Artigo. de CARDIOLOGIA do RIO GRANDE DO SUL. Carlos Sodré Soares Santos Ronald PintoZart Fernando Tormen



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Artigo REVISTA da SOCIEDADE de CARDIOLOGIA do RIO GRANDE DO SUL Marcapasso cardíaco e cardioversor-desfibrilador implantável - Orientações sobre interferências externas Carlos Sodré Soares Santos Ronald PintoZart Fernando Tormen Thais Branchi Rua Sinimbu, 2211, sala 410, Caxias do Sul-RS, CEP 95020-520 INTRODUÇÃO O tema é de extrema importância, já que a cada dia surgem novas fontes de interferência. O marcapasso é composto por um gerador de pulso, dispositivo constituído de um microcircuito eletrônico alimentado por uma bateria integrada ao sistema. A detecção da atividade elétrica intrínseca do coração é uma função essencial para os marcapassos e desfibriladores implantáveis. Estes aparelhos são dotados de potentes circuitos amplificadores sintonizados nas freqüências dos sinais biológicos; no entanto, estes circuitos podem amplificar sinais advindos de fontes de interferência situadas no próprio corpo (contração muscular, por exemplo) ou fontes externas, como os equipamentos de uso comum no dia-a-dia, capazes de gerar sinais elétricos ou vibrações mecânicas 1. Os marcapassos modernos são protegidos por uma cápsula metálica (titânio biocompatível) e possuem filtros para rejeição de interferências, tornando-os relativamente imunes às fontes eletromagnéticas domiciliares e do ambiente de trabalho. O grau de interferência é determinado pelo tempo de exposição, intensidade e proximidade com o agente causador. Os efeitos das interferências eletromagnéticas sobre os marcapassos e desfibriladores dependem de alguns fatores abaixo listados: 1- Configuração da programação 2- Tipos de eletrodos (unipolar/bipolar) 3- Campo magnético 4- Espectro de freqüência do sinal 5- Distância do marcapasso da fonte de interferência 6- Características do paciente As alterações possíveis no comportamento do marcapasso são: 1- Inibição da estimulação 2- Deflagração 3- Reversão 4- Detecção 5- Reset 6- Dano ao gerador ou eletrodo 1-Inibição: A interferência pode ser sentida pelo marcapasso e confundida com evento contrátil miocárdico, causando inibição da estimulação artificial. Dependendo do tempo em que permanece a interferência, podem ocorrer sintomas no paciente, podendo evoluir para síncope. Felizmente os marcapassos possuem algoritmos de proteção incorporados. 1 2- Deflagração: Nos marcapassos bicamerais (com estimulação atrial e ventricular) a detecção de interferências eletromagnéticas pelo canal atrial pode ocorrer, pois a sensibilidade atrial é maior. Esse aumento de freqüência pode causar sintomas como palpitação, hipotensão e dor torácica. 3- Reversão: Na presença de interferências eletromagnéticas com freqüências elevadas (acima de 600 ppm), os marcapassos possuem um modo de proteção que se chama reversão assincrônica, onde ocorre prevenção de uma inibição prolongada 2. 4- Detecção: Ocorre quando a interferência eletromagnética pode ser interpretada como arritmia, provocando inibição da estimulação ou detecção atrial e deflagração no ventrículo. Nos pacientes portadores de desfibriladores pode originar uma terapia de choque inapropriada 3. 5- Reset : Interferências de grande magnitude podem causar interrupção na leitura da memória e programação, fazendo com que o gerador reverta para modos básicos de programação (VVI/VOO), que recebe o nome técnico de power-on reset. Nestes casos, é necessária nova programação para estabelecer a função normal do aparelho. 6- Dano ao gerador ou eletrodo: Pode ser definitivo, com necessidade de troca da unidade eletrodo ou gerador, ou transitório, que só poderá ser diagnosticado por meio de análise de telemetria 4. INTERFERÊNCIAS DOMÉSTICAS A interferência dos equipamentos presentes no ambiente doméstico é muito pequena. A maioria é de natureza eletromagnética e, na maior parte das vezes, incapaz de causar alterações clínicas. Deve-se ter cuidado de utilizar o aterramento adequado, conforme especificação dos fabricantes, assim como correta manutenção e uso dos eletrodomésticos. A tabela 1 demonstra recomendações e interferências dos principais aparelhos utilizados. a) Telefone celular: Atualmente, existem dois padrões de tecnologia celular, são eles: analógico e digital. Os sistemas que realizam esses dois padrões são constituídos de três elementos básicos: estação móvel (aparelho celular), estação de rádio (antenas) e central de comutação e controle. No Brasil, predominam os sistemas digitais TDMA (Acesso Múltiplo por Divisão de Tempo) e CDMA (Acesso 1

