Prefeituras e Partidos Políticos nos Municípios que mais Desmatam na Amazônia

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1 Prefeituras e Partidos Políticos nos Municípios que mais Desmatam na Amazônia ALLAN RAZERA 1 Introdução A Floresta Amazônica, maior área contínua de floresta tropical do planeta terra, e que contribui significativamente para que o nosso Brasil seja um dos principais países megadiversos do mundo (se não o principal), tem sido nos últimos 30 ou 40 anos, rapidamente destruída. As proporções da destruição do maior patrimônio brasileiro são inimagináveis. Cerca de 20 % da área da floresta amazônica já foi desmatada, área superior à soma dos Estados do Ceará, Amapá, Pernambuco, Santa Catarina, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe e Distrito Federal. Isso mesmo. A área desmatada da Floresta Amazônica é superior a 10 Estados brasileiros mais o Distrito Federal. Esse desmatamento absurdo, que vem sendo significativamente reduzido nos últimos 4 ou 5 anos, mas que ainda apresenta números absolutos elevados, coloca o Brasil como 4º emissor anual de Gases de Efeito Estufa (GEEs). Quando consideram-se apenas as emissões de origem fóssil (petróleo, gás, carvão etc), e não entram na conta as emissões fruto dos desmatamentos e queimadas, o Brasil passa para o 21º lugar. Isso significa que o Brasil, com os padrões de emissão por mudanças no uso do solo dos últimos 30 anos, figura-se como um dos principais emissores, tendo uma responsabilidade considerável, embora historicamente menor, no processo de aquecimento global e consequentemente por seus impactos. E o que motiva, quais as causas do desmatamento? Essa não é uma pergunta fácil, pois a dinâmica do desmatamento varia muito entre os diferentes estados e municípios da região amazônica. Não há um modelo que insira variáveis e estime quanto ocorrerá de desmatamento e onde. Alguns fatores são determinantes, como a potencial rentabilidade das atividades, as obras de infra-estrutura, o mercado de terras e a especulação imobiliária, além das ações de fiscalização. Mas inúmeros estudos de sociologia rural, especialmente os que procuram analisar os atores sociais e a conjuntura político-social dos municípios de fronteira, destacam a participação fundamental dos grandes proprietários locais, que se estabelecem como lideranças, ou coronéis, e que tem um papel central nas decisões econômicas e políticas em nível municipal. Esses líderes são os maiores proprietários, com os maiores rebanhos do município, donos dos principais mercados, postos de gasolina etc., e em geral, assumem os principais cargos políticos, como prefeitos, secretários e vereadores. Isso é facilmente observado em praticamente todos os municípios de nova fronteira agrícola. A partir deste entendimento, de que as lideranças políticas locais tem participação ímpar na dinâmica de retirada da floresta nos municípios de fronteira agrícola, duas perguntas são fundamentais: 1- Quais são os municípios que mais desmatam? e; 2- Quais as forças políticas que predominam nestes municípios? M unicípio s que m ai s de s m ata m O monitoramento do desmatamento na Amazônia é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE, desde 1988, mas os dados disponíveis em nível municipal ( são de 2001 a A partir da disponibilização destes dados, e considerando as diretrizes de prevenção, monitoramento e controle do desmatamento, expostas no decreto nº de 21 de dezembro de 2007, o Ministério do Meio Ambiente tem publicado anualmente as portarias que listam os municípios que mais desmatam na Amazônia, e que são alvo de ações específicas, detalhadas no decreto supracitado. Para a primeira identificação dos municípios prioritários foram utilizados os seguintes critérios: i) área total de floresta desmatada; ii) área total de floresta desmatada nos últimos três anos; e iii) aumento da taxa de desmatamento em pelo menos três dos últimos cinco anos. A Portaria nº 28 de 24 de janeiro de 2008, apresenta a primeira lista prioritária, com 36 municípios. No Amazonas: Lábrea; no Mato Grosso: Alta Floresta, Aripuanã, Brasnorte, Colniza, Confresa, Cotriguaçu, Gaúcha do Norte, Juara, Juína, Marcelândia, Nova Bandeirantes, Nova Maringá, Nova Ubiratã, Paranaíta, Peixoto de Azevedo, Porto dos Gaúchos, Querência, São Félix do Araguaia e Vila Rica; no Pará: Altamira, Brasil Novo, Cumaru do Norte, Dom Eliseu, Novo Progresso, Novo Repartimento, Paragominas, Rondon do Pará, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia, São Félix do Xingú e Ulianópolis; e em Rondônia: Nova Mamoré, Porto Velho, Machadinho D' Oeste e Pimenta Bueno. 1 Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Especialista em Geoprocessamento (IG/UnB), Mestre em Ciências de Florestas Tropicais (INPA).

