Controle Populacional de Cães e Gatos em Centros Urbanos

Transcrição

1 Controle Populacional de Cães e Gatos em Centros Urbanos Francisco José de Almeida Prado Ferraz Costa Médico Veterinário

2 Riscos e Problemas Zoonoses, com maior relevância a raiva e leishmaniose Mordeduras Acidentes de trânsitos Dejetos em vias públicas Compaixão com o sofrimento desses animais

3 Cenas fáceis de encontrar no Brasil

4 Abrigo para cães

5 Fonte de alimentos

6 Há solução?

7 Soluções Encontradas No Passado Eutanásia O controle da população canina estava fortemente ligado ao controle da raiva e esta argumentação era forte o suficiente para justificar o sacrifício dos animais.

8 No Kill Na década de 80 as organizações não governamentais de defesa dos animais em todo o mundo se tornaram mais ativas e deram início ao movimento No Kill exigindo estratégias éticas e pela não eliminação de animais sadios abandonados.

9 Nova York Relato de experiência Estávamos eliminando cem mil cães por ano e não estava adiantando. O que acontece? O suprimento alimentar usado para o total de animais agora serve para uma população menor, portanto animais bem alimentados, prontos para procriar e ter filhotes sadios. Joseph Lhoyd Tait Ex-presidente do Conselho Veterinário de Nova York Palestra ministrada na Câmara Municipal de São Paulo. 8 de junho de 2000.

10 Soluções aplicadas em algumas cidades também sem sucesso Castrações Adoções Recolhimento em canis municipais por tempo indeterminado

11 Consequência do recolhimento de animais em canis municipais por tempo indeterminado Superlotação Impossibilidade de manejo sanitário Sofrimento dos animais Sensação de impotência, estresse alto, depressão e absenteísmo por parte dos funcionários

12 Canil Municipal

13 Quem deve indicar as soluções? É claramente percebido o pouco caso que as autoridades têm com o assunto. Ninguém assume a responsabilidade. As pessoas interessadas raramente procuram orientação técnica para resolver a questão e tomam medidas ineficientes. Em decorrência encontramos canis municipais ou de sociedades protetoras dos animais superlotados, com instalações inadequadas, funcionários mal remunerados, mal treinados e sem tarefas definidas.

14 Está na hora da classe veterinária assumir sua responsabilidade Os poetas sempre louvaram a Lua pela sua beleza. Com os seus versos tentavam alcança-la com as próprias mãos. Contudo quem pisou no solo lunar foi um engenheiro aeronáutico, Neil Armstrong. Quem viu que a Terra é azul, e muito mais bonita que a Lua, foi o astronauta russo Yuri Alekseievitch Gagarin. Não eram poetas, eram cientistas. Nós que amamos os animais não devemos tentar resolver os problemas que os afligem apenas com o coração. A maioria das pessoas que adotaram a causa não dedicaram um minuto de seu tempo para estudos técnicos. Somente teremos avanços nesta área com participação mais ativa da classe veterinária nas decisões políticas.

15 Entendendo o problema

16 Dinâmica das populações É a parte da ecologia que estuda as variações população e procura definir as causas dessas variações. Exemplo: com a caça de jacarés, há um aumento da população de piranhas resultando, desta forma, em uma variação de ocorrência.

17 Densidade de populações (número de indivíduos por km2) Quatro fatores influenciam a densidade: Imigração: Número de indivíduos que, vindos de outras áreas, entram na população; Emigração: Número de indivíduos que saem da população; Natalidade: Número de indivíduos que nascem por unidade de tempo; Mortalidade: Número de indivíduos que morrem.

18 Equilíbrio da Densidade Populacional NATALIDADE + IMIGRAÇÃO = MORTALIDADE + EMIGRAÇÃO

19 CAPACIDADE DE SUPORTE E SUSTENTABILIDADE É o número de indivíduos que podem ser suportados por uma determinada área considerando os seus limitados recursos naturais como: Água Alimento Abrigo

20 Se o problema é complicado Uma fórmula simples E = mc²

21 A nossa fórmula N = A. K N = número de animais nas ruas A = Oferta de alimentos K = Outras variáveis como: abrigo, taxa de natalidade, mortalidade, doenças e novos entrantes. Obs.: A fórmula é meramente ilustrativa. Tem o intuito de facilitar a compreensão, visto que se A for igual a zero, N também será.

