RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO. (em face da aprovação do NCPC e da revogação do CPC de 1961) 1



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Transcrição:

1 RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO (em face da aprovação do NCPC e da revogação do CPC de 1961) 1 ANTÓNIO SANTOS ABRANTES GERALDES (Juiz-Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça) 1. O processo do trabalho foi percursor de algumas das alterações mais significativas que ocorreram no direito processual em geral. Assim aconteceu no campo da simplificação e da aceleração processual e também no que concerne ao reforço dos poderes do juiz na direcção do processo, potenciando os factores de eficácia e um maior equilíbrio entre as partes que, em geral, se encontra prejudicado pelo diferencial económico e de meios humanos e materiais. Sem embargo da autonomia relativamente ao processo civil comum, o CPT não esgota a regulamentação necessária ao foro laboral, demandando o recurso subsidiário ao Código do Processo Civil quando se trate de integrar casos omissos. Tal mecanismo não suscita dificuldades perante aspectos totalmente omissos no Código do Processo do Trabalho, mas revela-se um verdadeiro quebra-cabeças quando estão em causa figuras que colhem a sua regulamentação em ambos os diplomas. A alteração do regime processual civil comum, desacompanhada da alteração ou da adaptação do processo laboral, suscita dúvidas que infirmam a principal característica a que deve obedecer o direito adjectivo em geral e o processo do trabalho em particular: a certeza e a segurança na identificação do regime jurídico a que obedecem os actos e a tramitação processual. 1 Texto que serviu de base à intervenção no VI Colóquio do Direito do Trabalho, no dia 22-10-2013, no Supremo Tribunal de Justiça.

2 Tal vem ocorrendo precisamente em sede do regime dos recursos no processo do trabalho. As modificações que, ainda na vigência do CPC anterior, foram introduzidas no regime jurídico dos recursos cíveis não foram acompanhadas de uma simultânea ou imediata intervenção legislativa no CPT. Em resultado da inércia quanto à modificação do regime dos recursos no processo do trabalho, por forma a corresponder ao novo paradigma dos recursos cíveis que se traduziu essencialmente na opção pelo monismo recursório, persistiu no processo do trabalho a distinção entre recursos de apelação e de revista e recursos de agravo em 1ª e 2ª instância. Consequentemente, durante o período que mediou entre 1-1-2008 (data em que entrou em vigor aquele novo regime aprovado pelo Dec. Lei nº 303/07, de 24-8) e 1-1-2010 (data em que começou a vigorar o novo regime introduzido no CPT pelo Dec. Lei nº 295/09, de 13-10) verificou-se uma situação verdadeiramente disfuncional, com necessidade de suprir lacunas de regulamentação especialmente no tocante ao recurso de agravo, em face da abolição deste instrumento legal no âmbito do processo civil comum. Semelhante situação, ainda que com resultados menos graves, se constata em face da publicação do NCPC pela Lei nº 41/13, de 26-6, a vigorar a partir de 1-9-2013. Ainda que tenham sido menos profundas as modificações operadas no regime dos recursos cíveis, ao menos em termos formais deixa de ser possível superar de forma directa algumas lacunas de regulamentação dos recursos no processo do trabalho, na medida em que o CPT remete para o anterior CPC que, no entretanto, se encontra revogado. 2 2 Discordo da solução dada pelo Ac. da Rel. do Porto, de 24-4-14 (www.dgsi.pt), Rel. Ramalho Pinto, onde se concluiu que em sede de processo laboral, e dado que a redacção do art. 79º-A do CPT não foi objecto de alteração, o art. 691º do anterior CPC mantém-se em vigor, em detrimento do art. 644º do NCPC. Creio ser mais curial a solução adoptada no Ac. da Rel. do Porto proferido no âmbito do processo nº 936/12.6TTMTS.P1 (Rel. Paula Leal de Carvalho), onde se concluiu que o art. 79º-A, nº 1, al. i), do CPT, fez seu o conteúdo das als. c), d), h), i), j) e l) do nº 2 do art. 691º (do anterior CPC), com relevo na determinação do prazo para interposição dos recursos dessas decisões interlocutórias proferidas no âmbito do processo laboral.

