A TRAMA DO VALOR NA ARTE ASPECTOS DA HISTÓRIA DA CURADORIA



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Transcrição:

8.00.00.00-2 LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES 8.03.00.00-6 ARTES A TRAMA DO VALOR NA ARTE ASPECTOS DA HISTÓRIA DA CURADORIA CAROLINA CARMINI MARIANO LÚCIO - ORIENTANDA Curso de Arte: História, Crítica e Curadoria - Faculdade de Comunicação e Filosofia ELAINE CARAMELLA - ORIENTADORA Departamento de Arte Faculdade de Comunicação e Filosofia RESUMO: ESTE ARTIGO ENFOCA O DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO CURATORIAL EM SÃO PAULO, A PARTIR DA FIGURA DO ORGANIZADOR DE EXPOSIÇÕES DA DÉCADA DE 1950 À SUA CONSOLIDAÇÃO NA ATUALIDADE COMO FIGURA DO CURADOR. MEDIANTE PESQUISA BIBLIOGRÁFICA E A LEVANTAMENTO DE DOCUMENTAÇÃO DE EXPOSIÇÕES EM MUSEUS, A PESQUISA APRESENTA UMA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA QUE PERMITE CONSTATAR AS FORMAS DE ATUAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DO PAPEL DO CURADOR NO SISTEMA DA ARTE BRASILEIRA. Palavras-Chave: Curador, Exposições, Museus. Introdução O curador é figura de maior destaque nos sistemas da arte, mas sua atuação engloba várias questões além da organização de obras em um determinado espaço. Pesquisa, problematizações, senso de historicidade, conhecimentos em história da arte e uma boa dose de jogo de cintura, são um dos elementos básicos de um bom profissional. Mas essas características nem sempre estiverem presentes e a profissão do curador nem sempre foi valorizada. Apesar de o primeiro museu de arte surgindo apenas no fim da década de 1940 em São Paulo, hoje possuímos uma importante produção artística espalhada por todo território nacional. E é nesse cenário que paralelamente se desenvolve e se estabelece o pensamento e a ação curatorial no Brasil. Apesar de mais de sessenta anos de exposição a história da curadoria no Brasil é um campo a ser estudado. Esta pesquisa inserida no projeto da professora Elaine Caramella, "A trama do valor da arte", cabendo ao autor à pesquisa documental e bibliográfica e posterior análise para compreensão do desenvolvimento e os aspectos da história da curadoria no Brasil.

1. Desenvolvimento 1.1. As origens do curador Pensar o papel do curador no universo das artes na atualidade é uma tarefa que nos faz a voltar aos primórdios das exposições de arte, rever conceitos, analisar pontos de ruptura e refletir sobre continuidades. O curador é o personagem que atua por trás das exposições, que muitas pessoas não têm ideia da sua atuação. Seu papel não é do simples organizador, produtor ou programador cultural, e em relação ao diretor do museu, a atuação é totalmente diferenciada. Mais que escolher a cor das paredes, iluminação, entrar em contato com artistas, pensar conceitualmente é a função do curador, a pesquisa é sua área primordial de atuação. A própria história da curadoria em muitos momentos se confunde com a história dos museus muitas vezes. O museu no formato como conhecemos hoje, tem suas origens na Revolução Francesa, onde a instituição reaparece como elemento de reafirmar a identidade nacional, conservar e difundir o patrimônio artístico, histórico e simbólico. E principalmente acessível a todos. Na Revolução também temos o nascimento da função do Conservateur, ou o conservador das coleções. Assim, como a função do Comissaire, o comissário das exposições, ele é responsável pela manutenção de uma ordem, por uma tradição narrativa, um cânone artístico. A versão inglesa do termo, curator ou curador, responsável pelos acervos e coleções. A ideia do curador vem do Direito Romano para qualificar a pessoa que substitui o pai morto, que torna responsável pelas viúvas e pelos órfãos. Pensando em termos de obras de arte, pressupõem profissionais e técnicos especializados em teoria da arte e munidos de historicidade para prover subsídios às decisões do que deve ou não ser incorporado ao acervo do museu. Com esse perfil, os primeiros profissionais escolhidos para atuarem dentro dos museus, com uma função próxima a do curador hoje, foram Hubert Robert (Museu do Louvre) e Charles Peale (Philadelphia Museum). Ambos foram artistas, que possuíam uma capacidade técnica, intimidade e conhecimento sobre os objetos de seu trabalho.

