Primeiro tínhamos o Enrique que queria fazer uma viagem relaxada pelo negro Continente; depois apareceu o Daniel que queria um pouco mais de emoção;
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- João Pedro da Costa Prado
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1 Périplo de três nómadas por África - Primeiro tínhamos o Enrique que queria fazer uma viagem relaxada pelo negro Continente; Enrique depois apareceu o Daniel que queria um pouco mais de emoção; Daniel a seguir apareci eu que como já tinha em vista visitar o Senegal com a Rosalina, de motoquatro, achámos que, pelo menos em parte, poderíamos realizar a viagem juntos, na medida que pelo menos a deslocação até à fronteira do Senegal poderia ser comum. Quim Pág. 1
2 Mas eis que inopinadamente os dados se alteram. Na revisão à moto4, segundo o mecânico, há que substituir uma peça, que tem de vir do estrangeiro; e não veio a tempo. Ainda propus à Rosalina ir-mos mais tarde, mas alegando que eu gosto de andar por sítios esquisitos, já não queria ir comigo sozinhos. À última hora, decido arrancar com a Suzuki. Acertei com o Daniel o Enrique já tinha partido os compromissos duma participação conjunta e arrancámos. A parte propriamente dita de ligação, entre Lisboa e a capital da Mauritânia, Nouakchott, e retorno, foi realizada com as três motas uma Honda África Twin e duas Suzuki, DR750 e DR350 num atrelado rebocado pela furgoneta uma Volkswagen Joker Synchro. Parte pacífica da viagem, com a furgoneta, coitada, esforçando-se para puxar todo aquele peso adicional: rodávamos normalmente entre os 80 e 90 Km/h e, a partir de certa altura foi acometida duma sede anormal parávamos frequentemente para pôr água. A seguir a Dakhla, no Sara Ocidental, paragem obrigatória para a cerimónia de acrescentar mais umas pedras às existentes no monumento criado, pelos primeiros expedicionários do ForumTT que foram à Mauritânia, no qual eu me incluía, que marca o traçado do Trópico de Câncer, naquele lugar, cuja passagem é um marco na Trópico de Câncer vida de qualquer expedicionário que se preze! Chegados à fronteira mauritana, com Marrocos, chegou-se a um acordo de Pág. 2
3 cavalheiros comprometidos com o chefe do posto, para o estacionamento da viatura e atrelado até ao nosso regresso. E pronto, já estávamos desenlatados, montados nas nossas fogosas máquinas, ainda por estrada, mas já com a aventura a 500 Km de distância. Ficámos um dia em Nouakchott, para tratar do visto para o Mali, para sentir o pulsar duma grande cidade africana e ganhar fôlego para as pistas que se seguiriam. ao longo do mar e, cerca do paralelo de Rosso, agora por pista, dirigimonos a esta cidade fronteiriça mauritana, ao longo de extensos canaviais aquáticos, do rio Senegal, fonte de vida animal abundante, para continuarmos ao longo da margem direita deste grande rio, até ao Mali, o nosso objetivo principal. Para começar nada melhor que uma deslocação pela praia. Dirigimonos para sul até perto da fronteira com o Senegal, numa agradável deslocação Pág. 3
4 Após Rosso, fomos empurrados para nordeste devido aos lagos e zonas alagadiças que manchavam esta região, e que lhe transmitem grande beleza, e, em Rkiz, pudemos fletir para sudeste, para marginar novamente o rio que dá nome ao país que nos acompanharia na outra margem. Se olharmos para o mapa Michelin desta região vemos que está pintada intensamente de amarelo, cor representativa de areia, com traçados dunares que correm em direção nordeste/sudoeste, exatamente na perpendicular ao nosso deslocamento para sudeste, o que à partida augurava uma terrível deslocação por areia e dunas. Na verdade quando arrancámos encontrámos uma pista que tinha sido, há muito pouco tempo, aplainada por máquina, e que se encontrava impoluta de traçados de viaturas e completamente lisa Pág. 4
5 Metemos por ela. Aquilo era areia pura e mole! Enquanto foi a direito, ainda deu para andar, mas quando apareceu a primeira curva enrolada o atascanço foi quase enevitável, devido à redução forçada da velocidade de deslocação. O que valeu foi que o terreno envolvente, embora de areia, estava coberto de vegetação o que a tornava compacta o que permitia um andamento seguro. Mesmo a indicação de dunas representava no terreno não cordões dunares propriamente ditos mas grandes colinas arredondadas entremeadas de lindíssimos vales a perder de vista! Apanhámos o rio outra vez e chegámos a Bogué. De Bogué a Kaedi apanhámos a estrada que bordejava o rio havia que aceitar compromissos, descomprimir a tensão gerada pela deslocação em pista e os nossos horizontes entretanto tinham-se alargado ao Burkina Faso! De Kaedi a, Sélibabi, última cidade antes de cruzarmos a fronteira, encontrámos uma pista tipo estradão largo, com aquele terrível ondulado que só permite dois tipos de andamento: a fundo ou a passo; a meio termo é uma vibração terrível nos veículos! Em Sélibabi, a primeira coisa que fizemos foi ir ao hospital tratar duma insuficiência digestiva: os nossos estômagos necessitavam de tratamento urgente após alguns dias a comer pão e conservas. Dirigimo-nos de imediato ao restaurant l Hôpital (restaurante o Hospital) para receber tratamento ministrado por especialistas, Pág. 5
