdas de audição referida anteriormente, divide-se em quatro estádios principais: Gráfico 11 Evolução das Perdas de Audição 0 10 ESTÁDIO 0 Curva 20 audiométrica normal. ESTÁDIO 1 perda auditiva (Défice de 30 a 40 db transitório) nos 4000 Hz. ESTÁDIO 2 perda auditiva (Período de nas frequências latência) conversacionais. ESTÁDIO 3 perda auditiva (Período de entre 500 Hz a surdez 8000 Hz. irreversível) Perda auditiva [ db ] Audição normal Estádio 0 Estádio 1 Estádio 2 Estádio Frequência [ Hz ] Mas o ruído industrial não é a única fonte de perdas auditivas. O ruído provocado por uma explosão pode perfurar a membrana do tímpano, danificar as células ciliadas ou deslocar a cadeia de ossículos. O cerume e os corpos estranhos podem Por último, a deterioração da audição que acompanha o processo de envelhecimento, é outro factor a ter em conta, ou seja, a deterioração com a idade idade. Este efeito natural torna-se mais marcante na gama superior das frequências audíveis. 39
44 Segundo a NP 1733:81, as percentagens da perda da audição atribuídas exclusivamente a causas naturais, são as relacionadas com a idade de um indivíduo e estão apresentadas na Tabela 9: Tabela 9 % de Perda de Audição com a idade Nível Etário % de Perda de Audição Risco de perda de audição A audição humana considera-se diminuída quando a média aritmética dos limiares tonais permanentes para as frequências de 500 Hz, 1000 Hz e 2000 Hz for a 25 db, relativamente ao zero audiométrico a que se refere a Norma ISO 389: Por outro lado, o Decreto Regulamentar n.º 06/2001 de onde está publicado a Lista das Doenças Profissionais determina que para a surdez (hipoacusia bilateral por lesão irreversível) a audiometria tonal deverá revelar no ouvido menos lesado uma perda de acuidade média não inferior a 35 db, calculado para as frequências de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz, utilizando os coeficientes de ponderação 2, 4, 3 e 1. A NP-1733: 1981 salienta por sua vez, que o risco de perda de audição é calculado a partir de elementos estatísticos e pode definir-se, tal como podemos observar na Tabela 10, como a diferença entre a percentagem de pessoas que apresentam diminuição da capacidade auditiva num grupo exposto ao ruído e a percentagem num grupo não exposto mas em condições equivalentes em todos os outros aspectos. 40
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