DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO NO NORDESTE DA AMAZONIA ATRAVÉS DOS ALGORITMOS 3B42 E GPI



Documentos relacionados
CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Validação das observações feitas com o pluviômetro de garrafa PET na cidade de Belém-PA.

ANÁLISE TERMODINÂMICA DAS SONDAGENS DE CAXIUANÃ DURANTE O EXPERIMENTO PECHULA.

Atmosfera e o Clima. Clique Professor. Ensino Médio

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

Resumo. Abstract. 1. Introdução

ANALISE COMPARATIVA ENTRE A PRECIPITAÇÃO ESTIMADA POR SATELITES E MEDIDA POR PLUVIÔMETROS NA CIDADE DE BELÉM-PA

Massas de ar do Brasil Centros de ação Sistemas meteorológicos atuantes na América do Sul Breve explicação

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

COMPARAÇÃO DE PRODUTOS DE ESTIMATIVA DE CHUVA POR SENSORIAMENTO REMOTO POR MEIO DE UM MODELO HIDROLÓGICO NA BACIA DO RIO AMAZONAS

ASPECTOS METEOROLÓGICOS ASSOCIADOS A EVENTOS EXTREMOS DE CHEIAS NO RIO ACRE RESUMO

ATUAÇÃO DO VÓRTICE CICLÔNICO DE ALTOS NÍVEIS SOBRE O NORDESTE DO BRASIL NO MÊS DE JANEIRO NOS ANOS DE 2004 E 2006.

Estudo de caso de um sistema frontal atuante na cidade de Salvador, Bahia

FREQUÊNCIA DE LINHAS DE INSTABILIDADE E CONVECÇÃO SOBRE A COSTA NORTE DO BRASIL

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

A ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL NO MODELO CLIMÁTICO DO HADLEY CENTRE. Iracema F.A.Cavalcanti 1 e Peter Rowntree 2 ABSTRACT

Universidade de Aveiro Departamento de Física. Dinâmica do Clima. Precipitação

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO ESTIMADA POR RADAR METEOROLÓGICO NO LESTE DA AMAZÔNIA

MUDANÇA A DOS EVENTOS ZCAS NO CLIMA FUTURO

Relações entre diferentes fases da monção na América do Sul

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL Agosto-Setembro-Outubro de Prognóstico Trimestral (Agosto-Setembro-Outubro de 2003).

PROGNÓSTICO DE VERÃO

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

Boletim Climatológico Mensal Maio de 2014

ABSTRACT. Palavras-chave: Aviso Meteorologia Especial, INMET, São Paulo. 1 - INTRODUÇÃO

INFLUÊNCIA DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL NA VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM MACAPÁ - BRASIL 1

SINAIS DE LA NIÑA NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

ÍNDICE K: ANÁLISE COMPARATIVA DOS PERIODOS CLIMATOLÓGICOS DE E

VARIABILIDADE SAZONAL DA CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA DE MESOESCALA EM BELÉM-PA.

INFORMATIVO CLIMÁTICO

VARIABILIDADE DO VENTO NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO DURANTE A OCORRÊNCIA DA ZCAS

SPMSAT - APLICATIVO PARA ESTUDOS DE SISTEMAS PRECIPITANTES DE MESOESCALA UTILIZANDO IMAGENS DE SATÉLITE

Distribuição da precipitação no Estado do Pernambuco: uma análise comparativa entre pluviômetros e as estimativas por satélites

CAPÍTULO 9. El Niño/ Oscilação Sul (ENOS) Nota: Para mais informações, consulte o PowerPoint: Kousky-Lecture-18-enso-cycle.ppt

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A PRECIPITAÇÃO SAZONAL SIMULADA PELO MODELO ETA E OBSERVADA SOBRE O BRASIL

CARACTERIZAÇÃO DE EXTREMOS CLIMÁTICOS UTILIZANDO O SOFTWARE RClimdex. ESTUDO DE CASO: SUDESTE DE GOIÁS.