Na segunda metade do século XX, as novas instituições museológicas foram obrigadas a repensar sua atuação como depositárias do patrimônio mundial. Era preciso pensar em uma museografia que correspondesse às novas demandas do público e da própria obra de arte. Na década de 1950, as instituições deixaram de serem depositárias de obras artísticas e culturais pautadas em uma atitude passiva e elitizadas para serem instrumentos democráticos de conhecimento. E durante a década de 1970, a imagem do curador vai ganhar espaço nos sistemas da arte, devido a grandes exposições temáticas, comemorativas, bienais e algumas tentativas de problematização das mostras que trouxessem reflexões sobre a produção artística.. Ainda que nesse período sejam conhecidos como organizadores de exposições e diretores, a ideia do curador começa a se delinear neste momento da história. 1.2. A função do curador O curador é a pessoa que elabora o conceito de uma exposição. A criação do texto conceitual sobre a exposição é parte vital de sua função. O texto que sintetiza a pesquisa do profissional também possui em sua formatação os objetivos, a justificativa e o público-alvo, elementos que vão auxiliar na concretização do projeto. O seu trabalho também envolve toda a pesquisa e levantamento das obras que estarão na exposição. Para Walter Hopps, um dos maiores curadores da história (OBRIST, 2010, p.27), a curadoria é um exercício de compreensão e sensibilidade com relação á obra, que envolve mais elementos dos que acabam por ser expostos nos museus, galerias e institutos. Harold Szeemann, outro importante curador, criou o nome de Ausstellunggmache, para pessoa que organiza exposições, foi a maneira que o curador encontrou para caracterizar sua função e situação atípica. Alguém que organizava exposições sem estar ligado a uma instituição. A função diretor/curador havia sido separada. Para Szeemann, estava claro, que

a prática não era a simples organização de obras em um espaço: um administrador, autor de introduções, bibliotecário, gerente e contador, animador, conservador, financista e diplomata. (OBRIST, 2010, p.42). Sua função real na atualidade engloba três ações básicas: a responsabilidade de preservação documentação, estudo e difusão de um acervo e/ou coleção; a aquisição de obras visando tornar o acervo da instituição o mais completo e representativo possível; e a busca de visibilidade das práticas artísticas, exibindo-as e problematizando-as (CHAIMOVICH, 2008, p.14): numa exposição, o que deve imperar é a qualidade das obras apresentadas, cabendo ao curador criar condições para que o público possa perceber novas possibilidades de apreciação das obras de arte, quando recontextualizadas em universos precisos. O curador coordena todo o processo de realização da mostra, uma atividade complexa que exige sua atuação em vários momentos. Após, o trabalho conceitual é necessário pensar o posicionamento das obras, iluminação, suporte e percurso da exposição junto a um arquiteto. O texto crítico do catálogo e o texto de parede são de sua responsabilidade, assim como a elaboração de todo o material gráfico sobre a exposição junto a um design gráfico. O material bibliográfico e imagens para o setor educativo também é de sua responsabilidade. O contato com artistas, com os colecionadores e com os acervos de instituições culturais e galerias. Sua presença é constante durante a montagem da exposição. Além dos assuntos referentes diretamente a montagem da exposição, o curador também atua nos bastidores para que a exposição saia literalmente do projeto. Assim cabe a sua função fornecer ao pessoal responsável os dados necessários para a realização de orçamentos e buscar leis de incentivo fiscal e potenciais patrocinadores, financiadores ou editais. Realizar visitas de abertura ou para um público específico, entrevistas, palestras e publicidade sobre a exposição também são tarefas que recaem sobre o curador.

Ao sair do trabalho habitual de concepção e montagem da exposição, no dia a dia o curador acaba por atuar também como um administrador ao ser o responsável por definir um marco conceitual ao acervo e exposições a serem realizadas pela instituição, selecionar uma equipe de trabalho e uma equipe de pesquisadores auxiliares especializados em diversas áreas. E até para realizar essas funções o curador trabalha com artistas, visitas seus ateliês. Trabalha juntamente com historiadores, críticos e realiza pesquisa em outras instituições, como museus e bibliotecas. 1.3. Curador no Brasil No Brasil essa é a figura do diretor técnico em algumas instituições, um profissional com a função separada das atividades administrativas. Ele é responsável pela realização de exposições, programação, pela aquisição e conservação do acervo. É possível observar no perfil das exposições brasileiras uma diferenciação em relação ao que aconteceu em algumas instituições mais tradicionais no exterior. Uma postura clara em nossas instituições é um projeto expositivo que visasse à valorização do acervo ao mesmo tempo em que são realizadas mostras temporárias. Enquanto, no campo internacional os museus pautavam suas exposições na promoção de seus próprios acervos e aos poucos realizavam a transição para problematizações de suas obras. Desde a década de 1950, o Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo e a Pinacoteca do Estado de São Paulo, não estavam pensando somente em ações programáticas, em organizar obras em um determinado espaço e exibi-las para um público elitista. Cada um em determinado grau e período, olham para seus acervos e buscam questões para serem expostas. Assim como o museu é uma estrutura que se altera, a figura do curador vai se moldando primeiramente como autor de exposições, que aparece na década de 1960. Se antes as pessoas iam aos museus para ver exposições e entender

