Relato de experiência em propriedade de cultivo agroecológico situada no perímetro irrigado do Gorutuba
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1 121 Relato de experiência em propriedade de cultivo agroecológico situada no perímetro irrigado do Gorutuba Joelma Carvalho Martins 1 Warley Rafael Oliva Brandão 2 Lize de Moraes Vieira da Cunha 3 Jaciara Soares Freitas 4 Um setor dentro da área da Extensão Rural que é bastante importante para a agricultura é o da Agroecologia, percebido muitas vezes através da inserção de acadêmicos do curso de Agronomia no Núcleo de Estudos em Extensão Rural e Desenvolvimento Agroecológico (NERUDA) desta universidade. Este núcleo contribui para o fornecimento de suporte técnico aos seus integrantes para confecção de trabalhos científicos bem como nas atividades práticas. O Neruda visa proporcionar vivências agroecológicas com troca de experiências entre acadêmicos e agricultores familiares do município de Janaúba e regiões abrangentes. Além disso, pretende construir uma consciência crítica junto à equipe de trabalho, visando à qualificação dos professores, alunos, técnicos e agricultores familiares, de forma a avaliar e caracterizar o desenvolvimento agroecológico junto aos empreendimentos familiares das áreas rurais do município de Janaúba, região Norte de Minas Gerais. Nesta perspectiva, realizaram-se diversas atividades técnico-científicas e práticas como, por exemplo, a realização de visitas técnicas semanais em uma área com cultivo de banana sem uso de agrotóxico para coleta de dados e monitoramento do moleque da bananeira, praga chave desta cultura. Esta prática foi de suma importância neste estágio, uma vez que a bananeira é uma das fruteiras tropicais de maior importância e que contribui para economia de vários países. O Estado de Minas Gerais é o terceiro maior produtor de banana, alcançando em 2017 uma produção de 809,7 mil toneladas (IBGE, 2017). A região Norte de Minas é uma das principais áreas produtoras de banana do país, caracterizando-se por usar basicamente 1 Engenheira agrônoma; Mestre em Produção Vegetal no Semiárido. joelmacarvalho.02@hotmail.com 2 Engenheiro agrônomo; Mestre em Produção Vegetal no Semiárido. wrafaeloliva@hotmail.com 3 Docente em Extensão Rural da Universidade Estadual de Montes Claros. lize.moraes@gmail.com 4 Acadêmica do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Montes Claros. jaciarasoaresfreitas@hotmail.com
2 122 a cultivar Prata-Anã, uma mutação natural originária de Santa Catarina, onde é conhecida como banana Enxerto (RODRIGUES, 2001). A bananeira sofre o ataque de inúmeras pragas, algumas das quais destacam-se pela sua presença constante e de ampla distribuição geográfica, como o moleque da bananeira (Cosmopolitessordidus) que é considerado praga chave dessa cultura. É um coleóptero de coloração preta na fase adulta (FANCELLI, 2001), entretanto o dano direto é causado por suas larvas que penetram e broqueiam o rizoma, construindo galerias em todas as direções. Com isso, a entrada de microrganismos fitopatogênicos é propiciada, entre os quais se destaca o Fusariumoxysporumf.sp. cubense, responsável pela doença conhecida como Mal do Panamá. É comum em plantações intensamente atacadas pelas larvas do moleque-da-bananeira, o tombamento de plantas pelo peso dos cachos devido à falta de um sistema radicular vivo suficiente para sustentar o peso, além de vários sintomas indiretos que acometem a produtividade da cultura. O controle com práticas de cunho agroecológico garantem a proteção e o melhor desenvolvimento dos frutos refletindo em aparência agradável e boa qualidade da banana. Sendo assim, para amostragem e controle de adultos de C. sordidus, podem ser utilizadas iscas tipo telha ou tipo queijo. As tipo queijo são feitas de pedaço de pseudocaule com altura entre 5 e 10 cm, cortado transversalmente e colocado sobre a base do pseudocaule que permaneceu no solo, do qual a isca foi feita. Recomenda-se o uso de 20 iscas por hectare para monitoramento da população e cerca de 100 a 150 iscas tipo telha por hectare para controle (BATISTA et al., 2002). O objetivo do presente trabalho foi descrever as experiências vivenciadas em visitas realizadas em uma propriedade de cultivo agroecológico com certificação de produção de banana emitida pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) com o selo SAT (Sem Agrotóxico), situada no perímetro irrigado do Gorutuba, município de Nova Porteirinha Norte de Minas Gerais. O relato de experiências baseia-se em compartilhar experiências vivenciadas fundamentado em um referencial bibliográfico que amplie o conhecimento já construído e também a troca de saberes. Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas anotações de campo, obtenção de informações através do responsável pela propriedade, além de suporte bibliográfico para melhor compreensão da dinâmica dos trabalhos desenvolvidos no âmbito da extensão rural. A presente experiência foi obtida ao se realizar visitas regulares semanalmente em uma propriedade a qual possui a certificação de permissão para comercializar o produto como sendo de origem sem agrotóxico, propiciada pelo selo SAT (Produto de Origem Vegetal sem Agrotóxico) que é emitido pelo IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária). As bananeiras plantadas nesta área pertencem ao subgrupo Prata apresentando bom aspecto de qualidade dos frutos. Durante o período de visitas foi realizado um levantamento