3 Com aplicação a esta e a outras situações, a regulamentação das fases e dos actos processuais não deveria confrontar os profissionais forenses nem com dúvidas, nem com soluções polémicas ou divergentes designadamente em sede de identificação dos prazos de interposição dos recursos. O facto de ao decurso de prazos processuais de natureza peremptória estar associado o efeito preclusivo ou extintivo do direito que se pretende exercitar, reclama a exigência de um regime jurídico-processual claro que liberte os diversos intervenientes, com especial destaque para o Ministério Público, quando patrocina alguma das partes, e para os mandatários judiciais, de dúvidas insanáveis ou do risco inerente a uma diversidade de interpretações jurídicas, depois de esgotado o prazo para a prática do acto. A modernização do processo do trabalho não poupou, de início, a área dos recursos, revelando-se designadamente através da redução dos prazos, da apresentação simultânea do requerimento de interposição e das correspondentes alegações e da atribuição, em regra, de efeito meramente devolutivo, medidas que acabaram por ser transpostas também para o processo civil comum nas reformas de 1995/96 e de 2007. Agora que o vanguardismo pontua no processo civil comum, com irradiação, por via da subsidiariedade, para outros ramos do processo, como o processo do trabalho, exigir-se-ia, no mínimo, a simultaneidade das modificações ou adaptações pertinentes no CPT que, obviando a escusadas dúvidas, colocassem os interessados a coberto dos inerentes riscos. 2. Como se disse, o CPC é subsidiário do CPT. Nesta medida, devendo ser dada prioridade ao regime contido no CPT em matéria de recursos, atento o disposto no seu art. 1º, nº 1, apenas deve recorrer-se ao CPC se e na medida em que a matéria não encontre naquele diploma regulamentação específica. 3 3 Relativamente aos recursos no processo do trabalho, nos termos que resultaram da modificação do CPT introduzida pelo Dec. Lei nº 295/09, de 13-10, poderão ser encontradas respostas mais desenvolvidas no meu livro Recursos no Processo do Trabalho Novo Regime, ed. Almedina, 2010, com os necessários ajustamentos decorrentes da aplicação remissiva ou subsidiária do NCPC de 2013.

4 Por outro lado, em face das normas que no CPT remetem para normas do CPC de 1961, na redacção que vigorava antes da entrada em vigor do NCPC, enquanto não forem efectuadas as pertinentes alterações, tal remissão deve agora encontrar eco nas normas correspondentes do NCPC, na medida em que não contrariem aquele regime específico. Assim, a remissão que é feita pelo art. 79º para o art. 678º do anterior CPC, deverá reportar-se ao art. 629º do NCPC, daqui decorrendo, além do mais, que também no processo do trabalho é admitida a recorribilidade do acórdão da Relação que, no domínio da mesma legislação (substancial) e sobre a mesma questão fundamental de direito, esteja em contradição com acórdão dessa ou de outra Relação (ou mesmo com acórdão do STJ), em situações em que a irrecorribilidade não seja definida em função da alçada do tribunal da Relação, mas de outro critério legal (art. 629º, nº 2, al. d), do NCPC). 4 Por via da subsidiariedade é de transpor para o processo do trabalho o preceituado no art. 630º do NCPC, maxime o que agora consta do seu nº 2 que ampliou os casos de irrecorribilidade de determinadas decisões de natureza instrumental. Nesta medida, são insusceptíveis de recurso as decisões proferidas em sede de simplificação e de agilização processual (arts. 6º, nº 1, e 591º, nº 1, al. e)) ou de adequação formal (arts. 547º e 591º, nº 1, al. e)), assim como as que nulidades gerais (art. 195º, nº 1, todos do NCPC), a não ser que seja invocada (e posteriormente confirmada pelo tribunal ad quem) a violação dos princípios da igualdade ou do contraditório ou o desrespeito das regras sobre a aquisição processual de factos ou sobre a admissibilidade de meios de prova. 5 4 De todo o modo, a aplicação deste preceito sempre adviria por via da subsidiariedade do CPC (agora do NCPC), considerando que o CPT é totalmente omisso quanto a essa situação (art. 1º, nº 2, al. a), do CPT). 5 Sobre este e todos os demais preceitos do NCPC remete-se no meu livro Recursos no Novo Processo Civil, 2ª ed, 2014, ed. Almedina, onde com mais desenvolvimento são analisados todos os preceitos do NCPC sobre a matéria, sendo de destacar aqueles que, por via remissiva ou subsidiária, têm aplicação no foro laboral.

