ANÁLISE GINECOLÓGICA EM PEQUENOS RUMINANTES. (Gynecological analysis in small ruminants) RESUMO

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1 ANÁLISE GINECOLÓGICA EM PEQUENOS RUMINANTES (Gynecological analysis in small ruminants) Dárcio Ítalo Alves TEIXEIRA 1, Francisco Carlos de SOUSA 1 1 Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução, Faculdade de Veterinária, Universidade Estadual do Ceará (UECE) * darcioitalo@yahoo.com.br RESUMO A primeira análise por ultrassonografia para a seleção de animais é o diagnóstico de prenhez, com o avanço dos equipamentos e habilidade do operador se detecta cada vez mais precoce, possibilitando, com isso, um manejo nutricional adequado das fêmeas. Além disso, podemos destacar a contagem dos fetos por ultrassonografia que pode resultar em diminuição da mortalidade perinatal através do planejamento do número de nascimentos, bem como a sexagem fetal que preconiza o número de fêmeas e machos em um rebanho. No que se refere ao ovário, a utilização de caprinos e ovinos em programas de produção in vitro de embriões necessita de ovários saudáveis após colheita oocitária, assim a ultrassonografia destaca-se como uma ferramenta não invasiva para avaliação ovariana. Assim, a ultrassonografia pode obter informações sobre os aspectos ginecológicos em pequenos ruminantes que são fundamentais para o médico veterinário. Palavras-chave: Reprodução, Prenhez, Ultrassom. ABSTRACT In order to select animals, the pregnancy diagnosis is the first examination made by ultrasonography. Advances in the ultrasound equipment and operator skills enhanced the early pregnancy diagnosis, allowing an appropriate nutritional management of females. In addition, we can stand out the fetal number estimation using ultrasound 27 a 29 de junho de

2 technique, which can result in perinatal mortality decreased by planning birth numbers, such as fetal sexing that determine the number of males and females born in a herd. In relation to ovarian examination, the use of sheep and goats for the in vitro embryo production need to health ovaries after laparoscopic oocyte collection, therefore B mode ultrasonography stand outs such a non-invasive tool for ovarian assessment. Thus, the ultrasonographic method can be used to accurately to obtain information about gynecological aspects in small ruminants, which are fundamental conditions for veterinarian practice. Key words: Reproduction, Prengnancy, Ultrasound. INTRODUÇÃO Recentes recursos estão sendo utilizados para seleção de animais para programas reprodutivos, dentre as técnicas podemos destacar a ultrassonografia para examinar o útero e o ovário. O exame ginecológico pode ser realizado em caprinos e ovinos através de três técnicas ultrassonográficas diferentes, a primeira técnica é a transcutânea, através da colocação de um transdutor de 3,5 ou 5,0 MHz no abdômen ventral do animal, a segunda técnica é a transretal, que consiste na introdução do transdutor de 6,0 a 8,0 MHz no reto do animal, e a terceira é a transvaginal, que é a menos utilizada. Para localização do trato reprodutivo de caprinos e ovinos por via transcultânea é necessária a visualização inicial da bexiga do animal, sendo visualizada uma área circular anecóica, com paredes finas, cranial a bexiga, em animais não prenhez, observou-se uma visão geral do trato reprodutor, o útero aparece como uma estrutura esférica com densidade média com ou sem uma cavidade central de 2mm, e os ovários uma estrutura elíptica. A via transretal é mais utilizada para visualização dos ovários ou em diagnóstico de gestação precoce. Ultrassonografia para o Diagnóstico de Gestação em Caprinos e Ovinos A ultrassonografia vem sendo utilizada com sucesso para o diagnóstico de gestação há quase 30 anos permitindo um manejo adequado e seguro em pequenos 27 a 29 de junho de

