Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR...

Transcrição

1 PB Episódio #20 Nível II Intermédio (B1-B2) Texto e Voz: Jorge Reis Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR... Toda vez que escuto esta típica canção de Carnaval, fico com pele de galinha. Esta canção sempre me faz lembrar os meus trinta anos, quando ainda vivia no Brasil, e o dia em que conheci minha esposa, a Dora. Estávamos no Rio de Janeiro pulando na rua e seguindo um bloco de carnaval, no meio do verão, em fevereiro. Nunca tinha me sentido tão feliz na minha vida. Talvez fosse por causa das três caipirinhas que tinha tomado. No meio da multidão estava ela: pele bronzeada, cabelos castanhos, claros, e olhos verdes. Ó abre alas que eu quero passar... Ó abre alas que eu quero passar... No meio da multidão frenética meus olhos a filtraram. Lembro-me que a música parou dentro de minha cabeça. Não só aquela música alegre, mas também o tempo. Perdido no silêncio que só o amor nos proporciona, decidi ir lá falar com ela, sem mesmo me preocupar por estar ridiculamente fantasiado de bebê com minha barriga peluda à mostra. - Bom dia. Meu nome é César. Me apresentei àquela linda jovem. Ela me olhou e instantaneamente caiu na gargalhada. Bom sinal! Nós, homens, temos uma habilidade incrível de ser palhaço quando queremos. - Bom dia... Cesinha... Me chamo Dora. Ela respondeu com um sorriso. Bom sinal! Assim começamos a conversar. Dora estava fantasiada de mulher barbada. Uma mulher barbada e um bebê, que combinação perfeita! pensei. Confesso que foi a mulher barbada mais linda que eu já conheci. Não que eu tivesse conhecido muitas mulheres barbadas ao longo dos meus trinta anos, mas aquela era especial e eu sabia disso. Depois de algum tempo, percebi que os amigos dela a estavam chamando pois já estávamos ficando para trás enquanto o bloco de carnaval seguia pelas ruas de Santa Teresa. Dora simplesmente fez sinal para que eles continuassem o fluxo de foliões enquanto saíamos em direção a um parque ali perto, com ela segurando a minha mão.

2 Dora tinha um vestido enorme onde conseguimos nos sentar, na grama, sem nos preocupar com alguma possível sujeira. Ela esticou a parte debaixo do vestido florido no chão e fez um sinal para eu sentar nele. Assim sentamos confortavelmente. Perguntei quantos anos ela tinha e fiquei surpreso em saber que tinha trinta e dois anos. Parecia ser mais jovem mesmo com aquela barba grande e engraçada, que contrastava com a sua feminilidade. Ficamos horas conversando e olhando as pessoas passando por nós. Alguns chamavam nossa atenção com suas fantasias divertidas. Alguns brincavam com a gente. Repentinamente, a tão aguardada chuva chegou. Fazia muito calor e a chuva veio carregando a esperança de uma temperatura mais amena. Peguei na mão dela e corremos para nos abrigar. Só havia um ponto de ônibus coberto perto de nós e foi lá mesmo, entre desconhecidos que também buscavam abrigo da chuva, que nos beijamos. Um beijo lindo, demorado e perfeito. Ficamos abraçados esperando a chuva passar e, quando ela passou, veio o sol. Ó abre alas que eu quero passar... Ó abre alas que eu quero passar... cantavam as pessoas no ponto de ônibus. Caminhamos de mãos dadas pelo parque. Queria repetir aquele momento onde nossos lábios se encontraram pela primeira vez. Mas eu não queria mais empecilhos e pedi para que Dora tirasse a sua barba. Mais uma vez ela caiu na gargalhada. Eu não entendi a razão. Dora olhou diretamente nos meus olhos, um olhar puro e sincero, e me disse calmamente que aquela barba não era falsa. Puxei a barba com cuidado e confirmei a informação. Ela era realmente uma mulher barbada e os amigos dela eram companheiros do circo em que trabalhavam. Achei aquela informação a mais exótica que eu já tinha recebido na minha vida e, sem hesitar, a beijei novamente. Com a certeza que um dia ela seria a minha esposa. Hoje tenho setenta e cinco anos e moro na Suécia. Nos casamos naquele mesmo ano, em meio a palhaços, mágicos, animais e trapezistas. O circo em que Dora trabalhava viajava por todo o mundo e através dele chegamos à Europa. Dora e eu ainda estamos casados. Dora já não trabalha mais no circo e eu sempre brinco que ela, agora, poderia trabalhar como Papai Noel com sua barba branca. Amo essa mulher!

3 GLOSSÁRIO O significado destas palavras neste texto. Ó abre alas que eu quero passar canção de Carnaval Abrir alas deixar passar Ficar com pele de galinha ficar arrepiado Bloco de carnaval, o conjunto de pessoas que desfilam juntas no Carnaval, muitas vezes trajando a mesma fantasia Caipirinha, a Bebida alcoólica, preparada com cachaça, limão, açúcar e gelo Bronzeado queimado pelo sol Frenético agitado Peludo com muito pelo À mostra visível Cair na gargalhada rir muito Folião, o pessoa que dança no bloco de carnaval Fantasia, a disfarce de Carnaval Empecilho, o obstáculo, estorvo

4 EXERCÍCIOS I. Ouça o texto e preencha os espaços em branco com as palavras/expressões que faltam neste excerto. Toda vez que escuto esta típica canção de Carnaval, fico com a). Esta canção sempre me faz lembrar os meus trinta anos, quando ainda vivia no Brasil, e o dia em que conheci minha esposa, a Dora. Estávamos no Rio de Janeiro pulando na rua e seguindo um b) de carnaval, no meio do verão, em fevereiro. Nunca tinha me sentido tão feliz na minha vida. Talvez fosse por causa das três c) que tinha tomado. No meio da multidão estava ela: pele bronzeada, cabelos castanhos, claros, e olhos verdes. Ó abre alas que eu quero passar... Ó abre alas que eu quero passar... No meio da multidão d) meus olhos a filtraram. Lembro-me que a música parou dentro de minha cabeça. Não só aquela música alegre, mas também o tempo. Perdido no silêncio que só o amor nos proporciona, decidi ir lá falar com ela, sem mesmo me preocupar por estar ridiculamente fantasiado de bebê com minha barriga e) à mostra. - Bom dia. Meu nome é César. Me apresentei àquela linda jovem. Ela me olhou e instantaneamente caiu na f). Bom sinal! Nós, homens, temos uma habilidade incrível de ser palhaço quando queremos. - Bom dia... Cesinha... Me chamo Dora. Ela respondeu com um sorriso. Bom sinal! Assim começamos a conversar. Dora estava fantasiada de mulher barbada. Uma mulher barbada e um bebê, que g) perfeita! pensei. Confesso que foi a mulher barbada mais linda que eu já conheci. Não que eu tivesse conhecido muitas mulheres barbadas ao longo dos meus trinta anos, mas aquela era especial e eu sabia disso.

5 II. Escolha a resposta correta, de acordo com a informação do texto. a. Ó abre alas que eu quero passar é: 1) um filme. 2) um bloco de carnaval. 3) uma canção. 4) uma fantasia. b. No dia em que conheceu sua esposa, César se sentia: 1) nervoso. 2) ridículo. 3) ansioso. 4) feliz. c. Ele achou Dora linda apesar: 1) da barba que ela tinha. 2) de sua barriga peluda. 3) de sua careca. 4) de ela parecer um palhaço. d. Assim que falaram: 1) começou a chover. 2) houve uma química especial entre eles. 3) César compreendeu que Dora não era mulher para ele. 4) os amigos de Dora se afastaram. e. Ao ver que a barba de Dora era verdadeira, César: 1) se assustou. 2) se foi embora. 3) beijou Dora de novo. 4) se arrependeu de ter beijado aquela desconhecida.

6 III. Reescreva as frases de acordo com o exemplo. Exemplo Sua pele estava com bronze. Sua pele estava bronzeada. a. Eu tinha uma fantasia ridícula Eu estava ridiculamente. b. Ele parou no meio da multidão. Ele ficou no meio da multidão. c. Eles tinham os dois bons disfarces. Eles estavam os dois bem. d. Dora se encantou com César. Dora ficou com César. e. A idade de Dora foi uma surpresa para ele. Ele ficou com a idade de Dora. f. Ela tinha barba. Ela era uma mulher. g. Eles deram um abraço. Eles ficaram. h. Dora e César viajaram muito. Dora e César são muito. IV. Complete com a preposição adequada. a. Ele ficou com pele galinha. b. Ele a viu meio da multidão. c. César tinha a barriga mostra. d. Eles se sentaram grama. e. Dora beijou César primeira vez no ponto de ônibus, chuva. f. Eles passearam mãos dadas.

7 V. Complete com o verbo no Pretérito Mais-que-perfeito do Conjuntivo, tal como no exemplo. Exemplo Naquela época, eu não conhecia muitas mulheres barbadas, mas ela era a mais linda. Não que eu tivesse conhecido muitas mulheres barbadas naquela época, mas ela era a mais linda. a. Eu não aprendi muito naqueles anos, mas gostei do curso. Não que eu muito naqueles anos, mas gostei do curso. b. Ela não perdeu tempo com os amigos dele, mas eles também nunca a apoiaram. Não que ela tempo com os amigos dele, mas eles também nunca a apoiaram. c. Os blocos de carnaval não eram maus, mas nunca foram minha praia. Não que os blocos de carnaval maus, mas nunca foram minha praia. d. Eu não queria saber deles, mas eles também pouco queriam saber de mim. Não que eu saber deles, mas eles também pouco queriam saber de mim. e. Nós não tentamos falar com ele, mas ele também nunca nos contactou. Não que nós falar com ele, mas ele também nunca nos contactou.

8 SOLUÇÕES I. a. Pele de galinha b. Bloco de carnaval c. Caipirinhas d. Frenética e. Peluda f. Gargalhada g. Combinação II. a. 3 b. 4 c. 1 d. 2 e. 3 III. a. Fantasiado/a b. Parado c. Disfarçados d. Encantada e. Surpreso f. Barbada g. Abraçados h. Viajados

9 IV. a. de b. no c. à d. na e. pela; à f. de V. a. tivesse aprendido b. tivesse perdido c. tivessem sido d. tivesse querido e. tivéssemos tentado