LEVANTAMENTO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS INSERIDAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL MUNICIPAL DA CIDADE DE DOURADOS/MATO GROSSO DO SUL.

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1 LEVANTAMENTO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS INSERIDAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL MUNICIPAL DA CIDADE DE DOURADOS/MATO GROSSO DO SUL. Introdução MARTINS, MORGANA DE FÁTIMA AGOSTINI 1, JUNQUEIRA, FERNANDO PEREIRA 2 ; BRANCO, ELIANE SORANE 3. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD. Este é um recorte de pesquisa em andamento que tem como objetivos a elaboração e a aplicação de um programa de formação para professores de educação infantil que atendam a crianças com necessidades educacionais especiais. Antes da oferta do programa foi realizado um levantamento das crianças com necessidades especiais inseridas na rede municipal com o objetivo de identificar e caracterizar tais crianças, principalmente em relação às necessidades apresentadas afim de que estas subsidiem a elaboração do programa. Este trabalho apresenta os resultados do levantamento realizado. Método Local O estudo ocorreu em Centros de Educação Infantil (CEIM) da rede Municipal de Dourados Participantes Participaram desta etapa da pesquisa coordenadoras e professoras de educação infantil da rede municipal de Dourados. Instrumento A identificação inicial das crianças com necessidades educacionais especiais se deu através da aplicação de uma adaptação do "Instrumento de Identificação de Crianças com Necessidades Especiais" (Mendes e cols, 1999). Este instrumento é composto por um manual explicativo com definições do MEC/SEESP das categorias de necessidades educacionais especiais e uma ficha de identificação para preenchimento de informações de cada criança identificada com necessidades especiais. A ficha de identificação é composta por itens que permitem identificar idade, sexo, situação financeira da família, com quem a criança convive, se convive com outras crianças, se faz uso de medicamentos, se possui diagnóstico médico, se apresenta alguma modificação de comportamento, o tempo de frequência ao centro de educação. 1 Professora Doutora. Coordenadora do Curso de Psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados. 2 Acadêmico de Psicologia. Bolsista PIBIC CNPQ. 3 Acadêmica de Pedagogia. Bolsista de Extensão PROEXT. 1864

2 Procedimento Inicialmente foi feita uma reunião com a Secretária de Educação e a Coordenadora da Educação Infantil do Município, na qual foram explicitados os objetivos deste estudo. Após a permissão das autoridades para a realização do estudo, a coleta de dados foi iniciada. Foi obtida por meio da Secretaria de Educação Municipal uma relação com os nomes e endereços dos CEIMs e os nomes de suas respectivas coordenadoras. Foi então realizada uma reunião com todas as coordenadoras dos CEIMs na qual foi relatado o objetivo da pesquisa e como essa seria conduzida. Em seguida, foram entregues o instrumento e várias cópias da ficha de identificação e marcado um dia para que estas fossem devolvidas. A entrega e coleta foram realizadas pelos pesquisadores ou por 3 alunos do curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados, preparados anteriormente para desempenhar a coleta de dados. A coleta de dados foi realizada tendo como referência o instrumento já citado e ocorreu em 4 etapas: 1) Entrega do instrumento de identificação; 2) Solicitação da leitura do manual contendo as definições de cada categoria de necessidades educacionais especiais; 3) Identificação das crianças matriculadas no CEIM que apresentassem as características descritas em alguma das definições. 4) Preenchimento da ficha para cada criança identificada. Ressalta-se que a identificação foi realizada exclusivamente pelas coordenadoras ou pelas professoras. Apesar destes profissionais não serem capacitados para esse diagnóstico, o objetivo do estudo foi realizar um rastreamento das crianças consideradas diferentes e que possuem necessidades educacionais especiais na perspectiva da escola, considerando que o termo necessidades educacionais especiais abrange não somente as crianças com deficiências. Sabe-se que a rotulação das crianças no meio escolar ocorre mesmo sem a utilização de definições científicas ( criança lenta ; imatura ; criança desajeitada ). A criança rotulada, mesmo quando a suspeita não é confirmada por uma avaliação profissional, é percebida pela escola como diferente e pode vir a ser tratada ou socializada nesse papel, prejudicando sua relação com as demais crianças e, correndo o risco de vir a apresentar dificuldades reais de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, parece conveniente acompanhar o desenvolvimento dessas crianças precocemente identificadas como diferentes, independentemente de quem as identifique. Resultados Como resultado obteve-se 94 crianças identificadas por professoras e coordenadoras como tendo necessidades educacionais especiais em CEIMs. Ressalta-se que a cidade possui 33 CEIMs mas apenas encaminharam fichas de identificação. O gráfico 1 apresenta a porcentagem de crianças identificadas por sexo. Em relação à distribuição das crianças identificadas por sexo, têm-se: 1865