5 3. Depois do período de dois anos em que se verificou uma discrepância entre o regime recursório previsto no CPT e no anterior CPC, mantendo-se naquele um modelo assente no dualismo recursório, a alteração do CPT de 2009 apropriou-se das modificações que haviam sido introduzidas no CPC, adoptando também o monismo recursório e a separação entre as decisões que pusessem termo ao processo e outras decisões interlocutórias susceptíveis de recurso imediato. Assim, no âmbito do foro laboral, o regime da apelação é essencialmente o seguinte: 6 a) Cabe apelação da decisão que ponha termo ao processo (art. 79º-A, nº 1, do CPT). 7 Tal preceito, que correspondia ao art. 691º, nº 1, do anterior CPC, equivale, agora, ao art. 644º, nº 1, al. a), 1ª parte, do NCPC. Para tal recurso o prazo de interposição é de 20 dias: art. 80º, nº 1, do CPT. 8 6 É de notar que a admissibilidade de recurso pode estar sujeita a outros pressupostos, com destaque para o que conjuga o valor do processo ou da sucumbência com o valor das alçadas da 1ª instância e da Relação (art. 629º, nº 1, do NCPC). 7 Sobre a interpretação deste preceito, cfr. Abrantes Geraldes, Recursos no Processo do Trabalho Novo Regime, págs. 32 a 35. 8 Numa futura alteração processual impõe-se que se estabeleça uma correspondência entre os prazos previstos no CPC e no CPT. Assim o demandam razões de certeza e de segurança que ficam prejudicadas quando se confrontam as partes com verdadeiros alçapões, com graves consequências no direito material, atentos os efeitos preclusivos determinados pelo simples decurso de prazos de natureza peremptória. Nem sequer as razões de celeridade que estivaram na génese da redução dos prazos no processo do trabalho justificam a manutenção da actual situação. Para além de ser irrisória a diferença de prazos (20/30 dias ou 10/15 dias), quer em termos absolutos, quer em termos relativos (considerando a duração média dos processos do foro laboral), a solução legal determina um resultado paradoxal precisamente para os processos a que o CPT atribui natureza urgente (art. 26º), com destaque para as acções de impugnação da regularidade e licitude do despedimento ou para as acções emergentes de acidente de trabalho e doença profissional. Contrariando essa qualificação, verifica-se que o prazo para interposição de recursos em tais processos (e também para apresentação de contra-alegações) acaba por ser mais longo do que aquele que resultaria da adopção do regime de prazos previsto no NCPC (e que também já resultava do ante-

6 b) Cabe apelação da decisão que competência absoluta do tribunal (art. 79º-A, nº 2, al. b), do CPT). O art. 79º-A, nº 2, al. b), do CPT, à semelhança do que previa o art. 691º, nº 2, al. b), do anterior CPC, não estabelece qualquer distinção de regimes entre a impugnação de decisões em matéria de competência absoluta e de competência relativa. Isso poder-nos-ia levar a concluir que, sendo aquele preceito norma especial do foro laboral, deveria sobrepor-se ao regime que decorre da conjugação dos arts. 644º, nº 2, al. b) (que restringe o recurso de apelação à decisão sobre competência absoluta do tribunal) com o art. 105º, nº 4, do NCPC (que prescreve para a decisão sobre competência relativa a reclamação para o Presidente da Relação). Trata-se, contudo, de uma solução que não me parece a mais correcta. O facto de se manter inalterado o art. 79º-A, nº 2, al. b), do CPT (introduzido depois de se operar a reforma do regime dos recursos cíveis aprovada em 2007), não significa necessariamente que o seu conteúdo se mantenha incólume depois de operada a modificação no processo civil comum, sendo defensável uma solução que aposte na revogação tácita do preceito, limitada ao segmento referente às decisões sobre competência relativa ou, com o mesmo efeito, na sua interpretação restritiva justificada pela modificação da conjuntura que existia aquando da alteração da norma do foro laboral, estendendo a este o mesmo regime de impugnação prescrito pelo NCPC. Um argumento de ordem legal e de cariz sistemático acaba por impor tal solução. rior CPC). Com efeito, uma vez que no CPT não existe qualquer redução de prazo conexa com a natureza urgente do processo em que foi proferida a decisão recorrida, o prazo de interposição de recurso de decisões finais no processo laboral é sempre de 20 dias quando, nas mesmas circunstâncias, tal prazo é reduzido para 15 dias nos processos que o NCPC qualifica como urgentes (art. 638º, nº 1). Ainda que seja irrisória a contribuição deste alongamento do prazo para a duração global de tais processos, o certo é que o valor da segurança jurídica beneficiaria largamente com a unificação do regime, evitando-se que, por motivos meramente formais, seja definitivamente prejudicada a justa composição do litígio e a apreciação do mérito da decisão em função do direito material.

