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1 Tribunal de Justiça de Pernambuco PJe - Processo Judicial Eletrônico Consulta Processual 11/05/2018 Número: Classe: TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE Órgão julgador: Vara Única da Comarca de Santa Maria da Boa Vista Última distribuição : 11/05/2018 Valor da causa: R$ Assuntos: Liminar, Antecipação de Tutela / Tutela Específica Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? SIM Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO Partes Tipo Nome ADVOGADO REQUERENTE REQUERIDO WELLINGTON CORDEIRO LIMA Município de Santa Maria da Boa Vista COMPANHIA ENERGETICA DE PERNAMBUCO Id. Data da Assinatura Documento Documentos /05/ :32 Decisão Decisão Tipo

2 Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Vara Única da Comarca de Santa Maria da Boa Vista R PROF. RAIMUNDO COIMBRA FILHO, 131, Forum da Comarca de Santa Maria da Boa Vista - Sem Denominação, Sen. Paulo Pessoa Guerra, STA MARIA B VISTA - PE - CEP: F:(87) Processo nº REQUERENTE: MUNICÍPIO DE SANTA MARIA DA BOA VISTA REQUERIDO: COMPANHIA ENERGETICA DE PERNAMBUCO DECISÃO Vistos, etc... Aduz o Município de Santa Maria da Boa Vista, na sua petição inicial, que no dia 09 de maio de 2018 a CELPE efetuou o corte de energia do sistema irrigado do Projeto Fulgêncio, tanto do abastecimento de água para o consumo humano, como para irrigar os lotes, o que vem causando grandes prejuízos aos produtores e suas famílias, além de grandes prejuízos à economia local, bem assim a todos os boavistanos que têm que adquirir seus produtos de consumo diário em outros mercados. Destaca haver no referido perímetro irrigado cerca de 17 (dezessete) mil trabalhadores que sobrevivem em regime de economia familiar e que dependem do fornecimento de energia elétrica para a produção de frutas, sendo a referida atividade a única fonte de renda destas famílias. Por essa razão, pleiteia o requerente, em sede de tutela antecipada de urgência, o deferimento de liminar determinando restabelecimento, no prazo de 24h, do fornecimento de energia elétrica, tanto no tocante ao abastecimento de água para o consumo humano, como para irrigação dos lotes (contratos e ) do perímetro irrigado do Projeto Fulgêncio, para que a sua população e as suas culturas não sejam prejudicas, sob pena de multa diária de R$ ,00 (dez mil reais). Pois bem. Num Pág. 1

3 Recebo a inicial uma vez que restam presentes os requisitos essenciais previstos no CPC, também possuindo o autor legitimidade para figurar no polo ativo da demanda. A tutela antecipada de urgência visa realizar a justiça material, sem abandonar, é certo, a garantia do devido processo legal. Nos moldes do artigo 300 do CPC, a requerimento da parte, o juiz poderá conceder a tutela de urgência, desde que presentes os requisitos exigidos, quais sejam, existência de elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. exigido. direito. Nesse sentir, cumpre verificar se a antecipação de tutela ora pretendida satisfaz cada requisito legal Compulsando os autos, verifica-se a existência de elementos que evidenciam a probabilidade do A narrativa exposta na inicial e as notícias publicadas em blogs da região evidenciam que no dia 09 de maio de 2018 a CELPE efetuou corte de energia que deu causa à suspensão do abastecimento de água para o consumo humano e para irrigação nas Agrovilas do Projeto Fulgêncio. Em uma análise não aprofundada do caso, suficiente para a apreciação do pedido de urgência, entendo que mesmo em caso de inadimplência não é possível à CELPE se valer da suspensão do fornecimento de energia elétrica, com reflexo direto no abastecimento de água de uma extensa região. A possibilidade conferida pela lei de a concessionária de serviço público interromper o fornecimento de energia elétrica em hipótese de inadimplência deve ser sopesada à vista do caso concreto. Não se pode olvidar, assim, o interesse de toda uma coletividade que abarca diretamente mais de moradores do Projeto Fulgêncio. Há um evidente interesse público em preservar o abastecimento de água na região que não pode ser ignorado, razão pela qual o recurso de outros meios menos gravosos de coerção ao pagamento do débito deve prevalecer em relação à extrema medida de suspensão de energia elétrica. A impossibilidade de suspensão do fornecimento de energia elétrica, na hipótese dos autos, muito se assemelha, ao meu sentir, aos casos envolvendo a interrupção do fornecimento de energia aos órgãos públicos, mormente quando atinge serviços essenciais. Em ambos os casos, o interesse público deve preponderar. Sobre o tema: DIREITO ADMNISTRATIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR. MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE. SUSPENSÃO NO FONECIMENTO DA ENERGIA ELÉTRICA. INTERESSE PÚBLICO ENVOLVIDO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Em se tratando de pessoa jurídica de direito público, o corte no fornecimento de energia elétrica por inadimplência não pode ocorrer de maneira indiscriminada, de forma a colocar em risco o interesse da coletividade, mormente por existirem outros meios menos gravosos de coerção para o pagamento do débito. 2. No caso de município de pequeno porte a suspensão da energia elétrica, em qualquer área ou prédio públicos, afetaria o interesse da coletividade, seja no que pertine à segurança, à saúde ou à educação. Não se desincumbindo a concessionária do ônus de demonstrar que a suspensão não colocaria em risco o interesse público deve-se manter a concessão da tutela inibitória, a fim de impedir danos maiores. (TJ-PE - AGV: PE, Relator: Fábio Eugênio Dantas de Oliveira Lima, Data de Julgamento: 16/12/2015, 1ª Câmara Regional de Caruaru - 1ª Turma, Data de Publicação: 15/02/2016) Em relação ao perigo de dano, este requisito aparece, no cenário jurídico, como um risco que pode ser considerado palpável, no sentido de que a demora da prestação jurisdicional possa conduzir a uma injustiça ou a um patente prejuízo muitas vezes irreparável, de forma que, não se restabelecendo o equilíbrio, nem fazendo cessar a lesividade, logo que possível e quando necessário, resultaria daí uma decisão inócua. Num Pág. 2

4 Destaque-se que o corte de energia elétrica, ao provocar o desabastecimento de água no projeto Fulgêncio, atinge toda uma comunidade composta por crianças, mulheres grávidas, idosos, bem como ocasiona um prejuízo à lavoura local que abastece nossa região e é meio de sobrevivência de inúmeras famílias de pequenos agricultores. Nesse quadro, diante das provas colacionadas nos autos, é forçoso reconhecer que a ausência de determinação judicial para restabelecer imediatamente a energia elétrica poderá acarretar graves prejuízos à comunidade local. Por fim, o 3º, do artigo 300, do CPC, estabelece que, A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. Trata-se de um requisito negativo, que deve ser cumprido, para que possa ser concedida a medida, devendo a parte que a pediu, demonstrar e convencer o juiz que a mesma é passível de reversão. Nesse sentir, a concessão antecipada do pleito não gera perigo de irreversibilidade, haja vista que, caso seja demonstrada a insubsistência dos documentos e argumentos apresentados pelo demandante, não há óbices à revogação da tutela jurisdicional provisória concedida, restabelecendo-se o status quo ante. Desse modo, em um exame perfunctório, típico das tutelas de urgência, concluo, a princípio, não ser possível à requerida suspender o fornecimento de energia que resultou no desabastecimento de água do Projeto Fulgêncio. Neste diapasão, CONCEDO LIMINARMENTE A TUTELA DE URGÊNCIA PLEITEADA, determinando à CELPE que restabeleça imediatamente o fornecimento de energia elétrica a fim de possibilitar o abastecimento de água nas Agrovilas do Projeto Fulgêncio (contratos e ), no prazo máximo de 24 horas, sob pena de multa diária no importe de R$ ,00 (cinquenta mil reais), limitada ao total de R$ ,00 (cinco milhões de reais). Considerando que a lide envolve interesse público indisponível, deixo de designar audiência de conciliação, razão pela qual, com base no art. 334, 4, II, do CPC determino a citação da demandada para, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar resposta aos termos da ação, sob pena de revelia. Ciência ao Ministério Público. Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, intime-se a parte autora para falar, no prazo de 15 (quinze) dias, sobre a contestação e documentos apresentados. Em seguida, vista ao Ministério Público. Considerando que o presente feito é conexo com o PJe , determino a tramitação conjunta, a rigor do art. 55, 1º, do CPC. Proceda a Secretaria com a reunião dos processos ( e ), fazendo as anotações devidas. CÓPIA DA PRESENTE, AUTENTICADA POR SERVIDOR EM EXERCÍCIO NESTA UNIDADE, SERVIRÁ COMO ALVARÁ/MANDADO/OFÍCIO (RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO DA MAGISTRATURA 03/2016-CM/TJPE). P.R.I. Cumpra-se com urgência. Santa Maria da Boa Vista/PE, 11 de maio de Num Pág. 3

5 JOÃO ALEXANDRINO DE MACÊDO NETO Juiz de Direito Num Pág. 4