2 A Portaria nº 102 de 24 de março de 2009, acresce à lista anterior mais 07 municípios prioritários, totalizando 43 municípios. Foram acrescidos no Pará: Pacajá, Marabá, Itupiranga e Tailândia; no Mato Grosso: Feliz Natal; no Maranhão: Amarante do Maranhão; e em Roraima: Mucajaí. Esta portaria estabelece como critérios para a inserção dos municípios à lista de prioritários: i) área total de floresta desmatada; ii) área total de floresta desmatada nos últimos três anos; iii) aumento da taxa de desmatamento em pelo menos três dos últimos cinco anos; iv) desmatamento em 2008 igual ou superior a 200 km²; e v) ocorrência de 4 (quatro) aumentos do desmatamento nos últimos 5 (cinco) anos e cuja soma do desmatamento nos últimos 3 (três) anos tenha sido igual ou superior a 90 km². E a Portaria nº 66 de 24 de março de 2010, mantém a lista de municípios prioritários divulgada em 2009, considerando como critérios de inclusão: i) área total de floresta desmatada; ii) área total de floresta desmatada nos últimos três anos; iii) aumento da taxa de desmatamento em pelo menos três, dos últimos cinco anos; iv) desmatamento em 2009 igual ou superior a 150 km²; e v) ocorrência de 4 (quatro) aumentos do desmatamento nos últimos 5 (cinco) anos e cuja soma do desmatamento nos últimos 3 (três) anos tenha sido igual ou superior a 90 km². O desmatamento ocorrido nos 43 municípios prioritários, no período de 2001 a 2009, é apresentado na tabela abaixo: Tabela 01. Desmatamento anual nos 43 municípios prioritários, em km², para o período de 2001 a A área total desmatada nos 43 municípios, para o período de 2001 a 2009, foi de ,80 km², o que representa 50,82 % de todo o desmatamento ocorrido na Amazônia no mesmo período, que foi de km². Ou seja, mais da metade do desmatamento ocorrido neste período concentrou-se nestes 43 municípios, o que indica que estes reúnem as principais forças políticas responsáveis pelo desmatamento recente da Amazônia.

3 Força s política s predominante s no s municípios que m ai s de s matam Para identificar as representações político-partidárias predominantes nos 43 municípios que mais desmatam, foram levantados para o período de 2001 a 2009 os dados eleitorais relativos aos prefeitos eleitos nas eleições de 2000, 2004 e 2008, seus partidos e coligações, disponíveis no site do tribunal superior eleitoral. Tabela 02. Prefeitos eleitos, partidos e coligações nos 43 municípios que mais desmatam, nas eleições de 2000, 2004 e Para a última eleição, de 2008, não estão disponíveis os dados de coligação partidária no site do tribunal superior eleitoral ( e por isso não