22 O número de animais na rua de uma comunidade é constante Tanto a eutanásia como o recolhimento de animais ao canil não resolvem o problema. O número de animais nas vias públicas não se alteram, mesmo com castração e recolhimento, porque a capacidade reprodutiva dos remanescentes é muito alta. Sempre haverá entrada de novos animais. O número de animais é proporcional a oferta de alimentos.

23 Recolhimento de Animais em Canis A retirada dos cães das ruas abre espaço para outros animais. Não necessariamente somente outros cães. Várias outras espécies irão aproveitar os alimentos existente no nicho vazio, como por exemplo ratos, pombos, baratas, etc. Onde há alimento haverá alguma espécie animal para consumi-la.

24 O porquê da superpopulação O número de animais nas ruas continua inalterado devido: 1) A alta capacidade reprodutiva dos remanescentes, 2) A perfeita adaptação ao meio urbano, principalmente num clima tropical, 3) A ampla oferta de alimento na maioria dos municípios brasileiros, 4) Negligência das autoridades com relação a cobrança da posse responsável, 5) O grande vínculo emocional entre o homem e esses animais.

25 Recomendações sensatas As ações práticas de manejo de animais de rua são: recolhimento seletivo, registro, identificação do animal, recuperação, castração e reintrodução na sociedade. FRITZ, D., The Problem of Stray Animals Practical and Effective Management Methods, The Foundation Mondo Animale Onlus, Castel Volturno, Fevereiro de 2003, Italia.

26 A castração, apesar de não diminuir o número de cães e gatos de rua, é prioritária Estabiliza a população, Diminui a rotatividade, Aumenta a expectativa de vida da população mais experiente e já adaptada ao ambiente, Diminui o sofrimento dos animais na competição pelo território, Evita partos de cadelas em condições precárias, Evita brigas por cadelas no cio.

27 Se o número de cães e gatos é constante, o que fazer? Educar a população, Exigir posse responsável para evitar novos entrantes, Manter as ruas limpas, Castrar cães e gatos, Diminuir locais de abrigos, Dar assistência veterinária.

28 Qual é o papel do Canil Municipal? Recuperação e castração Realizar a eutanásia somente quando necessário. Os animais não devem ser abrigados nos canis por longo período, por ser uma atitude pouco eficaz e de alto custo.

29 Lei n , de 16/04/2008 No estado de São Paulo, em 2008 seguindo o clamor popular houve aprovação da lei e autoria do deputado Feliciano Filho. Artigo 1º O Poder Executivo incentivará a viabilização e o desenvolvimento de programas que visem ao controle reprodutivo de cães e de gatos e à promoção de medidas protetivas, por meio de identificação, registro, esterilização cirúrgica, adoção, e de campanhas educacionais para a conscientização pública da relevância de tais atividades, cujas regras básicas seguem descritas nesta lei. Artigo 2º Fica vedada a eliminação da vida de cães e de gatos pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres, exceção feita à eutanásia, permitida nos casos de males, doenças graves ou enfermidades infecto-contagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde de pessoas ou de outros animais. Artigo 4 - O recolhimento de animais observará procedimentos protetivos de manejo, de transporte e de averiguação da existência de proprietário, de responsável ou de cuidador em sua comunidade. 1 - O animal reconhecido como comunitário será recolhido para fins de esterilização, registro e devolução à comunidade de origem, após identificação e assinatura de termo de compromisso de seu cuidador principal. 2 - Para efeitos desta lei considera-se "cão comunitário" aquele que estabelece com a comunidade em que vive laços de dependência e de manutenção, embora não possua responsável único e definido

30 Como dar melhor condições de vida para os cães e gatos de rua? Identificar com microchip Cadastrar em um banco de dados municipal Vacinar Castrar Dar atendimento veterinário

31 Posse Responsável, como exigir? Através da identificação do animal. A identificação permite: 1) eficiente vigilância dos animais, 2) marcar uma propriedade, 3) estudo de populações, 4) controle do bem-estar dos animais 5) responsabilização de seus proprietários para casos de: a) abandono, b) maus tratos, c) em casos de agressões por parte de cães bravios.

32 O microchip, considerado o mais eficiente método de identificação animal

33 O que fazer com o cadastro dos animais? A informática é extremamente útil no processo de tomada de decisão, pois possibilita a obtenção de dados com melhor qualidade, em maior velocidade e pode sugerir novos caminhos. O processo decisório necessita de um sistema de informações que integre os dados armazenados nos computadores através de uma rede, permitindo consultas instantâneas, relatórios, gráficos e textos. O sistema acessa a base de dados e transforma as informações armazenadas em conhecimento. Ter melhor controle sobre a população canina para poder exigir a posse responsável, prevenir zoonoses e diminuir gastos com a manutenção de animais no Canil Municipal.

