INSTITUTO MATOGROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA IMEA RELATÓRIO TÉCNICO SOBRE PREVIDÊNCIA RURAL

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1 INSTITUTO MATOGROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA IMEA RELATÓRIO TÉCNICO SOBRE PREVIDÊNCIA RURAL Alterações na forma de recolhimento do INSS dos trabalhadores rurais são refletidas diretamente na renda dos produtores, e quando isto ocorre é necessário um estudo para averiguar as consequências deste fato 1. Introdução O Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (Funrural) foi criado em 1963 através da Lei 4.214/63, que pela primeira vez no país generalizou a proteção trabalhista rural, com a implantação do Estatuto do Trabalhador Rural. Neste contexto, no dia 3 de fevereiro de 2010 o Supremo Tribunal Federal, por meio de um Recurso Extraordinário (RE) interposto pela Mataboi S/A, julgou a cobrança do Funrural inconstitucional, criando a alternativa do não pagamento desta forma de arrecadação. No mesmo julgamento o plenário do STF negou, com a maioria dos votos, o pedido da Advocacia Geral da União, que estava defendendo o INSS, de modulação dos efeitos da decisão, aplicando a de forma não retroativa, o que vale dizer que neste caso não haveria devolução dos valores recolhidos. Com essa negativa, a Suprema Corte abre a possibilidade de outros produtores obterem o mesmo direito. Este fato gera grandes impactos no setor agropecuário, pois a alternativa de que o governo dispõe para cobrir esse novo passivo da Previdência pode afetar diretamente a renda do produtor. Diante de tal cenário, o objetivo deste trabalho é o de demonstrar, de acordo com o faturamento anual e o número de funcionários, qual a melhor opção para o produtor, continuar pagando o Funrural ou não. 2. Metodologia Para elaboração deste trabalho foram realizadas pesquisas no banco de dados do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) e nos sites da Conab, Cepea e Dieese. Para o cálculo do Valor Bruto da Produção utilizou se a multiplicação da produção do ano vigente com o preço anual médio do produto. Chegou se ao Funrural recolhido através da multiplicação do Valor Bruto da Produção com a parcela do fundo pertencente à Previdência (2,1%). 3. Funrural Recolhido no Estado O Estado de Mato Grosso tem grande vocação para a produção de grãos, fibras e bovinos, representando uma porcentagem considerável na produção nacional desses produtos. Sendo assim, a possível derrocada do Funrural tem reflexos diretos na economia do Estado, uma vez que o setor agropecuário é um grande gerador de riqueza e empregos. Na Tabela 1 se observa a evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Funrural recolhido Funrural(R), nas produções de soja, milho, algodão e de pecuária de corte nos últimos cinco anos em Mato Grosso.

2 Tabela 1 Valor Bruto da Produção e Recolhimento do Funrural em Mato Grosso nos últimos 5 anos Ano Evolução do Valor Bruto da Produção e do Funrural Recolhido dos Principais produtos em MT (R$/ano) Soja Milho Algodão Pecuária de Corte TOTAL VBP Funrural(R) VBP Funrural(R) VBP Funrural(R) VBP Funrural(R) ARRECADADO ,40 bi 155 mi 602 mi 12 mi 3,93 bi 82 mi 3,13 bi 65 mi 316 mi ,85 bi 123 mi 625 mi 13 mi 3,82 bi 80 mi 3,34 bi 70 mi 286 mi ,71 bi 140 mi 1,73 bi 36 mi 5,59 bi 117 mi 4,08 bi 85 mi 380 mi ,43 bi 240 mi 1,97 bi 41 mi 5,61 bi 117 mi 4,58 bi 96 mi 495 mi ,35 bi 238 mi 1,55 bi 32 mi 3,81 bi 80 mi 4,33 bi 91 mi 442 mi TOTAL Fonte: Imea, Conab e Cepea. Elaboração: Imea. 1,92 bi Os principais produtos do Estado recolheram em média R$ 384 mi/ano de Funrural nos últimos cinco anos. No acumulado do período analisado recolheu se um total de R$ 1,92 bilhão. Na comparação de 2009 com 2005 a arrecadação aumentou 28%, consequência do aumento da produção e no preço ocorrido no mesmo período. 4. Análise Retroativa Com a possibilidade de deixar de pagar o Funrural, o sistema, que poderá ser utilizado pelos produtores mato grossenses que optarem por não pagar o Funrural, poderá ser o que recolhe 20% na folha de pagamento. Na Tabela 2 está exposta uma simulação do recolhimento previdenciário mínino por funcionário, elaborada com base em um recolhimento de 20% em cima do salário mínino vigente nos anos a que se refere e nos preços médios anuais de cada produção. Tabela 2 Análise Retroativa da Contribuição Mínina das principais culturas do Estado de Mato Grosso Contribuição Mínima (1 funcionário) Soja (sc/ano) Milho (sc/ano) Algodão (@/ano) Boi (cba/ano) ,07 67,43 18,85 0, ,90 90,13 19,30 1, ,77 68,56 21,83 1, ,63 65,22 23,56 0, ,50 101,70 28,33 0, * 41,79 161,48 26,00 1,05 Fonte: Imea, Dieese e Cepea. Elaboração: Imea. (*) até fevereiro. Se a arrecadação ocorresse no sistema que desconta 20% na folha desde o ano de 2005, o produtor teria um incremento significativo no recolhimento de 2005 até os dias de hoje. Na comparação do ano de 2005 com 2010 a contribuição mínima registrou um incremento de 12,72 sc/ano para soja, 94,05 sc/ano para milho, para algodão e 0,18 cabeças/ano para boi. Este aumento se deve ao crescimento contínuo do salário mínino, em média 14%/ano no mesmo período, e a oscilação de preços dos produtos. Contudo, mesmo sabendo do acréscimo neste sistema de pagamento previdenciário nos últimos anos, para alguns produtores do Estado este sistema poderá se mostrar mais atrativo do que o pagamento do Funrural. 5. Relação Faturamento e Número de Funcionários Antes de tomar a decisão pelo não pagamento do Funrural, o produtor tem que analisar quais serão os impactos que este fato pode ocasionar na sua renda para não sair no prejuízo quando for fechar sua conta no final de ano. Neste sentido, o faturamento e o número de funcionários devem ser as variáveis principais desta análise, uma vez que o Funrural é recolhido do Valor Bruto da Produção, no caso do produtor, o seu faturamento, e o sistema previdenciário de 20% é recolhido da folha de pagamento. Logo após a