Análise sinótica associada a ocorrência de chuvas anômalas no Estado de SC durante o inverno de 2011

DADOS DE PRECIPITAÇÃO ESTIMADOS POR SATÉLITE COMO PROPOSTA PARA ESTUDOS HIDROCLIMÁTICOS NO SEMIÁRIDO

CARACTERIZAÇÃO DOS FLUXOS DE ENERGIA NOS ECOSSISTEMAS DE FLORESTA TROPICAL, FLORESTA DE TRANSIÇÃO E PASTAGEM PELO MODELO DE BIOSFERA TERRESTRE IBIS

Humidade no solo. Departamento de Física 2011 Detecção Remota Pratica III. Joao Gonçalo Ricardo Rodrigues

Avaliação das diferentes fontes de dados de precipitação para o período chuvoso no litoral leste do Nordeste Brasileiro

Impacto do Fenômeno El Niño na Captação de Chuva no Semi-árido do Nordeste do Brasil

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

AVALIAÇÃO DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES DE DADOS RESUMO

Leila Maria Véspoli de Carvalho Oswaldo Massambani Depto. de Meteorologia, IAG-USP

GERÊNCIA EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO GERAL E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA ESTUDO ESTATISTICO DA BRISA ILHA DE SANTA CATARINA

INMET/CPTEC-INPE INFOCLIMA, Ano 13, Número 07 INFOCLIMA. BOLETIM DE INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS Ano de julho de 2006 Número 07

ANÁLISE DE UM CASO DE CHUVA INTENSA NO SERTÃO ALAGOANO NO DIA 19 DE JANEIRO DE 2013

Variabilidade na velocidade do vento na região próxima a Alta da Bolívia e sua relação com a precipitação no Sul do Brasil

INFLUÊNCIA DO OCEANO PACÍFICO NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA OCIDENTAL

VARIABILIDADE E INTENSIDADE DAS CHUVAS EM BELÉM-PA

ESTRUTURA VERTICAL DA ATMOSFERA ASSOCIADA ÀS CIRCULAÇÕES DE MESOESCLA DURANTE A OPERAÇÃO NORTE III DO PROGRAMA REVIZEE

Relação entre a Precipitação Acumulada Mensal e Radiação de Onda Longa no Estado do Pará. (Dezembro/2009 a Abril/2010)

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA ENERGIA CINÉTICA ASSOCIADA A ATUAÇÃO DE UM VÓRTICE CICLÔNICO SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS NO LESTE DO NORDESTE DO BRASIL UTILIZANDO O MODELO RAMS

PROGNÓSTICO DE ESTAÇÃO PARA A PRIMAVERA DE TRIMESTRE Outubro-Novembro-Dezembro.

Boletim Climatológico Mensal Fevereiro de 2010

CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO, UM EXEMPLO DE INTERAÇÃO ENTRE A EACH-USP E O BAIRRO JARDIM KERALUX

Análise do comportamento da precipitação estimada por satélite sobre áreas de intenso desmatamento na Amazônia Legal

Variabilidade temporal de índice de vegetação NDVI e sua conexão com o clima: Biomas Caatinga Brasileira e Savana Africana

MECANISMOS FÍSICOS EM MÊS EXTREMO CHUVOSO NA CIDADE DE PETROLINA. PARTE 3: CARACTERÍSTICAS TERMODINÂMICAS E DO VENTO

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A VARIABILIDADE DE BAIXA FREQU~NCIA DA CIRCULAÇ~O DE GRANDE ESCALA SOBRE A AM~RICA DO SUL. Charles Jones e John D.

