Aspectos posturais e morfológicos do sistema estomatognático de crianças respiradoras nasais e orais: abordagem antroposcópica

Transcrição

1 1 Aspectos posturais e morfológicos do sistema estomatognático de crianças respiradoras nasais e orais: abordagem antroposcópica Palavras chave: Face, Criança, Respiração bucal Objetivo: comparar os aspectos posturais e morfológicos do sistema estomatognático de crianças respiradoras orais e de crianças sem queixas fonoaudiológicas. Método: A pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética de Projetos de Pesquisa da Instituição de origem sob o n o 096/04. Foram avaliadas 100 crianças respiradoras orais, na faixa etária entre sete anos e 11 anos e 11 meses, sendo 51 (51%) do sexo masculino e 49 (49%) do sexo feminino. Os critérios de inclusão das crianças foram diagnóstico otorrinolaringológico de respiração oral, alteração funcional da respiração, ser leucoderma e estar em dentição mista. Os critérios de exclusão das crianças foram histórico de tratamento fonoaudiológico, de cirurgia facial e/ou faríngea, de síndrome e/ou doença neurológica e/ou úvula bífida, de malformações craniofaciais e de tratamento ortodôntico e/ou ortopédico facial e/ou craniomandibular e/ou de disfunção da articulação temporomandibular. Inicialmente, o otorrinolaringologista realizou a avaliação otorrinolaringológica, composta por exame físico e radiológico. Ao confirmar que a criança era respiradora oral, foi verificado se a mesma respeitava os critérios de inclusão e exclusão. Foi realizada, então, avaliação fonoaudiológica dos aspectos posturais dos lábios e de língua e dos aspectos morfológicos - palato duro e mordida -, por meio da antroposcopia. Foi solicitado à criança que permanecesse sentada, com os pés apoiados no chão, com a cabeça na posição habitual. Os lábios em posição habitual foram classificados em ocluídos ou ou abertos. A posição habitual de língua foi classificada em na papila ou outras posturas de língua. A mordida e o palato duro foram classificados em normal ou alterado. O grupo controle foi composto de 174 crianças, na faixa etária entre sete e 11 anos e 11 meses, sendo 88 (50,6%) do sexo masculino e 86 (49,4%) do sexo feminino, leucodermas, em dentição mista, sem histórico de tratamento fonoaudiológico e sem queixas fonoaudiológicas. Os procedimentos de coleta e critérios de análise foram semelhantes nas crianças do grupo controle e nas respiradoras orais. A análise da associação entre a idade e as características posturais e morfológicas do sistema estomatognático foi feita pelo teste de associação pelo qui-quadrado. Todas as análises foram realizadas utilizando o pacote estatístico SPSS para Windows versão 12.0, sendo considerado nível de significância de 5%. Resultados: Os grupos se

2 2 diferiram quanto à posição habitual de lábios, sendo que os respiradores orais tiveram maior ocorrência de lábios ou abertos, apresentando diferença estatística. Quanto à posição habitual de língua, não foi observada diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Ao comparar o grupo controle com as crianças respiradoras orais, foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre as porcentagens da mordida e do palato duro, onde observou-se maior número de respiradores orais com alterações desses aspectos (Tabela 1). Aos 7 anos, foi verificada diferença estatística entre os grupos, onde os respiradores orais apresentaram maior ocorrência de lábios ou abertos. Aos 8 anos, foi verificada diferença estatisticamente significativa entre os grupos para a posição habitual de lábios e para mordida, onde os respiradores orais apresentaram maior porcentagem de lábios ou abertos e. Aos 9 anos, observou-se diferença significativa entre os grupos quanto à posição habitual de lábios, mordida e palato, sendo que os respiradores orais apresentaram mais ocorrência de alteração desses aspectos. Aos 10 anos, o grupo controle se diferiu dos respiradores orais quanto à posição habitual de língua, mordida e palato duro. Aos 11 anos, os grupos foram estatisticamente diferentes no que se refere à mordida, apresentando maior frequência de alteração desse aspecto avaliado nas crianças respiradoras orais (Tabela 2). Conclusão: os aspectos posturais e morfológicos do sistema estomatognático dos respiradores orais, em sua maioria, foram estatisticamente diferentes do grupo controle, o que aponta alterações nas características avaliadas nas crianças com respiração oral. Tabela 1. Sexo, idade e aspectos morfológicos e posturais do sistema estomatognático Variável Categoria Grupo controle Crianças respiradoras p orais Sexo Masculino 88 (50,6) 51 (51) 0,946 Feminino 86 (49,4) 49 (49) Idade 7 39 (22,4) 31 (31) 0, (25,3) 22 (22) (27) 31 (17,8) 13 (7,5) 21 (21) 12 (12) 14 (14) Posição habitual ocluídos 94 (54) 25 (25) 0 001*