3 123 populacional de moleques-da-bananeira utilizando-se 10 iscas tipo queijo feitas do pseudocaule da planta após a sua colheita (FIGURA 1). As iscas foram dispostas na áreaem ziguezague, totalizando 10 iscas. O preparo dessas foi realizado fazendo-se um corte transversal do pseudocaule de, aproximadamente, 30 centímetros da base onde foi retirada uma fatia de 5 a10 cm de altura e em seguida o pedaço é recolocado sobre o pseudocaule original que se manteve junto à touceira. Estas foram confeccionadas com plantas recémcortadas (no máximo até 15 dias após a colheita) e depois trocadas a cada 15 dias. Foram coletados e contabilizados os moleques verdadeiros, falsos e colonizados pelo fungo Beauveriabassiana. As coletas dos insetos foram realizadas semanalmente de março a junho de FIGURA 1. Isca do tipo queijo para captação de moleque-da-bananeira. Fonte: Martins, J. C. Ao final do acompanhamento do monitoramento, constatou-se que o número de insetos verdadeiros (C. sordidus) estava acima do nível de controle. Durante o monitoramento, houve incidência de chuvas e temperaturas consideradas altas na região a qual foi realizado o trabalho, este fato pode ter sido o motivo da maior quantidade de insetos nas iscas uma vez que o inseto tem preferência por ambientes com maior umidade e sombreamento. Em relação aos falsos moleques-da-bananeira (M. hemipterus), o número médio de insetos por isca por semana foi menor do que o de moleques verdadeiros em
4 124 todas as semanas. A presença do falso moleque é importante, pois auxilia na disseminação do fungo entomopatóge no Bouveriabassiana. Com relação aos moleques colonizados pelo fungo Bouveriabassiana, observou-se que a até a sétima semana ainda havia presença destes nas iscas. A presente experiência permitiu também que fosse acompanhada a adubação de 10 plantas com composto orgânico, que é um produto estabilizado e mais equilibrado, em que durante sua formação foram dadas todas as condições necessárias a eficiente fermentação aeróbica, portanto sua qualidade como condicionador ou melhorador do solo é superior a do esterco curtido. Além disso, é mais rico em nutrientes por constituir-se de resíduos vegetais e animais e por ser, muitas vezes, enriquecido com resíduos agroindustriais e adubos minerais. Para adubação das bananeiras utilizaram-se 12 litros (Figura 2) de composto orgânico fabricado na fazenda experimental da Universidade Estadual de Montes Claros. Foram selecionadas 10 plantas que já haviam apresentado a emissão da inflorescência e procedeu-se a aplicação do composto em volta do pseudocaule. Foi possível a realização da medição do diâmetro do pseudocaule e contagem do número de pencas, uma vez que aos 120 dias. As plantas avaliadas apresentaram de 6 a 8 pencas por cacho. Na Tabela 1 estão apresentados os dados referentes aos diâmetros do pseudocaule da bananeira aos 30, 60, 90 e 120 dias. FIGURA 2. Disposição de composto orgânico em volta do peseudocaule de bananeira Fonte: Martins, J. C.
5 125 Tabela 1 (centímetros) do pseudocaule de bananeiras adubadas com composto orgânico aos 30, 60, 90 e 120 dias. Plantas 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 1 71,4 72,1 72,3 72,5 2 77,8 78,2 78, ,1 95, ,1 4 92,4 92,8 95,6 95,8 5 66,4 66,6 67,9 67, ,5 100,7 7 98,8 100,4 100,5 100,7 8 90,5 90, ,5 9 96,2 96,8 97,4 98, ,9 89, ,4 Fonte: Martins, J. C. As atividades desenvolvidas durante o período de acompanhamento da propriedade foram de suma importância para o incentivo à produção de alimentos de origem vegetal livre de agrotóxicos visando a qualidade dos alimentos e a preservação dos recursos ambientais, levando em consideração as premissas do desenvolvimento sustentável. Além disso, essas atividades permitiram também o incentivo da prática do desenvolvimento da pesquisa, na forma de publicação de trabalhos técnico-científicos e formação de um profissional mais preocupado com a produção de alimentos de forma sustentável. Agradecimentos Ao CNPq/MDA chamada 81 pelo apoio financeiro no incentivo ao desenvolvimento de experiências de base agroecológica e ao grupo NERUDA - Núcleo de Estudos em Extensão Rural e Despertar Agroecológico.
6 126 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATISTA FILHO, A.; TAKADA, H. M.; CARVALHO, A G. Brocas da bananeira. In: VI Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico, 2002, São Bento do Sapucaí-SP. Anais do VI Reunião Itinerante de Fitossanidade do Instituto Biológico, v. 1. p FANCELLI, M.; ALVES, É.J. Principais pragas da cultura. In: ALVES, E.J. (Ed.). Cultivo de bananeira tipo Terra. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, p IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.Levantamento Sistemático da Produção Agrícola.Disponível em: < _banana_mar_2017.pdf >. RODRIGUES, M. G. V. Influência do Ensacamento do Cacho da Produção de Frutos da Bananeira- Prata-Anã Irrigada, na Região Norte de Minas Gerais. Rev. Bras. Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 23, n. 3, p , dezembro 2001.
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