** Discurso proferido pelo deputado GERALDO RESENDE (PMDB/MS), em sessão no dia 05/06/2013. MORTE DO ÍNDIO OZIEL GABRIEL: UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, No dia 09 de maio, subi a esta tribuna para denunciar os conflitos agrários latentes entre produtores rurais e índios em Mato Grosso do Sul, em um pronunciamento intitulado: Questão Agrária no Brasil, um barril de pólvora. Lá, alertei a ocorrência de mortes e previ que, se algo não fosse feito, mais pessoas iriam morrer. Na última quinta-feira, dia 30 de maio, em confronto com a Polícia Federal, que cumpria ordem de despejo na Fazenda Buriti, na região de Sidrolândia, em meu Estado, cinco índios, que resistiram, ficaram feridos e o terena Oziel Gabriel acabou morrendo. Uma tragédia anunciada. Na operação, foram presos 17 indígenas por desordem, entre eles uma mulher e três menores de
** idade. No dia 30 de abril, produtores rurais se mobilizaram em Mato Grosso do Sul, na ocasião da primeira visita de Dilma Rousseff como presidente ao Estado. Os proprietários, também denunciaram o nível de tencionamento e solicitaram a intermediação do Governo Federal para que o pior não acontecesse. No dia 08 de maio, os produtores rurais de todo o País vieram até esta Casa, em uma convocação a ministra chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann, organizada pela Comissão de Agricultura para novamente demonstrar a gravidade dos conflitos. Na terça-feira, dia 28 de maio, toda a bancada de Mato Grosso do Sul de deputados Federais e Estaduais, bem como os senadores, estiveram em audiência com a ministra e com o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso e do Desenvolvimento Agrário Pepe Vargas, como também com o advogado Geral da União Luis Inácio Adams, para conseguirmos construir uma solução. Mesmo com todas essas iniciativas da classe política de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de dirimir a tenção entre índios e não índios, prevendo um espaço onde a produtividade e o convívio pacífico fossem norteadas pela Justiça e intermediado pelo Poder Executivo Federal, choramos a morte de mais um sul-mato-grossense, neste conflito armado, aberto e sem solução.
** Nesta terça-feira, dia 04, em uma longa reunião com o ministro da Justiça, cobramos novamente um posicionamento do Governo Federal e o envio da Força Nacional ao nosso Estado para intermediar as discussões. José Eduardo Cardoso, depois da solicitação oficial do governador André Puccinelli enviará 120 homens para região e entendeu a gravidade do problema. A Fazenda Buriti é motivo de disputa entre proprietários e índios desde 1990. Em 2003 houve uma ocupação, porém, naquele ano, os indígenas desocuparam a propriedade pacificamente. Já nesta última ocupação, iniciada no dia 15 de maio, os indígenas resolveram resistir. Em 2010, laudos de estudos antropológicos indicavam a localidade como território tradicional indígena. O proprietário recorreu do laudo no Tribunal Regional Federal, anulando o processo de demarcação. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) também recorreram e todos aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A morte que ocorreu na propriedade tem responsáveis claros, ou seja, todos aqueles que protelaram uma decisão. Mato Grosso do Sul tem uma óbvia vocação agropecuária, é o celeiro do Brasil e impacta fortemente no Produto Interno Bruto (PIB) Rural do País. O Estado produz
** da forma mais tecnológica e avançada do mundo, batendo, junto com todo o Centro Oeste recordes de produção de grãos. Em meu Estado, os pequenos produtores rurais, aqueles que plantam hortaliças, produzem leite, arroz e feijão também estão no foco deste conflito. Esses produtores rurais são filhos e netos de antigos proprietários, que foram incentivados a ocupar a região no século XIX pelo Governo Federal, depois da Guerra do Paraguai. Muitos desses apresentam títulos oficiais de terra com mais de um século de existência. O que não pode ocorrer é desapropriação sem o pagamento de indenizações a essas famílias. Atualmente, 13%, ou seja 110,9 milhões de hectares, do total de 851,5 milhões de hectares de área ocupada no Brasil, é formado de terras indígenas. Da área global, nossa agricultura consegue obter seus resultados surpreendentes com 28% de área de produção. A ampliação de terras indígenas no País foi de 874% em 18 anos. Neste momento, 3 milhões de hectares de terras férteis no Mato Grosso do Sul estão sendo estudados pela Funai com fins de demarcação. Nessas mesmas regiões, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), realizou estudos datando a ocupação indígena a partir de 1990.
** Segundo pesquisa Data Folha, apenas 17% dos indígenas acreditam que a demarcação de terras melhorariam suas vidas. A maior parte dos índios reclama da falta de investimento em saúde (25%), cidadania (16%), educação (15%), e investimento em projetos de infraestrutura para produção agrícola (15%). As mesmas lutas de qualquer outro produtor rural. Acredito que os índios, os não índios, os produtores, a população das cidades estão todos do mesmo lado, demandando os mesmos investimentos e as mesmas questões, porém, alguns órgãos estão incentivando o conflito com algum interesse escuso. De outro lado, o Governo Federal se omite e credita em sua própria conta mais uma morte. Muito obrigado pela atenção. Deputado GERALDO RESENDE (PMDB/MS)