ANÁLISE DA COBERTURA DE NUVENS E SUAS RELAÇÕES COM A DIVERGÊNCIA DO VENTO EM ALTOS NÍVEIS DURANTE O WETAMC/LBA

ANÁLISE DA PASSAGEM DE UM SISTEMA FRONTAL NO SUL DE SANTA CATARINA EM AGOSTO DE Rafael Marques 1

Caracterização da Variabilidade do Vento no Aeroporto Internacional de Fortaleza, Ceará. Parte 2: Análise da Velocidade

Sistema de Previsão Imediata de Ocorrência de Tempestades para Apoio a Tomada de Decisão na Distribuição e Manutenção da Rede Elétrica

ESTUDO DO CICLO ANUAL E DIURNO DA PRECIPITAÇÃO TROPICAL E SUBTROPICAL USANDO DADOS DE TRMM

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

CAPÍTULO 13 OS CLIMAS DO E DO MUNDOBRASIL

O FENÔMENO DA BRISA E SUA RELAÇÃO COM A CHUVA SOBRE FORTALEZA-CE RAUL FRITZ BECHTEL TEIXEIRA

COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO MÉDIA EM 2006 NO ESTADO DE GOIÁS

Os diferentes climas do mundo

PRINCIPAIS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS ATUANTES SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL E A INFLUÊNCIA DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLÂNTICO NO CLIMA DA REGIÃO 1

DELIMITAÇÃO DE ÁREAS DE PRECIPITAÇÃO UTILIZANDO SAT~LITE E RADAR METEOROLOGICO

Estudo comparativo da distribuição de precipitação no Estado do Amapá para o ano de 2009: dados de pluviômetros versus estimativas por satélites

SIMULAÇÃO DE ALTA RESOLUÇÃO DAS CIRCULAÇÕES LOCAIS NO LESTE DA AMAZÔNIA

Previsão de Consenso 1 CPTEC/INPE e INMET

VARIABILIDADE CLIMÁTICA PREJUDICA A PRODUÇÃO DA FRUTEIRA DE CAROÇO NO MUNICÍPIO DE VIDEIRA SC.

A PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE ARAPIRACA/AL E OS EVENTOS EL NIÑOS/ LA NIÑAS UTILIZANDO O ÍNDICE IME.

Características dos sistemas convectivos observados por satélite durante o experimento WET AMC/LBA

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

PRINCIPAIS SECAS OCORRIDAS NESTE SÉCULO NO ESTADO DO CEARÁ: UMA AVALIAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

Figura 18. Distâncias das estações em relação ao Inmet e Mapa hipsmétrico

ABSTRACT 1. INTRODUÇÃO

Análise Termodinâmica de Santarém Durante o Experimento BARCA

Bloqueio atmosférico provoca enchentes no Estado de Santa Catarina(SC)

A EXPANSÃO URBANA E A EVOLUÇÃO DO MICROLIMA DE MANAUS Diego Oliveira de Souza 1, Regina Célia dos Santos Alvalá 1

Elementos Climáticos CLIMA

INMET: CURSO DE METEOROLOGIA SINÓTICA E VARIABILIDADE CLIMÁTICA CAPÍTULO 4

Classificações climáticas

Variabilidade temporal e espacial dos Raios e Chuva no Leste da Amazônia

Rastreamento dos bloqueios ocorridos próximos à América do Sul em julho de 2008 e 2009 e sua influência sobre São Paulo e a região sul do Brasil

Detecção Precisa de Relâmpagos, Perto e Longe

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

VARIABILIDADE INTERANUAL E SAZONAL DA ATIVIDADE CONVECTIVA SOBRE A AMÉRICA DO SUL UTILIZANDO DADOS DIGITAIS DE IMAGENS DE SATÉLITE

Boletim Climatológico Mensal Junho de 2014

MIGRAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTER-TROPICAL (ZCIT): UM ESTUDO COM UM MODELO CLIMÁTICO SIMPLES. por

CLIMATOLOGIA. Profª Margarida Barros. Geografia

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

O TORNADO NA CIDADE DE MUITOS CAPÕES, RIO GRANDE DO SUL. Palavras-chave: tornado, radar meteorológico, tempestades severas.

