SEMINÁRIO NACIONAL DIREITO DA AGRICULTURA E DA PRODUÇÃO AGRO-INDUSTRIAL COIMBRA 9 OUTUBRO 2015 COMENTÁRIOS PEDRO SERRANO O PDR 2020

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1 SEMINÁRIO NACIONAL DIREITO DA AGRICULTURA E DA PRODUÇÃO AGRO-INDUSTRIAL COIMBRA 9 OUTUBRO 2015 COMENTÁRIOS PEDRO SERRANO O PDR A Avaliação Ex-Ante Agroges foi a entidade responsável pela Avaliação ExAnte do PDR 2020 no Continente e do PRODERAM 2020 na Madeira; A Avaliação Ex-Ante tem como objectivo avaliar a adequação e coerência do programa e das suas medidas e a forma como este contribuirá para superar os principais desafios que se lhe colocam; Para o PDR 2020 equipa de avaliação acompanhou desde meados de 2013 até Outubro 2014 a elaboração do Programa, analisando sequencialmente cada uma das fases deste processo, sendo os seus comentários muitas vezes incluídos nas versões subsequentes. 2. O Desenvolvimento Rural em Portugal A política de Desenvolvimento Rural assume uma grande importância em Portugal: o Devido ao menor peso histórico do 1º pilar, comparativamente com outros países, que foi sendo compensado com reforços do orçamento de desenvolvimento rural; o O peso relativo do FEADER é assim muito superior a outros países UE15 cerca de 44%, quando a média é de 23% na UE27 e de 18% na UE15; o Para Portugal, o FEADER será, para o período de cerca de M ; o Este valor, acrescido da componente nacional, traduzir-se-á numa despesa pública de cerca de 4,17 mm para o Continente, 350 M para os Açores e 210 M para a Madeira. 3. Preparação e concepção do PDR 2020 Destaca-se a preparação atempada por parte das Autoridades portuguesas, imediatamente após a divulgação das primeiras propostas pela COM em 2011, incluindo a apresentação de um documento estratégico em Maio 2012; Isto levou a que PDR 2020 fosse um dos primeiros 9 a nível europeu a ser aprovado pela COM, em 13/12/2014 (total de 118 programas). Os programas dos Açores e Madeira foram aprovados também na fase inicial, em Fevereiro de 2015; PDR 2020 foi também um dos primeiros a abrir medidas, ainda em 2014, particularmente as medidas ligadas ao investimento; Concepção do PDR 2020 partiu de um Diagnóstico que identifica principais fragilidades do sector agro-florestal às quais o programa se deverá direccionar: 1

2 o Dois tipos de agricultura: Mais profissionalizada maior parte da SAU, da produção e do emprego assalariado, menor parte dos produtores e das explorações, maior dimensão económica e maiores produtividades, maior competitividade; Mais familiar pequena dimensão física e económica, pouca especialização, pluriactividade e plurirrendimento, muita MO familiar, pequena proporção da SAU mas maior parte das explorações, importante em termos sociais e ocupação territorial; Acesso ao PDR é mais fácil para as primeiras maior conhecimento, formação, capacidade de investimento; o Baixa formação; o Envelhecimento da população; o Falta de dimensão económica; o Reduzido grau de organização e concentração da produção, na maioria dos produtos e das regiões (apenas algumas excepções motivadas pelas políticas de mercado); o Reduzida dimensão da propriedade florestal (< 1ha/expl), muito fragmentada, elevado risco, ciclos produtivos e de retorno económico longos, pouco apetência para investimento; o Baixo nível de inovação e investigação falta de recursos humanos e materiais, insuficiente disseminação e organização; o Melhoria das condições ambientais das explorações agrícolas melhor eficiência na utilização da água, redução da utilização de fertilizantes e fitofármacos; o Necessidade de contrariar a desertificação, alterações climáticas; Concordamos genericamente com a estratégia proposta: o Visão - crescimento sustentável do sector agro-florestal em todo o território nacional; o Objectivos estratégicos e transversais - competitividade do sector agroflorestal, sustentabilidade ambiental, desenvolvimento territorial das zonas rurais, conhecimento e inovação; o Visão e objectivos decompostos em necessidades, que se concretizam em medidas e acções do PDR 2020; o A estratégia apresentada é coerente com Estratégia Europa 2020, Quadro Estratégico Comum, Acordo de Parceria e 1º Pilar; o Parte também de alguns princípios não enunciados: Continuidade com estrutura de programação do PRODER; Concentração de recursos no apoio ao sector agro-florestal, tanto no âmbito do Acordo de Parceria, como na abordagem LEADER; Afectação orçamental apesar da existência de diversas prioridades, o orçamento do PDR 2020foi afecto essencialmente a algumas medidas que correspondem a 90% da sua dotação: o Investimento agrícola e agro-industrial 31%; o Apoio a zonas desfavorecidas 20%; o Medidas agro-ambientais 16%; o Medidas florestais 13%; o Infraestruturas 9%. 2

