PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS RURAIS: ATENÇÃO À SAÚDE E QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA
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- Glória Lúcia Chaves Bicalho
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1 PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS RURAIS: ATENÇÃO À SAÚDE E QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA SILVA, Bernardo Antunes Gomes da 1 ; CAMPOS, David Andrade 2 ; SANTOS, Maria José 3. RESUMO O armazenamento e utilização de água de chuva são apresentados pela Articulação do Semiárido como uma alternativa importante para o abastecimento de água de boa qualidade para a população. Este estudo tem por objetivo avaliar indicadores de atenção à saúde e quais são os métodos são usados para tratamento da água de chuva captada e utilizada pela população. Foram realizadas entrevistas e aplicação de questionários semiestruturados aos representantes dos segmentos participantes do programa P1MC nas comunidades. Diante do cenário apresentado, afirmase que a instalação de sistema de abastecimento de águas pluviais não é suficiente para suprir a população com água de boa qualidade se não forem praticados os cuidados com a água em todos os pontos do sistema de captação, na água armazenada e nos pontos de uso se não for adequadamente tratada. ABSTRACT The storage and use of rainwater are presented for the SemiArid Articulation as an important alternative for the supply of good quality water for the population. This study aims to assess indicators of health care and what methods are used for the treatment of rainwater captured and used by the population. Partially structured interviews and the representatives of the participating segments P1MC program questionnaires were conducted in communities. Given the scenario presented, it is stated that the installation of rainwater supply system is insufficient to supply the population with safe water if the water care at every point of the feedback system is not practiced, the stored water and the point of use if not properly treated. PalavrasChave captação de água de chuva, tratamento de água, atenção básica 1 Graduação em Ecologia / Universidade Federal de Sergipe. Laboratório Ecologia Sustentabilidade Educação Ambiental/Depto Biologia. (79) bernardo.bowser@gmail.com. 2 Graduação em Ecologia / Universidade Federal de Sergipe. Laboratório Ecologia Sustentabilidade Educação Ambiental/Depto Biologia. (79) david.c7r@hotmail.com. 3 Química. Dra. Recursos Naturais. Universidade Federal de Sergipe. Laboratório Ecologia Sustentabilidade e Educação Ambiental/Depto. Biologia. (79) mjsagua@ufs.br. XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 1
2 1 INTRODUÇÃO A disponibilidade de água é variável no mundo e embora o Brasil possua aproximadamente 12% de toda água doce disponível no planeta 80% dela esta localizada na região amazônica. Assim, 95% da população do país são abastecidos com apenas 20% do recurso total da água doce disponível. Na região do Semiárido nordestino a situação é preocupante, a ausência de chuvas por longos períodos provoca escassez, principalmente nas áreas rurais que tem dificuldades de abastecimento e necessidades agrícolas e pecuárias (BNB, 2005; Garcia, 2007). Assim, o desenvolvimento do Semiárido do Brasil, e naturalmente a porção semiárida do Estado de Sergipe, depende da precipitação pluviométrica, e consequentemente, as suas variações provocam prejuízos econômicos e sociais à população da área. A natureza e a magnitude das secas resultam da associação entre a ausência ou irregularidade das chuvas com a falta de políticas eficientes somadas à carência de organização da produção agrícola. Uma das alternativas para amenizar os impactos causados pelos períodos de longas estiagens é a captação da água das águas pluviais e seu armazenamento em cisternas. Essas cisternas além de reservar a água da chuva também são frequentemente abastecidas por carrospipa. Essas medidas embora minimizem o problema levantam outra questão importante, a qualidade da água. Nesse contexto, a demanda por sistemas de captação de água de