Tabela 1. Energia doméstica: recomendações e segurança 3,16 Tipo de Energia Recomendações Interferências Formo de microondas Afastar-se 2 metros Fuga de energia Colchão magnético Contra-indicado, somente pode ser utilizado se a função magnética estiver desligada Reversão a modo assíncrono Aparelhos de som/alto falantes Evitar contato direto com os imãs/ manter distância de 30cm Reversão a modo assíncrono Choque elétrico Revisar programa após choque inadvertido Inibição/deflagração/assíncrono Barbeadores/vibradores Evitar proximidade Pode provocar aceleração inapropriada Hidromassagem Turbulência acústica Sem repercussão Sauna Vasodilatação e baixo débito Sem contra-indicação Esteiras Triboelétricos/eletrostática Controle remoto por rádio Medidor de gordura por bioimpedância Solda elétrica Limitar de acordo com as condições clínicas do paciente Cargas acumuladas sobre televisão/ computador Controles de brinquedos. Manter distância de 30cm Não deve ser utilizado Manter distância superior 61cm dos cabos e fonte Se necessário, reprogramar limite de freqüência cardíaca Raramente causa inibição Inibição/deflagração/assíncrono Dano ao gerador Dano ao gerador 2 Múltiplo por Divisão de Código). Embora existam poucos relatos de efeitos adversos com telefonia celular analógica e experimentos que sugerem que estes aparelhos são seguros para portadores de marcapasso, há crescente preocupação e evidências de estudos in vitro de que a tecnologia digital tem potencial maior de interferência no funcionamento do marcapasso do que a tecnologia analógica 5. Carrilo e cols, em estudo preliminar em 59 pacientes (não dependentes), observaram que em 21 (35,6%) ocorreram interferências apenas quando o celular estava sobre o marcapasso, e não quando da utilização no ouvido. De 170 testes realizados, em 39 (22,9%) ocorreram interferências, sendo que 8 se mostraram clinicamente significativos. Os autores concluíram que a disfunção do marcapasso pode ocorrer se o celular digital estiver a uma distância média de 1,4 ± 0,6cm. 6 Baseado nestes achados, recomenda-se evitar transportar o celular no bolso da camisa, próximo ao marcapasso, e estender a antena, quando possível, permitindo que o celular opere com maior potência. Apesar de os celulares digitais trabalharem com freqüências semelhantes às dos analógicos, a presença dos pulsos (11HZ a 200Hz) pode ser detectada pelos circuitos de sensibilidade dos marcapassos quando o campo for suficientemente forte. Todas as análises demonstram que o marcapasso volta a operar de maneira normal quando o celular é desligado ou afastado. Inúmeros pacientes foram submetidos a estes testes, com as várias tecnologias de celulares, não ocorrendo significativa interferência eletromagnética quando o telefone foi usado de modo correto 7,8. As recomendações do Food and Drug Administration (FDA USA) 9 são: 1- Os pacientes devem evitar transportar o celular próximo ao local do gerador (pelo menos 15cm afastado do local do implante) 2- Os pacientes devem utilizar o celular no ouvido do lado oposto ao implante OBS: Quando extremamente necessário, estender a antena do celular, direcionando-a para longe da loja do marcapasso (orientação no Brasil) 3. INTERFERÊNCIAS NO AMBIENTE PROFISSIONAL As interferências decorrem dos sinais eletromagnéticos dos equipamentos encontrados em várias áreas de atuação profissionais, conforme demonstrado na tabela 2. INTERFERÊNCIAS NO AMBIENTE HOSPITALAR Podem ocorrer por aparelhos diagnósticos, de tratamento ou outros usos, conforme listados na tabela 3 e 4. a) Ressonância Nuclear Magnética: A ressonância magnética gera um campo magnético estático e pulsado, atuando na chave magnética dos marcapassos e desfibriladores, podendo causar dor local e desconforto por movimentação da prótese dentro do tecido onde está implantada. Os campos magnéticos gerados podem deflagrar ou inibir o marcapasso/desfibrilador. Portanto, avaliações mais completas com relação ao aquecimento, arritmogênese e a capacidade eletromagnética durante e após a RNM devem estar disponíveis antes de se endossar o seu uso em portadores de marcapassos e desfibriladores. A ressonância