Transcrição:

DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO NO NORDESTE DA AMAZONIA ATRAVÉS DOS ALGORITMOS 3B42 E GPI Rômulo Augusto Jucá Oliveira 1 Galdino Viana Mota 2 RESUMO Este trabalho usa o algoritmo 3B42 para investigar o ciclo diurno da precipitação e comparar as médias anuais e sazonais de 1998 a 2006 com aquelas do Geostationary Environmental Satellite (GOES) Precipitation Index (GPI) no nordeste (NE) da Amazônia, Guianas e Oceano Atlântico adjacente. O algoritmo 3B42 é uma combinação das estimativas de precipitação no canal de microondas e no infravermelho e está disponível a cada 3 horas numa resolução espacial de 0,25 grau por 0,25 grau. A comparação da precipitação pelo 3B42 com a do GPI revela que a distribuição espacial, natureza e o ciclo diurno da precipitação variam de uma sub-região para outra. A mais notável diferença aparece sobre o Estado do Amapá e Guianas, onde se acredita ter um dos maiores registros de precipitação da América do Sul, a precipitação total anual e sazonal pelo GPI é subestimada em relação ao 3B42. O ciclo diurno apresenta a formação de uma banda de precipitação junto ao litoral durante a madrugada (0300Z) e outra que se intensifica no continente no período da tarde (1800Z) e atinge o interior da Amazônia no período da manhã. ABSTRACT This work uses the Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) 3B42 rainfall product and the Geostationary Environmental Satellite (GOES) Precipitation Index (GPI) estimates to investigate the temporal and spatial distribution of precipitation over inaccessible regions in northeast (NE) Amazonia. The intercomparison of these products over NE Amazonia reveals that the spatial distribution, nature, and diurnal cycle of rainfall vary from one subregion to another. For example, in the coastal areas of Amapá State and the Guianas, which is believed to have one of the largest records of rainfall in South America, the total annual and seasonal of rainfall are by the GPI underestimate warm rain compared to the 3B42 algorithm. The diurnal cycle shows the formation of a predominant band of precipitation during the early hours (0300Z) of the day, just offshore, and another one in the afternoon (1800Z), which it intensifies in the continent and moves westward reaching the interior of the Amazonia in the morning hours. Palavras-Chave: Precipitação. 3B42. GPI. 1 Aluno de graduação do curso de Meteorologia - UFPA, Av. Augusto Corrêa N o 1, Guamá, (091)32017471, Email: romuloj@ufpa.br 2 Professor da UFPA, Av. Augusto Corrêa N o 1, Guamá, (091)32017471, Email: galdinov@ufpa.br

INTRODUÇÃO O nordeste (NE) da Amazônia, entre a Ilha do Marajó e as Guianas, é uma das regiões com maiores índices pluviométricos da América do Sul (Mota, 2003; Nimer, 1979). A distribuição de precipitação espacial e temporal na região é fortemente determinada pela marcha anual da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e Linhas de Instabilidade (LIs) formada pelo contraste de temperatura entre o continente e o Oceano Atlântico e a confluência dos alísios nas faixas costeiras (Hastenrath e Heller, 1977; Cohen et al., 1995; Kousky, 1980). As descrições climatológicas da precipitação de Hoffmann (1975), Figueroa and Nobre (1990) e Nimer (1979) mostram um máximo, definido pela isopleta de 2400 mm/ano, sobre a Ilha do Marajó, que se estende para noroeste (NW) em direção às Guianas. No entanto, Mota (2003) observou que as estimativas de precipitação pelo algoritmo Geostationary Environmental Satellite (GOES) Precipitation Index (GPI) sobre região das Guianas e Estado do Amapá apresentam diferenças em comparação com aquelas estimadas na região da Ilha do Marajó. Por outro lado, Mota (2003) observou que a precipitação pelo GPI é superestimada sobre a região central e ocidental da Amazônia em comparação com as climatologias pré-existentes. O ciclo diurno da precipitação tem sido investigado usando dados do satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) em algumas regiões específicas da América do Sul, e.g., Negri et al. (2002) e Mota (2003); ou num contexto global (Nesbitt e Zipser 2003). Mota (2003) separou as sub-regiões da América do Sul e verificou a contribuição de cada tipo de sistemas precipitantes na precipitação dessas sub-regiões. Seus resultados mostraram que os sistemas que se formam na vizinhança da Ilha do Marajó no período vespertino 3 se intensificam e tem maior contribuição na precipitação como Sistemas Convectivos de Mesoscala (SCMs) no período noturno [entre 21 e 24 hora local (HL)], enquanto que na região do Estado do Amapá e Guianas a o máximo da precipitação e a contribuição por MCSs ocorre entre 15 e 18 HL. MATERIAIS E MÉTODOS Arkin e Meisner (1987) desenvolveram o algoritmo GPI com intuito de estimar a precipitação tropical usando limiares de temperatura de topos de nuvens derivadas de medidas de radiação infravermelha. A técnica consiste no produto da média da fração de cobertura dos topos de nuvens mais frias que 235 K numa grade de 1º 1º, o intervalo de tempo (t) mediado em horas e uma constante de 3 mm/hr. Isto é, GPI=3F c t, em que GPI está em milímetros, F c é fração de nebulosidade. O algoritmo 3B42 é uma combinação de estimativas de precipitação do TRMM, Special Sensor Microwave Imager (SSM/I), Advanced Microwave Scanning Radiometer (AMSR-E ) e o 3 Compare com os resultados de Kousky, 1980, que investigou o ciclo diurno da chuva no NE do Brasil e parte da Região Amazônica.

