Análise do desmatamento na área florestal de Mato Grosso de Agosto de 2014 a Janeiro de 2015

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1 de Agosto de 2014 a Janeiro de 2015 Ana Paula Valdiones, Alice Thuault, Laurent Micol, Ricardo Abad O desmatamento voltou a crescer na Amazônia e em Mato Grosso. Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) 1, do Imazon, o desmatamento na Amazônia atingiu quilômetros quadrados no período de agosto de 2014 a janeiro de 2015 (primeiro semestre do calendário do desmatamento desse ano). Isso representa um aumento de 213% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mato Grosso foi responsável por cerca de 45% desse aumento. Analisamos aqui os dados do SAD para o estado de Mato Grosso no período, considerando os tamanhos das áreas desmatadas, as categorias fundiárias 2 e os municípios onde os desmatamentos ocorreram. Aprofundamos a análise para Colniza, município que apresentou o maior desmatamento absoluto no estado e para Cotriguaçu, município vizinho. A retomada do desmatamento em Mato Grosso nos últimos seis meses é alarmante, pois, nesse período, o estado já superou o desmatamento total do ano anterior. Revela que parte dos proprietários rurais continua apostando na impunidade, na crença de que as regras do código florestal e as limitações para comercialização de produtos agropecuários oriundos de desmatamentos ilegais não serão mantidas ou poderão ser fraudadas. Revela também fragilidades estruturais de governança, especialmente no tocante à regularização fundiária. Essa situação requer uma atuação forte e imediata dos órgãos ambientais para evitar uma alta ainda mais significativa do desmatamento, colocando em cheque o cumprimento das metas de redução do desmatamento do estado. Requer também um aprofundamento das medidas estruturais de regularização ambiental e fundiária dos imóveis rurais e fortalecimento da gestão ambiental dos municípios, que são prioridades do Programa Mato-grossense de Municípios Sustentáveis. Estatísticas do desmatamento para Mato Grosso O desmatamento total detectado pelo SAD entre Agosto de 2014 e Janeiro de 2015 foi de 579 quilômetros quadrados, um aumento de 665% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa área já supera todo desmatamento detectado pelo SAD no ano anterior, de Agosto de 2013 a Julho de 2014, que foi de 411 quilômetros quadrados (Figura 1). 1 Boletim de desmatamento da Amazônia Legal (janeiro de 2015) SAD. Disponível em: Janeiro2015.pdf 2 Os dados de Cadastro Ambiental Rural (CAR) da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-MT) utilizados são de maio de Cuiabá-MT, Fevereiro de 2015

2 Desmatamento (km²) Análise do desmatamento na área florestal de Mato Grosso agosto 2013 a julho 2014 agosto 2014 a janeiro 2015 Figura 1: Desmatamento na área florestal de Mato Grosso de agosto de 2013 a janeiro de 2015 Quanto ao tamanho das áreas desmatadas, os desmatamentos de 10 a 50 hectares e de 50 a 100 hectares representaram, ambos, 23% do total, contra 26% para os desmatamentos de 100 a 250 hectares e 21% para os desmatamentos entre 250 e 500 hectares (Figura 2). Com relação ao ano mesmo período do ano passado, a proporção dos desmatamentos menores que 100 hectares aumentou significativamente, passando de 21% para 46% do total. 2% 0% 21% 5% 23% <10 hectares hectares hectares hectares 26% 23% hectares hectares >1000 hectares Figura 2: Desmatamento em Mato Grosso por classe de tamanho dos polígonos entreagosto 2014 e janeiro 2015 A maior parte do desmatamento ocorreu em imóveis rurais, representando 85% do total, sendo 44% em propriedades rurais cadastradas no Sistema de Licenciamento e Monitoramento das propriedades rurais (Simlam). A área desmatada em assentamentos representou 13% do total detectado e, em terras indígenas, 2% (Figura 3). Cuiabá, Mato Grosso Fevereiro de

3 Degradação Florestal (Km²) Análise do desmatamento na área florestal de Mato Grosso 2% 0% 13% Assentamento 44% 41% Imóveis rurais não cadastrados no Simlam Imóveis rurais cadastrados no Simlam Terra Indígena Unidade de Conservação Figura 3: Desmatamento em Mato Grosso por categoria fundiária entre agosto de 2014 a janeiro de 2015 Estatísticas da degradação florestal para Mato Grosso A degradação florestal total detectada pelo SAD entre agosto de 2014 a janeiro de 2015 foi de quilômetros quadrados, um aumento de 937% em relação ao mesmo período do ano anterior (Figura 4) agosto 2013 a julho 2014 agosto 2014 a janeiro 2015 Figura 4: Degradação florestal em Mato Grosso entre agosto de 2013 e janeiro de 2015 Fonte: SAD/ Imazon A degradação florestal concentrou-se nos imóveis rurais cadastrados no Simlam (Figura 5), representando 48% do total. Os imóveis rurais não cadastrados representaram 31% e, as Terras Indígenas, 19%. Quanto aos assentamentos, responderam por apenas 2% do total detectado. Cuiabá, Mato Grosso Fevereiro de

