AVALIAÇÃO DA TAXA DE KERMA NO AR EM UMA SALA DE CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
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- Maria Clara Garrau Fidalgo
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1 International Joint Conference RADIO 2014 Gramado, RS, Brazil, Augustl 26-29, 2014 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PROTEÇÃO RADIOLÓGICA - SBPR AVALIAÇÃO DA TAXA DE KERMA NO AR EM UMA SALA DE CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA Jéssica V. Real 1, Bruna D. Fröhlich 2, Renata M. da Luz 1 e Ana M. M. da Silva 2 1 Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) Av. Ipiranga, nº 6690 Jardim Botânico Porto Alegre, RS jessica.real@pucrs.br; renata.luz@pucrs.br 2 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Av. Ipiranga, nº Partenon Porto Alegre, RS bruna.frohlich@acad.pucrs.br; ana.marques@pucrs.br RESUMO Nos últimos anos, o número de procedimentos de cardiologia intervencionista vem aumentando. Entretanto, devido aos tempos longos de fluoroscopia nestes procedimentos, as equipes assistenciais podem receber altas doses de radiação. A radiação espalhada pelo paciente não é uniforme, e sua avaliação é de extrema importância. Este trabalho teve como objetivo estimar e mapear a taxa de kerma no ar, na altura das gônadas, em uma sala de cardiologia intervencionista, buscando otimizar a dose absorvida pelos indivíduos ocupacionalmente expostos à radiação ionizante. Para a coleta de dados, dividiu-se a sala em quadrantes de 1m², totalizando 40 pontos de coleta. O simulador foi posicionado de modo que a sua superfície de entrada estivesse situada no ponto de referência intervencionista. Foram escolhidas as condições que simulam procedimentos de angiografia e angioplastia realizados no serviço. Os dados foram obtidos para altura de 1 metro, região de gônadas. Os resultados obtidos para as taxas de kerma no ar, nos quadrantes, mostram que os maiores valores medidos foram nas proximidades do tubo de raios X. Constatou-se que a equipe médica é a mais exposta, devido à sua localização durante todo o procedimento, em torno da mesa. Verificou-se a lei do inverso do quadrado da distância nos pontos mais distantes do tubo de raios X. 1. INTRODUÇÃO A cardiologia intervencionista é um conjunto de procedimentos invasivos, que utiliza radiação ionizante para fins diagnósticos e terapêuticos das patologias cardiovasculares. Esta técnica vem ganhando destaque pelo crescente número de procedimentos e serviços pelo país nos últimos anos, levando em consideração meios mais sofisticados e sua evolução técnica para procedimentos complexos [1]. Dentre os benefícios dos procedimentos de cardiologia intervencionista, estão à segurança e a rapidez de recuperação do paciente. Isso ocorre porque os procedimentos são menos invasivos, permitindo o diagnóstico e tratamento de doenças graves, dispensando cirurgias mais complexas de maior porte. Assim, a possibilidade de infecção hospitalar, menor tempo de recuperação e internação do paciente pode ser reduzida [1,2]. Entretanto, devido à ampliação do campo de atuação da cardiologia intervencionista, há também o aumento de tempo de fluoroscopia a que médicos, funcionários e pacientes estão expostos, podendo receber altas doses de radiação. Os fatores que contribuem para essas altas
2 taxas de exposição são a proximidade ao tubo de raios X, a aquisição de grande número de imagens, longos tempos de exposição, o uso de equipamento e tecnologia impróprios, a manutenção não otimizada, e a falta de treinamento da equipe assistencial, dentre outros [2]. No Brasil, a cardiologia intervencionista está submetida à legislação vigente que estabelece parâmetros de ações para o controle de exposições médicas, exposições ocupacionais, e ao público, por meio de prática com raios X diagnósticos, que é a Portaria 453/98 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde [3]. Devido ao aumento do número de procedimentos intervencionistas no Brasil, torna-se necessária a elaboração de avaliações dosimétricas e definições de padrões de qualidade. No Brasil, Canevaro [4] e Rodrigues [5] estudaram aspectos físicos, técnicos, de dosimetria de pacientes, radioproteção de trabalhadores e controle de qualidade em equipamentos de cardiologia intervencionista. Entretanto, visto que a radiação espalhada pelo paciente não é uniforme, e que as doses recebidas podem ser altas, a avaliação da radiação à qual a equipe assistencial é exposta é de extrema importância. 