34 Pesquisar o proprietário a partir no número de microchip

35 O banco de dados deve ser municipal Um banco de dados municipal permitirá geração dos mais diversos relatórios conforme necessidades. Os códigos para gerar uma pesquisa pode ser feito em poucas linhas SELECT YEAR(a.DataUltVacRaiva), b.bairro, COUNT(a.NomeAnimal) FROM animais AS a INNER JOIN proprietarios AS p ON (a.codigo_proprietario = p.codigo_proprietario ) INNER JOIN bairros AS b ON (b.codigo_bairro = p.codigo_bairro) WHERE YEAR(a.DataUltVacRaiva) = '$ano' GROUP BY p.codigo_bairro ORDER BY b.bairro

36 Geração de Relatórios

37 Projeto de controle populacional para a cidade de Jaú Temos um projeto criado por um grupo de estudo Projeto Vet no ano de 2016.

38 Parte legal Criar lei municipal que obrigue o uso de microchip, o cadastro em um banco de dados municipal e a posse responsável.

39 Estrutura Criar um banco de dados WEB para cadastro e identificação de animais. Criar site na internet e aplicativos para smartphone que acessem o banco de dados. Comprar microchips para serem aplicados na Clínica Veterinária Municipal, Canil Municipal e Castramóvel. Equipar a Clínica Veterinária Municipal, Canil Municipal, Castramóvel, Setor de Zoonoses e Vigilância Sanitária com leitoras de microchip e de código de barras. Equipar a Clínica Veterinária Municipal, Canil Municipal, Castramóvel com computadores que tenham acesso à internet para cadastro e identificação de animais.

40 Logística Aplicar microchips e cadastrar os animais no banco de dados da prefeitura. Fazer convênios com as clínicas veterinárias particulares. A pesquisa e identificação de animas devem ser públicas através de consulta pela internet e com aplicativos para smartphone. Investir em educação da população. Orientá-la e obrigá-la a seguir leis referentes a posse responsável.

41 Aplicação de Microchip Fica definido que os locais para aplicação de microchip e cadastro dos animais são: Clínica Veterinária Municipal, Canil Municipal, Castramóvel e clínicas veterinárias particulares conveniadas. A aplicação do microchip será feita somente por médicos veterinários ou supervisão desses. A aplicação de microchip nos animais cadastrados na Clínica Veterinária Municipal serão gratuitas conforme a Lei Municipal n 4.491, de 02 de agosto de 2010.

42 Convênios Exigir que as clínicas veterinárias conveniadas e sociedades protetoras dos animais tenham leitoras de microchip e de código de barras, computadores com acesso à internet e ou smartphones com aplicativos para identificação dos animais. Os médicos veterinários conveniados terão acesso ao banco de dados apenas para cadastro. Não será permitido edição ou exclusão de registros. As clínicas veterinárias conveniadas poderão cobrar pela aplicação do microchip e cadastro do animal no banco de dados da prefeitura.

43 Canil Reservar baias no Canil Municipal para receber temporariamente os animais recolhidos em via pública e identificados pelo microchip. Estabelecer multas e tarifas a serem pagas pelos proprietários dos animais que forem recolhidos pela Prefeitura.

44 Qual é a função do Canil Municipal? Recuperação de animais sem donos que necessitem de assistência veterinária, Internação para observação em casos de suspeita de zoonoses, Reclusão temporária de animais perdidos ou bravios. Não deve abrigar animais por longo período. Assim que possível devem ser devolvidos aos locais de origem.

45 Por que é problema só em alguns países e em outros não? Certamente na origem do problema há um forte componente cultural. É comum observarmos pessoas agir emotivamente de modo rotineiro, como por exemplo, alimentar um grupo de animais de rua, sem providenciar sua esterilização. Ação aparentemente humanitária, mas que agrava uma situação que já é ruim. Não adianta fazer o bem pela metade. Nós brasileiros tendemos a agir mais de maneira emocional que racional. Enquanto não nos organizarmos como um país civilizado, onde a sociedade participe e aja racionalmente, não conseguiremos resolver eficientemente esse e tantos outros problemas. Não existe uma solução simples e isolada.