Advanced Microwave Sounding Radiometer (AMSU-B), para ajustar as estimativas de precipitação no canal infravermelho. As estimativas pelo 3B42 estão disponíveis em grades de 0,25º 0,25º a cada 3 horas, e este trabalho usa 8 anos de dados entre as latitudes de 10ºS a 10ºN e longitudes de 60 a 40ºW. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 é a precipitação média pelo 3B42 (painel à esquerda) e a diferença entre 3B42 e GPI (painel à direita) referente ao período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2006. Destacamos uma região de máxima precipitação sobre a Ilha do Marajó e nas vizinhanças ao sul e sudeste (setor onde se localiza a cidade de Belém), com valores de precipitação cerca de 3200 mm anuais. Nesta figura também se observa máximos secundários sobre a região do Estado do Amapá e Guiana Francesa, aparentemente devido à atuação da ZCIT e às brisas que formam linhas de instabilidade, que são responsáveis pelas chuvas nessas regiões. No painel da direita, que é a diferença entre os algoritmos 3B42 e GPI, são destacadas as diferenças positivas sobre o Estado do Amapá em direção às Guianas e também sobre o Oceano Atlântico; e as diferenças negativas sobre as regiões central e sudeste da Amazônia. As Figuras 2 e 3 apresentam a média sazonal da precipitação pelo 3B42 e a diferença entre o algoritmo 4B42 e GPI no mesmo período de estudo. Observa-se que o ciclo anual da precipitação no NE da Amazônia é fortemente modulado pela marcha da ZCIT, causando os trimestres mais chuvosos de março-abril-maio (MAM) e dezembro-janeiro-fevereiro (DJF); e os menos chuvosos de setembro-outubro-novembro (SON) e junho-julho-agosto (JJA). As análises das Figuras 1-3 mostram que o algoritmo GPI subestima a precipitação ao norte da Ilha do Marajó, no Estado do Amapá, nas Guianas e na região de atuação da ZCIT no Atlântico, em relação ao algoritmo 3B42 [e também com respeito às descrições climatológicas de Hoffman (1975) e Figueroa e Nobre (1990)]. Por outro lado, a precipitação é superestimada pelo GPI nas regiões central e sul da Amazônia. Figura 1 Média anual da precipitação e pelo 3B42 (painel à esquerda) e diferença entre 3B42 e GPI(painel à direita) referente ao período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2006.

Figura 2 Média sazonal da precipitação pelo 3B42 referente ao período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2006. Figura 3 Diferença da precipitação média entre 3B42 e GPI para o período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2006. O ciclo diurno da precipitação (Figura 4) apresenta uma banda principal de precipitação paralela à costa atlântica que se forma no período vespertino e que atinge a região de Belém por volta das 2100Z e alcança o interior da Amazônia durante a madrugada. Uma segunda banda de precipitação pode ser observada no litoral a partir das 0300Z até as 1500Z. Assim, as regiões costeiras apresentam máximo do ciclo diurno na madrugada, e as regiões do interior um máximo vespertino e um máximo secundário noturno associado com a penetração de sistemas costeiros até o interior.