magnética tem se tornado o exame ideal em várias áreas da medicina, tendo extrema importância no diagnóstico de patologias do sistema nervoso central, musculatura esquelética, oncologia e aparelho cardiovascular. Na literatura, já foram relatadas algumas mortes relacionadas ao uso da ressonância em pacientes portadores de marcapasso, porém nenhuma ocorreu quando os exames foram realizados sob supervisão médica 10. Sendo assim, alguns autores demonstraram ser seguro realizar a ressonância, mas com séries pequenas de casos 11. Apesar destes relatos bem sucedidos, o FDA contra-indica a RNM nos pacientes portadores de marcapasso e desfibriladores 12. Nos casos em que o exame é necessário ao extremo, Martin e cols

Tabela 2. Áreas de atividade profissional, interferências e recomendações 1 Atividade profissional Geração de energia elétrica Subestação de energia/alta tensão Linhas de transmissão Solda elétrica Motores elétricos de grande porte Indústria eletroeletrônica (televisores, monitores, solda por radiofreqüência) Empresas de telecomunicações (rádio AM/FM e televisão) Empresas de transporte (automóveis, ônibus, caminhões, aviões) Indústria transformadora de madeira e de plástico Interferências/Recomendações Contra-indicado em portadores de marcapasso e desfibriladores Permitido até estações com 400KV desde que protegidos Contra-indicado a portadores de marcapasso e desfibriladores Até 225A parece não interferir/maior de 300A demonstra interferência Manter distância mínima de 2 metros Podem provocar alterações temporárias Depende da distância e freqüência transmitidas, inibição esporádica sem repercussão clínica Restrição a pilotos de aeronaves nas cabines de comando Secadores de madeira por radiofreqüência, furadeiras e lixadeiras podem causar interferências, profissionais destas áreas devem evitar contato. Profissionais de hospitais Ver interferências hospitalares (tabela 3) Eletricista Permitidos em redes de baixa voltagem, desde que protegidos Mecânicos de automóveis Manter-se afastado a uma distância de 1 metro da ignição eletrônica Funilaria/serralheria Furadeiras e lixadeiras apresentam baixo grau de inibição, deflagração ou reversão Digitador e técnico de informática Fenômenos triboelétricos sem repercussão quando os monitores estiverem adequadamente aterrados Odontologia Interferência por aparelhos de diatermia dental, afastar-se 35cm dos aparelhos. KV: kilowatts, A: ampere, cm: centímetros Tabela 3. Aparelhos utilizados em ambiente hospitalar, interferências e recomendações 1,3 Aparelhos Interferências/Recomendações Eletrocautério Corrente constante durante o corte e alternada durante a coagulação (ver alterações e cuidados específicos - tabela 4) Oxímetro, ventilador, capnógrafo, bomba de infusão, balão intra-aórtico, polígrafo, monitores de pressão e pulso Ressonância magnética Ablação por catéter Cardioversão/desfibrilador Litotripsia Equipamento odontológico Ecocardiograma, ergometria, holter, raios-x, cateterismo cardíaco, medicina nuclear, mamografia, tomografia, eletroenceflografia. Radioterapia Neuroestimulação, eletromiografia Acupuntura Sem interferência significativa Contra-indicado (ver especificação neste artigo) A radiofreqüência deve ser aplicada a mais de 2 cm dos eletrodos, raros casos de dano permanente ao gerador Reprogramar o gerador antes do procedimento Podem causar danos permanentes (ver cuidados neste capítulo) Pode inibir ou danificar o gerador quando este estiver perto do abdômen, na região peitoral a possibilidade de dano é mínima Recomendado reprogramar o gerador Radiografia/brocas pouca interferência - sem repercussão clínica Eletrocautério deve ser utilizado com cautela. Não estão relatadas interferências, na literatura Disfunção se dose cumulativa for maior que 500 rads A área da loja do gerador deve ser protegida Aplicação deve ser evitada Sem interferências desde que não seja utilizado eletroacupuntura sugerem alguns cuidados: 1) obter consentimento do paciente e família, os quais necessitam saber dos riscos potenciais do exame; 2) equipamento de emergência e pessoal treinado em ressuscitação cardiopulmonar; 3) programação do marcapasso antes e imediatamente após o exame; 4) contato com o paciente durante o procedimento e monitorização cardíaca durante todo o procedimento; 5) presença de eletrofisiologista ou cardiologista apto em programação de geradores 13.