chuva no Semiárido brasileiro tem como fontes principais a precipitação anual e a hidrogeologia da região, cujo subsolo cristalino contém pouca água, muitas vezes salobra, apresentando uma grande demanda de colheita de água pluvial. A Figura 1 apresenta o mapa com as áreas prioritárias para captação de água de chuva. Em áreas de subsolo arenito há um bom potencial de água subterrânea e em regiões de aluvião este potencial é alto e de mais fácil acesso (Andrade, 1999). Figura 1 Mapa do Semiárido brasileiro destacando a necessidade uso da captação de água de chuva. Fonte: Gnadlinger (2001). XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 2
3 O armazenamento e utilização de água de chuva tem se tornado uma alternativa importante para o abastecimento de água de boa qualidade para a população dispersa no Semiárido brasileiro. Para tanto, fazse necessário a aplicação de métodos de tratamento e vigilância da qualidade da água em todas as etapas do sistema. Então, o controle da qualidade da água de chuva deve ser feito em quatro pontos: i) antes de atingir o solo; ii) após escorrer pelo telhado; iii) dentro do reservatório; iv) no ponto de uso (Carlon, 2007). Após o armazenamento da água de chuva nas cisternas, é essencial a preocupação com a sua qualidade desde o momento da coleta, manutenção do seu estado límpido e adequado para beber. É importante o cuidado com a limpeza da superfície de coleta, o telhado, para evitar a introdução de contaminantes biológicos e/ou físicos. Estes agentes podem ser carreados por poeiras, fezes de animais ou folhas de árvores que podem conferir cor, odor e gosto podendo apresentar riscos à saúde dos usuários da água armazenada (Santos, 2010). Segundo Ruskin (2001), o controle da qualidade da água pode ser feito, inicialmente, por três processos. Primeiro, devese evitar o acúmulo de folhas no telhado e nas calhas podando as árvores próximas à área de captação deixando um espaço livre mínimo de 3 a 6 metros. A segunda providência é cobrir as calhas, respiros e outras áreas de entrada e saída das cisternas com telas de arame para protegêlas da presença de vetores de contaminação. A terceira medida é construir um tanque de decantação para permitir separação da areia e de outros agentes físicos antes que adentrem no tanque de armazenamento. O tratamento da água mais comumente utilizado em sistemas de captação e armazenamento de água de chuva é a cloração, por ser um método simples e barato. Este proporciona a desinfecção da água e o controle de surtos de doenças transmissíveis pela água como tifo e cólera. Podese utilizar o cloro líquido ou sólido (Ruskin, 1988). De acordo com as instruções constantes no manual distribuído pela Articulação do Semiárido, a cloração é o método de tratamento da água repassado e recomendado pelo P1MC. Este é efetuado por meio da adição periódica de hipoclorito de sódio ou água sanitária, além dos cuidados que devem ser observados ao retirar água da cisterna. Esta operação deve ser efetuada com bomba ou com vasilhame limpo (ASA, 2012). O cloro é uma espécie química altamente reativa e quando adicionado à água deve oxidar substâncias orgânicas e inorgânicas igualmente. Em consequência disto, nem todo o cloro adicionado à água irá produzir o chamado cloro livre disponível. A quantidade de cloro que reage com espécies inorgânicas (Fe 2+, Mn 2+, NO 2 e NH 3 ) e impurezas orgânicas é denominada de demanda de cloro. Esta demanda deve ser satisfeita antes da formação do cloro livre disponível (Grassi, 2001). XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 3
