RECOMENDAÇÃO PRDC/PR/PA nº /2014 PR-PA-00032907/2013 Inquérito Civil Público n. 1.23.000.001476/2013-31 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da República e Procurador Regional dos Direitos do Cidadão que assina ao final, no regular exercício de suas atribuições legais e institucionais, Considerando que cabe ao Ministério Público, por determinação constitucional, zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição da República, promovendo as medidas necessárias à sua garantia, nos termos do art. 129, II, da Constituição Federal de 1988; Considerando ser atribuição do Ministério Público da União, conforme dispõe o art. 6º, XX, da Lei Complementar nº 75/93, expedir recomendações visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como velar pelo respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe couber promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis; Considerando que o Ministério Público deve promover a proteção dos direitos sociais e individuais indisponíveis, dentre os quais estão os direitos à saúde e à educação; Considerando que o direito à educação é direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, nos termos do art. 205 da Constituição Federal; Considerando que o referido direito à educação é regulamentado pela Lei 9.394/96, a qual determina, por meio de seu art. 3º, inciso I, que o ensino será ministrado mediante igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e, conforme o art. 4º, inciso III, o atendimento educacional especializado gratuito aos
educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino. Considerando que a saúde é direito de todos e dever do Estado, competindo a este garantir, por meio de políticas sociais, a redução do risco de doenças e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, conforme artigo 196 da Constituição Federal; Considerando que o mencionado direito à saúde vem regulamentado pela Lei nº 8.080/90, que ratifica a garantia de acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação, e que o artigo 6.º inclui, no âmbito de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS), assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; Considerando a necessidade de atendimento aos direitos das pessoas com autismo pelo Estado, nos termos da Lei 12.764/2012, a qual institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; Considerando a situação narrada pelo Termo de declarações nº 176/2013, a qual relata que as políticas de tratamento às pessoas com autismo executadas pelo Sistema Único de Saúde não englobam aqueles com idade maior que 12 anos, além de possuir diversos pontos de insuficiência, em descumprimento à legislação pertinente; Considerando o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, considerado o dia 02 de abril de cada ano, que foi criado, em 18 de dezembro de 2007, pelas Organizações das Nações Unidas, sendo um alerta para as peculiaridades da mencionada disfunção, ressaltando a necessidade de atenção às políticas públicas de cuidados às pessoas que a apresentam; Considerando que a sociedade é uma importante parceria e só com a informação de pais, amigos e familiares de pessoas com autismo é que o Ministério Público Federal poderá avaliar e verificar se tais diretrizes nacionais para as pessoas com autismo estão efetivamente sendo cumpridas no Estado do Pará; Considerando o teor do Ofício nº 411/2013 SESPA, da lavra da Secretaria
de Estado de Saúde do Pará, o qual afirma, claramente, a insuficiência da atenção fornecida pelo poder público às pessoas com autismo; Considerando que o texto da Lei Federal nº 12.764/2012, em seu art. 7º, prevê que o gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos. E, em caso de reincidência, apurada por processo administrativo, assegurado o contraditório e a ampla defesa, haverá a perda do cargo ; Considerando que é dever de estabelecimentos de ensino públicos e particulares se adaptarem aos alunos com autismo e não impedir seu acesso ao ambiente escolar, sob pena de realizar grave discriminação, punível com multa e sanção criminal; Considerando que a garantia dos direitos às pessoas com autismo é corolário do próprio Estado democrático de direitos e condição para a concretização do enunciado trazido pelo princípio da isonomia constitucional; resolve RECOMENDAR ao Estado do Pará (através da SESPA), aos Municípios de Belém, Ananindeua, Altamira, Santarém, Marabá, Paragominas, Redenção, Tucuruí e Itaituba (através de suas Secretarias de Saúde) e à União (através da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde) que ofertem políticas públicas eficientes às pessoas com autismo de todas as idades, crianças, adolescentes e adultos, fazendo-se cumprir as determinações cogentes previstas nas normas jurídicas pertinentes ao assunto, devendo, para tanto, realizar, notadamente, os seguintes pontos: a) ofertar atendimento multiprofissional, mediante equipe composta de médico, psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo, assistente social, psicopedagogo e terapeuta ocupacional; b) oferecer todo tipo de exames e testes que visem garantir o diagnóstico precoce, ou em qualquer etapa da vida, da disfunção à população;
c) fornecer, nos casos em que for necessário, os medicamentos essenciais ao controle dos sintomas e problemas que podem ser provocados pela disfunção, tais quais, p. ex., hiperatividade, impulsividade, irritabilidade, agressividade, surtos, dentre outros; d) ofertar a terapia nutricional e os nutrientes adequados às pessoas com transtorno do espectro autista; e) garantir o gozo, por parte das pessoas com transtorno do espectro autista, de todos os direitos devidos às pessoas com deficiência, tal como previsto na legislação pátria; ao Estado do Pará (através da SESPA) e aos Municípios de Belém, Ananindeua, Altamira, Santarém, Marabá, Paragominas, Redenção, Tucuruí e Itaituba (através de suas respectivas Secretarias de Educação), ao Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particular do Estado do Pará e ao Conselho Estadual de Educação para que alertem os profissionais da educação em toda a sua área de atribuição para que: a) o gestor escolar, ou autoridade competente não recuse a matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, sob pena multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos, ou até mesmo a perda do cargo, conforme art. 7º da Lei nº 12.746/2012; b) alerte que constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, aquele que recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta, conforme art. 8º, inciso I, da Lei nº 7.853/89; c) garantir, quando tecnicamente comprovado, a presença de acompanhante especializado aos alunos com autismo que estejam matriculados na rede regular de ensino;
Deverão, as autoridades destinatárias, ainda, encaminhar a esta Procuradoria da República os respectivos comprovantes do cumprimento desta Recomendação em 60 (sessenta) dias corridos após o recebimento formal do presente expediente. Autistas, para ciência. Encaminhe-se cópia desta recomendação à Associação dos Amigos dos Belém, 02 de abril de 2014. ALAN ROGÉRIO MANSUR SILVA Procurador da República Procurador Regional dos Direitos do Cidadão