3 26,6 Masculino Feminino 73,4 Gráfico 1 - porcentagem de crianças identificadas por sexo Pode-se afirmar que a porcentagem de crianças identificadas do sexo masculino (73%) é bem maior que a porcentagem de crianças identificadas do sexo feminino (26%). Este dado é condizente com a literatura que ponta que a incidência de necessidades educacionais especiais é maior e pessoas do sexo masculino. Quanto a idade das crianças: , ,4, ,89 8,51 5 1,6 3,19 menos de 1 ano Um Ano Dois Anos Três Anos Quatro Anos Cinco Anos Não responderam Gráfico 2 - porcentagem de crianças identificadas por idade. O gráfico 2 traz maior quantidade de crianças identificadas a partir dos três anos de idade (28%) e um decréscimo neste índice em crianças maiores (23% e % para quatro e cinco anos). Estes dados podem estar relacionados a marcos mais visíveis do desenvolvimento como o surgimento e aperfeiçoamento da linguagem, ou ainda, à grande dificuldade em identificar prejuízos e déficits no desenvolvimento de crianças muito pequenas quando estes não são graves e muito visíveis. Também há baixo indicativo de bebês com necessidades especiais (1%) o que reforça a idéia de que dificuldades menos acentuadas são mais difíceis de serem percebidas. 1866

4 45 4 4, ,83 15,96,64 17,2 5 2,13 primeiro ano Um Ano Dois Anos Três Anos Quatro Anos Não Responderam Gráfico 3 - porcentagem de crianças identificadas em relação ao tempo de frequencia no CEIM. Em relação ao tempo de frequencia no CEIM, a maior parte das crianças identificadas (4%) estão no primeiro ano , ,53 11,7,64 Sim Não Às vezes Não Responderam Gráfico 4 - porcentagem de crianças identificadas que apresentam modificação no comportamento A maior parte das crianças (52%) apresenta modificação no comportamento. Esse índice aumenta quando se soma as respostas às vezes (25 %) que indicam alterações esporádicas percebidas pelas professoras , ,79 2,13 3,19 2,13 5,32 Pais Mães Avós Mães e Avós Outro Não Responderam Gráfico 5 - porcentagem de crianças em relação ao convívio familiar No gráfico 5 vê-se que mais da metade das crianças identificadas (57%) vivem com os pais (pai e mãe). 1867

5 ,3 34,4 15 5,64 17,2 1 salário mínimo 2 salários mínimos 3 salários mínimos ou mais Não Responderam Gráfico 6 - porcentagem de crianças identificadas em relação a situação financeira familiar. A situação financeira familiar das crianças é bastante precária e (72%) vive com renda de até 2 salários-mínimos , ,47 14,89 Sim Não Não Responderam Gráfico 7 - porcentagem de crianças identificadas que fazem uso de medicamentos 7, 6, 5, 4, 3,,,, Hipertiroidismo 1,6 1,6 2,13 2,13 1,6 2,13 1,6 Sindrome de Sown TDAH Autismo Prematuridade Epilepsia Hidrocefalia Sem diagnóstico 58,5 Não responderam Gráfico 8 - porcentagem de crianças identificadas e os respectivos diagnósticos. Os gráficos 7 e 8 apresentam as crianças identificadas que possuem diagnóstico médico e aquelas que fazem uso de medicamentos (ambos em torno de 15%). Os maiores percentuais mostram que as crianças identificadas pelas professoras e coordenadoras, na maioria, não possuem diagnóstico médico e consequentemente, não fazem uso de medicação. Observa-se que aproximadamente 25 % das fichas recebidas não tinham resposta a essa questão, o que permite inferir que as professoras e coordenadoras não tem conhecimento sobre dados 3,9 1868