Tabela 4. Orientações e recomendações para utilização de eletrocautério 16 Cuidados Monitorização Desfibriladores e programação Eletrocautério Eletrocautério unipolar Aterramento Tempo de utilização Bradicardia ou taquicardia Evitar Profilaxia antibiótica Orientações para placa eletrocautério Colocar placa do eletrocautério longe do gerador Cirurgia urológica/ginecológica/abdominal Cirurgia de cabeça Recomendações Eletrocardiograma contínuo e oximetria Desligar modos de antitaquicardia Preferência por bipolares Placa longe do gerador/usar menor potência Verificar com manutenção do hospital Optar por intervalos curtos de eletrocoagulação Colocar imã sobre gerador/nem todos os modelos respondem e depende da programação do gerador/modelo e ano Drogas arritmogênicas Conforme indicação e paciente Colocar placa do eletrocautério próximo ao campo cirúrgico Região sacral Região do pescoço Tabela 5. Manejo de pacientes com dispositivos implantáveis (marcapasso e desfibriladores) - Pré-operatório 11 Considerar outras técnicas de hemostasia que não eletrocautério Identificar qual o dispositivo e determinar o modo reset (retorna a programação inicial) Verificar programação por telemetria, limiar, estado da bateria. Desenvolver um plano no caso de arritmia ou disfunção do dispositivo Tabela 6. Manejo de pacientes com dispositivos implantáveis (marcapasso e desfibriladores) - Trans-operatório 11 Desabilitar modo de taquiarritmia Desativar resposta de frequência Nos pacientes marcapasso dependentes reprogramar para modo assíncrono/lembrar que o modo assíncrono não está disponível em alguns desfibriladores Se disponível programar reversão de ruído no modo assíncrono Diminuir a sensibilidade ao máximo Deixar disponível marcapasso temporário trans-torácico Considerar quando necessário marcapasso temporário pré-operatório Monitorização de pulso periférica e oximetria/ecg pode ficar alterado por interferências Colocar placa de eletrocautério longe do gerador Utilizar eletrocautério bipolar quando possível Limitar a corrente do eletrocautério a menor energia possível Não utilizar as o cautério próximo a gerador Reprogramar o gerador se o modo reset for hemodinamicamente desfavorável Utilizar o imã com cuidado, pois alguns geradores antigos alteram a programação ECG=eletrocardiograma 4 I N T E R F E R Ê N C I A S C O M E Q U I PA M E N T O S D E SEGURANÇA Existem basicamente dois tipos: equipamentos antifurto (lojas) e detectores de metais (bancos e aeroportos). Os primeiros emitem e recebem ondas de um campo eletromagnético da tarja conectada a um objeto. Este campo eletromagnético pode causar interferência nos pacientes portadores de marcapassos. Os aparelhos antifurto diferem muito na freqüência e potência do campo emitido. As interações mais comuns são: deflagração assincrônica ou inibição. Os pacientes portadores de marcapasso e desfibriladores devem ser orientados a evitar permanecer próximos aos equipamentos antifurto, passando rapidamente através deles e a evitar contato direto com o dispositivo 14. Em relação aos detectores de metais, deve-se recomendar que aqueles pacientes portadores de marcapassos/desfibriladores antigos (unipolares) informem a autoridade do local da impossibilidade de passarem por tais aparelhos. Pacientes portadores de marcapassos modernos (bipolares) e desfibriladores podem passar com segurança por tais mecanismos, desde que com rapidez e colocando os objetos metálicos adicionais no portaobjetos. Dificilmente será detectado o gerador de marcapasso de massa metálica reduzida. Os detectores manuais de metais podem ser utilizados, desde que não haja contato direto com o gerador 15,16.

