A pintura de imagem* Tiago Mesquita, 2011

Transcrição

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2 A pintura de imagem* Tiago Mesquita, 2011 (...) A questão talvez seja: por que, para os artistas, a realidade e as relações da vida só podem ser apresentadas, antes de serem transformadas em visão na tela, a partir de esquemas nítidos, como imagens fotográficas, códigos de pintura. Muitos deles continuam trabalhando muito bem sem as figuras. (...) O temor é a tentação da imagem. Aí surgem outras questões. Será que a imagem fotográfica ou estruturas visuais mais rígidas apresenta um mundo mais equilibrado, mesmo nos seus desequilíbrios e faz com que a ficção se acomode em formatos estabelecidos? (...). No entanto, trabalhos com o quociente reflexivo como o de Bruno Dunley mostram que a imagem reconhecível não é só útil quando a pintura fala sobre as figuras. A partir de desenhos simples sobre tinta grossa, ele desenhou telas com silhuetas de brinquedos dos parques de diversão, casinhas em telas de uma cor só. Suas pinturas enfatizam a distância que a figura simples guarda da imagem que ela descreve. Assim, o brinquedo do parque aparece distante, quase como uma sobra da cor, como uma lembrança que aparece em um campo que pode se tornar, logo mais, monocromático. Aparece como miragem. A arte se torna uma miragem, algo que alude a um lugar que sempre está longe de nós. A figura não é necessariamente cheia de júbilo. Parece mais lidar com lampejos, com uma beleza que associamos a uma lembrança. A imagem então não é o lugar onde encontramos o mundo, mas onde ele parece ter outra forma, como em um espelho que o deforma. (...). (...) a pintura Teatro de Sombras, de Dunley, fala com clareza a passagem da imagem para a pintura. Essa é uma tela branca, de tamanho médio em que uma mão faz um gesto que supostamente projeta uma imagem de coelho no fundo da tela. Seria a imagem perfeita da construção da ilusão. Mas há algo entre a mão e a sombra que atrapalha tudo. A imagem parece desencontrada; mão e sombra já não são a mesma coisa, como se a representação e o seu resultado também se desencontrassem. (...). Talvez a fascinação não esteja, para muitos, na imagem como uma forma de ver o mundo, mas na forma de ver seu reflexo, o reflexo mais turvo. É como se o mundo se desencontrasse com o que vemos na vida. Um dos problemas do discurso da pintura acadêmica era achar que nossa visão devia se orientar pelos princípios convencionais. Hoje, nenhum artista um pouco mais sério duvida de que as convenções sejam só convenções, sejam sombras do mundo. É certo que muitos dos artistas que se voltam para as convenções da fotografia, da pintura ou para os recursos de citação, parecem entrar com deslumbre em maneiras mais palatáveis de ver. A melhor produção, entretanto, parece procurar por esse desencontro, pelo momento em que essa imagem parece se descolar do seu referente. (...). Ou ainda, quando o reflexo no espelho (a forma mais exemplar de imagem) já não parece tanto com quem está diante dele. *Trechos do texto publicado no livro Pintura brasileira Séc.XXI, ed. Cobogo, 2012

