sumário DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO E RECALL: ANÁLISE DA TEMÁTICA POR OCASIÃO DOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Rubens Beçak...

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1 sumário PREFÁCIO... XV INTRODUÇÃO... 1 CapítulO 1 TRINTA ANOS DA CONSTITUIÇÃO DEMOCRÁTICA DE 1988 Carlos Roberto Siqueira Castro... 5 CapítulO 2 DIREITOS FUNDAMENTAIS E SUA EVOLUÇÃO NOS 30 ANOS DE VIGÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL João Carlos Navarro de Almeida Prado CapítulO 3 A IGUALDADE E EQUIDADE DE GÊNERO E A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida CapítulO 4 A EVOLUÇÃO (OU INVOLUÇÃO) DO POSICIONAMENTO HIERÁRQUICO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS E DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Carlos Eduardo Siqueira Abrão CapítulO 5 DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO E RECALL: ANÁLISE DA TEMÁTICA POR OCASIÃO DOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Rubens Beçak XI

2 CapítulO 6 A PRETENDIDA EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS POLÍTICOS E ELEITORAIS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS Alexandre Luis Mendonça Rollo CapítulO 7 O CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE Sérgio Resende de Barros; Beatriz Lameira Carrico Nimer CapítulO 8 A EVOLUÇÃO DO CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE NO DIREITO BRASILEIRO João Carlos Navarro de Almeida Prado CapítulO 9 A INCONSTITUCIONALIDE POR OMISSÃO E SEUS ANTAGONISTAS Luiz Henrique Boselli de Souza CapítulO 10 A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 19/98 E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA Gustavo Justino de Oliveira CapítulO 11 AGÊNCIAS REGULADORAS NAS REFORMAS CONSTITUCIONAIS Caio Cesar Figueiroa; André Castro Carvalho CapítulO 12 REGIME CONSTITUCIONAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS Carlos José Teixeira de Toledo CapítulO 13 MEDIDAS PROVISÓRIAS E EMENDA CONSTITUCIONAL N. 32/2001 Renata Camilo de Oliveira CapítulO 14 O REGIME DE PRECATÓRIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Marco Aurélio Ventura Peixoto; Renata Cortez Vieira Peixoto XII

3 CapítulO 15 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AMPLIAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO Elton Sadi Fülber CapítulO 16 A CONSTITUIÇÃO E O MINISTÉRIO PÚBLICO Paulo Thadeu Gomes da Silva; João Carlos Navarro de Almeida Prado CapítulO 17 A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Claudio Lamachia CapítulO 18 NOÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE DEFENSORIA PÚBLICA NOS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Alfredo Emanuel Farias de Oliveira; Jorge Bheron Rocha CapítulO 19 O DIREITO FINANCEIRO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 José Mauricio Conti; Diogo Luiz Cordeiro Rodrigues CapítulO 20 A EVOLUÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Isa Gabriela de Almeida Stefano; Daniel Moreti CapítulO 21 O REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL E SUAS MODIFICAÇÕES Leonardo David Quintiliano CapítulO 22 OS DIREITOS À EDUCAÇÃO E À CULTURA SOB A ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Karla Karolina Harada Souza CapítulO 23 TRINTA ANOS DE DIREITO AMBIENTAL CONSTITUCIONAL BRASILEIRO Lúcia Reisewitz XIII

4 CapítulO 24 A EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO DA FAMÍLIA NA ORDEM CONSTITUCIONAL BRASILEIRA Maria Neusa Fernandes da Cunha; Cintia Garabini Lages; Jamile Bergamaschine Mata Diz CapítulO 25 A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DAS MINORIAS, A TUTELA DOS DIREITOS INDÍGENAS E A ATUAÇÃO CONTRAMAJORITÁRIA DO PODER JUDICIÁRIO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 Karla Karolina Harada Souza CapítulO 26 OS DIREITOS DOS CONSUMIDORES APÓS TRINTA ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Arthur Rollo CapítulO 27 O PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE COMO COROLÁRIO DA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL Fernando Santana; Isabela Câmara CapítulO 28 NORMAS CONSTITUCIONAIS CARENTES DE REGULAMENTAÇÃO E AS CONSEQUÊNCIAS DA OMISSÃO LEGISLATIVA Luiz Paulo Segundo XIV