2. OBJETIVO Este trabalho teve como objetivo estimar e mapear a taxa de kerma no ar, na altura das gônadas, em uma sala de cardiologia intervencionista, visando localizar a região da sala mais recomendada para o posicionamento das equipes. Buscou-se otimizar a dose absorvida pelos indivíduos ocupacionalmente expostos (IOE s) à radiação ionizante, visando o menor dano para os trabalhadores. 3. MATERIAL E MÉTODOS O procedimento experimental foi realizado no Centro de Diagnóstico e Tratamento Intervencionista (CDTI) de um hospital de Porto Alegre/RS. Nesta unidade são atendidos mensalmente, em média, 360 pacientes. O equipamento avaliado foi um arco em C da marca Siemens, modelo Axion Artis Zee Floor, destinado à realização de procedimentos de cardiologia intervencionista. A dosimetria foi realizada com uma câmara de ionização (Radcal Corporation, modelo 10x5-1800cc) conectada a um monitor de radiação (Radcal Corporation, modelo 9010), posicionada na altura de 1,0m através de um tripé. Como objeto espalhador utilizou-se um simulador de tórax de polimetilmetacrilato (PMMA) de 20 cm, com simulador de coluna feito de alumínio. Inicialmente, verificaram-se todos os testes de controle de qualidade do equipamento, visando o controle e garantia da acurácia dos parâmetros físicos. Para a coleta de dados, dividiu-se a sala em quadrantes de 1m², totalizando 40 pontos de coleta, como esquematizado na Figura 1. O simulador foi posicionado de modo que a sua superfície de entrada estivesse situada no ponto de referência intervencionista (PRI), 15cm abaixo do isocentro e 60cm distante do tubo de raios X. Para a tomada de dados, foram escolhidas as condições que simulam procedimentos de angiografia e angioplastia realizados no serviço: paciente adulto; freqüência de 15 quadros/s; magnificação de 42cm; modo de RADIO 2014, Gramado, RS, Brazil.
3 exposição normal; incidência AP com angulação do aparelho em 0º. Os dados foram obtidos para altura de 1 metro, região de gônadas, sem considerar o uso de equipamento de proteção coletiva (EPC) e individual (EPI). Para cada quadrante, foram realizadas três medidas da taxa de kerma no ar, para obtenção da taxa média. Figura 1. Sala de procedimentos dividida em setores de 1m² (Fora de escala). 4. RESULTADOS Os valores da taxa de kerma no ar, em cada quadrante da sala, são apresentados na Tabela 1, considerando os quadrantes apresentados na Figura 1. Tabela 1. Taxa de kerma no ar, em µgy/h Local A 19,6±0,3 29,2±0,9 50,2±0,3 72,6±0,6 99,4±1,2 151,4±1,2 84,2±0,3 44,2±0,9 B 15,6±0,1 24±0,6 48,4±0,3 137±1,9 274,2±3,9 522,8±6,5 159,4±0,9 68,2±0,3 C 11,6±0,3 17,4±0,6 48,2±0,3 120,8±0,3 449,2±4,2 734,2±5,1 557±3,1 30,8±0,3 D 31,2±0,2 47,6±0,3 92±0,6 157±1,2 273,6±1,5 422,1±2,5 93±0,7 42,8±0,6 E 27±0,6 39±0,6 61,8±0,6 85±0,9 110,8±0,6 215,8±1,1 65,4±0,6 47,6±0,3 Radio 2014, Gramado, RS, Brazil.
4 A Figura 2 mostra uma representação dos quadrantes, no qual as faixas de valores são representadas em uma escala de cores, na qual a cor mais clara (branco) representa a maior taxa de kerma no ar (734,5 µgy/h), que ocorre na posição C5, na qual está posicionada a fonte de raios X, e as cores mais escuras (azul) representam as menores taxas. Figura 2. Representação, em escala de cores, dos valores da taxa de kerma no ar (µgy/h), sendo a cor mais clara, o maior valor. Os dados mostram o comportamento da taxa de kerma no ar diminuindo com a distância da fonte de raios X (lei do inverso do quadrado da distância), para as linhas representadas na Figura 1, como mostra o gráfico da Figura Taxa de kerma no ao (µgy/h) A B C D E Distância (m) Figura 3. Comportamento da taxa de kerma no ar (µgy/h) em função da distância da fonte de raios X. RADIO 2014, Gramado, RS, Brazil.