3 obtenção desses valores, poder se á comparar os gastos com o Funrural com os gastos com o sistema de previdência (20%). A Tabela 3 é referente à relação do faturamento e número de funcionários. Nesta, as colunas são os níveis de faturamento (R$) e nas linhas são os números de funcionários. As células destacadas em amarelo, com um X, são o ponto de equilíbrio, em que o valor do recolhimento do Funrural se iguala ao valor do recolhimento do sistema previdenciário (20%) no respectivo nível de faturamento (linha) e ao número de funcionários (coluna). Portanto, se os valores relacionados se posicionarem do lado esquerdo do ponto de equilíbrio é preferível à continuação do pagamento do Funrural (lado cinza). Por outro lado, quando os valores forem relacionados se posicionarem do lado direto do ponto de equilíbrio a melhor opção é a migração para o sistema previdenciário de 20% (lado branco). A relação entre o faturamento e o sistema previdenciário foi elaborada com base em um salário médio de dois salários míninos, considerando se 13 vencimentos anuais. Tabela 3 Relação do Faturamento Anual, em R$, com o Número de Funcionários, R$ ,00/funcionário. RELAÇÃO FATURAMENTO ANUAL X NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS FATURAMENTO ,29 x ,57 x ,86 x NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS ,14 x ,43 x ,71 x ,00 x ,29 x ,57 x ,86 x ,14 x ,43 FUNRURAL Previdência (20%) ,71 x ,00 x ,29 x ,57 x ,86 x ,14 x ,43 x ,71 x Fonte: Imea x

4 A tabela acima poderá servir com um instrumento da análise do produtor para verificar a melhor opção de recolhimento da Previdência de seus funcionários. Lembra se que a aproximação dos valores é valida, não interferindo na confiança do modelo acima. Esta tabela poderá ser utilizada por produtores de soja, milho, algodão e de gado, pois o salário médio utilizado condiz com a realidade dessas produções. Abaixo segue um exemplo prático da utilização da tabela para a verificação da minha situação: Assim, um produtor de leite que tem um funcionário terá de ter um ganho anual bruto acima de R$ , para justificar sua transferência para o sistema previdenciário que recolhe 20% na folha de pagamentos. Tabela 4 Relação do Faturamento Anual, em R$, com o Número de Funcionários, R$ 6.630,00/funcionário. EX. Eu sou um produtor que tenho um faturamento anual de aproximadamente R$ ,43 e tenho 8 funcionários. Qual será a melhor opção para mim? Neste caso o melhor é migrar para o sistema previdenciário (20%), pois o ponto de equilíbrio para o meu faturamento (R$ ,43) é na coluna de 9 funcionários; como eu tenho 8, meu ponto se posicionou à direita do ponto de equilíbrio. Dentre os casos estudados, o Imea encontrou valores que dificilmente não compensarão a migração para o sistema previdenciário (20%), sendo que o estudo de caso da produção de leite foi o único que apresentou, em sua maioria, uma vantagem na continuação do pagamento do fundo. Sabendo se que a remuneração dos funcionários que trabalham na produção de leite é inferior à remuneração das principais produções do Estado, para os produtores de leite foi elaborada uma outra tabela utilizando salário médio de um salário mínino. Levou se em consideração um número de funcionários máximo de 10, e um mínino de 1. O entendimento da Tabela 4, referente à relação entre o faturamento e o número de funcionários, porém com base em um salário mínino, é o mesmo que o da Tabela 3. Fonte: Imea 6. Considerações Finais Nesta nova fase do sistema da previdência rural, após o julgamento da inconstitucionalidade do Funrural, os produtores de todo país poderão escolher a forma de recolhimento, pagamento do Funrural ou pagamento dos 20% da folha de pagamentos, que minimize seu gasto com a Previdência. Neste contexto se insere este relatório técnico como forma de auxílio para os produtores mato grossenses tomarem sua decisão da melhor maneira possível, embasados pela metodologia apresentada neste trabalho. Chegou se à conclusão que quanto maior for o faturamento do produtor, mais ele tenderá a sair do Funrural, já que esta forma de recolhimento retira o dinheiro do valor da sua produção. Por outro lado, quanto menor for seu faturamento mais ele tenderá a

5 permanecer pagando o Funrural, uma vez que esta forma de recolhimento retira o dinheiro da folha de pagamento, podendo representar um valor maior do que antes era pago. Desse modo, será improvável que os produtores de grãos e carnes saiam no prejuízo, do mesmo modo que os produtores de leite deverão acompanhar suas contas de perto para não cometer equívocos. Presidente: Rui Carlos Ottoni Prado Superintendente: Seneri Kernbeis Paludo Equipe Técnica: Anamaria Martins, Alexandre Ribeiro, Benancil Filho, Emerson Moura, Fagner Gomes, Daniel Ferreira, Luana Almeida, Mayara Infantino, Otávio Celidonio, Rubiane Carvalho, Sergio Pasqualli e Stefânia Pasqualotto.