6 médicos dessas crianças, nem em relação ao diagnóstico, nem em relação o uso de medicamentos. Discussão Com a realização do levantamento pode-se perceber que ainda que tenham identificado as crianças com alguma diferença as professoras e coordenadoras não conhecem muito bem a clientela atendida haja vista os altos índices de respostas em branco, principalmente em relação a diagnóstico, uso de medicação e situação financeira familiar. Contudo, o índice de respostas em branco em relação ao convívio familiar da criança foi muito pequeno o que permite inferir que mesmo não investigando a vida da criança, conhecem os responsáveis por elas. Isso pode estar relacionado a prática de buscar e levar crianças que geralmente é feita por membros da família. Pode-se constatar que a idade da maioria das crianças identificadas foi 3 anos (28%), seguida por 4 anos (23%) e por 5 anos (%). Portanto, pode-se afirmar que a grande maioria das crianças identificadas concentram-se na faixa etária de 3 e 4 anos. Diante dos dados apresentados acima, pode-se afirmar que a faixa etária das crianças identificadas condiz com a faixa etária esperada ao nível da Educação Infantil, o que parece indicar que não está havendo retenção de crianças com necessidades educacionais especiais com mais de 5 anos neste primeiro nível do ensino. Diante dos resultados, parece que as coordenadoras e professoras tiveram a preocupação de não afirmar com segurança que as crianças possuíam uma deficiência já instalada e sim, uma possibilidade de vir a desenvolver, não rotulando, precocemente, a criança. Estes dados corroboram com a afirmação da Associação Brasileira de Psiquiatria de que o diagnóstico precoce de deficiência é possível em somente 25% dos casos, cujo grau de deficiência está entre médio e profundo; e, também, com a definição de crianças de risco de Brown, Thurman, Pearl (1993) o termo de risco refere-se a crianças que estão em vistas de apresentar substancial atraso no desenvolvimento se um serviço de intervenção precoce não for aplicado. Desta forma, justifica-se um aprofundamento do estudo dessas crianças, com vistas a um trabalho de prevenção de deficiências. O próximo passo da referida pesquisa da qual essa comunicação é parte busca especificar as necessidades especiais encontradas e a partir delas propor um programa de formação para suas professoras que as auxilie a lidar com essas necessidades, bem como favoreça o desenvolvimento de todas as crianças por elas atendidas. Referências Bibliográficas BROWN, W.; THURMAN, S. K.; PEARL, L. F. Family-centered early intervention with infants and toddlers: innovative cross-disciplinary approaches. Baltimore: Brookes, DUNST, C. J.. Family-centered Practices.. Journal of Special Education, 36 (3), Madison: 2. LEVITT, S.. Habilidades Básicas. São Paulo: Papirus,

7 MARTINS, M. F.A. Avaliação de um Programa de Formação Continuada para Professoras de Alunos severamente Prejudicados. Dissertação de Mestrado Programa de Pós Graduação em Educação Especial, Universidade Federal de São Carlos. São Carlos/SP: 3 MENDES, E. G.; RIBEIRO, I. C. S.; MARIANI, R. M.; CIRILO, S.; FERREIRA, D. C.; CHABARIBERI, T.; ALEIXO, M.; ALMEIDA, S. P.; BELLAZALMA, C. Extensão e pesquisa no serviço de Educação Infantil na APAE de São Carlos produção de instrumento. ANAIS do III Congresso Ibero-Americano de Educação Especial. Volume 2, pp Foz do Iguaçu: