MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

Transcrição

1 fls. 935 AUTOS Nº: (26ª PJ) INDICIADOS: COMANDANTE GERAL DA PMAM CELPM ALMIR DAVID BARBOSA PROMOÇÃO EX-COMANDANTE GERAL DA PMAM DAN CÂMARA CEL PM JOSÉ CARLOS PEREIRA DE FREITAS CEL PM AUGUSTO SÉRGIO FARIAS PEREIRA CEL PM WILLIANS PEDRAÇA DE ARAÚJO CEL PM HERBERT CAMPOS DE ARAÚJO MM. JUIZ: Os autos tratam da investigação dos responsáveis pela compra de uma quantidade excessiva de uniformes para os policiais militares de setores específicos da Polícia Militar, como: preta; 1. ID (dez mil) calças culotes na cor cinza; 2. ID (cinco mil) calças culotes camufladas; 3. ID (quatro mil e setecentos) calças de instrução na cor

2 fls. 936 cor preta; 4. ID (quatro mil e setecentos) gandolas de instrução na 5. Aquisição de (mil, quatrocentos e sessenta e uma) medalhas não utilizadas; 6. aquisição de (cinco mil) gandolas camufladas ambiental efetivo diminuto; 7. aquisição de (cinco mil) calças camufladas ambiental efetivo diminuto. Em referência às calças culotes, cinzas e camufladas, cinge-se ao fato (dez mil) de que é um fardamento específico para a polícia montada (cavalaria) e segundo o Regimento da Polícia Montada, o efetivo seria de 119 (cento e dezenove) policiais, sendo no entanto, que o efetivo de pronto é de apenas 78 (setenta e oito) policiais, logo a aquisição não é condizente com a realidade da tropa, com o efetivo da companhia. Qual a justificativa para essa quantidade? Em referência às calças e gandolas de instrução na cor preta ( quatro mil e setecentas), destinam-se ao uniforme exclusivamente do CPE (Centro de Operações Especiais), o qual conta com o efetivo previsto de 120 (cento e vinte) policiais, porém de pronto efetivo contando apenas com 31 (trinta e um policiais). Essas calças e gandolas de instrução ambiental são destinadas ao efetivo do Comando de Policiamento Ambiental e suas unidades especiais, com o efetivo previsto de 144 (cento e quarenta e quatro) policiais militares, contando com o efetivo de pronto de apenas 100 (cem) policiais.

3 fls. 937 Qual a justificativa para a compra de (cinco mil) modelos de calças e (cinco mil) unidades de gandolas? Extrai-se dos autos inúmeras irregularidades quanto ao recebimento dos fardamentos adquiridos, como por exemplo, a falta de recebimento de (mil, setecentas e trinta e nove) canículas do modelo feminino (fls. 820, 867 e 871), ausência de recebimento de (quinze mil, novecentas e cinquenta e oito) canículas modelo masculino (fls e 826 e ss.), falta de recebimento de 288 (duzentas e oitenta e oito) saias do modelo feminino (fls. 820, 867 e 871). O relatório do Encarregado pelos autos de IPM, explicita de maneira clara, o que foi investigado, enumera folhas dos autos onde foram inseridos os indícios de provas, os documentos trazidos aos autos etc (fls. 872 e seguintes do volume V). A justificativa dos supostos envolvidos, é a de que não cabe a eles a responsabilidade quanto à existência à época de um erro administrativo, todos, no entanto, reconhecendo a aquisição de quantidades de fardamentos acima do necessário, aliás fora de qualquer parâmetro de normalidade, inclusive orçamentária. Flui ainda dos autos outras irregularidades gritantes na entrega do quantitativo e do qualitativo dos uniformes adquiridos, bem como ser altamente incongruente com o efetivo de homens e com a dotação das OPM usuárias desses uniformes.

4 fls. 938 Extrai-se dos autos que a Polícia Militar teve dificuldade de armazenamento, até para receber o mínimo de uniformes, ainda que em quantidade inferior da adquirida. Independente de quaisquer outras condutas irregulares nas aquisições, o prejuízo ao Erário Estadual foi relevante, em razão do alto valor pago e inclusive incomum aos processos licitatórios da Instituição, aproximadamente na faixa de mais ou menos R$ ,00 (dezesseis milhões de reais). O início do processo para aquisição do número excessivo de uniformes ocorreu no ano de 2011, no Comando do Coronel Dan Câmara e o CEL QOPM José Carlos Pereira de Freitas como Diretor de Apoio Logístico DAL, tendo no trâmite da operação, sido trocado o Comando da Polícia Militar, bem como todo o staff, passando o Comando Geral ao CEL PM Almir David Barbosa e como Chefe do DAL, o CEL QOPM Augusto Sérgio Farias Pereira. Ver Boletim nº /10/2013. As Empresas fornecedoras: Comércio e Indústria Equilíbrio Ltda, Latino Indústria e Comércio Ltda, Nasser Indústria e Comércio Ltda EPP e BDS Confecções Ltda. Vale ressaltar que foram adquiridos outros itens de fardamentos, bonés etc, para o grande número de policiais da tropa (comuns), onde não se

5 fls. 939 pode sem uma análise mais detalhada e outras diligências, enxergar qualquer excesso para o efetivo. Mas vale ressaltar que são menos de (nove mil) policiais ao todo na Instituição Policial Militar e há nos autos a aquisição de (cem mil) camisas cinzas. Ressalte-se que o fardamento somente é oferecido gratuitamente aos cabos e soldados, a partir da graduação de sargento, já recebe na promoção a primeira verba, destinada à aquisição do fardamento. Extrai-se dos autos grande irregularidade também quanto ao recebimento do material adquirido, como no caso das (quatro mil e setecentas)unidades de calça de instrução preta e (quatro mil e setecentas) unidades de gandolas de instrução para um pronto de 31 (trinta e um) policiais e da qual só foram recebidas 600 (seiscentas) unidades de calças e 600 (seiscentas) das gandolas, faltando contar o recebimento de (quatro mil e quatrocentos) calças de instrução da cor preta (fls. 815) e ( quatro mil e quatrocentas) gandolas de instrução da cor preta. É o sucinto relatório. Promovo. MM. Juiz,

6 fls. 940 É certo que flui dos autos indícios fortes e suficientes de condutas irregulares por parte de Oficias de alta patente no Comando de setores e da Chefia Geral da Instituição, quanto aos fatos investigados nos autos. Nossa obrigação na análise está em verificar a ocorrência de delitos de natureza militar e providências. Ao manuseio da legislação penal castrense, especificamente no Título VII, Capítulo VI Dos Crimes contra o Dever Funcional, não há qualquer tipo que se abarque as condutas descritas nos autos, em princípio, embora tenha acarretado enorme prejuízo aos cofres públicos, ao Erário, especificamente à Fazenda Estadual, tanto pela compra no quantitativo, quanto no recebimento pelo quantitativo e qualitativo. Vale, no entanto, ressaltar, que as supostas condutas irregulares investigadas, se amoldam, em princípio, aos tipos da Lei 8.429/92, como improbidade administrativa, e/ou ainda na Lei 8.66/93 Lei das Licitações. Ante ao exposto, requer a este MM. Juízo, a declinação de competência em razão da não existência de delito de natureza militar, com baixa na distribuição e que o IPM (cópias físicas) seja enviado ao Promotor Geral de Justiça para que seja tomado providências cabíveis junto a uma das Promotorias de Proteção ao Patrimônio Público.

7 fls. 941 É a promoção. MPNS Manaus, 17 de janeiro de 2014 Maria da Conceição Silva Santiago PROMOTORA DE JUSTIÇA