FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO IFAL INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS: REFLETINDO SOBRE OS TEMPOS E OS ESPAÇOS



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Transcrição:

ISSN 2316-7785 FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO IFAL INSTITUTO FEDERAL DE ALAGOAS: REFLETINDO SOBRE OS TEMPOS E OS ESPAÇOS José André Tavares de Oliveira Instituto Federal de Alagoas j.a.1987@hotmail.com Regina Maria de Oliveira Brasileiro Instituto Federal de Alagoas reginabrasileiro@gmail.com Resumo O presente estudo tem como objetivo refletir sobre os tempos e os espaços de formação continuada dos professores de matemática do IFAL. A abordagem metodológica utilizada é o estudo de caso, no qual usamos a entrevista como instrumento de coleta de dados. Os sujeitos entrevistados são os professores de matemática do IFAL lotados no Campus Maceió, efetivos do quadro docente e que atuam na Educação Básica e/ou Ensino Superior. Os resultados parciais mostram que os professores têm consciência da importância do processo de formação continuada para a sua prática pedagógica, porém se sentem desanimados em buscar esse tipo de formação, visto que a Instituição ainda está iniciando suas ações no sentido de disponibilizar tempo e espaços para atividades que fortaleçam, incentivem e estimulem a formação continuada e, consequência, a melhoria da qualidade de ensino ofertado pelo IFAL. Palavras-chave: Formação Continuada; Tempos; Espaços; Professores de Matemática.

1. INTRODUÇÃO Esse artigo consiste em investigar a formação continuada de professores de matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas IFAL 1, tendo como objetivo refletir sobre os tempos e os espaços destinados para esta formação, repensando e redirecionando a prática educativa. Para a realização da investigação, optamos pela pesquisa qualitativa, que enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Segundo Lüdke e André (2004), nesse tipo de investigação supõe-se o contato direto e prolongado do pesquisador com a realidade a ser investigada, através do trabalho intensivo de campo. Dessa forma, analisar os dados qualitativos significa trabalhar todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as transcrições de entrevistas, as análises de documentos e as demais informações disponíveis (LÜDKE; ANDRÉ; 2004, p.45). Isso nos mostra que a pesquisa qualitativa também envolve dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação pesquisada. A abordagem metodológica utilizada nessa investigação é o estudo de caso, que constitui-se em conhecer o como e os porquês do objeto investigado, evidenciando a unidade e a identidade própria desse objeto. É o olhar do pesquisador sobre a situação específica, afim de descobrir o que há de mais essencial e característico da situação investigada. Como instrumento de coleta de dados utilizamos a entrevista, considerando que esse instrumento é um momento de encontro entre duas pessoas, para que se possa colher algumas informações em relação a um assunto, a partir de uma conversa entre profissionais em que o pesquisador obtém dados para a sua pesquisa de forma verbal, cedida pelo entrevistado. Utilizamos, ainda, a entrevista como um momento de interação, em que as informações obtidas não são neutras, existindo uma intencionalidade, como afirma Szymanski, 1 A partir desse momento utilizaremos a sigla IFAL para nos referirmos ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas. 2

[...] a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, em que estão em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado. [...] A intencionalidade do pesquisador vai além da mera busca de informações; pretende criar uma situação de confiabilidade para que o entrevistado se abra (s.n.t., p.12). Os sujeitos investigados são os professores de matemática do IFAL, lotados no Campus Maceió, efetivos do quadro docente e que atuam como professores na Educação Básica e/ou no Ensino Superior 2. As entrevistas realizadas foram semiestruturada, com um roteiro previamente definido e possibilitando outros questionamentos durante a sua realização. Além disso, são gravadas e transcritas para que possamos obter maiores detalhes das falas dos sujeitos entrevistados. Para uma maior compreensão da problemática investigada, este artigo estará divido em duas partes. Na primeira, iremos apresentar a caracterização dos professores entrevistados, contemplando os dados relativos a sua formação e atuação profissional. Na segunda, discutiremos as concepções e perspectivas que estes professores possuem o processo de formação continuada. Portanto, esta pesquisa pretende contribuir para o aprofundamento das discussões em torno da formação dos professores no âmbito da Instituição e, conseqüentemente, para a melhoria da qualidade do ensino da Educação Básica no estado de Alagoas. 2. OS PROFESSORES DE MATEMÁTICA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO PROFISSIONAL A formação continuada de professores sempre foi um tema bastante discutido na área educacional e, atualmente, tem ganhado força nas ações realizadas pelo governo, visto que existe uma grande carência desse tipo de profissional. E quando essa questão é discutida na área das 2 Para a discussão neste artigo, apresentaremos os dados relativos às entrevistas realizadas com dois professores, visto que a pesquisa está em andamento. 3