3 The painted image* Tiago Mesquita, 2011 (...) The question is perhaps: why is it that, for the artists, reality and the relationships of life can only be presented before being transformed into visions on canvas, made with clear layout as photographic images, as codes of painting? Many of them keep on working well without using figures. ( ) Fear is the temptation of the image. This is where other issues arise. Do photographic images or other rigid visual structures present a more balanced world, even in its imbalance, accommodating fiction into established formats? ( ). However, works with some degree of reflection, like those of Bruno Dunley, show that recognizable images are not only useful when the painting speaks of other figures. On simple drawings made on a thick base layer of paint, Dunley made silhouettes of fairground rides and small houses on a monochromatic background. His paintings emphasize the distance the simple figure keeps from the image it attempts to describe. Thus, the fairground ride appears distant, almost like the shadow of a colour, a memory appearing in a field that could soon become monochromatic. It appears as a mirage. Art becomes a mirage, something that alludes to a place always far away. The figure is not necessarily filled with joy, but seems rather to be dealing with flashes, with a form of beauty that we associate with a memory. The image then is not where we find the world, but where the world seems to have another form, like in a mirror that deforms it. ( ). ( ) the painting Teatro de Sombras [Shadow Theatre] by Dunley, exemplifies with enviable clarity those passages from image to painting. It is a medium sized white painting, in which a hand makes a gesture that supposedly projects the image of a rabbit onto the background. This would be the perfect image to represent the construction of illusions. But there is something between the hand and the shadow that disrupts everything. The image seems mismatched; hand and shadow are no longer the same thing, as if the representation and its result were also mismatched. Perhaps the fascination is found, by many, not in the image as a way of seeing the world, but as a way to see a reflection of it, its murkier reflex. It is as if the world were unable to meet what we see in life. One of the problems of academic painting discourse was in thinking our vision should be guided by conventional principles. Today, no serious artist has any doubt that conventions are just conventions, shadows of the world. It is true that many artists turning to the conventions of photography, of painting, or to the means of quotation, seem to engage with fascination in more palatable ways of seeing. But the best production seems to look for a mismatch, the moments in which the image seems to get away from its referent. ( ) or as when the reflection in the mirror, that most exemplary form of image, no longer resembles the person before it. *Excerpts from the text published in the book Pintura brasileira Séc.XXI, ed. Cobogo, 2012

4 no lugar onde já estamos, 2014 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 250 cm

5 sem título, 2015 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 150 cm

6 NO MEIO, 2016 óleo sobre tela/oil on canvas 160 X 120 cm

7 BODE, 2011 óleo sobre tela/oil on canvas 156,5 X 176 cm

8 lousa, 2010 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

9 teatro de sombras II, 2010 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 140 cm

10 vista da exposição/exhibition view -- os nomes, galeria marilia razuk, 2010

11 vista da exposição/exhibition view -- os nomes, galeria marilia razuk, 2010

12 vista da exposição/exhibition view -- os nomes, galeria marilia razuk, 2010

13 Sem título, 2013 óleo sobre tela/oil on canvas 250 x 200 cm

14 Retrato, 2013 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 150 cm

15 comer, beber, cagar, pintar, mijar, trepar, dormir,2015 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 150 cm

16 sem título, 2015 acrílica e óleo sobre tela/acrylic and oil on canvas 60 x 53 cm

17 sem título, 2015 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

18 sem título, 2015 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

19 drive in, 2015 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

20 navio III, 2012 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

21 sem título, 2016 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

22 medusa, 2016 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

23 sem título, 2017 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

24 danae II, 2016 óleo sobre tela/oil on canvas 183 x 140 cm

25 danae I, 2015 óleo sobre tela/oil on canvas 160 x 120 cm

26 the void, 2016 óleo sobre tela/oil on canvas 183 x 140 cm

27 álbum, 2013 óleo sobre tela/oil on canvas 250 x 200 cm

28 vista da exposição/exhibition view bis, paris, 20102

29 vista da exposição/exhibition view -- os nomes, galeria marilia razuk, 2010

30 sem título, 2014 óleo e carvão sobre tela/oil and charcoal on canvas 200 x 150 cm

31 sem título, 2014 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 150 cm

32 sem título, 2014 óleo sobre tela/oil on canvas 150 x 120 cm

33 chroma key, 2013 óleo sobre tela/oil on canvas 130 x 200 cm

34 braille IV, 2013 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 150

35 anna II, 2012 óleo sobre tela/oil on canvas 180 x 120 cm

36 sem título, 2013 óleo sobre tela/oil on canvas 260 x 200cm

37 pata de cavalo perna de bailarina, 2015 óleo sobre tela/oil on canvas 200 x 150 cm

38 the mirror, 2016 óleo sobre tela/oil on canvas 183 x 140 cm

39 Bruno Dunley é representado pela Galeria Nara Roesler Bruno Dunley is represented by Galeria Nara Roesler