3 ruminantes. Em ovinos do 24 ao 34 dias de gestação é um período que oferece uma boa acurácia para o diagnóstico de prenhez (Garcia et al., 1993), já em caprinos por via transretal podemos observar a vesícula embrionária a partir do 20 dia de gestação (Medan et al., 2004), contudo, é importante salientar que o diagnóstico positivo de gestação deve está baseado na visualização do concepto, Padilha-Rivas et al. (2005) verificaram, utilizando o transdutor de 5,0 MHz, que foi possível a visualização da vesícula embrionária a partir dos 22 dias de gestação em cabras Boer. Porém, González et al., (2004), trabalhando com cabras leiteiras da raça Canária utilizando transdutores com a mesma frequência, afirmaram que a detecção do embrião é possível a partir dos 26 dias depois da monta. A vesícula embrionária ou saco gestacional aparece como uma estrutura alongada e anecóica cheia de líquido (Martinez et al., 1998), sua visualização é indicativo dos primeiros sinais de gestação (Medan et al. 2004). A vesícula embrionária é mensurada no seu diâmetro máximo, que no 18 dia de gestação possui em média 4,1mm e no 21 dia de gestação apresenta 1 cm em cabras (Padilla-Rivas et al., 2005). Patologias uterinas detectadas por ultrassonografia em caprinos e ovinos Em caprinos e ovinos podemos diagnosticar algumas patologias do trato reprodutor por ultrassonografia, a patologia mais comumente encontrada nestas espécies é a hidrometra, porém podemos verificar piometra, mucometra, prenhez anormal, morte embrionária, mumificação fetal, hidroalantóide e hidroamnion (Kahn). Hidrometra A hidrometra também denominada de pseudoprenhez é uma patologia caracterizada por acúmulo de fluido no útero que está associada à presença de um corpo lúteo persistente e a concentrações altas de progesterona no plasma sanguíneo por mais de 25 dias em caprinos (Lopes Jr. et al., 2004). No Nordeste do Brasil, a pseudoprenhez em cabras Saanen sincronizadas e após monta, pode atingir um percentual de 30,4% do rebanho (Lopes Jr., et al., 2004). Kornalijnslijpe et al. (1997), estudando cabras pseudoprenhes verificaram que uma das possibilidades da etiologia da hidrometra é a 27 a 29 de junho de

4 baixa e gradual diminuição de progesterona no plasma sanguíneo que possibilita a ausência do estímulo luteotrófico na ausência do concepto. Ultrassonograficamente, a hidrometra aparece como vários compartimentos preenchidos por fluido e separados por paredes, também denominadas de trabécula, na imagem não visualizamos o feto e os placentomas (Figura 1). Figura 1: Imagem ultrassonográfica da hidrometra em caprinos (SMITH, 2006). Piometra A piometra é caracterizada ultrassonograficamente como um acúmulo de material ecogênico no lúmen uterino. A infecção uterina em caprinos e ovinos associada ao acúmulo de material purulento no lúmen não é muito relatada nestas espécies. Morte embrionária e fetal A mortalidade embrionária e fetal é um sério problema e pode ser detectada precocemente através da ultrassonografia. Segundo Engeland et al. (1998), as causas de mortalidade embrionária e fetal são diversas e podem não estar ligadas a problemas reprodutivos, assim estes animais poderão entrar novamente em um programa reprodutivo. 27 a 29 de junho de