ciências exatas e naturais, os dados são alarmantes, pois a escassez de professores de matemática, principalmente, é ainda maior. A partir dessa realidade, surgem alguns questionamentos na tentativa de solucionar tal problemática: quais as políticas de valorização do professor existentes que estimulem as pessoas a seguirem essa profissão? As políticas existentes tornam a carreira docente não atrativa? A remuneração salarial não incentiva a formação de maiores quadros docentes? As condições de trabalho ofertadas nas instituições de ensino não viabilizam uma prática profissional de qualidade? Existem ações de formação continuada para os professores em serviço? Na tentativa de responder essas questões, discutiremos os encaminhamentos dados ao processo de formação continuada dos professores de matemática do IFAL Campus Maceió. Para isso, entrevistamos dois professores, no qual chamaremos de Professor A e Professor B 3. Iniciamos a entrevista identificando quem são esses sujeitos e qual lugar eles ocupam, tentando mapear a formação e atuação profissional. O Professor A tem 47 anos de idade, possui formação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL, Bacharelado em Engenharia Civil também UFAL, Especialização em Ensino pela UFAL e atualmente está cursando o Mestrado em Educação Brasileira na UFAL. O exercício no magistério iniciou antes de concluir a Licenciatura em Matemática no ano de 1991, quando começou a lecionar na escola da Chesf no bairro do Xingó, em Piranhas/AL, trabalhando com turmas de 5ª série, hoje 6º ano do ensino fundamental. Considerando todos os seus anos de experiência profissional, no IFAL e outras instituições, completou 16 anos lecionando na educação básica. Em relação a sua experiência no IFAL, ingressou no Campus Palmeira dos Índios em 11 de setembro de 1995 e hoje está lotado no Campus Maceió, lecionando na Educação Básica nos cursos de Ensino Médio Integrado e PROEJA; e no Ensino Superior, nos cursos de Tecnologia de Alimentos e Licenciatura em Matemática. 3 Utilizaremos a nomenclatura Professor A e Professor B a fim de preservar a identidade dos professores entrevistados e dar o teor acadêmico e científico a essa investigação. 4

O Professor B tem 45 anos de idade, é formado em Matemática pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas), mestrado em Estatística na Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ e doutorado em Educação Matemática pela Universidade Tecnológica Intercontinental - UTIC. Seu tempo de serviço no magistério e experiências profissionais começou em 1987, como professor, ingressando no IFAL em 1992. Tem experiência profissional em outras instituições, como: Centros de Estudos Superiores de Maceió CESMAC, trabalhando com a disciplina de Estatística nos cursos superiores de graduação em Direito, Psicologia, entre outros, além de dar aulas nos cursos de pós-graduação dessa mesma instituição; Universidade Tecnológica de Assunção, como professor do Mestrado da Educação Matemática; Universidade Estadual de Alagoas UNEAL, nos cursos de pós-graduação. Atualmente, no IFAL, é professor dos cursos de Bacharelado em Sistema de Informação, Licenciatura em Matemática, Tecnológico em Construção de Edifícios e no terceiro ano do Ensino Médio Integrado. Com esse breve relato da formação e atuação profissional dos professores de matemática iremos, no próximo item, refletir sobre as concepções de formação continuada dos professores e como eles percebem os tempos e espaços destinados a essa formação. 3. A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA: REFLEXÕES SOBRE OS TEMPOS E ESPAÇOS Como afirmamos no item anterior, a discussão sobre a formação continuada tem ganhado uma atenção especial na área educacional. Dessa forma, apresentaremos as respostas dadas pelos professores em relação ao seu processo formativo, a partir das seguintes categorias: formação inicial, formação continuada, tempos e espaços de formação. Iniciamos a segunda etapa da entrevista perguntando aos professores de matemática sobre o que eles entendiam por formação inicial. O Professor A nos disse que formação inicial é 5

o ponto de partida para quem vai ser professor, ou seja, a graduação para atuar na educação básica. O Professor B afirma que formação inicial é o ponto de vista da academia e ressalta a importância do governo para formar acadêmicos, principalmente na área de tecnologia. Como exemplo citou os países como Japão, Coréia e Alemanha que cresceram na área da educação e a relação disso com a visão socioeconômica. A partir dos autores que discutem essa temática, compreendemos que a formação inicial dos professores [...] deverá ser o que fará deles aquilo que esperam os sistemas educativos de hoje, ou seja, tem a ver com a concepção de educação, pedagogia, etc., face a uma certa concepção de homem e sociedade (CRÓ, 1998, p.31). É na formação inicial que os professores buscam subsídios e se preparam para atuarem nas escolas, iniciando seu processo profissional. Percebemos, a partir das falas coletadas, que os professores possuem consciência do que seja esse processo e da importância dele no campo de atuação profissional. Em relação ao entendimento dos entrevistados sobre o que seria formação continuada, o Professor A fala que a formação continuada, pela expressão dita, é a continuação da formação inicial, dando como exemplo o curso de Licenciatura em Matemática que forma para ser professor da Educação Básica (ensino médio e fundamental) e que a formação continuada vai dar um prosseguimento na formação do professor, ou seja, participar de congressos, minicursos, entre outros eventos dessa natureza. Para o Professor B, a formação continuada vai dar a possibilidade do profissional não só trabalhar no ensino, mas também fazer pesquisa, fazer extensão na instituição, então esse critério de ensino, pesquisa e extensão está associado a uma formação qualificada inicial, ofertada nos cursos de pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado). De acordo com Barros (2003, p.25), [...] a formação continuada deve visar uma aprendizagem do professor, educador que integre uma mudança das duas práticas educativas. Dessa forma, a formação continuada visa desenvolver habilidades do professor através da reflexão sobre sua prática. Notamos que os professores entrevistados compreendem o significado 6

do processo de formação continuada para a prática docente, porém apresentam definições e visões diferentes para tal processo. Dando continuidade aos questionamentos, perguntamos aos docentes qual a importância da formação continuada para a sua prática enquanto professor de matemática. O Professor A fala que é importante e chamou a atenção para as instituições formadoras brasileiras que precisam ter uma preocupação maior, dando o direito de exercer e formar um profissional de verdade. Para o Professor B, a formação continuada é importante porque quando um aluno termina um curso de graduação ele percebe que há uma necessidade de melhorar e fortalecer o seu conhecimento, sendo a única maneira que nos temos hoje de crescer academicamente. As falas dos professores colaboram para confirmar, ainda mais, a importância que o processo de formação continuada possui para a sua prática enquanto professores de matemática, visto que é nesse processo que o professor começa a refletir sobre sua prática pedagógica e busca alternativas para a melhoria dela. Nesse sentido, Barros (2003, p.26) afirma que Na medida em que se propõe uma ação pedagógica mais eficaz, em que o professor, frente à heterogeneidade dos alunos e à complexidade do contexto profissional, não deverá ter estratégias de ensino-aprendizagem prontas e acabadas para o uso; deverá ter estratégias de ensino-aprendizagem que sejam construídas e assumidas com autonomia adquirida no processo de formação continuada enquanto desenvolvimento profissional no sentido de articulação teoria-prática. Para dar um enfoque maior a questão da formação continuada dentro do IFAL Campus Maceió, perguntamos se a instituição designa algum tempo para que o professor de matemática possa dar continuidade a sua formação. O Professor A nos disse que a Instituição não concede esse tempo para que ele se organize na sua formação continuada, em que o professor tem que ter uma média de 18 horas aulas na sua carga horária enquanto docente, podendo chegar a 24 horas aulas segundo as Normas de Organização Didática do IFAL. 7

O Professor B fala que, no ponto de vista político, o governo hoje está pressionando os professores a estarem em sala de aula e esse não é o caminho. O Professor B afirma ainda que é necessário que se tomem consciência de um maior tempo, de uma maior disponibilidade para que se possa fazer pesquisa na Instituição. A partir das falas dos professores, percebemos que há uma crítica em relação a Instituição, visto que o IFAL pouco tem contribuindo para o processo de formação continuada. A fala do Professor B enfatiza essa crítica quando nos fiz que o IFAL hoje não dar nenhum subsídio, não dar nenhuma estrutura física para que o professor possa está tanto em sala de aula como fora fazendo sistema de pesquisa 4. Para finalizar a nossa entrevista, perguntamos aos professores quais os espaços oferecidos pela instituição para a formação continuada. O professor A nos diz que desconhece algum espaço destinado a isso. Afirma ainda que Existem coisas importantes que seriam a custo zero para Instituição, seria criar um espaço de discussão entre os professores que pudessem interagir pois a instituição não despertou para isso. O Professor B afirma que Falta maturidade da Instituição, pois ela ainda percebeu, pois cada professor deveria ter seu espaço para poder fazer pesquisar e aumentar mais seu conhecimento. Observamos que quando se trata dos tempos e espaços destinados a formação continuada dos professores de matemática do IFAL, os entrevistados são unânimes em dizer que a Instituição deve investir mais nesse tipo de ação, que isso só vem a contribuir com a prática docente e a qualidade do ensino ofertado. 4 Os parágrafos destacados em itálico registram a transcrição das falas dos sujeitos entrevistados. 8

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo visou refletir sobre os tempos e os espaços da formação continuada dos professores de matemática do IFAL. Os resultados parciais frutos dessa investigação mostram que os professores entrevistados têm consciência da importância do processo de formação continuada para melhoria da sua prática docente. Porém, se sentem desanimados pelo excesso de carga horária que a Instituição destina para ministrar aulas, não dispondo de mais tempo para o planejamento de ações que favoreçam e fortaleçam a sua formação continuada. Outra questão apontada é que a Instituição não disponibiliza de um espaço em que os professores possam fortalecer suas ações, interagindo com outros professores da sua área e de outras áreas, o que dificulta ainda mais a melhoria da prática docente. As reuniões que acontecem nas áreas tornam-se reuniões para passar informações e discutir carga horária, quando também poderiam ser um espaço de discussão pedagógica, troca de experiências, oferta de cursos, palestras e demais atividades que favorecessem a formação continuada desses professores. Portanto, acreditamos que esses resultados parciais possam contribuir para a ampliação da discussão dentro do IFAL sobre a importância da formação continuada para os professores de matemática e das demais áreas, possibilitando tempos e espaços que dêem a condição dos docentes buscarem uma qualificação contínua na sua área de atuação. Com isso, estaremos estreitando ainda mais a teoria e a prática e, consequentemente, a qualidade do ensino ofertado pela Instituição. 9

5. REFERÊNCIAS BARROS, A. M. A. A formação das professoras que alfabetizam jovens e adultos: uma demanda (re) velada. Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira), Universidade Federal de Alagoas, 2003. CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: 1.artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. CRÓ, M. de L. Formação inicial e contínua de educadores/professores. Porto: Porto Editora, 1998. LÜDKE, M; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 8.ed. São Paulo: EPU, 2004. SZYMANSKI, H. A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. s.n.t. 10