Cristianismo sem máscaras Parte 2. Texto Bíblico: Apocalipse 2.1-6:

Transcrição

1 Cristianismo sem máscaras Parte 2 Texto Bíblico: Apocalipse 2.1-6: 1 Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: 2 Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; 3 e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. 4 Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. 5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. 6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio. Éfeso era a principal cidade da Ásia. Tinha cerca de habitantes e era o um centro religioso. Era, também uma cidade idólatra, conforme lemos em Atos 19.35: O escrivão da cidade, tendo apaziguado o povo, disse: senhores, efésios: quem porventura, não sabe que a cidade de Éfeso é a guardiã do templo da grande Diana e da imagem que caiu de Júpiter?. Para os gregos essa deusa era conhecida como Artemis e, para os romanos, Diana. Aliás, na cidade havia sido construído, para essa deusa, um templo muito suntuoso que era considerado uma das maravilhas do mundo antigo. Nesse templo também adoravam ao imperador romano e à deusa Roma. Além de idólatra, a cidade era supersticiosa e conhecida pelas práticas de artes mágicas, o que se depreende da leitura de Atos 19.19:

2 Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculando os seus preços, achou-se que montavam a cinquenta mil denários. Obs.: um denário equivalia ao salário de um dia de trabalho, o que totalizaria, nos dias atuais, algo em torno de R$ ,00 Era nesse cenário que a igreja de Éfeso havia sido plantada. Ela havia sido ajudada por Paulo, que, por cerca de dois anos, disseminou o Evangelho, a partir da cidade de Éfeso, para toda a Ásia. O livro de Atos nos mostra que: Aconteceu que, estando Apolo em Corinto, Paulo, tendo passado pelas regiões mais altas, chegou a Éfeso (...) Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos.. (Atos 19.1 e 10). Depois, Timóteo deu sequência ao trabalho de Paulo, o que pode ser visto na 1ª carta que o próprio Apóstolo enviou ao seu discípulo, que assim dispõe: Assim, podemos inferir que a igreja de Éfeso era: Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina... (Efésios 1.3). a) Ortodoxa: Ela não podia suportar homens maus, colocava à prova os que a si mesmos se declaravam apóstolos, sem que o fossem (v. 2) e odiava as obras dos nicolaítas que também eram odiados pelo Senhor Jesus (v. 6). Na igreja primitiva surgiram muitos pregadores itinerantes que se diziam mensageiros de Deus e os Efésios colocaram esses mensageiros à prova para saber se eles, realmente, transmitiam a Palavra de Deus. Além de tais pregadores, havia, também, homens que se autoproclamavam apóstolos, mas, na verdade, buscavam objetivos pessoais e não a edificação da igreja.

3 Os nicolaítas formavam uma seita herética. Alguns pais da igreja chegaram a ensinar que essa seita havia sido fundada por Nicolau prosélito de Antioquia, citado em Atos 6.5, e que foi um dos diáconos eleito um dos sete primeiros diáconos. Mas não há confirmação para tal afirmação. Os Efésios souberam distinguir entre os falsos e os verdadeiros apóstolos, assim como passaram a odiar os nicolaítas. Tanto que o bispo de Antioquia Inácio escreveu uma carta para a referida igreja elogiando-a pela conduta cristã e a não aceitação de falsas doutrinas. b) Perseverante: A igreja não havia sido submetida, temporariamente, aos falos profetas e às doutrinas heréticas. Isto era uma constante, até porque, a igreja estava situada, como dito, numa cidade importante - que atraia a atenção dos impostores e idólatra. A igreja era provada constantemente. Mas, nas palavras de George Ladd 1, ela se destacava pela pureza da sua doutrina. Perseverava nos santos ensinos. Qualquer pessoa diria que a igreja de Éfeso era um modelo a ser seguido. No entanto, o Senhor, que a tudo perscruta, a achou em falta. Ela não se deixou afetar em sua doutrina sadia, mas a luta com os falsos mestres, a levou a abandonar o primeiro amor (v. 4). O já citado George Ladd, ao abordar o assunto, assim discorre: Este era um fracasso que atacara sua vida cristã pelas bases. O Senhor tinha ensinado que o amor mútua devia ser a marca que identificasse a comunhão dos cristãos (Jo 13.35). Os convertidos em Éfeso tinham experimentado este amor nos primeiros anos de sua nova existência; mas a sua luta com os falos mestres e seu ódio por ensinos heréticos parece que trouxeram endurecimento aos snetimentos e atitudes rudes a tal ponto que levaram ao esquecimento da virtude cristã suprema que é o amor. Pureza de doutrina e lealdade não podem nunca ser substitutos para o amor.. o destaque não consta no original. 1 LADD. George. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 32.