7 Nos termos do art. 652º, nº 5, al. a), do NCPC, o acórdão da Relação que incida sobre matéria de competência relativa da Relação, é impugnável mediante reclamação para o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e não através da via recursória prescrita para a generalidade dos acórdãos. Não contendo o CPT qualquer preceito a respeito da mesma decisão, por via da aplicação subsidiária do NCPC, a impugnação de uma tal decisão proferida pela Relação, no âmbito de processo do foro laboral, será feita pela mesma via da reclamação, que não do recurso. Neste contexto, não se compreenderia constituindo uma verdadeira anomalia sistemática que relativamente a decisões de semelhante conteúdo, incidindo sobre a competência relativa, obedecessem a uma dualidade de regimes: o recurso de apelação para a Relação quando se tratasse de decisão da 1ª instância e segundo a reclamação para o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça quando estivesse em causa acórdão da Relação. Dualidade que ainda se revelaria mais incompreensível quando a distinção de meios impugnatórios e de competência decisória se estabelecesse, dentro de cada Relação, entre os casos em que a decisão sobre o incidente de competência relativa respeitava a processos do foro comum (através de reclamação para o Presidente da Relação) e do foro laboral (mediante recurso para a Relação, a ser distribuído pelos desembargadores respectivos). Por isso, fazendo interferir argumentos de ordem histórica, sistemática e racional 9 e também o argumento de direito positivo extraído do art. 9 Em termos racionais, a solução adoptada no NCPC (art. 105º, nº 4) encontra justificação não apenas em razões de celeridade da resposta, como também na maior garantia de uniformidade do critério delimitador da competência relativa, factores que igualmente merecem acolhimento no foro laboral. Com efeito, a reclamação é submetida a um regime processual mais simples, permitindo que com a máxima celeridade seja apreciada pelo Presidente da Relação que, como órgão uninominal, adoptará para as mesmas situações a mesma solução, livrando as partes do factor aleatório sempre associado à dispersão jurisprudencial emergente da distribuição pelos diversos juízes desembargadores. Como se disse, estes factores são assegurados por via remissiva para o art. 652º, nº 5, al. a), do NCPC, quando se trata de decisões sobre competência relativa da Relação, não fazendo sentido uma diversidade de soluções em face de incidentes processuais com a mesma natureza e efeitos.

8 652º, nº 5, al. a), do NCPC, creio que também no foro laboral a impugnação da decisão sobre competência relativa deve ser veiculada através de reclamação para o Presidente da Relação, em lugar o recurso de apelação que, assim, fica circunscrito à decisão que aprecia a competência absoluta do tribunal, em razão da nacionalidade, da matéria ou da hierarquia. c) Cabe recurso de apelação do despacho saneador que, sem pôr termo ao processo, conhece do mérito da causa (art. 79º, nº 2, al. i), do CPT, em conexão com o art. 691º, nº 2, al. h), do anterior CPC). Posto que não se encontre qualquer preceito que delimite as decisões que apreciam o mérito da causa das demais decisões, o elemento histórico sustentado no art. 691º, nº 2, do CPC de 1961, na redacção anterior ao Dec. Lei nº 303/07, permite-nos concluir que aquela previsão abarca os despachos saneadores em que, independentemente do resultado, se aprecia alguma excepção peremptória ou se conhece de algum dos pedidos ou de parte do pedido). 10 Em face do NCPC, o recurso de tal decisão proferida no âmbito do processo comum está sujeito ao mesmo prazo prescrito para o recurso da decisão que põe termo ao processo (art. 638º, nº 1), 11 sendo, em regra, de 30 dias. Todavia, uma tal equiparação foi expressamente recusada pelo CPT que no seu art. 80º, nº 1 (na sequência da anterior revisão do regime dos recursos em matéria cível), circunscreveu o prazo mais longo de 20 dias para as decisões que põem termo ao processo, excluindo, deste modo, os despachos saneadores com aquele conteúdo limitado. Deste modo, prevalecendo no foro laboral a solução que expressamente decorre do art. 80º, nº 2, por referência ao art. 79º-A, nº 2, do CPT, on- 10 Cfr. Recursos no Processo do Trabalho Novo Regime, pág. 42, e anot. ao art. 644º, em Recursos no Novo Código de Processo Civil, 2ª ed. 11 Solução que já era prevista no anterior CPC (arts. 685º, nº 1, e 691º, nº 5).

9 de se abarcam tais decisões, é de concluir que o prazo de interposição de tais recursos é de 10 dias. 12 d) Cabe recurso de apelação dos despachos que excluam alguma parte do processo ou constituam quanto a ela decisão final (art. 79º-A, nº 2, al. d), do CPT). 13 Posto que no NCPC tais decisões obedeçam a um regime equiparado aos das decisões finais (ao menos no que respeita ao prazo de interposição de recurso), deve prevalecer a norma especial do art. 79º-A, nº 2, al. d), do CPT (que, aliás, inovou relativamente ao que constava do anterior CPC, sendo anterior ao que agora decorre do art. 644º, nº 1, al. b), do NCPC). Por isso, em conjugação com o disposto no art. 80º, nº 2, do CPT, o prazo de interposição do recurso é de 10 dias. e) Cabe recurso de apelação dos despachos de admissão ou de rejeição de meios de prova 14 e também dos despachos de admissão ou de rejeição de algum articulado. O art. 79º-A, nº 2, al. i), do CPT, por referência ao art. 691º, nº 2, al. i), do anterior CPC, apenas abarcava os despachos de admissão ou de rejeição de meios de prova. Todavia, o art. 644º, nº 2, al. d), do NCPC, veio equiparar a tais decisões aquelas em que se admite ou rejeita algum articulado. Conquanto se mantenha formalmente inalterado o art. 79º-A do CPT, creio que também esta situação ocorrida no foro laboral deve obedecer ao mesmo regime, quer por via da adaptação que necessariamente deve ser 12 Apenas será de 20 dias nos casos em que o despacho saneador põe termo ao processo, designadamente quando aprecia a totalidade do pedido ou dos pedidos formulados. 13 Cfr. Recursos no Processo do Trabalho Novo Regime, págs. 37 e 38. 14 Recursos no Processo do Trabalho Novo Regime, pág. 42 a 44, e Recursos no Novo Código de Processo Civil, 2ª ed., anot. ao art. 644º.

10 feita da norma remissiva (art 79º-A, nº 2, al. i), do CPT, em conexão com o art. 691º, nº 2, al. i), do anterior CPC e, agora com o art. 644º, nº 2, al. d), do NCPC), quer por via da aplicação subsidiária do regime processual comum (art. 1º, nº 2, al. a), do CPT). Com efeito, nada se prevendo no CPT acerca de tais decisões, impõe-se o recurso subsidiário ao NCPC cujo preceito prevê a admissibilidade apelação do despacho interlocutório de admissão ou de rejeição de algum articulado. 15 O prazo de interposição é de 10 dias (art. 80º, nº 2, do CPT). f) O que se referiu na antecedente alínea é aplicável ao recurso das decisões que apliquem multa ou que condenem no cumprimento de obrigação pecuniária ou outras sanções processuais (art. 79º-A, nº 2, al. i), do CPT, por referência ao art. 691º, nº 2, als. c) e d), do anterior CPC, e, agora, ao art. 644º, nº 2, al. e), do NCPC). É verdade que o art. 691º do anterior CPC nada prescrevia relativamente às decisões que aplicassem outras sanções processuais. Mas, quer por via da adaptação da norma remissiva, quer por via de aplicação subsidiária, se atinge também a recorribilidade imediata de tais decisões. O prazo de interposição é de 10 dias (art. 80º, nº 2, do CPT). 4. Mais interessante é apreciar os efeitos que, no âmbito laboral, decorrem da aplicação subsidiária do NCPC no que concerne à interposição e apreciação dos recursos de apelação. 15 Nem sequer se mostra necessário invocar para o efeito o elemento de ordem racional que imporia uma tal solução. Os mesmos argumentos que justificam a admissibilidade de recurso imediato das decisões sobre a admissibilidade de meios de prova se aplicam à admissão ou rejeição de articulado. Na verdade, ainda que o diferimento da impugnação de tais decisões não colidisse com a utilidade absoluta do respectivo resultado, resulta manifesto que um melhor aproveitamento da actividade processual se obtém quando uma tal decisão intercalar é submetida de imediato a reapreciação em via de recurso, sob pena de formação de caso julgado formal.

11 a) Não havendo modificações relevantes no NCPC no que concerne ao conteúdo das alegações quando apenas seja questionada a matéria de direito, já no que concerne à impugnação da decisão da matéria de facto o art. 640º, nº 1, al. c), do NCPC, aditou um novo requisito: o recorrente deve enunciar a decisão que, no seu entender, deve ser proferida sobre as questões de facto. Por outro lado, não sendo necessária (embora também não seja vedada) a transcrição dos depoimentos, o recorrente identificará a sua localização temporal para efeitos de sustentar a modificação da decisão. 16 b) É na regulamentação do julgamento na Relação que se observam as alterações mais significativas (art. 662º do NCPC). Fica claro que a Relação, como tribunal de instância, deve reapreciar a decisão da matéria de facto nos pontos impugnados. Para além de reflectir na decisão os meios de prova com força probatória plena (documentos, confissão, acordo das partes), cumpre à Relação reponderar o valor probatório que se extrai dos meios de prova sujeitos a livre apreciação. Trata-se de matéria que tem sido objecto de diversas pronúncias do STJ que uniformemente vem entendendo que a Relação, como tribunal de instância, deve apreciar os meios de prova indicados pelas partes (e outros que considere oportunos para a formação da sua convicção), gozando de autonomia apreciativa que deve traduzir-se na assunção de um juízo próprio, em lugar da mera projecção de observações de ordem teórica em torno dos princípios da imediação, da oralidade ou da livre apreciação das provas. 17 c) Sendo transponíveis para o foro laboral os poderes e deveres atribuídos à Relação no que concerne decisão da matéria de facto, a Relação deve ordenar a renovação de meios de prova quando se confrontar com dúvidas 16 Cfr. Recursos no Novo Código de Processo Civil, 2ª ed., anot. ao art. 640º. 17 Cfr. Recursos no Novo Código de Processo Civil, 2ª ed., anot. ao art. 662º.

12 sérias em torno da credibilidade do depoente ou do sentido do seu depoimento. Trata-se de situação que encontrará nas acções laborais espaço para aplicação, uma vez que as circunstâncias que rodeiam tais litígios potenciam a existência de depoimentos parciais (a favor da entidade patronal ou do trabalhador) ou propositadamente vagos ou imprecisos (tendo em consideração a ligação da testemunha a cada uma das partes ou o receio de represálias), sem um firme compromisso quanto ao dever de veracidade dos factos conhecidos. É óbvio que tal dever da Relação, situado a jusante, não dispensa a actuação a das partes e do juiz durante a audiência de julgamento no que concerne ao controlo da credibilidade do depoente ou da veracidade do depoimento, designadamente através do contra-interrogatório dirigido pelo mandatário da parte contrária à que arrolou o depoente, do pedido de esclarecimentos formulado pelo juiz ou da dedução dos incidentes de impugnação, de acareação ou de contradita. No entanto, sem embargo do empenho que cada um deve revelar no exercício da sua função, durante a audiência de julgamento, e sem prejuízo também do ónus que recai sobre o recorrente de evidenciar a necessidade da renovação de algum depoimento, este mecanismo não corresponde a um qualquer direito potestativo da parte a que a Relação deva dar necessariamente uma resposta positiva, devendo ser encarado como um factor que visa potenciar a correcção de verdadeiros erros de julgamento, mediante a intermediação da Relação, no contexto de uma avaliação global dos comportamentos das partes e da ponderação dos diversos meios de prova que foram produzidos. 18 d) O mesmo se dirá da introdução no NCPC de um mecanismo totalmente inovador que permite à Relação ordenar a produção de novos meios de prova quando exista fundada dúvida sobre a prova realizada. 18 Cfr. Recursos no Novo Código de Processo Civil, 2ª ed., anot. ao art. 662º.

13 Também aqui estamos perante um dever que a Relação executará depois de uma avaliação objectiva quer dos comportamentos processuais das partes, quer dos meios de prova que foram ou poderiam ter sido produzidos. Se em tal avaliação se revelar a existência de alguma possibilidade de superar dúvida objectiva e relevante sobre algum ponto essencial da controvérsia, cumprirá ao relator ordenar a produção de prova que tanto pode traduzir-se na determinação da junção de elementos documentais na posse de alguma das partes (v.g. elementos de processo disciplinar) ou de terceiro (designadamente quando estejam em causa factos que tenham sido averiguados por entidades administrativas, como a Autoridade para as Condições do Trabalho), como na produção de qualquer outro meio de prova tido por relevante para o esclarecimento de dúvidas, nomeadamente quando haja notícia que alguma testemunha com conhecimento directo dos factos não foi arrolada ou não compareceu para depor. e) É verdade que das decisões da Relação proferidas ao abrigo dos poderes de apreciação da decisão da matéria de facto não cabe recurso para o Supremo (art. 662º, nº 4, do NCPC), mas tal preceito não prejudica o exercício dos deveres processuais que a lei prescreve de modo que se não forem cumpridos, pode invocar-se a violação de lei adjectiva como fundamento do recurso de revista. 19 5. Quanto ao recurso de revista, não existe qualquer especificidade no CPT, a não ser quanto ao prazo de interposição. Assim, o prazo geral é de 20 dias, em lugar dos 30 dias que, em regra, vigoram no NCPC. Será de 10 dias (e não de 15, como decorre dos arts. 638º, nº 1, 677º e 671º, nº 4, do NCPC) nos recursos de acórdãos interlocutórios, nos termos do art. 80º, nº 2, do CPT. No mais, a tramitação do recurso de revista no processo laboral obedece aos mesmos parâmetros do processo comum. E uma vez que o processo 19 Trata-se de solução uniformemente adoptada pelo Supremo Tribunal de Justiça, não apenas nas Secções Cíveis, mas igualmente na Secção Social.

14 do trabalho já absorveu as condicionantes emergentes da dupla conforme que foram introduzidas pelo Dec. Lei nº 303/07, aplicáveis às acções interpostas a partir de 1-1-08, resta agora, em face do NCPC, anotar o facto de ter sido atenuado tal regime, de modo que apenas se verifica dupla conforme quando, para além da inexistência de voto de vencido e da confirmação pela Relação da decisão da 1ª instância, a fundamentação empregue se mostre substancialmente idêntica. Assim, ao invés do que decorria do anterior CPC, foi dado relevo à fundamentação do acórdão da Relação, por contraposição à fundamentação da decisão da 1ª instância, implicando uma análise casuística que pondere, por exemplo, o recurso a um instituto jurídico diverso ou a afirmação de uma qualificação jurídica diversa. 6. No capítulo do recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência o único aspecto digno de relevo respeita à consagração de duas fases atribuídas a diferentes relatores. O relator do acórdão recorrido limita-se a apreciar liminarmente o recurso extraordinário, designadamente no que respeita à alegada contradição jurisprudencial sobre a mesma questão de direito, com eventual reclamação para a conferência. Uma vez admitido liminarmente o recurso, o mesmo está sujeito a nova distribuição, com eventual mudança de relator (art. 215º-6ª, do NCPC), a quem caberá elaborar o projecto de acórdão que será submetido ao Pleno da Secção Social. 7. Por fim, existe um pormenor válido para todos os recursos e que está previsto no art. 218º do NCPC. Sempre que seja decretada a anulação da sentença ou do acórdão da Relação ou ordenada a ampliação da matéria de facto, o novo recurso de apelação ou de revista que seja interposto é atribuído ao mesmo juiz relator, em lugar de passar por nova distribuição.

Trata-se de uma medida que, além de valorizar o factor da eficácia, tem ainda o efeito profiláctico de evitar anulações desnecessárias ou que porventura sejam movidas por intuitos meramente dilatórios. 15