4 constam na tabela 02. As coligações em nível municipal mostram-se muito dinâmicas espacial e temporalmente. Não há um padrão determinado nas coligações. Há casos diversos, como o da eleição de 2000 no município de Querência-MT, em que o prefeito eleito pelo PMDB, apresentava em sua coligação P S DB, PP S e PT. Dessa forma, procurou-se considerar os partidos eleitos para os cargos das prefeituras, de forma a identificar a representação dos partidos nos municípios que mais desmatam. Tabela 03. Partidos vitoriosos nas eleições para prefeito de 2000, 2004 e 2008, nos 43 municípios que mais desmatam, e a área desmatada em cada município para cada período de gestão. Na tabela 03 é possível observar a área desmatada em cada um dos 43 municípios prioritários, para cada período de gestão municipal. Procurou-se aqui apenas identificar a área desmatada em cada período e correlacioná-la com os partidos eleitos, de forma a se ter um cenário em relação a quais são os partidos mais atuantes no processo de desmatamento em nível municipal. Para o período referente à gestão da eleição de 2000, é apresentada na tabela 04 a participação, por Partido, no desmatamento total nos 43 municípios. O desmatamento ocorrido em toda a Amazônia, de acordo com os dados do INPE, para o período de 2001 a 2004, foi de km², e o desmatamento nos 43 municípios prioritários, para o mesmo período, foi de ,40 km², o que representa 51,77 % de todo o desmatamento. Neste período, o P S DB aparece como o partido com maior número de prefeituras (12), seguido por PFL, hoje DEM, e PMDB com 8 prefeituras, PTB com 5 prefeituras, PDT com 4 prefeituras e PP S com 3 prefeitos eleitos. P SB, P ST e PT aparecem com 1 prefeitura cada. Em relação à área desmatada nos municípios e o percentual de desmatamento em relação ao total dos 43 municípios para o período de 2001 a 2004, por partido, observa-se que os municípios sob gestão do P S DB são responsáveis ,20 km² de área desmatada, o que representa 27,96 % do desmatamento ocorrido

5 nos 43 municípios. O PFL (hoje DEM) aparece como segundo partido com maior representação na área desmatada no período (9.071,30 km²) o que representa 18,84 %. O PMDB esteve responsável pela gestão de municípios que tiveram 9.045,70 km² de área desmatada, representando 18,79 %. O PTB aparece com 16,91 %, por ter sido responsável pela gestão de municípios que desmataram 8.140,30 km². O PDT vem em seguida com 4.815,70 km² e 10 % de toda área desmatada nos 43 municípios. O PP S teve 4,79 % em função de uma área desmatada de 2.304,70 km². Depois aparece o PT com 693,60 km² desmatados no município de Juína-MT, ou 1,44 % da área desmatada. O P SB, com a gestão do município de Pimenta Bueno-R O, esteve responsável por 319,20 km² ou 0,66 %. E o P ST teve a gestão de Mucajaí, em Roraima, que desmatou no período 286,70 km², ou 0,60 % da área desmatada no período de 2001 a 2004, nos 43 municípios que mais desmatam. Tabela 04. Participação, por partido, no desmatamento ocorrido nos 43 municípios que mais desmatam, no período de 2001 a 2004, referente à gestão do prefeito eleito em Para o período referente à gestão da eleição de 2004, é apresentada na tabela 05 a participação, por Partido, no desmatamento total nos 43 municípios. O desmatamento ocorrido em toda a Amazônia, de acordo com os dados do INPE, para o período de 2005 a 2008, foi de km², e o desmatamento nos 43 municípios prioritários, para o mesmo período, foi de ,70 km², o que representa 51,08 % de todo o desmatamento.

