CONHECIMENTO DA MICROBIOTA BENTÔNICA PRESENTE NOS SEDIMENTOS DE FUNDO NA LAGOA RODRIGO DE FREITAS, RJ
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- Luiz Henrique Galindo Lacerda
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1 CONHECIMENTO DA MICROBIOTA BENTÔNICA PRESENTE NOS SEDIMENTOS DE FUNDO NA LAGOA RODRIGO DE FREITAS, RJ Daniele Silva Batista; Claudia Gutterres Vilela Depto. Geologia, UFRJ Abstract: The Rodrigo de Freitas Lagoon has a communication with the sea by the Jardim de Alah channel. Diverse changes have occurred in the area, largely due the growth of the city during the lasty century. The aim of this work is improve the knowledge the microorganisms(foraminifera and ostracods) recovered from fourty-four bottom samples sediments. collected in October Fifty-four species of foraminifera have been classified and, in the 32 samples, a total of 138 specimens of ostracods and 2616 specimens of foraminifers were recovered. In general, the foraminiferal and ostracode assemblage have a low species diversity. Ammonia tepida, A. parkinsoniana, Elphidium excavatum e E. gunteri.were the more abundant foraminifera. The ostracoda Gen. Cyprideis was founded in samples with more abundances of foraminifera, near the Jardim de Alah Channel. That samples presented more abundance of microorganisms, but with low occurrence of marine specimens, suggesting periodic arrival of organisms from the open sea through the channel, during times of improved circulation. Palavras-chave: foraminíferos, ostracodes, Lagoa Rodrigo de Freitas 1. Introdução A Lagoa Rodrigo de Freitas é uma laguna costeira receptora de sedimentos provenientes das bacias fluviais contribuintes, ligada ao mar pelo canal do Jardim de Alah. Modificações substanciais na linha de contorno da lagoa, devido a processos de assoreamento foram causadas por fatores naturais e ação humana em função, principalmente, do desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro. A acumulação natural, nesse ambiente, de sedimentos tanto marinhos como terrígenos e os aterros produzidos têm modificado o aspecto e as dimensões da Lagoa. Estimase que 1/3 da área total tenha sido aterrada, havendo perda da vegetação original e grande parte da fauna (FEEMA 2002). Circundada por postos de gasolina, clubes e prédios residenciais, a Lagoa recebe um aporte de esgotos domésticos clandestinos, lixo e águas fluviais, que contribuem para a sua eutrofização. Essas descargas das atividades humanas, em que se constatam elevados teores de metais pesados, geram, freqüentemente, florações de algas e queda nos níveis de oxigênio, produzindo mortandades em massa de peixes e outros organismos. Devido à alta concentração de matéria orgânica dos despejos forma-se uma camada de lodo que cobre uma grande parte da superfície do fundo. O objetivo deste trabalho foi obter um conhecimento mais detalhado dos microorganismos presentes nos sedimentos de fundo da Lagoa, além de fazer uma comparação entre dois grupos importantes para o diagnóstico ambiental: os foraminíferos e os ostracodes. 2. Materiais e Métodos As coletas das amostras de fundo foram realizadas em outubro de 2001,
2 utilizando-se o amostrador de fundo Van Veen, totalizando 44 pontos. Destes, 32 amostras foram utilizadas para comparação entre a microfauna de foraminíferos e de ostracodes, estando assinalados em amarelo na Figura 1. A metodologia utilizada para lavagem, triagem e taxonomia, foi a padrão, com base em Boltovskoy and Wright (1976). Para as amostras muito arenosas, foi utilizado o líquido denso tungstato de sódio, para a flotação das carapaças. A classificação taxonômica dos ostracodes baseou-se em Van Morkhoven (1963), e a dos foraminíferos foi baseada em Sen Gupta (1999), sendo as determinações de espécie e o posicionamento taxonômico por meio dos trabalhos clássicos de Ellis and Messina (1940-) e Loeblich & Tappan (1988). 3. Ecologia dos microorganismos Foraminíferos são protistas bentônicos ou planctônicos marinhos, também encontrados em ambientes mixohalinos. A classificação dos foraminíferos é baseada principalmente na composição, microestrutura e caracteres morfológicos externos da teca, que pode ser calcária ou aglutinante (Vilela 2004). Os ostracodes são crustáceos bivalves, possuem carapaças que podem ser transparentes, translúcidas ou opacas e apresentam formas ovaladas, subelípticas ou subquadradas, com tamanhos médios de 0,5 a 1,5mm. A maioria das espécies é bentônica, mas existem formas planctônicas nas assembléias fósseis (Coimbra et al. 2004). Os foraminíferos, assim como os ostracodes, são particularmente úteis para o biozoneamento de estratos marinhos em escala local ou regional, sendo também utilizados como indicadores de antigas linhas de costa, salinidade e profundidade. Os fósseis são abundantes em todos os tipos de sedimentos, mais particularmente numerosos em sedimentos de granulometria mais fina e em calcários. Já os ostracodes são importantes em interpretações ecológicas e para a estratigrafia, especialmente em sedimentos continentais, onde os foraminíferos são ausentes (Kennett 1982). 4. Interpretação ambiental por meio de ostracodes e foraminíferos O tipo de habitat é importante na morfologia dos ostracodes e foraminíferos, que respondem às variações de salinidade, temperatura, ph, natureza do substrato e oxigênio dissolvido no ambiente. Sabe-se que os ostracodes adaptam-se aos mais variados ambientes aquáticos, desde oceanos, linhas de costa, estuários, lagunas, lagoas, rios, poças e nascentes, até mesmo em solos úmidos de florestas e em águas subterrâneas. É importante salientar que a maioria de suas espécies é bentônica, havendo preferência por águas calmas, onde a argila ou a areia fina presente nos sedimentos de fundo são ricas em matéria orgânica. As associações de ostracodes podem se adaptar a baixa salinidade do ambiente apresentando baixa diversidade e carapaças delgadas sem muitas ornamentações. Os ostracodes podem responder a variações provocadas por descargas de dejetos humanos (Rosenfeld & Ortel 1983). Um declínio na população de ostracodes em águas lagunares pode ocorrer devido ao impacto antropogênico e ao ambiente confinado. O número reduzido desses organismos é uma resposta às condições antrópicas no ambiente (Eagar 2000).
3 Os foraminíferos, entretanto, respondem rapidamente a qualquer desequilíbrio ambiental, tanto natural quanto antropogênico. Estes se proliferam em ambientes marinhos ou parálicos, como no caso da Lagoa Rodrigo de Freitas. A utilização dos foraminíferos na avaliação de impactos antropogênicos vem sendo realizada há três ou quatro décadas, confirmando-os como bons marcadores ambientais. Alve (1995) analisou trabalhos sobre a utilização dos foraminíferos bentônicos em áreas marinhas poluídas. Conseqüentemente, os efeitos da poluição sobre a biota podem ser melhor determinados comparando-se o estado natural (antes da poluição) com o estado atual. Segundo Scott et al. (2001) e Schafer et al. (1975), os foraminíferos são os últimos organismos a desaparecerem completamente num ambiente impactado por contaminações industriais e com baixos teores de oxigênio. 5. Resultados e Discussão Foram classificadas 54 espécies de foraminíferos nas 44 amostras coletadas, sendo que, nas 32 amostras analisadas para ostracodes, foram contabilizados um total de 138 espécimes de ostracodes e 2616 espécimes de foraminíferos. Através da Figura 2 pode-se perceber a elevada abundância dos foraminíferos em ralação aos ostracodes. Os pontos localizados ao fundo da Lagoa, provavelmente, estão sujeitos ao aporte de metais pesados, de hidrocarbonetos e ao lançamento de esgotos. Trata-se de uma área de baixa circulação, podendo haver uma significativa diminuição no oxigênio dissolvido contribuindo, assim, para a diminuição da biota nestes locais. Os pontos 3, 7, 22 e 25, localizados na região frontal, são os locais de maior abundância de ostracodes e foraminíferos, provavelmente devido à influência de águas marinhas havendo um aumento na diversificação das espécies. Esta abundância e diversidade podem ser explicadas pela localização das amostras, nas proximidades da abertura do Canal do Jardim de Alah, através do qual a água do mar penetra no interior da Lagoa. As espécies de foraminíferos mais abundantes foram: Ammonia tepida, A. parkinsoniana, Elphidium excavatum e E. gunteri. O gênero Pararotalia se destacou em quase todas as amostras: 2, 16 a 18, 23 a 28 e 34. Espécies de foraminíferos bentônicos indicativas de águas marinhas, tais como: Pseudononion atlanticum, P. cuevanensis, Buccella peruviana e Eponides cribrorepanda, foram encontradas, bem como Cancris sagra e Cassidulina crassa, espécimes de tamanho grande e característicos de plataforma, sugerindo que foram transportados (Batista 2004). No caso dos ostracodes todos os espécimes apresentam uma valva delgada e lisa, devido às baixas concentrações de salinidade na lagoa. Foram identificadas preliminarmente, mas não classificadas, cinco espécies de ostracodes: Cyprideis sp., Cyprinotus sp., Cytheridea sp., Cytherella sp.1 e Cytherella sp.2. Apenas um espécime da superfamília Cytheracea foi encontrado no ponto 3. Estes preferem águas com maiores salinidades, são raramente observados em água-doce, sugerindo que este espécime foi transportado do oceano para o interior da Lagoa. Outro elemento interessante é que neste gênero observou-se a presença de um pequeno espinho, confirmando uma ornamentação que indica que este organismo procede de águas oceânicas. Segundo Vilela et al. (2003) e Guiselli Jr (2003), a presença do gênero Cyprideis também foi assinalada na Baía de
4 Guanabara, sendo considerado um bom indicador de ambientes poluídos ou impactados, corroborando o ambiente estressante e confinado da Lagoa. Em geral, os indivíduos encontrados apresentam, na sua maioria, tamanho reduzido, possivelmente devido às condições adversas na Lagoa, e alguns se apresentam muito desgastados e quebrados, sugerindo transporte para o interior da Lagoa e indicando uma resposta da microfauna às condições estressantes do local. 6. Conclusões As espécies encontradas são típicas de ambiente mixohalino. A percentagem de foraminíferos foi muito maior em relação aos ostracodes. As espécies de foraminíferos mais abundantes foram: Ammonia tepida, A. parkinsoniana, Elphidium excavatum e E. gunteri. O gênero Pararotalia apresentou boa representatividade na maioria das amostras. Trata-se de uma associação típica de ambientes parálicos impactados. As espécies de ostracodes encontradas foram: Cyprideis sp., Cyprinotus sp., Cytheridea sp., Cytherella sp.1 e Cytherella sp.2. O gênero Cyprideis indica teores de estresse ambiental. Em geral, os indivíduos apresentaram tamanho reduzido, possivelmente devido às condições adversas na Lagoa, e alguns se apresentando muito desgastados e quebrados, indicando seu transporte para o interior da Lagoa. A região de fundo (N) foi muito menos abundante que a região frontal (S) da Lagoa. 7. Referências ALVE E Benthic foraminiferal responses to estuarine pollution: a review. Journal of Foraminiferal Research. 25(3): BATISTA DS Foraminíferos bentônicos e sua distribuição na lagoa Rodrigo de Freitas, RJ. Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado, Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. BOLTOVSKOY E. & WRIGHT R Recent Foraminifera. Dr. W. Junk b.v. Publ., The Hague, 1976, 515p. COIMBRA J. C, BERGUE C. T., VICALVI MA & CARVALHO MGP Ostracodes. In: CARVALHO IS (Ed.), Paleontologia. Ed. Interciência. Rio de Janeiro, 2004, p EAGAR SH Ostracoda in detection os sewage discharge on a pacif Atoll. In: Martin, RE Environmental Micropaleontology. p: ELLIS BF & MESSINA AR et sequences. American Museum of Natural History. Catalogue of Foraminifera. Special Publication, [Nova York], 30 vol e suplementos. FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) EIA/RIMA Solução integrada de reabilitação ambiental da Lagoa Rodrigo de Freitas, canal do Jardim de Alah e praias do Arpoador, Ipanema e Leblon, 3 vol. GHISELLI JR RO, CRISTOFI MG, EICHLER BB & VILELA CG Ecologia e distribuição da fauna de ostracodes na Baía da Guanabara. In: IX Congresso da ABEQUA, Porto Seguro. Anais... ABEQUA, Recife/PE. Anais eletrônicos. KENNETT, JP Marine Geology. Prentice-Hall, New Jersey. 813p. LOEBLICH ARJr. & TAPPAN H Foraminiferal genera and their
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6 Fig 1. Mapa de localização da área de estudo com os pontos de coleta na Lagoa Rodrigo de Freitas. Coleta: outubro de 2001.
7 ostracodes foraminíferos Figura 2. Abundância de foraminíferos bentônicos e ostracodes, encontrados nos sedimentos de fundo da Lagoa Rodrigo de Freitas.
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