4 Latitude O excesso de cloro também deve ser evitado, caso contrário a água irá apresentar um sabor característico indesejado. Um dos problemas decorrentes do uso do cloro como agente de desinfecção está relacionado com sua capacidade em reagir com as substâncias orgânicas de ocorrência natural, que podem estar presentes na água. Estas reações produzem os trialometanos (THM), entre eles o clorofórmio, que é cancerígeno. Os THM não são removidos da água através do tratamento convencional, e desta forma devese assegurar que a matéria orgânica deve estar ausente da água que vai ser submetida a cloração (Grassi, 2001). 1 OBJETIVO Este estudo tem por objetivo avaliar a percepção da população do povoado Mocambo no município de Tobias Barreto e do Assentamento Cajueiro em Poço Redondo sobre os indicadores de atenção à saúde e quais os métodos de tratamento da água de chuva utilizada pela população. 2 METODOLOGIA O Estado de Sergipe está localizado na região Nordeste do Brasil (Figura 2). Possui km 2 de extensão, o equivalente a 0,26% do território nacional e 1,4% do território nordestino. É composto por 75 municípios e sua população totaliza habitantes sendo habitantes na zona urbana 71,35% e habitantes na zona rural,65% (IBGE, 2010). Destes municípios dois serão alvos do nosso estudo, Tobias Barreto, especificamente o Povoado Mocambo e Poço Redondo no Assentamento Cajueiro MA CE RN SE 8 PI PE PB 10 SE AL 12 BA Longitude Figura 2 Localização geográfica do Estado de Sergipe Fonte: Elaborado por Araújo; Santos (2009). XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 4
5 Nesta etapa foram levantados os dados primários, secundários iniciando pelo reconhecimento da área em estudo e levantamento de informações sobre os aspectos socioeconômicos e ambientais entre outros, indispensáveis à avaliação da realidade local. Foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta: entrevista semiestruturadas com os representantes dos segmentos participantes do programa nas comunidades, aplicação de questionários, pesquisa bibliográfica e documental, contatos técnicos junto à população atendida pelo programa, às organizações governamentais e não governamentais e Unidade Gestora do P1MC em Sergipe. Foram aplicados 71 questionários significando que uma média de 44% das chefas ou chefes das famílias beneficiadas pelo P1MC entrevistadas. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A abordagem de desenvolvimento humano preconiza o investimento em saúde como um instrumento poderoso para o alcance da sustentabilidade. Esta condição exige a superação dos baixos índices de atenção à saúde, um dos grandes desafios a ser enfrentado pelo Brasil. Para tanto, necessário se faz ultrapassar as dificuldades relacionadas à capacidade de as pessoas viverem de forma saudável e contar com atendimento eficaz dos serviços de saúde enquanto compromisso social das políticas públicas nacionais (Santos, 2010). A Tabela 1 apresenta a síntese da percepção da população do Mocambo e Cajueiro sobre os indicadores de atenção à saúde e qualidade de água da cisterna. Os dados respectivos comprovam a presença de agentes de saúde (94% e %), porém não existem médicos, dentistas ou outros profissionais de saúde permanentemente no local comprometendo o atendimento à saúde para a população destes locais e retrata a precariedade do atendimento à saúde. XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 5
6 Tabela 1 Atenção à Saúde e Dados Qualitativos sobre a Água de Chuva Tema Variável Subvariável Alternativa s Povoado Mocambo Assentamento Cajueiro Quantidade (%) Quantidade (%) Presença de agente de saúde SAÚDE Atenção a Saúde Periodicidade de visita do agente Presença de profissionais de saúde Semanal Quinzenal Mensal há Trabalho sobre saúde pública ,5 77,5 AMBIENTAL Água de Chuva Diminuiu a frequência de doenças de veiculação hídrica pós cisterna? Faz desvio das primeiras águas? Faz limpeza e manutenção do telhado? Faz limpeza e manutenção das calhas? Cuida para evitar a entrada de sujeira na cisterna? Usa bomba para retirar água da cisterna? Faz tratamento da água armazenada? Filtra a água? Adiciona cloro à água? Fonte: Pesquisa de campo, 2008/ ,32 9,68 90,32 9, ,5 32, ,5 2, ,5 37,5 Os cuidados e manutenção do sistema de colheita de água da chuva se iniciam com a captação, por meio dos cuidados com o desvio das primeiras águas, 94% dos usuários do Mocambo e 95% do Cajueiro assim procedem. Quanto à limpeza os dados demonstram que 90,30% do Mocambo e % do Cajueiro têm esta preocupação. No que se refere à pintura, respectivamente, 77,42% e 62,5% a fazem, assim como nos itens de limpeza e manutenção das calhas (90,32% e 75%) e do telhado (52% e 67,5%). A qualidade da água armazenada e nos pontos de coleta e uso é um item importantíssimo porque, dependendo das práticas adotadas pode representar sérios riscos à saúde diante das possibilidades da transmissão de doenças de veiculação hídrica. Um fator complicador é o não uso da bomba para retirar a água da cisterna por % dos entrevistados em XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 6
