QUALIDADE FISICO-QUÍMICA DAS ÁGUAS DE POÇOS TUBULARES LOCALIZADOS NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE CUBATI-PB

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1 QUALIDADE FISICO-QUÍMICA DAS ÁGUAS DE POÇOS TUBULARES LOCALIZADOS NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE CUBATI-PB L.J.R. Silva 1, E.D. Silva Filho 2, M.T.L. Duarte 3, F. A. S. Gonzaga 4 1- Grupo de Pesquisa em Ciências Agrárias e Tecnologia de Alimentos, Campus de Campina Grande Instituto Federal da Paraíba, IFPB CEP: Campina Grande PB Brasil, Telefone: (083) Fax: (83) (lauhanny12@gmail.com); 2 - idem ao idem ao idem ao 1. RESUMO A perfuração de poços tubulares tem se tornado a estratégia mais adotada no semiárido nordestino, visando mitigar a escassez pluviométrica. Contudo, a qualidade da água geralmente é inapropriada ou sequer avaliada. Desse modo, o presente estudo analisou a composição físico-química da água de dois poços localizados na zona rural do município de Cubati-PB. As amostras foram avaliadas quanto aos seguintes parâmetros: ph, temperatura (ºC), alcalinidade (mg/l), cloreto (mg/l), acidez carbônica (em termo de CaCO 3), cloro total (mg/l), condutividade elétrica (µs/cm), sólidos totais dissolvidos (ppm), ferro (ppm), dureza total (mg/l), dureza de cálcio (mg/l), dureza de magnésio (mg/l) e cor aparente (uh). Os resultados obtidos indicam que ambos os poços não atendem o que preconiza a legislação brasileira, extrapolando os limites dos níveis de cloretos, sólidos totais dissolvidos e dureza total. Desse modo, o consumo humano dessas águas somente poderá ser realizado mediante tratamentos prévios, que visem à normatização dos referidos padrões. ABSTRACT Tubular well drilling has become the strategy adopted in the semi-arid Northeast, aiming to mitigate scarcity rainfall. However, water quality is often inappropriate or even evaluated. Thus, the present study examined the physico-chemical composition of the water from two wells located in the rural municipality of Cubati-PB. The samples were evaluated the following parameters: ph, temperature (ºC), alkalinity (mg/l) chloride (mg/l), carbonic acid (in term of CaCO 3), total chlorine (mg/l), electrical conductivity (µs/cm), total dissolved solids (ppm), iron (ppm), total hardness (mg/l), calcium hardness (mg/l), hardness of magnesium (mg/l) and apparent color (uh). The results obtained indicate that both the wells do not meet the brazilian legislation that, extrapolating the limits the levels of total dissolved solids, chlorides and total hardness. Thus, the human consumption of these waters can only be achieved by previous treatments, aimed at the standardization of such standards. PALAVRAS-CHAVE: semiárido; potabilidade; físico-química KEYWORDS: semi-arid; potability; physico-chemical 1. INTRODUÇÃO O conceito de qualidade da água sempre tem relação com a sua aplicabilidade, existindo, portanto, classificações para usos específicos, tais como abastecimento doméstico, a preservação da