aquilo como uma verdade consolidada, com a entrada do curador a ideia de uma interpretação da história da arte toma espaço. O devir também surge na consciência do visitante habitual da instituição que está sempre à espera de uma nova exposição, um novo posicionamento de um profissional. Quando estamos refletindo sobre atuação do curador, a acumulação de funções é um fato marcante. Grandes figuras da curadoria por muito tempo trabalham como diretores e curadores de instituições, como por exemplo, Walter Zanini (MAC) e Aracy Amaral (Pinacoteca). Desde os primórdios do museu moderno, essas funções encontram-se atreladas e mesmo atualmente com a maior conscientização da diferenciação das atividades, encontramos essa configuração vigente em muitos espaços. Uma ação não muito eficaz na atualidade dada as necessidades administrativas que são apresentadas aos museus e a complexidade das exposições apresentadas. Durante a década de 1990 a figura do curador vai se consolidar nas instituições brasileiras. As mostras desse período ganham um caráter mais conceitual, com discussões mais embasadas em nosso contexto politico, social e cultural. Os curadores que estão à frente das mostras neste momento possuem em seu perfil uma qualificação acadêmica e experiência em outras instituições. Os museus se tornam importantes espaços para o experimentalismo curatorial, que está atualizado com as novas linguagens e artistas contemporâneos. Paralelamente volta-se para os primórdios da arte brasileira, buscando delinear nossa arte que ainda estava por ser construída. 2. Considerações Finais Nos últimos trintas anos houve uma difusão da profissão de curador, que acaba por não ser mais um título restrito a área de artes. A popularização do curador se deu em um momento em que os valores estabelecidos para os museus, para a história e para arte estavam sendo repensados por críticos, teóricos, artistas e historiadores. Se em seus primórdios no Brasil a questão para o

curador era estabelecer a profissão nos sistemas da arte brasileira, hoje a ideia é demonstrar a especificidade do profissional e necessidade da especialização. Se sob um ponto de vista essas incertezas possibilitaram um desenvolvimento do circuito da arte, por outro se criou uma abertura para os diversos curiosos sem formação em museologia ou em história da arte. Ou seja, literalmente sem o conhecimento teórico, para refletir e pensar conceitualmente uma exposição. Somado a esse cenário temos um mundo de ampla concorrência, que ânsia cada vez mais por exposições que optam por cenografias exuberantes e temas polêmicos, como meio de se diferenciar e atrair. Esse posicionamento é que desvia da real função do curador e onde passam atuar muitas vezes os pseudoprofissionais. Com a arte contemporânea estabeleceu um cenário de intensas rupturas de um modelo que privilegiava a especificidade, as disciplinas, seus objetos, métodos, técnicas, materiais e procedimentos (TEJO, 2011, p. 19): A prática artística contemporânea, para além da autoreferência (sic), também se vinculou ao fim dessas grandes narrativas de legitimação da arte, ao fracasso desse estatuto unitário do dizer. É quando a arte não encontra mais uma verdade sobre si que ocorre uma diversidade de sua produção. A quebra desse processo privilegiou o pluralismo de linguagens e obras herméticas tornaram o personagem do curador mais presente e necessária nas exposições. Hoje o sistema exige do curador sua especialização que se faz em níveis além dos sistemas da arte, para o entendimento de linguagens que operam de maneira transdisciplinar (TEJO, 2011, p. 35): A atividade em curadoria requer várias habilidades e não apenas o conhecimento especifico em História e Teoria da Arte. Requer uma atualização constante numa área de interesse, seja geográfica, seja temática, sobre um campo especifico da produção artística. Requer também a habilidade em expor visualmente, em dispor das obras num espaço expositivo, seja qual for. E, por fim, requer uma capacidade de apreensão discursiva do objeto de trabalho e de suas contiguidades através da palavra, seja escrita ou falada.

No entanto, para cada indivíduo que atua como um curador de maneira irresponsável, existem profissionais especializados em arte e conscientes nas questões da museologia contemporânea. A necessidade de desenvolver um trabalho de ampliação, organização e pesquisa de um determinado acervo, acaba por fortalecer a História da Arte como disciplina com metodologia científica capaz de gerar subsídios e articulações para diversas produções artísticas. Dentro dos museus a disciplina é um elemento chave para o desenvolvimento das pesquisas curatoriais. Percebemos que a figura do curador como central em exposições, mas muitas vezes mal compreendida e não vista com a importância necessária. Assim, o entendimento de sua história e análise de sua função se fazem sempre necessárias para o próprio fazer curatorial. Bibliografia BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas - Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1994. CHAIMOVICH, Felipe (Org.). Grupo de Estudos de Curadoria. São Paulo: Museu de Arte Moderna, 2008. OBRIST, Hans Ulrich. Uma breve história da curadoria. São Paulo. BEI, 2010. RAMOS, Alexandre Dias (org.). Sobre o ofício do curador. São Paulo: Zouk, 2010. TEJO, Cristina. Panorama do Pensamento Emergente. Porto Alegre: Zouk, 2010.