5 PRefáCio A importância dos estudos constitucionais sempre foi algo percebido como necessidade à compreensão do Estado organizado constitucionalmente; e algo necessário à compreensão da própria existência do Direito em todas as suas categorias e subcategorias, postas sob a guarida da constituição. Mais recentemente, numa série de países nos quais o advento do Estado de Direito veio acompanhado de (re)constitucionalizações com a previsão de um amplo espectro de direitos em todas suas categorizações e seus desdobramentos, esses estudos assumiram um quê de necessidade diária; somente o conhecimento do que é uma constituição, sua força cogente e as perspectivas decorrentes de sua ampla aplicação podem fornecer os elementos suficientes às diversas categorias por ela protegidas à correta defesa de suas expectativas e busca de realização. Neste desvão, tendo por fundo a efeméride do transcurso do aniversário de 30 anos de promulgação de nossa Constituição Federal a famosa Constituição Federal de 1988 mais do que oportuno o trabalho aqui advindo, no qual constitucionalistas de renome trabalham, nas mais diversas perspectivas oferecidas por seus campos de atuação, a observação do que, nos seus recortes, se deu. A proposta editorial, não exclusiva, mas presente em grande parte dos trabalhos colacionados, foi a de trabalhar as eventuais inovações, alterações e mutações advindas ao texto constitucional, sobretudo com o olhar crítico de expertos na seara. O livro veio a lume bojudo, bojudo em tamanho, conteúdo e profundidade no tratamento. A qualidade do plantel de colaboradores realça na leitura de seus Currículos resumidos. XV

6 Tenho a certeza de que a leitura da obra intitulada Reflexões sobre os 30 anos da Constituição de 1988: Mutações e Reformas Constitucionais servirá certamente aos propósitos a que se destina, exatamente o de acrescer importante visão no campo dos estudos de Direito Público e uma homenagem das mais oportunas a esse documento de cidadania, nossa Constituição Federal. Boa leitura! São Paulo, inverno de 2018 RUBENS BEÇAK Professor Associado da Universidade de São Paulo USP (Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, graduação e pós-graduação e Faculdade de Direito, pós-gradução). Secretário-Geral da Universidade de São Paulo USP ( ). Professor Visitante da Universidad d Salamanca USAL no Centro de Estudios Brasileños desde XVI

7 introdução O Brasil é um país peculiar. Como muitos outros, conheceu a forma de Estado Monárquica bem como a República; como poucos, transitou tanto do sistema de governo presidencialista para o parlamentarista ainda que, este último, por muito pouco tempo ( ), como também por diversas alternâncias entre regimes democráticos e não democráticos. Tudo isso coloca nossa liberdade democrática, restabelecida há 30 anos com a Constituição vigente, ainda na fase de puberdade. Afinal, o que são 30 anos do ponto de vista da história de um país? Contudo, diferentemente do que se possa imaginar naquele 5 de outubro, não foram 30 anos de plena tranquilidade, nos quais apenas se celebrou a retomada democrática. O início da vigência da Constituição de 1988 foi marcado por instabilidade no cenário econômico, com sucessivas políticas implantadas que não tiveram êxito em debelar a inflação, somente superada com o Plano Real, a cargo do então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, sob a Presidência de Itamar Franco, em No plano político, depois de vivenciarmos um ciclo de vinte e quatro anos sem eleição direta para Presidente da República, no qual governaram cinco Presidentes da era militar, além de um Presidente civil eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral, a democracia navegou por águas tormentosas. Na primeira eleição direta, em 1989, o Presidente eleito, Fernando Collor de Mello, oriundo do pequeno Partido da Reconstrução Nacional (PRN), tornou-se o primeiro Presidente a sofrer um processo de impeachment, sendo sucedido, após pouco mais da metade do mandato, pelo vice, Itamar Franco. Quando a cassação de um Presidente da República parecia estar se tornando um fato histórico, eis que, em 2016, Dilma Roussef, após menos de dois anos do exercício de seu segundo mandato, acabou igualmente condenada à perda do cargo pela prática de crime de responsabilidade. Falando em fatos inéditos, pela primeira vez em toda a história do Brasil, um Presidente da República em exercício foi processado criminalmente.