2 vida aquática e a recreação de contato primário (Brasil, 2014). No que concerne a água subterrânea, diversos fatores podem comprometer essa qualidade: o destino final do esgoto doméstico e industrial em fossas e tanques sépticos, a disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos e industriais, postos de combustíveis e de lavagem e a modernização da agricultura representam fontes de contaminação do solo e consequentemente dos lençóis freáticos por microorganismos patogênicos, bem como por compostos químicos (Silva e Araújo, 2003). Para classificar e atestar a segurança do consumo da água, a legislação brasileira adota como padrões a portaria de nº 2914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde (Brasil, 2011) e a resolução nº 396, de 3 de abril de 2008, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 2008). Contudo, a perfuração de poços sem a regulamentação necessária pode ofertar riscos à saúde da população. No semiárido brasileiro, a perfuração de poços tubulares visando o abastecimento humano e a dessedentação animal vem se expandindo em face da escassez pluviométrica e redução dos níveis dos mananciais, tornando-se fonte imprescindível de abastecimento para populações que não tem acesso a oferta regular desse recurso (Freitas et al., 2001). Por outro lado, o monitoramento da qualidade da água, através de análises microbiológicas e físico-químicas torna-se imprescindível para atestar a segurança desse consumo, obedecendo assim aos padrões de potabilidade estabelecidos nas normas vigentes no País (Celligoi, 1999). Neste sentido, o presente trabalho objetivou caracterizar físicoquimicamente as águas de poços tubulares localizados na zona rural do município de Cubati-PB, com o intuito de verificar se as mesmas atendem ao que preconiza a legislação vigente. 2. MATERIAL E MÉTODOS As amostras foram coletas em dois poços tubulares localizados na zona rural do município de Cubati, localizado na micro-região do seridó paraibano, utilizando-se embalagens de politereftalato de etileno (PET). Em seguida, o material foi direcionado ao Laboratório de Química (LQ) do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), campus de Campina Grande- PB, onde foram realizadas as seguintes análises físico-químicas: - ph: pelo método potenciométrico, com o medidor de ph da marca Instrutemp, modelo ITPH temperatura: com uso de termômetro digital, determinada em C; - alcalinidade: pelo método volumétrico, em unidades de mg/l de CaCO 3; - cloreto, pelo método de Mohr, em mg/l de Cl -; - acidez carbônica, por titulometria, com resultados expressos em termos de CaCO 3; - cloro total, através da cloração da água, com equipamento portátil de marca Hanna Instruments, mod. 727 a 20 C em mg/l; - condutividade elétrica e sólidos totais dissolvidos, através de condutivímetro portátil da marca Lutron, modelo CD 4303 com resultados expressos em μs/cm a 25 C; - ferro com equipamento portátil de marca Hanna Instruments, mod. HI a 20 C; - dureza total, de cálcio e magnésio através de titulometria, com resultados em unidades de mg/l - cor aparente, através de medidor de cor modelo HI 727 da Hanna Instruments, com resultados expressos em uh. Todas as análises foram realizadas em triplicata, obedecendo ao que preconiza o as normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (Brasil, 2008). Os resultados obtidos foram comparados aos valores da portaria de nº 2914/11 (Brasil, 2011), que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade e também pela resolução de nº 396/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 2008).

3 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Estão dispostos na Tabela 1, os valores médios relativos aos parâmetros físico-químicos das águas de poços tubulares localizados na zona rural do município de Cubati-PB. A determinação do ph das águas dos poços (P 1 e P 2) exibiu valores médios de 6,6 e 6,7 respectivamente. Portanto ambos os poços estão de acordo com a portaria de nº 2.914/11 do Ministério da Saúde que estabelece para esse parâmetro, índices entre 6,0 e 9,5. Por sua vez, a determinação do parâmetro temperatura exprimiu valores médios de 26 C e 26,9 C, para P 1 e P 2 respectivamente. Observa-se na Tabela 1 que o fator alcalinidade alcançou valores médios na ordem de 82,3 mg/l para P 1 e 79,0 mg/l para P 2. Em ambos os poços, os valores reportados atendem ao que preconiza a portaria de nº 2.914/11 do Ministério da Saúde, já que o valor máximo permitido para o parâmetro é de 100 mg/l. Tabela 1 Parâmetros físico-químicos das águas de poços tubulares localizados na zona rural do município de Cubati-PB. Parâmetros Químicos P 1 P 2 Valor Máximo Permitido ph 6,6 6,7 6-9,5 Temperatura (ºC) 26 26,9 - Alcalinidade (mg/l) 82, Cloretos (mg/l) 2889, Cloro total (mg/l) 0,00 0,04 0,01 Condutividade elétrica (µs/cm) Acidez carbônica (mg/l) 40,3 54,3 Maior que 10 Sólidos totais dissolvidos (ppm) Cor aparente (uh) Ferro (mg/l) 0,00 0,04 0,3 Dureza total (mg/l) Dureza cálcio (mg/l) Dureza magnésio (mg/l) Fonte: autores (2018) Os níveis de cloretos em concentrações elevadas podem restringir a aceitabilidade da ingestão da água, em razão do sabor desagradável por eles conferido, bem como pelo efeito laxativo que podem provocar. Constata-se na Tabela 1, a elevada concentração desse fator em ambos os poços, com índices de 2889,9 mg/l em P 1 e 6103 mg/l no P 2. Comparando-se com a legislação vigente, observase que ambos extrapolam o valor máximo de 250 mg/l. Adicionalmente, constatou-se valores de condutividade elétrica na ordem de 6310 (P 1) e 11110µS/cm (P 2), corroborando os altos níveis de cloretos, uma vez que essa condutividade é a expressão numérica da capacidade de uma água conduzir corrente elétrica. De acordo com a CETESB (2009), a condutividade elétrica representa uma medida indireta da concentração de poluentes. À medida que mais sólidos dissolvidos são adicionados, a condutividade da água aumenta, sendo que altos valores podem indicar características corrosivas da água ou lançamentos de efluentes. Ainda de acordo com essa companhia de tratamento, níveis superiores a 100 µs/cm indicam ambientes impactados. Visto que na portaria de número 2.914/11 do ministério da saúde e na resolução de nº 396/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente tem-se como valor máximo permitido para o parâmetro cloro total 0,01mg/L, podemos concluir que apenas o poço (P2) encontra-se fora da legislação obtendo o valor de 0,04mg/L. A análise do parâmetro acidez carbônica, reportado na Tabela 1, demonstrou que em ambos os poços, os níveis médios obtidos foram de 40,3 e 54,3 mg/l, portanto, atendendo ao que estabelece a