Tabela 7. Manejo de pacientes com dispositivos implantáveis (marcapasso e desfibriladores)- Pós-operatório 11 CDI = cardiodesfibrilador implantável Reativar a programação antitaquicardia nos CDI assim que possível Checar a programação assim que possível (telemetria, limiar, bateria). Reprogramar se necessário Trocar o gerador se necessário Trocar o(s) eletrodos se necessário ORIENTAÇÕES GERAIS PARA PACIENTES QUE SERÃO SUBMETIDOS À CIRURGIA As orientações listadas nas tabela 5, 6 e 7 sugerem o manejo nos pacientes portadores de marcapasso e desfibriladores (CDI) em geral. As considerações deste artigo são gerais e contêm referências atuais que devem ser levadas em consideração de acordo com o paciente, tipo de dispositivo e situação clínico-cirúrgica. Referências Bibliográficas 1 - Paola, A.A.V., Halperin C., Pimenta, J. et al. Orientações a respeito das interferências sobre os marcapassos cardíacos. Melo, Celso Salgado de. Temas de Marcapasso. 2 ed. São Paulo: Lemos Editorial, 2004; pp. 207-222. 2 - Strathmore, N.F. Interference in cardiac pacemakers. In: Ellenbogen KA, Ka GN, Wilkoff BL, eda. Clinical Care Pacing. Philadelphia: W.B. Saundres,1995;pp. 770. 3 - Mateos, E.I.P., Mateos, J.C.P., Mateos, M.G.P. Cuidados com os marcapassos e desfibriladores nas interferências, cirurgia geral, cardioversão elétrica e dentista. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2004;2:260-74. 4 - Ellenbogen, K.A., Pinski, S.L., Troman, R.G. Interference with cardiac pacing. Cardiol Clin 2000;18(1):219-39. 5 - Hayes, D.L. et al. Does cellular phone technology cause pacemaker or defibrillator interference? PACE 1995;18:842. 6 - Carrilo, R., Saunkeah, B., Pickls, M. et al. Preliminary observations on cellulars telephones and pacemakers. PACE 1995;18:863. 7 - Barbaro, V., Bartolini, P., Donato, A. et al. GSM cellular phones interference with implantable pacemakers: in vitro observations. Proceedings of the V International Symposium on Biomedical Engeneering 1994;275-276. 8 - Schlegel, R.E., Raman, S., Grant, F.H. et al. In vitro study of the interaction of cellular phones with cardiac pacemakers. Disponível em: http://www.funsan.biomed.mcgill.ca/~funnel/ embc95_cd/texts/995.htm 9 - Center for Devices and Radiological Health: Medical Device Reporting. Disponível em: http://www.fda.gov/cdrh/ mdr.html 10 - Gimbel R.J., Kanal E.. Can patients with implantable pacemakers safely undergo resonance imaging? J. AM. Coll. Cardiol. 2004;43; 1325-1327. 11 - Anfinsen O.G.,Bertsen R.F., Aass H, et al. Implantable Cardioverter Defibrillator Dysfunction During and After Magnetic Resonance Imaging. PACE 2002; 9:1400-1`402. 12 - CDRH Magnetic Resonance Working Group. A primer on medical device interactions with magnetic resonance imaging systems. Disponível em http://www.fda.gov/cdrh/ode/ primerf6.html 13 - Martin E.T., Coman J.A., Shellock F.G., Pulling C.C., Magnetic resonance imaging and cardiac pacemaker safety at 1.5-Tesla. J.Am. Coll.Cardiol.2004;43;1315-1324. 14 - Santuccci P.A., Haw J., Trohman R.G., et al. Interference with an implantable defibrillator by an electronic antitheftsurveillance device. N Engl J Méd 1998;339:1371-1374. 15 - Kolb C., Schmieder S., et al. Do airport metal detectors interfere with implantable pacemakers or cardioverterdefribrillators? J. AM. Coll. Cardiol.2003; v.41, n.11,, p.2054-9. 16 - Irnich W.,Eletronic Security Systems and Active Implantable Medical Devices. Journal of Pacing and Clinical Eletrophysiology 2002, volume 25, No.8,1235,1258. 5