6 constando de arroz com peixe que, exceptuando o Enrique que tinha contraindicações alérgicas ao pescado, nos curaram de imediato. Tínhamos decidido não tratar das formalidades de saída da Mauritânia porque o visto que nos tinham concedido na fronteira não contemplava uma segunda entrada, o que, em condições normais, depois de sairmos do país, nos obrigaria a obter novo visto em Bamako. Assim, teríamos de sair a salto e, quando da entrada, teríamos de o fazer no mesmo modo, para que o visto que tínhamos, que dava para um mês, não perdesse a validade. Mas na cidade fomos logo apanhados por polícias que nos obrigaram a passar no posto de controlo: que não íamos para o Mali, que iríamos bordejar a fronteira até Néma, foi o que dissemos mas, mesmo assim, apontaram nos passaportes que tínhamos passado por ali. Há saída da localidade fintámos as autoridades e seguimos em direção à fronteira por caminhos que não passassem por postos de controlo que entretanto tínhamos obtido informação de sua localização. Após termos acampado mesmo sobre a linha fronteiriça, continuámos até Aourou para tratarmos dos procedimentos alfandegários de entrada no Mali. embondeiros e, consequentemente da vida animal: estava-se já em plena zona subtropical de África. As aldeias agora mais frequentes, de arquitetura tipicamente africana na forma de cubatas redondas com telhados de palha, com uma população mais Com a entrada no Mali notou-se um aumento da vegetação e começaram a aparecer esses grandes monstros vegetais conhecidos como Pág. 6
7 descontraída, vistosa e alegre, levava-nos a reviver, ao vivo, imagens cinematográficas deste extenso Continente. Estávamos em pleno Continente Africano! De Aourou até Kayes o caminho complicou-se com o desaparecimento de pistas obrigando-nos a voltas e reviravoltas por fora de pista, com algumas passagens complicadas, através duma vegetação mais intensa embora desprovida de folhagem, até as reencontrarmos era a época seca tropical. De Kayes até Bafoulabé ao longo, outra vez, do rio Senegal, que agora corria integralmente por território maliano, atingimos Bamako por Manatali, com a parte entre Manantali e a capital do Mali em obras de asfaltamento, para melhorar o acesso rodoviário ao Senegal Pág. 7
8 Com a aproximação a Bamako tornou-se óbvio que os nossos objectivos teriam de ser encurtados, devido a falta de tempo. Retirámos Burquina Faso e, mesmo o país Dogon a região mais emblemática do Mali das intenções de visita. Decidimos fazer a ligação à cidade de Ségou, por pista, ao longo de um dos maiores rios de África, o rio Níger, cuja transposição marca também de forma indelével qualquer expedicionário! Este percurso ribeirinho foi um dos mais encantadores da viagem, das suas margens tínhamos uma vista soberba do seu leito, com várias pirogas cortando indolentemente as suas águas! De Ségou atingimos Niono por estrada e a partir desta povoação, por pistas, passámos por Nara em direção à fronteira par reentrarmos na Mauritânia. Aqui, a intenção original era atingir a estrada de regresso a Nouakchott, em Timbedgha, mas com informações colhidas de que este percurso tinha areia e o mapa mostrasse existência de algumas dunas, aliado ao traumatismo provocado por algumas passagens arenosas, levou a que se optasse por atingir a estrada, pela pista principal, desviando dos Pág. 8
9 postos de controle e, nomeadamente, e passar na cidade de Néma, que era sede regional alfandegário, pois não queríamos dar conta que tínhamos vindo do Mali. Correu tudo bem e ao fim de algum tempo estávamos na estrada entre Néma e a capital da Mauritânia. Descuidei-me um pouco a verificar o nível e o inevitável aconteceu. O motor colou! Passou um camião, acordou-se o transporte, e o resto da viagem, para mim e minha companheira de aventuras, durante três dias, foi passado a bordo de camiões. A DR350, já em Portugal consumia algum óleo. Com o decorrer da viagem o consumo aumentou progressivamente e, quando atingimos a estrada, sem eu dar conta, disparou. Eu, desgostoso, por a ver em coma, prostrada na caixa de carga, vendo paisagens fabulosas dum deserto imenso, cogitava nas grandes alegrias que ela já me tinha proporcionado durante já alguns anos de vida em comum, neste como por outros destinos. Entretanto, reencontrámo-nos em Nouakchott e, enquanto eu apanhava outro camião direito à fronteira, o Daniel e o Enrique decidiram ainda fazer uma parte da pista do Banco de Arguin Pág. 9
10 Juntámo-nos na fronteira e regressámos a Portugal na furgoneta com as motas no atrelado. Para mim, um dos aspectos mais marcantes da viagem foi o contacto com as populações locais. Parámos muitas vezes em aldeias, ora para propor que nos preparassem uma refeição, ora para dormirmos, ora simplesmente para tagarelar; graças principalmente, ao especialista em relações públicas do grupo: o Daniel. Comunicativo, quando era necessário alguém para falar com os locais lá estava ele a tratar do assunto. Para mim foi mesmo nas aldeias do Mali onde se comeram as melhores refeições da viagem: não me esquecerei facilmente daquele excelente capitaine peixe de rio com arroz; daquela saborosa galinha com arroz e legumes e da noite na palhota; isto por 1 euro por refeição! As pessoas em geral, principalmente nas aldeias, são simpáticas e conviviais; para os miúdos, uma festa ver as motas do rali. Outro aspecto de realce é o facto de nos países da áfrica negra praticamente não existirem monumentos arquitetónicos de relevo salvo raras excepções, como na cidade de Djéné, no Mali só os há naturais, integrados na natureza e que podem ser fascinantes ou extraordinários, como na Mauritânia. As cidades são normalmente um conjunto mais ou menos caótico de casas; é nas aldeias do interior que podemos encontrar algum Pág. 10
11 fascínio, com casas cubatas de arquitetura simples, mas que, em conjunto, por vezes são encantadoras! Saudações nómadas! Quim Pág. 11
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