4 0% 2% 19% Assentamentos 31% Imóveis rurais não cadastrados no Simlam Imóveis rurais cadastrados no Simlam Terras Indígenas 48% Unidades de Conservação Figura 5: Degradação florestal em Mato Grosso por categoria fundiária entre agosto de 2014 e janeiro de 2015 Fonte: SAD/ Imazon Desmatamento e degradação florestal nos Municípios Vinte municípios de Mato Grosso foram responsáveis por 80% do total da área desmatada no período (Mapa 1). Área desmatada em km² Mapa 1: Desmatamento por município entre agosto de 2014 e janeiro 2015 Fonte: SAD/Imazon, Análise: ICV Cuiabá, Mato Grosso Fevereiro de

5 Colniza liderou o ranking do desmatamento no período, com de 74 quilômetros quadrados de área desmatada, seguido de Feliz Natal e Cláudia (Tabela 1). Tabela 1: Municípios com maiores áreas desmatadas entre agosto de 2014 e janeiro de 2015 Ranking do desmatamento Municípios Desmatamento de agosto 2014 a janeiro 2015 (km²) 1 Colniza* 74 2 Feliz Natal* 52 3 Cláudia* 32 4 Itanhangá* 24 5 Juína* 24 6 União do Sul* 22 7 Porto dos Gaúchos 22 8 Nova Ubiratã 20 9 Itaúba* Juara* Nova Bandeirantes* Aripuanã* Cotriguaçu* Peixoto de Azevedo* Nova Maringá* Marcelândia* Gaúcha do Norte* Tapurah Confresa 8 20 Ribeirão Cascalheira 8 Total 413 * Municípios que constam na lista dos 20 com maior área desmatada no Prodes 2013/14 Cuiabá, Mato Grosso Fevereiro de

6 Os Casos de Colniza e Cotriguaçu Para fins de refinamento da análise no município de Colniza, utilizamos cinco imagens Landsat do período agosto de 2014 a janeiro de 2015 para realizar o mapeamento dos polígonos de desmatamento por identificação visual. Também realizamos esse mapeamento para o município vizinho de Cotriguaçu. O resultado confirmou um desmatamento de 71,4 quilômetros quadrados em Colniza e 5,9 quilômetros quadrados em Cotriguaçu no período (Mapa 2). Mapa 2: Desmatamento em Colniza e Cotriguaçu entre agosto de 2014 e janeiro de 2015 Fonte: ICV Parte dos desmatamentos em Colniza se concentra numa área localizada a cerca de 40 km a noroeste da sede do município. Essa área sofreu uma forte degradação detectada nas imagens de agosto de 2014, sem recuperação nos meses subsequentes, indicando processo de desmatamento. Outras áreas de concentração de desmatamentos estiveram localizadas nas proximidades da rodovia principal, a cerca de 70 km da sede municipal, e a cerca de 120 km, no setor Guariba. Além dessas, houve 15 ocorrências de desmatamentos maiores que 100 hectares, localizados principalmente na região oeste do município, no setor Guatá (Mapa 2). Cuiabá, Mato Grosso Fevereiro de

7 Diferindo das observações para o estado, 69% do desmatamento em Colniza concentrou-se em áreas de imóveis rurais ainda não cadastrados no Simlam (Figura 4). 1% 5% 25% Assententamento 69% Imóveis rurais não cadastrados no Simlam Imóveis rurais cadastrados no Simlam Unidades de Conservação Figura 4: Desmatamento em Colniza por categoria fundiária, agosto janeiro 2015 Quanto ao tamanho das áreas desmatadas, aquelas entre 10 e 50 hectares tiveram uma participação maior (31%) que no total estadual (Figura 5). 16% 9% 13% 17% 14% 31% <10 hectares hectares hectares hectares hectares hectares Figura 5: Desmatamento em Colniza por classes de tamanho, agosto janeiro 2015 Segundo informações locais, os desmatamentos pulverizados correspondem a processos especulativos de ocupação ilegal de áreas sem regularização fundiária (grilagem), enquanto os desmatamentos maiores visam à valorização da terra com a implantação de pastagens. Em contraste, o município de Cotriguaçu, que é participante do Programa Mato-grossense de Municípios Sustentáveis (PMS), não sofreu um surto de desmatamento no mesmo nível de Colniza. As ocorrências no período ficaram concentradas na porção norte do Assentamento Nova Cotriguaçu (Mapa 2), sendo todas com tamanho inferior a 100 hectares. Cuiabá, Mato Grosso Fevereiro de