5 Feto mumificado A mumificação fetal é uma patologia relatada em ovinos e caprinos (Rao et al., 2002), geralmente a visualização fetal por ultrassonografia é dificultada pela presença de coleção purulenta associada a esta patologia. A visualização dos fetos, após aborto, geralmente são pequenos e de coloração marrom, quanto aos cotilédones apresentam-se secos e muito pequenos. Hidroalantóide O Hidroalantóide é uma patologia caracterizada pelo grande acúmulo de fluido alantóideo no período de 5 a 20 dias do terço final da prenhez (Peiró et al., 1997). A causa do hidroalantóide não é conhecida, Morin et al. (1994) relatou que a diminuição do número de cotilédones durante a prenhez pode ser umas das causas. O tratamento mais preconizado para esta patologia é a evacuação do líquido uterino através da cesária, assim a ultrassonografia torna-se uma ferramenta essencial para o diagnóstico desta patologia e o consequente direcionamento do animal para a cirurgia. Crescimento e sexagem embrionária/fetal Quando a data da monta é desconhecida, o monitoramento do desenvolvimento fetal permite a estimativa da idade gestacional. De acordo com Santos et al. (2004), dentre is diversos parâmetros de fetometria obtidos por ultrassom, destacam-se a mensuração da vesícula embrionária/fetal, comprimento crânio-caudal (CCC), diâmetro biparietal (DBP), diâmetro, circunferência e área do tórax (DT), diâmetro, circunferência e área do abdome (DA) e comprimento do fêmur (CF). A determinação do sexo fetal é outra importante aplicação da ultrassonografia, baseando-se na localização e diferenciação da genitália externa. A estrutura anatômica do feto que possibilita este diagnóstico pelo ultrassom é denominada tubérculo genital (TG). Bürstel et al. (2002) afirmam que, nos pequenos ruminantes, a sexagem fetal por ultrassonografia já é possível por volta do dia. Todavia, Santos et al. (2004) recomendam que o exame seja realizado entre o 50 e o 58 dia. 27 a 29 de junho de

6 Avaliação por ultrassonografia de estruturas ovarianas em caprinos e ovinos A ultrassonografia tem alcançado substancial aplicabilidade com relação ao exame dos ovários na espécie caprina e ovina, fornecendo possibilidades de acompanhar o desenvolvimento folicular, permitindo monitorar o crescimento e a regressão de folículos ovarianos individuais, de forma repetida no mesmo animal (Pierson & Ginther, 1984). Os folículos são visualizados dentro dos ovários como estruturas anecóicas e de formato esférico. O exame ultrassonográfico também permite a detecção da ovulação, caracterizando o padrão de tamanho de folículos pré-ovulatórios (Gonzalez-Bulnes et al., 2004; Teixeira et al., 2008). Aproximadamente três dias pós-ovulação, um corpo lúteo (CL) pode ser detectado ultrassonograficamente. O CL maduro é observado como uma estrutura cinza escuro, ecogênica, com bordas marcantes e distintas (Figura 2). Em alguns corpos lúteos observa-se uma cavidade central anecóica, que não apresenta relação com a concentração de progesterona (De Castro et al., 1999). Figura 2: Aparência ultrassonográfica de dois corpos lúteos visualizados no dia 9 do ciclo estral de uma fêmea caprina (Arquivo pessoal). 27 a 29 de junho de

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O exame e a avaliação minuciosa do sistema genital são uma parte importante no processo de seleção de reprodutrizes caprinas e ovinas. Neste aspecto, a ultrassonografia mostra-se uma ferramenta prática e eficiente que permite avaliar as variações ecográficas dos órgãos e tecidos do trato reprodutivo, possibilitando observar alterações na constituição das referidas estruturas. Assim, a ultrassonografia torna possível conhecer o estado reprodutivo do animal, bem como o diagnóstico precoce de alterações patológicas da reprodução, resultando no aprimoramento do manejo reprodutivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÜRSTEL, D.; MEINECKE-TILLMANN, S.; MEINECKE, B. Ultrasonographic diagnosis of fetal sex in small ruminants bearing multiple fetuses. Veterinary Record, v. 151, p , DE CASTRO, T.; RUBIANES, E.; MENCHACA, A.; RIVERO, A. Ovarian dynamics, serum estradiol and progesterone concentrations during the interovulatory interval in goats. Theriogenology, v. 52, p , ENGELAND, I.V.; WALDELAND, H.; ANDRESEN, E.; LOKEN, T.; BJORKMAN, C.; BJERKAS, I. Foetal loss in dairy goats: An epidemiological study in 22 herds. Small Ruminant Research, v. 30, p , GARCIA, A.; NEARY, M.K.; KELLY, G.R.; PIERSON, R.A. Accuracy of ultrasonography in early pregnancy diagnosis in the ewe. Theriogenology, v. 39, p , GONZÁLEZ, F.; CABRERA, F.; BATISTA, M.; RODRÍGUEZ, N.; ÁLAMO, D.; SULON, J.; BECKERS, J. F.; GRACIA, A. A comparison of diagnosis of pregnancy in the goat via transrectal ultrasound scanning, progesterone, and pregnancy-associated glycoprotein assays. Theriogenology, v. 62, p , GONZALEZ-BULNES, A.; DÍAZ-DELFA, C.; URRUTIA, B.; CARRIZOSA, J. A.; LOPEZ-SEBASTIAN, A. Ultrasonographic screening of the ovulatory process in goats. Small Ruminant Research, v. 52, p , KAHN, W. Veterinary reproductive ultrasonography, p. 247, a 29 de junho de