8 2 Rubens beçak / João CaRlos navarro de almeida PRado (orgs.) Em 2017, o Presidente Michel Temer teve contra si não uma, mas duas ações penais propostas pela Procuradoria-Geral da República. Ambas acabaram rechaçadas pela Câmara dos Deputados, nos termos dos arts. 51, inciso I e 86, caput, da Constituição. Sob outro aspecto, foram muitas as modificações sofridas no texto aprovado em 5 de outubro de Editou-se noventa e nove emendas constitucionais, a última aprovada em 15 de dezembro de 2017, além de outras seis emendas aprovadas no processo de Revisão Constitucional realizado em 1994, nos termos do art. 3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Algumas dessas emendas foram pontuais, outras empreenderam verdadeiras reformas, como a Administrativa (EC 19/98), Judiciária (EC 45/2004), as Reformas Previdenciárias (ECs 20/98, 41/2003 e 47/2005), no sistema de precatórios (ECs 30/2000, 37/2002, 62/2009, 94/2016 e 99/2017), além de inúmeras modificações em matéria tributária. Isso faz da Constituição de 1988 a mais modificada de toda a história: cento e cinco emendas em 30 anos equivalem a três emendas e meia por ano. Será que isso é um sinal de profundo progresso de seu texto, ou revela excesso de intervenção do Congresso reformador, desfigurando o texto original? Ou, ainda, uma terceira possibilidade: não houve um excesso de matérias constitucionalizadas, que poderiam tranquilamente permanecer no plano da legislação ordinária e acabaram demandando sucessivas mudanças constitucionais? Certamente esse numero seria maior, se não fosse outro recente fato inédito na história brasileira. Desde 16 de fevereiro de 2018, o Estado do Rio de Janeiro está sob intervenção federal, decretada pelo Presidente da República, com duração até 31 de dezembro e limitada à área de segurança pública, nos termos do Decreto n o da mesma data. Dessa forma, fica vedada a aprovação de qualquer emenda constitucional até o término da intervenção (art. 60, 1º, CR). Além de modificações formais, a cargo das duas Casas do Congresso Nacional, verificaram-se diversas e relevantes modificações no plano hermenêutico da Constituição, com as chamadas mutações constitucionais. Estas ficaram sob a responsabilidade da doutrina e da jurisprudência, com destacado papel para a atuação do Supremo Tribunal Federal. A corte maior, muitas vezes acusada de excessivamente ativista por se sobrepor ao Congresso Nacional, no papel de tomar decisões eminentemente políticas, promoveu transformações das mais impactantes. Isso ocorreu quando declarou a inconstitucionalidade de medidas implementadas pelo legislador ordinário ou constituinte reformador como no financiamento público de campanha (ADI 4650) e na criação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF) (ADIs 926 e 939), para se restringir a dois exemplos; e, de forma mais manifesta, quando implementou determinações não abarcadas explicitamente pelo ordenamento

9 Reflexões sobre os 30 anos da Constituição de 1988: mutações e RefoRmas ConstituCionais 3 jurídico, como a união estável de pessoas do mesmo sexo (ADI 4277 e ADPF 132), o aborto de fetos anencéfalos (ADPF 54), ou, ainda, fazendo uso da súmula vinculante, expediente criado pela EC 45/2004, que acrescentou o art. 103-A à Constituição e veio a ser utilizado, dentre outros temas, para regulamentar o uso de algemas (enunciado n o 11) e coibir a prática do nepotismo (enunciado n o 13). Outra área que merece destaque foi a verdadeira revolução em matéria criminal. Considerando que as duas codificações foram aprovadas durante o Estado Novo da Era Vargas Código Penal (1940) e Código de Processo Penal (1941), o legislador realizou reformas legislativas materiais e processuais, como no tocante aos vetustos crimes contra os costumes, hoje crimes contra a dignidade sexual (Leis n os /2005 e /2009) e as substanciais modificações na codificação processual levadas a cabo pelas Leis n os /2008 e /2011, sem considerar que, no momento, tramita no Congresso Nacional projeto para instituir um novo Código de Processo Penal (Projeto de Lei do Senado Federal n o 8045/2010, atualmente na Câmara dos Deputados). Paralelamente, restava ao Supremo Tribunal Federal um extenso trabalho de aferir a recepção de diversos institutos normativos, alguns nulificados por violarem a garantia constitucional à presunção de inocência, como a condução coercitiva do réu ou investigado, ocorrida recentemente, em 14 de junho de 2018 (ADPFs n os 395 e 444). Contudo, de modo quase antagônico, o mesmo Supremo Tribunal Federal, em 2016, relativizou a garantia do art. 5º, inciso LVII, da Constituição para permitir o início do cumprimento de pena após decisão de segunda instância (HC ), tema este que será aqui abordado. Um derradeiro ponto merece atenção. Se a Constituição de 1988 assegurou inúmeras conquistas, por outro lado é necessário reconhecer que muitas delas ainda não se tornaram realidade. A síndrome da inefetividade que acometeu parte do texto constitucional faz com que a falta de norma regulamentadora, ato administrativo ou, particularmente às normas de eficácia programática, vontade política, impeça que a Carta potencialize todos os seus comandos. Será que 30 anos não foram suficientes para dar concretude ao direito de greve do servidor público e ao imposto sobre grandes fortunas? Isso apenas para dar dois exemplos! A lei maior da República seria uma quimera ou, lembrando Lassalle, mera folha de papel? Enfim, muito haveria a ser dito para contar essa história de 30 anos de vigência da Constituição de Optou-se por fazer um recorte por área ou tema, iniciando com as principais inovações trazidas pela Constituição em relação ao ordenamento pretérito, abordando-se a seguir diversos os pontos relevantes, sob o prisma do ordenamento constitucional ou legal, ou, ainda, de decisões paradigmáticas que impuseram mutações constitucionais.

10 4 Rubens beçak / João CaRlos navarro de almeida PRado (orgs.) Embora seja árdua a tarefa de sintetizar esses 30 anos de vigência, em vez de se falar em balanço positivo ou negativo, talvez o melhor seja dizer que as mudanças sinalizam a esperança. Esperança porque foram muitas as mudanças positivas, como a redução do recesso parlamentar e a vedação ao pagamento por convocação extraordinária (EC 50/2006) e o voto aberto para cassação de mandato (EC 76/2013), para mencionar apenas mais duas. Esperança também porque, se inúmeros escândalos nos altos escalões da política vieram à tona, do ponto de vista das instituições, ainda que em parte, estas têm procurado dar respostas a rechaçar e censurar práticas antes encaradas com certa naturalidade pelos agentes políticos e pela sociedade. Por fim, esperança ao se constatar que o presente é melhor que o passado, e acreditar que o futuro será melhor que o presente. São Paulo, 24 de agosto de 2018 JOÃO CARLOS NAVARRO DE ALMEIDA PRADO Mestre em Direito do Estado pela USP e pós-graduado em Direito Constitucional. Advogado e Professor de Direito Constitucional. Contato: joaoprado@usp.br.