3 3 de lábios ou abertos 80 (46) 75 (75) Posição habitual de língua papila outras 15 (8,6) 159 (91,4) 2 (2,9) 68 (97,1) Mordida normal 65 (37,4) 12 (12) alterada 109 (62,6) 88 (88) Palato duro normal 96 (55,2) 36 (36) alterado 78 (44,8) 64 (64) Legenda: N=número; %=porcentagem; p*: diferença estatística pelo teste qui-quadrado 0, * 0,002* Tabela 2. Aspectos morfológicos e posturais do sistema estomatognático, segundo idade Idade Aspectos morfológicos e Grupo controle Crianças p posturais respiradoras orais 7 lábios ocluídos 21 (53,8) 18 (46,2) 4 (10,3) 35 (89,7) 10 (25,6) 29 (74,4) 17 (43,6) 6 (19,4) 25 (80,6) 1 (4,2) 23 (95,8) 8 (25,8) 23 (74,2) 14 (45,2) 0,003* 0,385 0,987 0,895 palato duro alterado 22 (56,4) 17 (54,8) 8 lábios ocluídos 27 (61,4) 17 (38,6) 3 (6,8) 41 (93,2) 18 (40,9) 26 (59,1) 25 (56,8) 5 (22,7) 17 (77,3) 14 (100) 2 (9,1) 20 (90,9) 9 (40,9) 0,003* 0,316 0,008* 0,223 palato duro alterado 19 (43,2) 13 (59,1) 9 lábios ocluídos 24 (51,1) 23 (48,9) 6 (12,8) 41 (87,2) 5 (23,8) 16 (76,2) 16 (100) 0,036* 0,133

4 4 palato duro alterado 19 (40,4) 28 (56,6) 25 (53,2) 22 (46,8) 2 (9,5) 19 (90,5) 5 (23,8) 16 (76,2) 10 lábios ocluídos 16 (51,6) 6 (50) 15 (48,4) 6 (50) 1 (12,5) 31 (100) 7 (87,5) 11 (35,5) 20 (64,5) 12 (100) 19 (61,3) 2 (16,7) palato duro alterado 12 (38,7) 10 (83,3) 11 lábios ocluídos 6 (46,2) 3 (21,4) 7 (53,8) 11 (78,6) 2 (15,4) 11 (84,6) 8 (100) 7 (53,8) 6 (46,2) 14 (100) 10 (76,9) 6 (42,9) palato duro alterado 3 (23,1) 8 (57,1) Legenda: N=número; %=porcentagem; ;p*: diferença estatística pelo qui-quadrado 0,011* 0,022* 0,924 0,046* 0,017* 0,009* 0,173 0,243 0,001* 0,072 Referências Andrade FV, Andrade DV, Araújo AS, Ribeiro ACC, Deccax LDG, Nemr K. Alterações estruturais de órgãos fonoarticulatórios e más oclusões dentárias em respiradores orais de 6 a 10 anos. Rev Cefac 2005;7(3): Cattoni DM, Fernandes FD, Di Francesco RC, Lattore MRDO. Características do sistema estomatognático de crianças respiradoras orais: enfoque antroposcópico. Pró-Fono 2007;19(4): Cattoni DM, Fernandes FD, Di Francesco RC, Lattore MRDO. Estudo sobre as medidas faciais em crianças: correlações com alteração de mordida e uso de aparelho ortodôntico. Rev Soc Bras Fonoaudiol 2005;10(1):1-6. Ferrario VF, Dellavia AC, Zanotti G, Sforza C. Soft tissue facial anthropometry in Down syndrome subjects. J Craniofac Surg 2004;15(3): Harding C, Gourlay S. New developments in the management of speech and language disorders. Arch Dis Child 2008;93(5):425-7.

5 5 Junqueira PAS, Di Francesco RC, Trezza P, Zeratti FE, Frizzarini R, Faria MEJ. Alterações funcionais do sistema estomatognático pré e pós-adenoamigdalectomia. Pró-fono 2002;14(1): Lessa FCR, Enoki C, Feres MFN, Valera FCP, Lima WTA, Matsumoto MAN. Influência do padrão respiratório na morfologia craniofacial. Rev Bras Otorrinolaringol 2005;71(2): Porter JP. The average African American male face: an anthropometric analysis. Arch Facial Plast Surg 2004;6: Ribeiro F, Bianconi CC, Mesquita MCM, Assencio-Ferreira VJ. Respiração oral: alterações oclusais e hábitos orais. Rev Cefac 2002;4(3): Rodrigues HOSN, Faria SR, Paula FSG, Motta AR. Ocorrência de respiração oral e alterações miofuncionais orofaciais em sujeitos em tratamento ortodôntico. Rev Cefac 2005;7(3): Sabatoski CV, Maruo H, Camargo ES, Oliveira JHG. Estudo comparativo de dimensões craniofaciais verticais entre crianças respiradoras bucais e nasais. J Bras Ortodon Ortop Facial 2002;7(39): Sigolo C, Tessitore A, Silveira MC et. al. Ocorrência de movimentos primários de língua em crianças respiradoras orais. Rev Cefac 2008;10(1):51-7. Seikel JA, King DW, Drumright DG. Physiology of mastication and deglutition. In: Seikel JA, King DW, Drumright DG. Anatomy & physiology for speech, language, and hearing. 3 rd edition. New York: Thomson; p Tessitore A, Crespo NA. Análise radiográfica da posição habitual de repouso da língua. Prófono 2002;14(1):7-16. Trawitzki LVV, Anselma-Lima WT, Melchior MO. Aleitamento e hábitos orais deletérios em respiradores orais e nasais. Rev Bras Otorrinolaringol 2005;71(6):