8 KORNALIJNSLIJPE, J.E.; KEMP, B.; BEVERS, M.M.; van OORD, H.A.; TAVERNE, M.A.M. Plasma prolactin, growth hormone and progesterone concentrations in pseudopregnant, hysterectomized and pregnant goats. Animal Reproduction Science, v. 49, p I78, LOPES JUNIOR, E.S.; CRUZ, J.F.; TEIXEIRA, D.Í.A., LIMAVERDE, J.B.; PAULA, N.R.O.; RONDINA, D.; FREITAS, V.J.F. Pseudopregnancy in Saanen goats (Capra hircus) raised in Northeast Brazil. Veterinary Research Communications, v.28, p , MARTINEZ, M. F.; BOSCH, P. E.; BOSCH, R. A. Determination of early pregnancy and embryonic growth in goats by transrectal ultrasound scanning. Theriogenology, v. 49, p , MEDAN, M.; WATANABE, G.; ABSY, G.; SASAKI, K.; SHARAWY, S.; TAYA, K. Early pregnancy diagnosis bymeans of ultrasonography as a method of improving reproductive efficiency in goats. The Journal of Reproduction and Development, v. 50, p , MORIN, D.E.; HORNBUCKLE II, T.; ROWAN, L.L.; WHITELEY, H.E. Hydrallantois in a caprine doe. Journal of American Veterinary Medical Association, v. 204, p , PADILLA-RIVAS, G.R.; SOHNREY, B.; HOLTZ, W. Early pregnancy detection by real-time ultrasonography in boer goats. Small Ruminant Research, v. 58, p , PEIRÓ, J.R.; BORGES, A.S.; YANAKA, R.; KOIVISTO, M.B.; MENDES, L.C.N.; FEITOSA, F.L.F.; ABUJAMRA, J.O.; RODRIGUES, C.A. Hydrallantois in an ewe. ARS VETERINARIA, v. 23, p , PIERSON, R.A.; GINTHER, O.J. Ultrasonography of the bovine ovary. Theriogenology, v. 21, p , RAO. K.S.; RAJU, K.G.S.; BHARATHI, S. Fetal mummification in a non-descript ewe. Indian Journal Animal Research, v. 36, p , SANTOS, M.H.B.; OLIVEIRA, M.A.L.; LIMA, P.F. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. São Paulo: Varela, p. SMITH, M.C.; Sherman, D.M. Goat Medicine, p. 877, a 29 de junho de

9 TEIXEIRA, D.I.A.; LOPES-JÚNIOR, E.S.; SOUSA, F.C.; PINHEIRO, E.S.P.; SEROVA, I.A.; ANDREEVA, L.E.; FREITAS, V.J.F. The use of real-time ultrasonography to select embryo donors participating in a transgenesis goat programme. Small Ruminant Research, v. 76, p , a 29 de junho de