4 Os efésios, segundo Jesus, deveriam se arrepender (v. 5). Eles deveriam voltar à prática das primeiras obras, caso contrário, o Senhor moveria o candeeiro deles do lugar. No início do texto, João define o Senhor Jesus como aquele que anda no meio dos sete candeeiros de ouro., numa referência às sete igrejas da Ásia para as quais o Senhor havia mandado um recado. Isto demonstra que o Senhor Jesus exerce vigilância constante sobre a igreja e as protege, tanto que envia alertas como o que estamos analisando. Remover o candeeiro, portanto, seria, por óbvio, tirá-lo do lugar onde se encontrava. Há teólogos que veem, em tal aviso, uma referência ao julgamento que haverá por ocasião da volta de Jesus. No entanto, o mais provável, como diz o referido Georg Ladd 2 é que estas palavras se refiram a algum tipo de acontecimento histórico que seja julgamento para a igreja, destruindo-a de modo que deixe de existir como igreja.. A igreja de Éfeso era, como dito, uma igreja modelo para quem quisesse se espelhar num projeto de igreja. Mas, aos olhos de Jesus ela era faltosa. Ela, na verdade, usava uma máscara. Era ortodoxa, mas não era piedosa. Timothy P. Jenney 3 assim se posiciona sobre a referida igreja: Hernandes Dias Lopes 4, por sua vez, afirma que: Essa carta indica que uma correta doutrina não é suficiente para fazer uma igreja se tornar forte, nem mesmo quando seus membros desempenham um grande trabalho. Um passado glorioso não é garantia de um futuro brilhante. Grandes igrejas nascem de uma grande paixão por Jesus Cristo.... Infelizmente, muitas igrejas confundiram avivamento com novidades estranhas às Escrituras e se perderam nessa busca, caindo em doutrinas falsas e em experiências místicas. Outras, com medo desses desvios, partiram para outro extremo e se fecharam numa ortodoxia ossificada e morta. Muitas igrejas, embora 2 LADD. George. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p ARRINGTON. French L. e STRONSTAD Roger. (Ed.) Comentário bíblico Pentecostal: Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p LOPES, Hernandes Dias. Gotas de alegria para a alma. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 323.

5 permaneçam fi[eis à doutrina, como a igreja de Éfeso, perderam o primeiro amor. São ortodoxas, mas frias. Têm conhecimento, mas não poder. Têm zelo pela verdade, mas não fervor espiritual..... Da leitura do texto em comento (Apocalipse 2:1-6), concluímos que: 1) Uma igreja autenticamente cristã não se contenta em ser ortodoxa. Ela, além da doutrina correta, busca ser piedosa. busca um autêntico relacionamento com o Senhor Jesus. 2) Uma igreja autenticamente cristã não se isola dos demais, sob o pretexto de querer evitar contaminações. Ela coloca a sua ortodoxia em prática e busca alcançar os demais. 3) Uma igreja autenticamente cristã ama o próximo e vive de forma a apresentar Jesus para esse próximo. Não apenas com palavras, mas com ações que reflitam esse amor. Se ela não se esforça para colocar em prática o amor que foi pregado por Jesus e a alcançou, ela não passa de religiosa. Não pode dizer que é cristã autêntica. Devo ressaltar que, embora Jesus tenha mandado a carta para a igreja de Éfeso, a igreja, aqui, não se resume à instituição localizada em um determinado lugar. Trata-se do povo que se chama pelo nome de Deus e que se faz presente no ambiente de trabalho, na escola, na casa de cada um, no lazer etc., e que, nestes locais, deve ser ortodoxa, piedosa e operosa. Não basta ser uma coisa e outra não. Ela precisa ser cristã autêntica e, para ser assim, deve seguir o magistério de Cristo. Do contrário, estará continuamente usando uma máscara. Que Deus tenha misericórdia de nós. Sejam abençoados.