6 Neste período, o P S DB aparece como o partido com maior número de prefeituras (6), seguido por PP S, PTB e PMDB com 5 prefeituras, P P, PL e PT com 4 prefeituras, PDT e P SB com 2 prefeituras, e PFL (DEM), PHS, PMN, PR P, P S C e P SL aparecem com 1 prefeitura cada. Tabela 05. Participação, por partido, no desmatamento ocorrido nos 43 municípios que mais desmatam, no período de 2005 a 2008, referente à gestão do prefeito eleito em Em relação à área desmatada nos municípios e o percentual de desmatamento em relação ao total dos 43 municípios para o período de 2005 a 2008, por partido, observa-se que os municípios sob gestão do PMDB foram responsáveis por 5.964,30 km² de área desmatada, o que representa 20,18 % do desmatamento ocorrido nos 43 municípios. O P S DB aparece como segundo partido com maior representação na área desmatada no período (4.203,40 km²) o que representa 14,22 %. O PT esteve responsável pela gestão de municípios que tiveram 3.188,50 km² de área desmatada, representando 10,79 %. O PP S teve 10,08 % em função de uma área desmatada de 2.979,40 km². O PTB, com 2.429,80 km² e 8,22 %. O P SB aparece com 7,90 %, por ter sido responsável pela gestão de municípios que desmataram 2.334,50 km². PL, P P, PDT, PMN, P SL, PR P, PFL (DEM), P S C e PHS tiveram, em área desmatada e percentual do total desmatado nos 43 municípios, respectivamente, km² e 7,03 %, 1.667,40 km² e 5,64 %, 1.531,50 km² e 5,18 %, 918,50 km² e 3,11 %, 627,90 km² e 2,12 %, 590,50 km² e 2 %, 503 km² e 1,70 %, 331,60 km² e 1,12 %, e 208,40 km² e 0,71 %.

7 Para o período referente à gestão da eleição de 2008, os dados de desmatamento por municípios disponíveis no site do INPE referem-se apenas a 2009, não estando ainda disponíveis os dados de Na tabela 06 é apresentada a participação, por Partido, no desmatamento total nos 43 municípios. O desmatamento ocorrido em toda a Amazônia, de acordo com os dados do INPE, para o ano de 2009, foi de km², e o desmatamento nos 43 municípios prioritários foi de 2.757,70 km², o que representa 36,95 % de todo o desmatamento. Os resultados das eleições de 2008 colocam o PMDB como o partido com maior número de prefeituras (7), seguido por P S DB e P R com 6 prefeituras, DEM e PT aparecem com 4 prefeituras cada, PDT, PP S, P SB e PTB com 3 prefeituras, PP com 2 prefeitos eleitos e P RP e PV aparecem com 1 prefeitura cada. Tabela 06. Participação, por partido, no desmatamento ocorrido nos 43 municípios que mais desmatam, no ano de 2009, referente à gestão do prefeito eleito em Em relação à área desmatada nos municípios e o percentual de desmatamento em relação ao total dos 43 municípios para o ano de 2009, por partido, observa-se que os municípios sob gestão do P S DB foram responsáveis 819,8 km² de área desmatada, o que representa 29,73 % do desmatamento ocorrido nos 43 municípios. O PTB aparece como segundo partido com maior representação na área desmatada no período (502,30 km²) o que representa 18,21 %. O P SB esteve responsável pela gestão de municípios que tiveram 328,6 km² de área desmatada, representando 11,92 %. O PT aparece com 8,66 %, por ter sido responsável pela gestão de municípios que desmataram 238,8 km². O PR vem em seguida com 229,2 km² e 8,31 % de

8 toda área desmatada nos 43 municípios. O PMDB teve 7,32 % em função de uma área desmatada de 201,80 km². Depois aparece o DEM com 137,6 km² desmatados, ou 4,99 % da área desmatada. O PDT esteve responsável por 103,70 km² ou 3,76 %. O PP S teve sob sua gestão municípios que desmataram 85,50 km² em 2009, ou 3,10 % da área desmatada. PP e PV, tiveram responsáveis por municípios que desmataram 55,8 km² e 28,6 km², respectivamente. Re sultado s C on solidado s para o Período A partir dos dados apresentados, pode-se identificar quais os partidos políticos que estiveram responsáveis pela gestão dos municípios que mais desmataram no período de 2001 a A tabela 07 traz esses dados agregados, ilustrados na figura 01. Tabela 07. Participação, por partido, no desmatamento ocorrido nos 43 municípios que mais desmataram, no período de 2001 a Partido Área Desmatada Área Desmatada (km²) (%) PSDB ,40 22,97% PMDB ,80 18,91% PTB ,40 13,76% DEM/PFL 9.711,90 12,07% PDT 6.450,90 8,02% PPS 5.369,60 6,67% PT 4.120,90 5,12% PSB 2.982,30 3,71% PL 2.077,00 2,58% PP 1.723,20 2,14% PMN 918,50 1,14% PSL 627,90 0,78% PRP 616,50 0,77% PSC 331,60 0,41% PST 286,70 0,36% PR 229,20 0,28% PHS 208,40 0,26% PV 28,6 0,04% Total ,80 100,00% Fonte: PRODES/INPE e TSE Figura 01. Participação, por partido, no desmatamento ocorrido nos 43 municípios que mais desmataram, no período de 2001 a , , , , , , , , , ,00 0,00 PSDB PMDB PTB DEM/PFL PDT PPS PT PSB PL PP PMN