4 portaria nº 2914/2011 (Brasil, 2011), que fixa um valor mínimo de 10 mg/l. Segundo a Portaria 2.914/2011 a concentração de sólidos totais dissolvidos é considerada um parâmetro organoléptico de potabilidade, tendo um valor máximo permitido de 1000 (mg/l). No presente estudo, foram registrados índices de 3165 e 5540 ppm para P1 e P2, respectivamente. Portanto, extrapolando o que determina a legislação vigente. Por sua vez, a análise do parâmetro cor aparente obteve em ambos os poços, valores que atendem a portaria 2.914/2011 (Brasil, 2011). Normalmente, a cor na água é devida à presença de ácidos húmicos e tanino, originado de decomposição de vegetais, bem como também de origem antropogênica, provenientes de resíduos industriais. No presente estudo, como as amostras foram extraídas de poços tubulares, é possível concluir que para esse parâmetro, os fatores capazes de provocar alterações significativas foram incipientes. Registram-se na Tabela 1, os valores médios obtidos para o parâmetro ferro (mg/l). Para ambas as amostras, os níveis alcançados atendem ao que preconiza a portaria 2.914/2011 (Brasil, 2011). Normalmente, índices elevados de ferro podem ser decorrentes tanto da má condição da bomba do poço (encanamento enferrujado), ou mesmo da própria natureza das rochas, com a sua dissolução pelo gás carbônico da água (Scorsafava et al., 2011). A avaliação do parâmetro dureza total, reportada na Tabela 1, indica que ambos os poços não atendem a legislação vigente. A dureza da água é causada pela presença de sais minerais dissolvidos, primariamente cátions bivalentes, incluindo cálcio, magnésio, ferro, estrôncio, zinco e magnésio. Os íons de cálcio e magnésio são normalmente os únicos presentes em quantidades significativas; portanto, a dureza é geralmente considerada como uma medida do teor em cálcio e magnésio na água. (Richter, 2009). A alta dureza das águas estudadas é explicado pela formação rochosa do município de Cubati-PB, que apresenta uma formação altamente cristalina, salinizando o contato com as rochas, as águas subterrâneas. 4. CONCLUSÕES De acordo com o exposto conclui-se, que as águas analisadas não poderão ser utilizadas para o consumo humano, a não ser que se realize um tratamento através de métodos eficazes, como: trocaiônica, dessalinização, filtração ou desmineralização, pois as águas não estão de acordo com a legislação vigente que trata da utilização da água para o consumo humano. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil, Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA (2008). Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências (Resolução nº de Abril de 2008). Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasil, Instituto Adolfo Lutz IAL (2008) Normas analíticas, métodos químicos e físicos para analises de alimentos. 4ª Ed. São Paulo, Brasil, Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde (2014). Manual de controle da qualidade da água para técnicos que trabalham em ETAS. Brasília: Funasa. Brasil, Ministério da Saúde. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade (Portaria nº 2914 de 12 de dezembro de 2011). Diário Oficial da República Federativa do Brasil

5 Celligoi, A (1999). Considerações sobre análises químicas de águas subterrâneas. Geografia, 8(1), CETESB (2009). Variáveis de qualidade das águas. São Paulo, Disponível em: Freitas, M. B.; Brilhantes, O. M.; Almeida, L. M. (2001). Importância da análise de água para a saúde pública em duas regiões do Estado do Rio de Janeiro: enfoque para coliformes fecais, nitrato e alumínio. Cadernos de Saúde Pública, 17(3), Richter, C. A. Água: métodos e tecnologia de tratamento. São Paulo: Edgard Blücher ed. 352 p. Scorsafava M. A., Souza A, Stofer M., Nunes C. A., Milanez T. V. (2010) Avaliação físico-química da qualidade de água de poços e minas destinada ao consumo humano. Rev Inst Adolfo Lutz. 69(2): Silva, R. C. A.; De Araújo, T. M. (2003). Qualidade da água do manancial subterrâneo em áreas urbanas de Feira de Santana (BA). Ciência & Saúde Coletiva, 8(4),