5 5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES De acordo com os valores de taxa de kerma no ar, apresentados na Tabela 1, nota-se os altos valores obtidos ocorrem para as regiões mais próximas do tubo de raios X e da mesa de exames, que correspondem exatamente ao local onde os profissionais de medicina permanecem mais tempo durante os procedimentos (quadrantes B4 e D4). As posições diagonais, (B3 e D3) também apresentam alta taxa de kerma no ar, reforçando a necessidade do uso do EPC tipo saiote e/ou EPI avental plumbífero. Estes resultados também destacam a importância da equipe de enfermagem posicionar-se em pontos afastados da fonte de raios X, sempre que possível, durante o procedimento. Com isso, ressalta-se a importância do programa de monitoração individual e do controle das exposições ocupacionais, além da avaliação das medidas de dosimetria para quantificar os níveis de radiação aos quais os profissionais estão expostos. Destaca-se ainda a extrema relevância da conscientização e treinamentos dos IOE s quanto uso dos recursos oferecidos pelo equipamento para redução da exposição (uso adequado de colimação, magnificação, taxa de quadros, etc), uso dos EPI s (avental plumbífero, protetor de tireóide, óculos) e EPC s (saiote e visor plumbífero), que são fatores essenciais em qualquer serviço que realize procedimentos que necessitem de radiação ionizante. Salienta-se também a importância de manter a maior distância possível do tubo de raios X, onde a exposição pode ser reduzida de acordo com a lei do inverso do quadrado da distância, como mostra a Figura 3. Este estudo evidenciou que medidas de radioproteção são essenciais em instalações que realizam procedimentos de cardiologia intervencionista, pois as altas taxas de exposição podem causar detrimentos à saúde do paciente e, principalmente dos IOE s devido longo período de tempo exposto. Pretende-se, como trabalho futuro, variar a angulação do arco em C, para obter as medidas da taxa de kerma no ar para diferentes projeções e também para diferentes alturas. Com isso, serão mapeadas as regiões de maior exposição na sala, de forma a orientar a equipe para o correto posicionamento durante as rotinas e, consequentemente, reduzir a dose das equipes assistenciais. REFERÊNCIAS 1. Sociedade de Cardiologia e Hemodinâmica do Estado do Rio de Janeiro: A Cardiologia Intervencionista do Instituto Nacional de Cardiologia INC, (2014). 2. J. A. M. S. Filho, C. O. Reis, L. T. Taniguti, L. C. Pacífico, T. L. A. SaintYves e F. A. Mecca, Estudo de dose e risco relativo de indivíduos ocupacionalmente expostos em procedimentos intervencionistas,revista Brasileira de Física Médica, 6(3), pp (2012). 3. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 453 de 1 de junho de Diretrizes de Porteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico. Diário Oficial da União, Brasília, 2 jun L. Canevaro, Aspectos físicos e técnicos da radiologia intervencionista [artigo de revisão], Revista Brasileira de Física Médica, 3(1), pp (2009). Radio 2014, Gramado, RS, Brazil.
6 5. B.B.D Rodrigues. Análise dos aspectos dosimétricos, de radioproteção e controle de qualidade em cardiologia intervencionista. Uma proposta para otimização da prática, Tese de Doutorado, Rio de Janeiro, B. Author(s), Title, Journal Name in Italic, Volume in Bold, pp (19xx). 7. C. D. Author(s), Article Title, Proceeding of Meeting in Italic, Location, Dates of Meeting, Vol. n, pp (19xx). 8. E. F. Author, Book Title in Italic, Publisher, City & Country (19xx). 9. Spallation Neutron Source: The next-generation neutron-scattering facility for the United States, (2002). RADIO 2014, Gramado, RS, Brazil.
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