9 C onclu sõe s O principal impacto ao meio ambiente da história do Brasil, unanimidade entre todos os especialistas e ambientalistas, é o desmatamento. Os diferentes biomas tem sido sistematicamente convertidos, e a biodiversidade agoniza pela restrição de seus habitats a pequenos remanescentes. Os impactos do desmatamento não se restringem à diminuição de abundância e riqueza de espécies. Os cursos d água, os rios, os mananciais, são fortemente impactados pela retirada da vegetação nativa. A emissão de GEEs fruto do desmatamento é imensa, e coloca o Brasil como um dos maiores poluidores do mundo, mesmo sendo nossa matriz energética considerada limpa. A identificação dos partidos responsáveis pela gestão dos municípios que mais desmatam é fundamental para contribuir para uma melhor compreensão do processo de perda da floresta amazônica. Nesse ensaio é possível observar o P S DB como o partido de maior representação nos 43 municípios que mais desmatam, e que representaram mais da metade de todo o desmatamento da Amazônia ocorrido no período de 2001 a 2009, seguido de PMDB, PTB, DEM, PDT, PP S e PT, conforme pode-se observar na tabela 07 e figura 01. É importante considerar que a análise sócio-política do desmatamento é uma área fundamental, mas pouco explorada nas análises de pesquisadores, e a qual a sociedade não tem acesso. É necessário avaliar se mudanças partidárias refletem diretamente na área desmatada em nível municipal, a partir de análises que contemplem maior número de municípios e períodos maiores, e que também sejam confrontadas à dinâmica nacional do desmatamento. A influência dos governos estaduais e federais no desmatamento em nível municipal também foram pouco exploradas, acredito que em virtude da disponibilização recente de dados em nível municipal. A relação dos representantes municipais com os deputados estaduais, deputados federais, senadores, e lideranças partidárias é área de pesquisa extremamente importante para o entendimento do processo de ocupação e desmatamento na Amazônia brasileira, especialmente identificando os membros e a composição partidária da bancada ruralista, grupo que defende abertamente os grandes proprietários de terra do país, e que, por exemplo, tenta reformar o Código Florestal de forma a anistiar proprietários de terras multados por desmatamento ou pelo descumprimento de leis ambientais, incentivando a continuidade desse processo. A redução do desmatamento observada nos últimos anos é louvável e demonstra que é possível que os governos atuem efetivamente na sua redução. Entretanto, não há garantias de que o desmatamento irá continuar com essa trajetória descendente, pois o cenário econômico (especialmente dos preços da soja e carne bovina), as boas condições cambiais e ações de fiscalização e combate ao desmatamento foram determinantes para esta redução. É preciso mais. É necessário zerar o desmatamento ilegal em curto prazo e estabelecer limites futuros aos desmatamentos legais. È fundamental que os projetos de infra-estrutura, especialmente os que permitem o acesso às áreas de floresta, como as grandes estradas federais BR 319, BR 163, BR 230 etc., sejam conduzidos tendo como pressupostos básicos o controle à ocupação e ao desmatamento, pois muitos projetos ditos sustentáveis, e que procuraram envolver toda a sociedade, não se mostraram suficientes para conter o desmatamento. É preciso prioridade, investimento, efetiva preocupação com o nosso maior patrimônio ambiental.