CONCLUSÃO As comparações de 8 anos das estimativas de precipitação entre os algoritmos 3B42 e GPI, mostram que as estimativas pelo GPI são geralmente mais baixas do que aquelas do 3B42 e climatologias nas áreas costeiras e também sobre a região de atuação da ZCIT atlântica. Este resultado sugere que a natureza da chuva que ocorre entre essas regiões é diferente. E, conforme sugerido por Mota (2003), a região na vizinhança da Ilha do Marajó possui sistemas precipitantes mais eletrificados, portanto são mais convectivos que aqueles sobre a região do Amapá e Guianas. Por outro lado, a precipitação pelo GPI é mais elevada que pelo 3B42 sobre os setores central e sudeste da Amazônia, principalmente durante o início da atividade convectiva sobre a região em SON. Segundo Mota (2003) é provável que nesta região o algoritmo GPI esteja superestimando a precipitação de nuvens altas que não precipitam. O ciclo diurno da precipitação sobre o NE da Amazônia mostrou que uma banda de precipitação é formada sobre o oceano Atlântico durante a madrugada e influencia a precipitação Figura 3 Ciclo diurno da precipitação pelo algoritmo no período de janeiro de 1998 a fevereiro de 2006.

sobre o litoral até o final da manhã. No inicio da tarde a atividade convectiva é imperativa no continente causando a maior parte da precipitação sobre as regiões continentais próximas da costa no final da tarde e início da noite. As bandas de precipitação que se formam no período vespertino se deslocam para o interior da Amazônia causando um máximo secundário noturno sobre estes setores. Assim, os algoritmos 3B42 e GPI podem servir como ferramentas úteis para investigar a natureza da precipitação entre as sub-regiões, e compreender também melhor a variabilidade diurna da precipitação nas regiões que carecem de densas redes de pluviômetros. AGRADECIMENTOS: O bolsista Rômulo A. J. Oliveira agradece pela concessão da bolsa de iniciação cientifica FUNTEC/PRONEX. Este trabalho foi apoiado com recursos dos projetos: PROINT 2004-2005/UFPA; Programa de Premiação da Comunidade UNIDATA (UCAR/NSF); e MilênioLBA. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arkin, P. A.; Meisner B. N., 1987: The relationship between large-scale convective rainfall and cold cloud over the Western Hemisphere during 1982-1984. Mon. Wea. Rev., 115, 51 74. Cohen, J. C. P., M. A. F. Silva Dias, and C. A. Nobre, 1995: Environmental conditions associated with Amazonian squall lines: A case study. Mon. Wea. Rev., 123, 3163-3174. Figueroa, S. N.; C. Nobre, 1990: Precipitation distribution over Central and Western tropical South-America. Climanálise, 5, 36-44. Hastenrath, S.; L. Heller, 1977: Dynamics of climatic hazards in Northeast Brazil. Quart. J. Roy. Meteor. Soc.,102, 77-92. Hoffman, J. A. J, 1975: Climatic Atlas of South America. WMO, 41 Avenue Giuseppe-Motta, Geneva, 4 pp. + 28 Fig. Kousky, V. E., 1980: Diurnal rainfall variation in northeast Brazil. Mon. Wea. Rev., 113, 1951-1957. Mota, G. V., 2003: Characteristics of rainfall and precipitation features defined by the tropical rainfall measuring mission over South America. Utah: University of Utah, Tese de Doutorado, University of Utah, Utah, EUA, 201p. Negri, A. J.; Adler, R. F., 2002: A TRMM-calibrated infrared rainfall algorithm applied over Brazil. J. Geophy. Res., 107, n. D20, 8048 8058. Nesbitt, S. W.; E. J. Zipser, 2003: The diurnal cycle of rainfall and convective intensity according to 3 years of TRMM measurements. J. Climate, 16, 1456-1475. Nimer, E, 1979: Climatologia do Brasil. SUPREN/IBGE, Rio de Janeiro, Brazil, 421p.