7 ambas as localidades, visto que, parte destes (16% e 15%) não usa nenhum método de tratamento da água considerando, ainda, outro complicador: as famílias usam água trazida em carro pipa, 13% no Mocambo e 90% no Cajueiro, colhida sem cuidados com a segurança hídrica. A população relata que a água armazenada não é suficiente o atender as suas necessidades durante o período de estiagem tendo, então, que recorrer à compra de água. Ainda assim, a população relata diminuição na frequência de doenças relacionadas à qualidade da água, após a instalação dos sistemas de captação de água de chuva (Figuras 3 e 4). Figuras 3 e 4 Redução da Incidência de Doenças Póscisterna Povoado Mocambo Tobias Barreto/SE e Assentamento Cajueiro Poço Redondo/SE. Fonte: Pesquisa de campo, 2008/ CONCLUSÕES Entre os fatores ambientais determinantes do bem estar social das populações humanas, encontrase o provimento de serviços adequados de abastecimento de água fundamentais para o desenvolvimento de atividades econômicas e à sustentabilidade ambiental. No entanto os domicílios do Povoado Mocambo e do Assentamento Cajueiro não são atendidos por sistema de abastecimento público de água o que torna a água de chuva extremamente importante para a população. Os resultados referentes à qualidade da água das cisternas apresentaram dados preocupantes porque cuidados essenciais como filtração, tratamento, limpeza do sistema de captação nem sempre são praticados a exemplo da utilização da bomba para retirar água da cisterna, visto que, todos os entrevistados revelaram a não utilização desse componente. Esses são elementos importantes para evitar a transmissão de doenças de veiculação hídrica aos usuários da água armazenada comprometendo, consequentemente a saúde e a qualidade de vida da população. O processo de manutenção do sistema de captação de água de chuva inclui entre outros aspectos os cuidados com a limpeza, fator determinante da qualidade da água necessário para evitar a transmissão de doenças de veiculação hídrica aos usuários da água armazenada. XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 7
8 6 BIBLIOGRAFIA ANDRADE, M. C. de. A problemática da seca. Recife: LIBER, ARTICULAÇÃO DO SEMIÁRIDO/ASA. Programa Um Milhão de Cisternas Rurais. Disponível em: < Acessado em: set de BANCO DO NORDESTE (BNB). Mapa da área de atuação operacional. Fortaleza, CARLON, M. R. Percepção dos atores sociais quanto às alternativas de implantação de sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva em JoinvilleSC. Universidade do Vale de Itajaí. Disponível em: < Acesso em 04 dez GARCIA, M. A vida do Semiárido. Boletim Manuelzão. Ano 10 n o 39, LOCAL, abril de GNADLINGER, J. A contribuição da captação de água de chuva para o desenvolvimento sustentável do semiárido brasileiro: uma abordagem focalizando o povo. Juazeiro, BA, 2001, CD ROM. GRASSI, Marco Tadeu. Águas no planeta Terra. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola. Maio INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico brasileiro do ano de Rio de Janeiro: IBGE, Disponível em: < Acesso em: 10 out RUSKIN, R. H. Maintenance of cistern water quality and quantity in the Virgin Islands. Technical Report n o 30. Caribbean Research Institute, University of the Virgin Islands. St. Thomas, U.S. Virgin Islands, RUSKIN, R. H. Manutenção de água de cisterna: brindemos à sua saúde! 3 a Latinoamérica. Septiembre/Octubre, Parte. Água SANTOS, Maria José. Programa Um Milhão de Cisternas Rurais: proposição de um sistema de indicadores de avaliação de sustentabilidade SIAVSP1MC. Tese de Doutorado. Programa de PósGraduação em Recursos Naturais. UFCG. Campina grande, XII pósio de Recursos Hídricos do Nordeste 8
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