3 4. Comentários a algumas medidas inovadoras do PDR 2020 Apoio a constituição de Agrupamentos e Organizações de Produtores (APs/OPs) e de Organizações Interprofissionais (OIPs): o APs/OPs Muito importantes no apoio ao fomento da organização da produção, concentração da oferta, aumento da capacidade negocial do sector agrícola; o Fomento do interprofissionalismo actualmente apenas existem OIPs para os sectores do leite, arroz, suínos e vinho. OIPs assumem grande importância em muitos países em termos de organização da fileira, regulação e monitorização de mercados e preços, certificação, promoção; o Estas medidas ainda não abriram, embora estivesse prevista a abertura em Abril e Agosto de 2015 respectivamente; Gestão de risco: o Sistema de seguros de colheita incorporado no PDR 2020 como forma de contrariar tendência decrescente do anterior sistema (SIPAC), financiando com verbas comunitárias; o É importante manter a hipótese de futuro alargamento do apoio à contratação de seguros de colheita a riscos associados a doenças ou pragas e acidentes ambientais; o Será interessante desenvolver a possibilidade de financiamento de apólices específicas adequadas a realidades particulares; o Fundos mutualistas previsto, mas não implementados, podem ser importantes em determinados sectores e como forma de envolvimento dos agentes de um determinado sector no financiamento de mecanismos de gestão de risco específicos; o Mecanismo de estabilização de rendimentos também previsto e não incluído, pode ser muito interessante, como percursor de um futuro sistema mais vasto, que poderá ser a tendência futura das políticas agrícolas; PEI financiamento a estratégias de inovação; publicada legislação da bolsa de iniciativas, mas medidas ainda não abriu; 5. Comentários a algumas das principais medidas do PDR 2020 Investimento explorações (medida 3.2): o Ainda não se avançou com introdução de apoio via custos simplificados, que estão previstos no programa e tornam candidaturas e análises mais simples e rápidas; o Aplicação dos critérios de selecção há critérios que só alguns produtores podem cumprir ou que não cumpríveis por novos projectos/agricultores (seguro de colheitas e pertença a OP para culturas permanentes, ou armazenamento de matérias-primas para alimentação animal); pode levar à exclusão de projectos com qualidade e rentabilidade; Transformação e comercialização de produtos agrícolas (medida 3.3): o Dúvidas quanto à delimitação com FEDER, que permite que parte dos projectos superiores a 4 M sejam apoiados por este fundo definição com base em valor total de investimento e regras e níveis de apoio diferentes poderão fazer com que beneficiários definam valor do investimento em função do Programa que preferem; 3

4 o A operacionalização desta delimitação gera também dúvidas quanto à forma como os Programas Operacionais do Portugal 2020 vão aceitar estes investimentos, uma vez que têm CAE do Anexo I do Tratado; o Por último, o MAM deixa de ter sob sua alçada o apoio a uma vertente fundamental do Complexo Agro-Florestal; Medidas agro-ambientais (medida 7): o Importante forma como foram concebidas, recuperando anteriores medidas com grande adesão e impacto ambiental positivo; o Nova medida 7.5 uso eficiente da água muito interessante, ambientalmente relevante, gerou grande procura; o Grande procura nalgumas medidas gerou dificuldades orçamentais; Medidas florestais (medida 8): o Essencialmente mantém anteriores apoios do PRODER em termos de regras e níveis de apoio; o Introduz figura dos projectos com escala territorial relevante podem ser relevantes se se concretizarem; o É necessário assegurar que apoios comecem cedo para evitar défice de execução, que geralmente acontece no sector florestal maior parte das medidas ainda não abriu ou abriu muito recentemente; Abordagem LEADER algumas preocupações: o Orçamento foi reduzido, representando agora 5% do PDR 2020, quando era de cerca de 10% no PRODER; o A sua implementação está muito atrasada ainda em fase final de selecção dos GAL e das EDL, pelo que as medidas de apoio ainda não abriram estava prevista abertura em Julho de 2015; o A inclusão obrigatória do apoio a pequenos investimentos agrícolas e agroindustriais será um desafio para os GAL, já que não têm tradição de análise de projectos agrícolas; o Por outro lado, será necessário garantir dotação financeira e alguma uniformidade de critérios para que não haja apoios substancialmente diferentes em diferentes territórios; o As medidas incluídas na abordagem LEADER serão assim muito diferentes do quadro anterior, o que associado a redução do seu orçamento poderá levar à perda de identidade desta abordagem, podendo haver dificuldade em apoiar áreas tradicionais dos GAL; o Esta nova abordagem ao LEADER gera uma dicotomia entre a necessidade de garantir uniformidade nalgumas medidas e a liberdade de definição de prioridades decorrente da perspectiva bottom-up. 6. Comentários à operacionalização do PDR 2020 O calendário de abertura de medidas não tem sido cumprido em muitas medidas, gerando alguma imprevisibilidade; O primeiro concurso das medidas 3.2 e 3.3, que decorreu no final de 2014, está com análise muito atrasada e não terá uma selecção de candidaturas por hierarquização; Temos muitas dúvidas quanto a afectação orçamental no primeiro ano de implementação de medidas de investimento, uma vez que uma parte muito substancial das verbas previstas para a totalidade do período de programação está já alocada aos concursos que já abriram em 2014 e 2015, nomeadamente: 4

5 o 49% da dotação da medida 3.1; o 62% da dotação da medida 3.2, dos quais 330 M para JA; o 50% da dotação da medida 3.3; o 50% da dotação da medida 8.1; o Esta afectação poderá ter como consequência: Não aplicação de real selecção de projectos por hierarquização, caso existe um défice de projectos face ao orçamentado, implicando ainda que sobra verba para concursos futuros; OU Caso exista um número e dimensão de projectos que esgote estas verbas, sobrará uma fatia reduzida do orçamento pouco para os concursos dos anos 2016 a 2020; Candidaturas e reforço orçamental das medidas agro-ambientais: o Grande número de candidaturas a algumas medidas agro-ambientais (MPB, ProdI e 7.5), muito superior às expectativas, levou à necessidade de reforço orçamental de 200 M (40 M /ano em 5 anos) fica a dúvida sobre se será suficiente e quais as implicações futuras desta situação. 5